terça-feira, 30 de dezembro de 2008

SAIDEIRA


O último post do ano vai ser de preguiçoso mesmo, porque já estou recarregando as energias para o ano que vem. Tirei essa semana para descansar. Nem tanto, porque não consigo parar a mente um segundo, mas diminuí bastante o ritmo da produção de pinturas e textos, para só retomar, na segunda semana de janeiro. Talvez role até uma viagem por aí. 2008 foi um ano bem bacana pra mim, não posso reclamar. Claro que o final foi um pouco tumultuado, houve diversas tragédias e crise financeira, para chochar com o nosso humor, mas isso tudo só me deu mais forças para entrar 2009 com mais vontade de vencer. O mais engraçado é que recebi uma mensagem hilária no Natal, de um antigo amigo (se é que posso chamar assim), daqueles como o presidente Lula que só faz pronunciamentos na TV em datas muitos específicas, cujas palavras, entre outras coisas, diziam o seguinte: “(...) que você não espere as coisas acontecerem e corra atrás dos seus sonhos, para que 2009 seja um ano de realizar e blablabla”. Pensei cá comigo: “Caramba, estou fechando o ano com mais de 20 quadros feitos, todos com ótima aceitação pelas pessoas, boas vendas, com o meu curso de História da Arte concluído, com algumas perspectivas de trabalho para o ano que vem...”. Se isso não é correr atrás, eu devo mesmo ter ficado numa rede me balançando e tomando água de coco, em Itacaré rs. Bem, mas chega de papo, desejo a todos um 2009 repleto de coisas boas. Have fun!

E a vida segue tranqüila.

ÚLTIMOS QUADROS DO ANO



De cima pra baixo: "Foi Assim...", "Festa no Mar" e "A Pequena Mariana".

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

NATAL, NATAL, NATAL...


Natal pra mim é sinônimo de união familiar. Ganhar presente é bom, claro, quem não gosta, mas não trocaria todos da minha família, com saúde e paz, reunidos, por nada. Quando tinha uns quatro anos, minha mãe nos pediu que colocássemos um sapato na janela. Também não fantasiou a respeito de Papai Noel. Apenas um pedido seco. No dia seguinte, estava lá um carrinho desses de plástico, bem simples. Conforme andava, um leãozinho girava na corroceria. Achei maravilhoso. Como não tive praticamente brinquedos na infância, essa reminiscência me marcou muito e mais tarde inspiraria um poeminha chamado “Velhos amigos”.

Velhos amigos, não esqueço quando, depois da missa do galo, os coloquei na janela, a pedido de mamãe.
No dia seguinte, estava lá o meu carrinho com o leãozinho em cima.
Natal que não volta mais.
A nossa festa de inocência e união familiar.
Que bom seria tê-lo de volta.
Não em memória, nem no enfeite da porta, mas tão-somente tudo de novo.


Havia também uma espécie de tradição, passar a noite de Natal na casa da minha vó Criza, para ver o Deus Menino sendo colocado na manjedoura. No primeiro dia do ano novo, era a vez de levantá-lo. Não me lembro de ter presenciado nenhum dos dois rituais, porque sempre dormia antes, mas os presépios sempre exerceram sobre mim um certo fascínio porque, inconscientemente, já via ali alguma arte. O da igreja matriz era lindo, imenso, cheio de detalhes e luzes. Sonhava com um dia em que teria um igualzinho. Os enfeites de Natal também divertiam os meus olhos, mas demoramos a ter a nossa primeira árvore. Apenas quando uma prima da minha mãe hospedou-se em nossa casa, nesse período de festas. Fomos a um armarinho e eu mesmo escolhi os enfeites. As bolas ainda eram de vidro e manuseá-las requeria muito cuidado. Completamos o pinheiro com cartões, já que não dava para comprar muitas bolas. Tempos difíceis, de inflação exorbitante, dos fiscais do Sarney. Até então, não havia aquelas guloseimas todas tão bem descritas por Mario de Andrade, no conto “Peru de Natal”. Por outro lado, havia a Mula do Zé do Ovo. Explico. Era uma espécie de mula, aos moldes de um bumba-meu-boi, só que incorporada à uma figura lendária da cidade, um senhor corcunda e que por isso recebera o apelido de Zé do Ovo. No interior, há essas histórias pitorescas. Eu morria de medo dessa manifestação folclórica. Como ele passava de casa em casa, rodeado de pandeiristas e pessoas fazendo aquele banzé, recolhendo suas gorjetas, percebia a movimentação na rua e me escondia embaixo da mesa. Até hoje sou “gongado” por causa desse episódio. Só fui participar de um amigo oculto (usávamos esse termo e não amigo secreto), aos oito anos, porque uma tia que morava aqui no Guarujá importou a “novidade”. Nesse ano, conheci o Natal como ele sempre seria em minha família, todo mundo junto, muitas gargalhadas, música, troca de presentes, pratos diversos (a minha farofa de banana é famosa, assim como o meu lagarto ao molho madeira). Mas nenhum Natal superou em emoção ao do ano passado. O meu irmão Luciano que estava no exterior, há quase dois anos, chegou exatamente na véspera de Natal e fomos buscá-lo em Guarulhos. Chegamos quase à meia noite. Haja coração! Preparamos a casa um mês antes, decorei o seu quarto em estilo safári porque ele adora animais e foram mimos atrás de mimos. A noite parecia não ter fim. Na verdade, não queríamos que tivesse. Esse ano ele não estará conosco, uma nota triste, é verdade, mas ainda passaremos muitos Natais juntos. Bem, pessoal, o tempo está corrido, desejo a todos muita saúde, paz, alegria, felicidade, amigos, solidariedade e, sobretudo, fé. Se elevarmos os nossos sonhos à altura de nossa fé, vai ser fácil realizá-los, vocês não acham?

AQUELA NOITE DE NATAL


A minha versão para o conto “Missa do Galo”, de Machado de Assis

Nunca pude esquecer aquela noite. Faz dez anos, mas parece que foi ontem. Contava dezessete e ela trinta, embora aparentasse bem menos. Um primo distante da minha mãe, o Meneses, acomodou-me em sua casa, no Rio de Janeiro, pelos idos de 1861 ou 1862. O seu sobrado era modesto, mas não muito, ficava na rua do Senado, onde vivia além dele, a sua esposa Conceição, a sogra dona Inácia e mais dois escravos velhos e obedientes. Em plena noite de Natal, Meneses saiu de casa para dormir com a “outra”, uma senhora separada do marido, espécie de amor avulso que muito lhe agradava e que Conceição fingia não saber. Sobre isso Dona Inácia, às vezes, lhe dizia algumas verdades, no que ele respondia com um muxoxo ordinário e ainda lhe mostrava as contas pagas. Ao final, todos pareciam conviver muito bem com os seus crimes.
Não sou um bom exemplo de cristão e antes era bem menos do que agora, mas uma missa do galo na Corte tinha lá os seus encantos. Combinei com um amigo de irmos juntos à igreja, naquela noite. Não dormiria até a hora marcada, mas, caso ele não aparecesse, é porque não agüentara o sono. Assim foi feito. A casa estava muito silenciosa, todos já haviam se recolhido. Para dar fim ao tédio, peguei um desses romances de capa e espada e me fiei a ler. Os minutos voavam e, de repente, ouvi dar onze horas. Assustei-me apenas com a chegada repentina de Conceição.
– Ainda não foi?
– Não. Ainda não deu meia-noite.
– Ah... Que paciência!
Fechei o livro e ela foi se aproximando devagarzinho até se sentar numa cadeira de frente pra mim. A minha primeira reação foi ficar vermelho, embora não deva ter notado, porque estávamos apenas à meia luz.
– A senhora me desculpe se fiz barulho.
– Não, bobagem. Acordei por acordar.
Mentira. Ela não parecia ter dormido nada. Os seus olhos estavam ainda mais nítidos e tinham um não sei quê de mistério que tanto me atraíam.
– Que paciência esperar pelo vizinho. O que estava lendo? Ah, o romance dos Mosqueteiros.
– Sim, é muito bonito.
– Gosta de romances?
– Gosto.
– Já leu A Moreninha?
– Do Dr. Macedo? Já, mas prefiro aqueles que tenham mais aventuras como O Guarani.
– Eu já gosto dos mais levinhos, mas tenho lido tão pouco ultimamente. Não me sobra tempo.
A conversa não tinha a menor gravidade, mas Conceição me ouvia com tanto interesse e, de vez em quando, ainda passava a língua pelos lábios para umedecê-los. Refez-se o silêncio. “Talvez esteja aborrecida!”, pensei comigo.
– D. Conceição, já é quase meia noite e eu...
– Não, ainda é cedo. Vi agora mesmo o relógio, são onze e meia. Tem tempo.
– Sendo assim...
– Permita-me apenas um conselho, não se torne um papa missas. Não fica bem um menino como você ser chamado de carola.
– Não, não. O meu interesse é tão-somente porque nunca fui a uma missa do galo aqui na Corte.
– Ora, é a mesma missa da roça. No fundo, são todas iguais.
– Penso que a daqui há de haver mais luxo, mais gente... Desculpe, devo lhe parecer muito caipira, não é?
– Estou gostando. Continue.
Ao se acomodar na cadeira, num movimento leve de corpo, deixou-me ver metade dos seus braços. Uma visão inesquecível. Cabe aqui uma confissão íntima, caro leitor. Essa visão não era tão nova pra mim, posto também que não fosse comum. O fato é que a presença de Conceição começava a despertar em mim uma inquietação perturbadora. Quando alteava um pouco a voz, ela reprimia-me.
– Fale baixo! Mamãe pode acordar.
E não saía daquela posição que me enchia de gosto. Passamos então a cochichar outros assuntos. Não satisfeita, ela deu a volta à mesa e veio sentar-se ao meu lado, no canapé. Nesse momento, vi escapar do seu longo roupão uma nesga de pés tão mimosos.
– É que mamãe tem o sono muito leve. Se acordasse agora, custaria a dormir.
Pensei em sentar na cadeira que ficava ao lado, mas não achei jeito. Ela foi mais rápida e pousou a sua mão sobre a minha. Não posso dizer quanto, mas ficamos por algum tempo calados. Nesses arroubos da juventude, qualquer fração de segundos pode durar uma eternidade. No entanto, tentei manter os olhos fixos na parede, alternando apenas entre uma ou outra gravura antiga, ao passo que já estava pingando de suor e talvez tremesse um pouco também. Conceição então me virou pra si.
– Suas mãos estão geladas, meu anjo.
E foi aproximando o seu rosto ao encontro do meu como quem suplica por um beijo. Não posso dizer que não devaneava. Subitamente ouvi uma pancada na janela, do lado de fora, seguida de uma voz: “Missa do galo! Missa do galo!”.
– Aí está o seu companheiro, disse ela levantando-se irritada. Vá que hão de ser horas. Adeus.
– Naturalmente.
– Vá, não se faça esperar. A culpa foi minha. Até amanhã.
E, com o mesmo balanço gracioso de corpo, Conceição enfiou pelo corredor adentro, pisando bem de mansinho até sumir entre os outros aposentos.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

ERA UMA VEZ CAPITU


A Globo perdeu a chance de fechar o ano das comemorações do centenário da morte de Machado de Assis em grande estilo. A microssérie “Capitu” que vinha sendo anunciada como uma das melhores coisas da TV no ano não passou de uma repetição de “Hoje é Dia de Maria” e “A Pedra do Reino”, todas dirigidas por Luiz Fernando Carvalho. Foi uma pena ver o texto saboroso de Machado se perdendo na boca de Michel Melamed, naquele ritmo convulso de videoclipe. Tudo isso para aproximar os leitores jovens da obra de Machado? A audiência mais uma vez mostrou o contrário. Apenas José Dias, interpretado por Antônio Karnewale, foi brilhantíssimo rs.
Uma análise mais apurada de "Capitu" se encontra num comentário que deixei no blog do Zeca Camargo e que teve uma ótima repercussão. Para quem se interessar e quiser conferir, o link do blog do Zeca está entre os meus favoritos, logo à direita.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

RESSACA





O mar tem uma força muito grande sobre mim. Não sei exatamente quando isso começou, mas me lembro de algumas vezes, mesmo à noite, ter saído da faculdade pra ficar alguns momentos apenas vendo e ouvindo o barulho do mar. Absorvia aquela energia por um tempinho e depois voltava pra sala de aula totalmente renovado. Essa semana, numa pequena folga, fui fazer o mesmo e, para minha surpresa e alegria, havia ressaca. A água quase chegando ao calçadão. Apenas surfistas corajosos se aventuravam a romper aquelas ondas. Havia vários deles e fiz imagens lindas. Lembrei-me de uma crônica que escrevi há um bom tempo que narrava a história de um desses meus momentos íntimos com o mar. Foi em 2004. Eu estava nas Pitangueiras. Chovia bem fraquinho. O mar estava também bravio, mas não tanto quanto o desses dias. Fiquei observando os surfistas e um deles se aproximou de mim. Reconheci a sua fisionomia, mas não sabia exatamente o seu nome, apenas que tínhamos um amigo em comum...

“Queria dizer-lhe: ‘Você não é amigo do Rodrigo?’. Ele apressou-se: ‘E aí, cara, saiu da faculdade?...’. Entre negativas, enganos e palavras balbuciadas, o surfista se dispersou e eu também. Nem tive tempo de dizer-lhe: ‘Você não é...’. Esquece. Ficou na minha memória aquele sorriso, a chuva, o sorriso, a chuva... E principalmente esta lição: ‘Não importa a fúria dos nossos problemas, temos de enfrentá-los, pois o sorriso há de ser vindouro’”.

É isso. E a vida segue agitada.

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QUADROS NOVOS



De cima pra baixo: "Fé e Esperança", "Luana" e "Brothers".

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O MAR, AS ROSAS E PAULO VON POSER





BLOQUINHO DE ROSAS

BLOQUINHO DE "ROSAS" COM PAULO VON POSER



Paulo, você desenhava rosas quando era criança?
Não, bilhetes para o Papai Noel e casas.

Por que você pinta?
Porque a pintura me ajuda muito a desenhar.

Você tem um olhar generoso sobre São Paulo. Por quê?
Porque São Paulo tem um olhar generoso sobre minha arte.

O que é melhor, o vazio (da Bienal) ou as rosas?
As rosas (elas são completas).

Você encheria de rosas o 2º piso da Bienal?
Eu andaria com pétalas escondidas e iria despetalando sutilmente, disfarçado, sem nenhum segurança perceber, só para dar gotas vermelhas para as faxineiras.

Você é feliz?
Sim, sou.

Você fica chateado quando rotulam seu trabalho de pop?
Não. E sou bastante popular.

Quem merece um buquê de rosas vermelhas?
Todos e cada um dos seres vivos do planeta e dos mortos também.

Nenhum artista?
Rumi e Hilke.

O MESTRE DE TODAS AS ROSAS

As rosas, rolando na areia, transformaram-se em pérolas.


Ainda falta um tempinho para o Natal, mas a distribuição de presentes já começou por aqui. É que o post de hoje é pra lá de especial. Conheci um dos artistas brasileiros mais interessantes e versáteis. O prólogo já diz tudo, né? Claro, estou falando de Paulo Von Poser, esse pintor paulistano de rara sensibilidade, extraordinário, mais conhecido como “o pintor das rosas”.
Quem acompanha o meu blog deve ter visto o post “A Cidade e as Rosas”, em junho. Uma das fotos foi dedicada a ele e postada, no meu Orkut, o que chamou atenção do meu amigo Felipe que me contou que o Paulo tinha sido o seu professor de desenho, na faculdade de Arquitetura. Fucei na Internet o contato dele e, numa “timidez ousada”, enviei as fotos das rosas que tinha feito. Ele não só respondeu o e-mail como também me disse que tinha gostado bastante das imagens. Daí até “O Mar, As Rosas e Paulo Von Poser” foram algumas mensagens, a última de negociação. Ele topou se deixar fotografar por mim, mas não sem antes saber que as fotos seriam num clima bem natural e explorariam ângulos mais poéticos. Fechamos com uma imagem dele de costas, numa praia quase deserta.
Chegamos à praia do Tombo, no finalzinho da tarde, com a luz ainda amigável, mas havia o medo de chover a qualquer momento. Nem precisei indicar o lugar, ele mesmo escolheu e depois pegou o romance “Edoardo, o Ele de Nós”, de Flávio Viegas Amoreira, sentou, folheou algumas páginas e logo começou a desenhar no próprio livro a paisagem que via em torno. A neblina que cobria o Forte dos Andradas, à nossa esquerda, foi uma das coisas que lhe chamou atenção.
Sem que percebesse, finquei na areia algumas rosas vermelhas artificiais, pois não encontrei uma floricultura nas redondezas, o que depois acharia bastante providencial, já que com aquela luz elas jamais ganhariam o destaque que mereceram. Assim que as descobriu, Paulo se desfez em sorriso. Nesse momento, eu que estava, visivelmente tenso, fui relaxando e investigando mais a sua carreira. Já tinha assistido à exposição “Você está aqui!?” em Sampa e gostado muito. Sem contar outros de seus trabalhos (foto) que via freqüentemente em revistas de decoração e de celebridades. Entre uma resposta e outra, intervalos de longo silêncio, verdadeira tortura pra mim, pois, nessas situações, costumo ficar inseguro ou então falar pelos cotovelos.
Como se a noite chegasse, resolvemos tomar um café, nas Pitangueiras, duas praias depois de onde estávamos. Fomos caminhando, descobrindo paisagens, vestígios de arte pelo caminho e conversando sobre vários assuntos. No Café, me lembrei de “Durante Aquele Estranho Chá”, livro da Lygia Fagundes Telles que narra, entre outras coisas, o encontro dela com Mario de Andrade, no centro de São Paulo. Não poderia haver associação melhor. Falamos de rosas, sempre elas, de arte, mostrei algumas fotos dos meus quadros, ele sempre solícito e gentil.
Antes de sair de casa, tive a idéia de pegar um caderninho e escrever algumas perguntas, para que ele as respondesse à mão, uma forma de ter comigo também a sua caligrafia. Dei o nome de “BLOQUINHO DE ROSAS”, por ter colado várias imagens de rosas que encontrei pela frente. Ele as respondeu, sem medir esforço ou fazer cara feia, enquanto lanchava.
Tudo perfeito, mas a despedida chegou de repente. E fui para casa feliz, sorrindo, com a certeza de ter cativado mais um amigo. O mestre de todas as rosas.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

30 ANOS DE GARFIELD



O meu personagem de quadrinhos favorito está completando 30 anos. Garfield, esse gato felpudo, mal humorado e cheio de charme. A primeira tirinha que li dele foi na Folha e guardo comigo até hoje. Era assim. Segunda-feira detestável. Garfield está dormindo, acorda e vai até uma espécie de roleta onde há apenas duas inscrições, comer e dormir. Gira a roleta que, em seguida, pára em dormir e conclui: "Eu tinha razão", e volta para sua cama. Como adoro as duas coisas, comer e dormir, alguns dos meus amigos passaram a me identificar com ele. Tudo bem, não tenho aquela pança enorme, nem o meu humor chega a ser tão corrosivo, nem sou tão convencido, mas aceito como prova de carinho e admiração a ambos. Uma vez um deles até me recebeu em sua casa com a inscrição "Bem-vindo, Garfield" (foto), uma amiga que mora no interior também já desenhou um Garfield (foto) e me enviou por MSN. Achei o máximo. Saiu hoje uma entrevista bem interessante, na Folha, com Dim Davis, o criador do Garfield, que reproduzo aqui parcialmente.

Por que o sr. deu ao personagem o nome de seu avô?
Tinha seis anos quando meu avô Davis morreu, mas minhas lembranças dele são vívidas. Ele era um homem grande, com um colo imenso. Parecia ranzinza por fora, mas, por dentro, tinha um coração mole. Era assim que eu imaginava o Garfield. Ele é fanfarrão, mas, no fundo, é um bom gato.

Há muitos paralelos entre os personagens e as situações de "Garfield" e sua vida real? Sua personalidade entra na sua criação?
Eu me identifico particularmente com Jon Arbuckle, o dono do Garfield. Quando estou escrevendo [histórias] para Jon, tudo que preciso fazer é me lembrar de meus dias de namoro na época do colégio. Eu era o que mais levava foras! Sempre esperava até o último minuto antes de chamar alguma garota para sair, não tinha dinheiro para bancar um encontro de verdade. Mas, tudo bem, não dá para não gostar do Jon, porque ele sempre olha o lado positivo das coisas.

Como Garfield envelheceu à medida que o sr. envelhecia?
Há muito mais piadas sobre idade na tirinha. Garfield se dá conta de sua idade uma vez por ano, em seu aniversário, em 19/6. Assim como eu, ele fica progressivamente mais resmungão cada vez que ganha mais um ano. Garfield se recusa a crescer, e minha mulher diria o mesmo de mim.

Garfield é famoso por ser comilão e gordo. Com a obesidade se transformando em um grave problema de saúde nos EUA, o sr. passou a receber muitas reclamações?
Algumas, mas a maioria das pessoas perdoa os maus hábitos de Garfield porque ele é um gato. Recebi um telefonema de alguém que achava que o Garfield deveria fazer um vídeo de exercícios para compensar os maus hábitos. Garfield e exercícios, é forçar a barra.

Com que freqüência o sr. desenha? Planeja se aposentar?
Uma vez por mês me reúno com dois assistentes e trocamos idéias, rimos. Nos concentramos nisso por três ou quatro dias. Ainda escrevo os roteiros, mas tenho ajuda para desenhar. Não planejo me aposentar por ora.

domingo, 23 de novembro de 2008

CELEBRAÇÃO DO SILÊNCIO II


“Era verdade; ele era quase completamente feliz”.

Escolhi essa frase da Virginia Woolf, porque, de ontem pra cá, me bateu uma vontade, sem precedentes, de sumir. Não me perguntem pra onde. Topo qualquer destino, desde que, nesse lugar, eu seja uma outra pessoa. Fiquei horas olhando para os mesmos quadros, esboços e tintas e me perguntando: “É isso?”. Quis dormir. Em vão. Verifiquei e-mails, mas não havia nada que modificasse a minha vida. Tentei até o áudio-livro “O Pequeno Príncipe”, mas, de tudo que ouvi, o mais interessante foi: “Desenha-me um carneiro...”, no que fiquei repetindo aquilo feito um parvo, imitando o pequeno monarca com uma vozinha esquisita. Cheguei à conclusão de que toda pessoa que trabalha com criação artística, que tem que extrair idéias de si mesmo, todos os dias, deve passar por esse esgotamento emocional. Agora só me interessa saber quando renasço. Pode ser amanhã ou quem sabe quando estiver transbordando daquele estado de amor que deixa as pessoas a um palmo do chão. Ou quando superar o medo da perda e cativar inúmeras pessoas a quem possa chamá-las de meus amigos. Ou, o menos provável, se perceber que tudo isso não passou de um pesadelo. É melhor vocês ficarem com as belas imagens que fiz na orla de Santos e que fazem parte da continuação da série “Celebração do Silêncio”. E a vida segue gótica.




PADRES DO CALENDÁRIO

O fim do ano chegou e já estão na rede as imagens dos calendários mais bacanas de 2009. O da Pirelli, como sempre, está incrível. Inusitado mesmo só o do Vaticano, com doze de seus jovens padres, em fotos P&B. Calma, ninguém está sem a batina. Pelo contrário, as fotos são de uma inocência bizarra. Pelo que li no site do Cesar Giobbi, a intenção da Santa Sé é levar informações sobre o Vaticano para a população e NÃO instigar quaisquer tipos de desejos pecaminosos. Ah bom!!!... Tem algum católico aí? Não???

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

PRECISA TANTO?

Os escritores já não sabem mais o que fazer para venderem seus livros. Precisa tanto?

MEU ENCONTRO COM "ZÉ DO CAIXÃO"



Ontem estive na FENALBA, espécie de Bienal do Livro da Baixada Santista, em Santos. Foi decepcionante por um lado. Poucas editoras convidadas, stands fracos, livros a preços exorbitantes e público zero. Com esse balanço, não vou usar eufemismos, foi um fiasco mesmo. Ao chegarmos ao evento, eu e minha amiga Fernanda, vimos uma fila para o Café Cultural. Um conhecido me informou que o convidado era o diretor cult de cinema e ator José Mojica Marins. Sim, ele mesmo, o "Zé do Caixão". Mas para participarmos teríamos que ter feito o cadastro pela internet. Saímos frustrados. Minutos depois, anunciaram recrutamento de público para o bate-papo. Ficamos felizes com a possibilidade de não perdermos o nosso dia. Entramos na sala-aquário e Mojica já estava lá, no centro, impronunciável. Mesmo não estando “montado”, a presença dele é muito marcante. E nem falo especificamente daquela unha gigantesca que causa um certo nojo nas pessoas e que para mim é mais um charme dele. Os olhos, as roupas pretas, a maneira de falar, enfim, realmente (ele usa esta palavra repetidas vezes), é uma figura impressionante. O bate-papo foi muito bom. Eu que não conhecia nada dos filmes dele fiquei bem tentado a alugar um dos DVDs, o mais trash possível. Depois de assistirmos ao making off do seu mais recente sucesso, “Encarnação do Demônio”, pudemos ver o quanto ele é querido pelo público e o quanto as pessoas se interessam pelo seu trabalho. Os assuntos giravam em torno de curiosidades sobre a sua obra cinematográfica, mas, lá pelas tantas, ele falou algo que não esqueci até agora: “Deus criou o homem e o homem criou o diabo”, ao explicar que era religioso. Também aconselhou aqueles que querem fazer cinema no Brasil: “Persistam. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Acho que é essa sua simplicidade que toca as pessoas. Fiz uma foto bem legal dele, em P&B, espero que vocês gostem. Ah, não resisti e comprei também um boné preto, personalizado com o rosto dele. Ele o autografou de forma bastante simpática e já é o meu mais recente objeto de estimação. Bem, vou ficando por aqui porque ainda tenho alguns quadros para pintar até o Natal. Em breve, posto as fotos. E a vida segue mais terrível rs.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

EXTRA-EXTRA!

Nesta semana estive na Osklen, do Cidade Jardim, acompanhando dois amigos. Ao correr o olho no novo catálogo da marca, senti falta da modelo Carol Pantoliano que fotografei em seu début nas passarelas, em 2006 (foto), e que havia feito a campanha deles, na estação anterior, mas que agora nem o vendedor da loja sabia de quem se tratava. Coincidentemente a resposta sobre o paradeiro da moça veio, no dia seguinte, no blog da Lilian Pacce. Carol deixou de modelar para, pasmem agora, estudar e praticar esportes. Ela que em pouquíssimo tempo fez trabalhos para i-D, Número, Harper's Bazaar, campanhas para Balenciaga, Benneton e Osklen, elogiada por Angus Munro, diretor de casting do fotógrafo David Sins, considerada a beleza do momento, de repente, não mais que de repente, abandonou a carreira :-(. Volta, Carol!



Não é nenhuma novidade que eu curto muito o trabalho da artista plástica Beatriz Milhazes, mas só ontem fui me dar conta de que a exposição dela já está quase no final e eu não havia postado nada aqui. Então, quem não foi ainda, tem que ir correndo. Depois de São Paulo, talvez só mesmo em Londres, Madrid, NY... Os quadros são lindos, supercoloridos, com um pé no barroco e outro na arte contemporânea. Numa das salas, os vidros das janelas (foto) foram adesivados com motivos característicos da obra dela (aqueles círculos que eu também adoro pintar). O ambiente ficou com uma luz toda especial e uma atmosfera bem lúdica. As crianças adoram e os gringos também. A exposição de tão "bombada" foi eleita a melhor da cidade pela Vejinha. Fica até o final do mês, na Estação Pinacoteca, no Centro. Aos sábados, a entrada é franca. Eu já vi umas quatro vezes e não me canso.





Conheci recentemente o meu amigo e vizinho de blog, Cristiano Félix, do Extra-Ordinário. Em seu rasante por São Paulo, prometi ciceroneá-lo pelo circuito dos museus da cidade, mas esqueci que, na segunda-feira, estão todos fechados. Mesmo assim, passamos um dia muito agradável. Conversamos centenas de assuntos. Repórter em Natal, onde mora, ele é também cronista (recomendo o seu texto), edita um anuário de moda por lá e não vive sem música. Sucesso, Crico! A nossa foto lambe-lambe ficou ótima rs.


domingo, 9 de novembro de 2008

NAQUELA ESTAÇÃO





Para ver ao som de "Naquela Estação", de João Donato, Caetano Veloso e Ronaldo Bastos, na voz de Adriana Calcanhotto.

O FLAUTISTA DA ESTAÇÃO DA LUZ

Tudo que não se vê é mais fácil de imaginar?

Não sei o que me faz prestar tanta atenção nas coisas. Talvez um desejo inconsciente de desviar o olhar de mim para o outro. E não me importa quem ou o que seja o outro. Qualquer coisa pode ser recreio para os olhos. Literalmente. Confesso, podem me tirar todos os sentidos, mas não suportaria viver sem a visão. Tudo pra mim é muito visual. Por isso entendo aquele amargor no final da vida de Jorge Luís Borges. Tudo isso pra dizer que, como sempre faço depois de sair da Estação Pinacoteca, passei na Estação da Luz, mas dessa vez para registrar algumas imagens em P&B. Um dia perfeito para elas. A luz dramática do final da tarde, o metrô ainda bastante movimentado, personagens anônimos incríveis. Muitos estranhos. Ser estranho é tão bom, né? Não há preocupação com a vergonha de ontem e nem com o medo de amanhã, apenas vive-se no anonimato de ser. Longe da movimentação de passageiros, um casal de namorados (ou seria amantes?) se destacava dos demais pelas suas “feições petrificadas de alheamento”, encostados à grade de proteção, no piso superior. Uma cena que me lembrou, imediatamente, uma reportagem da Marie Claire sobre a China que li, nos anos 90. Fiquei ali por algum tempo e depois fui embora. A imagem da mãe boliviana apoiando o filho para que ele visse a partida do metrô é uma das melhores que já fiz até hoje. Enfim, julgava já ter tido um dia bom, uma aula boa, imagens interessantes, mas, para minha total surpresa, naquele mar de gente que invade a Estação, de minuto a minuto, vejo um velhinho tocando uma flauta, solitariamente, numa dessas escadas que intermedeiam as rolantes e que as pessoas só as usam, quando não há outro jeito. Fiquei olhando um pouco pra ele, louco pra registrar aquele momento, mas segui adiante. No entanto, não pude cruzar a catraca, voltei para fazer aquela imagem. Claro, pedi a autorização e ele ma concedeu. Aproximando mais, porque ele também não me ouvia direito, percebi que era cego. Não só cego como tinha também um olho vazado. Imaginem, vocês, uma pessoa com todos os motivos do mundo para ser infeliz, mas que, ainda assim, não aparentava tristeza. Melhor, não vivia tristeza. E sem amigos, mas com uma flauta. Fiz um videozinho, o primeiro que posto aqui, desse momento tão tocante. Espero que vocês gostem.

domingo, 2 de novembro de 2008

UM CERTO TEMPO




Belíssima exposição "Diário de Bolsa", da fotógrafa Vania Toledo, na Pinacoteca. A exposição é recheada de flagrantes saborosos de artistas e pessoas anônimas, com um clima bem retrô. Vale a pena conferir.

OS EGONAUTAS_# 04

INT./NOITE. BAR.

Você bem que podia fazer uma comunidade pra mim, no Orkut, né?

Pelo amor de Deus! Até aqui, Cadu?

Eu sou o seu melhor amigo, o mais articulado, confiável...

Modesto.

Vai dizer que, pra você, eu não sou interessante?

Nivelando assim por baixo, até o Mark Chapman é uma figura interessante.

Eu também li O Apanhador no Campo de Centeio, tá bom?

Mas não teve a brilhante idéia de matar o John Lennon. OK. OK. Foi só pra chocar. Meu, pára de perseguir esse lance de fama na web. Se tiver de rolar, vai ser naturalmente.

E um verbetezinho na Wikipedia?

Às vezes, eu acho que você saltou das páginas de um desses livros do Nick Hornby e tá aqui pagando de adulto. Não é possível!

Todas as pessoas que interessam na Internet têm uma comunidade pra chamar de sua, pra se exibir pros amigos. Menos eu.

Empresta uma grana aí, vai. Estou sem um puto pro cigarro.

Só se você fizer a minha comunidade.

Ordinário. Mas, olha, não vou perder meu tempo moderando essa sua autolouvação, não, viu?

Vendida.

domingo, 26 de outubro de 2008

ODE A UM DIA SIMPLES

"Assim eu quereria o meu último poema / Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais". Manuel Bandeira






O que esperar de um domingo que ele não seja apenas SIMPLES? A menor das banalidades pode ter importância fundamental na vida de cada um. Geralmente, na juventude, costumamos ignorá-la. Estamos tão preocupados em agarrar o mundo com as próprias mãos que pequenos grãos de felicidade vão se perdendo por aí. Nunca me esqueço de uma crônica da Clarice Lispector, que saiu na década de 70, no Jornal do Brasil, intitulada “Um Ato Gratuito”. Depois de chegar ao limite emocional, tudo que a escritora precisava era de um passeio no Jardim Botânico. Hoje, me concedi a esse tão necessário ato de auto-indulgência. Dei um pulo na casa da minha amiga Fernanda onde lá se encontravam também duas de suas amigas e mais duas filhas de uma delas, as pequenas e encantadoras Luana e Sofia. Ali, por alguns momentos, rememorei a minha infância, um dos períodos mais felizes senão o mais feliz de nossas vidas. Quando se é criança, o futuro não passa do dia seguinte com a promessa de ir a um parque ou praia ou qualquer um desses programas saborosos que as mães costumam nos subornar para ficarmos quietos. Aliás, a melhor corrupção materna. A minha sempre me prometia também bolos. Como não fica bem me levar hoje a um parquinho de diversões, quando quer tirar alguma coisa de mim, ela usa o bom e velho golpe do bolo de laranja ou da torta de banana. Claro, não resisto. Não se deve resistir a um pedido de mãe. E passeamos ali, no calçadão da praia, como se estivéssemos numa novela do Manuel Carlos, absolutamente felizes. As meninas brincaram na areia, se lambuzaram em sorvetes, contagiaram a todos que passavam com os seus sorrisos francos e gestos brincalhões... E com um lindo pôr-do-sol, na Ponta da Praia, me despedi do nosso dia de recreio. Um dia para lembrar que viver e ser feliz ainda é possível.

O VAZIO DAS COISAS


A aula de ontem foi fantástica, o tema não poderia ser melhor, “Poéticas da desestetização: o uso como significado”. Tudo bem, houve um momento em que estava quase enlouquecendo com aquela “não-música” de John Cade, o que chamou atenção até do crítico Rafael Vogt, mas depois ele mesmo terminou concordando que, exceto em raros momentos, aquela colagem de sons e ruídos provoca reações pouco animadoras. E dá-lhe nomes de artistas já sonoros e outros, até então, inaudíveis pra mim: Andy Warhol, Robert Rauschenberg, Morris Graves, Robert Morris e por aí vai. Chegando à Estação da Luz, por volta das 18:00 H, fiz uma foto incrível a qual intitulei “O Pianista”. A imagem, como vocês podem perceber, vem complementar a minha busca por revelar espaços quase vazios e recontextualizá-los. Esse excesso de informação a que estamos expostos, ora me irrita, ora me atiça os olhos. O problema é que quero ver tudo, absorver o máximo dos detalhes. Uma hora o cérebro pede descanso, né? Não quero com isso também entrar na polêmica “A Bienal do Vazio”, como os críticos vêm alfinetando a 28ª Bienal de São Paulo, mas acho legítimo o discurso dos curadores. Num momento em que obras questionáveis de Jeff Koons e Damien Hirst alcançam cifras estratosféricas, no mercado secundário (leilões), faz parte parar e pensar: “O que faz de alguma coisa arte, quando ela não corresponde ao nosso olhar?”. Simplesmente a intenção do artista? Os autores das melhores respostas vão ganhar um... Não, não vão ganhar nada rs.