sexta-feira, 30 de outubro de 2009

UM BONDE E TANTO

Outro dia estava assistindo à TV, praticamente pulando de canal em canal, quando resolvi parar no TCM, aquele que só passa clássicos do cinema. Estava começando um filme que eu queria assistir faz tempo, “Um Bonde Chamado Desejo” (1951), de Elia Kazan, com uma dupla de atores que dispensa maiores apresentações, Vivien Leigh e Marlon Brando. O filme é tão arrebatador que praticamente me impôs a escrever sobre ele, já que eu não pretendia postar tão cedo. Mas aqui estou, ainda um pouco entorpecido, para registrar as minhas impressões sobre essa obra-prima de Tennessee Williams.

A história parece simples, mas não é, o roteiro não é nada superficial e tampouco as interpretações, pelo contrário, são tão pungentes que em pouco tempo já nos tornamos seus cúmplices e não apenas meros espectadores. Não vou me estender na sinopse: a sofisticada Blanche DuBois (Vivien Leigh) chega a New Orleans para visitar a irmã Stella (Kim Hunter) e o cunhado Stanley Kowalski (Marlon Brando). Para chegar ao subúrbio onde moram, pega um bonde chamado Desire, daí o título do filme. Num minúsculo apartamento, os três vão conviver sob tensão. Blanche não se adapta à pobreza em que vive a irmã, mas tem motivos para não deixar o local, já Stanley tem a sua privacidade invadida e constantemente quer mostrar quem manda ali. Os dois passam quase todo o filme “duelando” pra ver quem pode mais. E cada um usa a sua melhor arma. Enquanto Blanche não economiza em desfaçatez e sedução, Stanley se encarrega de investigar e mostrar a esposa que a sua irmã não é um anjo como parece. Se escondo alguns detalhes, é para não estragar a surpresa.

Em linhas gerais, "Um Bonde Chamado Desejo" é um drama cujo foco são as ilusões e frustrações de uma mulher extremamente sensível, traumatizada pela irrealização do amor e que se vê diante de um homem vigoroso e primitivo, por quem se sente desprezada e ao mesmo tempo atraída. Os dois personagens, Blanche e Stanley, são muito bem construídos e não temem (entre aspas) ser expostos ao medo, à dor, à solidão e ao prazer.

Não resisti e fui ler a peça homônima que inspirou o filme e posso lhes assegurar que a adaptação é quase literal. Aliás, o texto é repleto daquelas frases lapidares que em tempos de Twitter fazem o maior sucesso. Selecionei duas da categoria humor negro que talvez vocês curtam: “Eu sei que minto muito. Afinal, o encanto de uma mulher é 50% ilusão” e “Acho que a tristeza conduz à sinceridade”. Mas há também aquelas mais dramáticas como “Eu sempre dependi da bondade de estranhos”. Esta até levou o artista Maurício Ianês a fazer uma performance, na estranha Bienal do ano passado. Ele chegou nu ao Prédio da Bienal e ficou lá, por alguns dias, recebendo toda sorte de bondade dos visitantes. Tirem suas próprias conclusões rs. Enfim, quem curte um filme mais denso, reflexivo, essa é uma ótima pedida.

Pra terminar, agradeço a todos que participaram voluntariamente da campanha “Outubro Rosa”, divulgando em seus blogs a arte que fiz e até parcialmente o texto que escrevi aqui, especialmente ao Jay e Alê do “Ká entre Nós”, ao Arthur do “Em Crônicas e Contos” e a Fátima do “Diário de Bordo”. Obrigadão mesmo, pessoal. E também a todos que comentaram aqui, no Facebook, no Twitter, enfim, tenho certeza de que cada um fez a sua parte e está ajudando a melhorar o mundo. Por falar nisso, hoje tá rolando o “Dia Verde”, na bloguesfera, uma ótima iniciativa dos meninos do "Ká entre Nós". Não deu pra preparar nada especial, mas é algo que também incentivo. Abração e ótimo final de semana!

domingo, 25 de outubro de 2009

ROSA E AZUL

Não, não vou falar daquele famoso quadro do Renoir que leva o mesmo nome do post de hoje. As cores rosa e azul são referências à campanha “Outubro Rosa” e a minha fase atual, respectivamente. Mas, antes de entrar nesses assuntos, vamos às frivolidades do dia: vi hoje alguns vídeos na internet do Oi Fashion Rocks e não achei que foi tudo isso. O que gostei bastante foi o carisma da Mariah Carey. Ela que já foi do topo ao limbo soube cativar muito bem os seus fãs brazucas. E agora que ninguém mais vende CD mesmo tem mais é que bajular esses pobres-diabos que passam, dias e noites, à porta de um hotel esperando um mísero aceno do ídolo.
Desde que terminou a minha exposição, não tinha postado nada de trabalho aqui e até já levei um puxãozinho de orelha por causa disso. Como também apoio a campanha de combate ao câncer de mama, que nesta época do ano ganha maior visibilidade, por conta do “Outubro Rosa”, fiz uma arte para a divulgação do evento na internet. Tudo extraoficial, por minha conta mesmo. Não acho que artistas devam ficar se justificando, porque cada um vai interpretar uma obra de arte à sua maneira, mas só queria esclarecer que a minha intenção com esse trabalho e com os próximos que tem a mesma pegada não é chocar simplesmente, embora lembre aquelas campanhas da Benetton, do Oliviero Toscani, dos anos 90. Quis apenas criar uma imagem que estimulasse a prevenção da doença e ao mesmo tempo não esquecesse as mulheres que já estão em tratamento ou que, lamentavelmente, tiveram que perder um seio. Nada contra também ao bunner que vi na bloguesfera feminina, mas acho que funcionaria melhor algo que chamasse mais atenção, que fizesse refletir e não apenas lembrar que em outubro monumentos serão iluminados de rosa, etc. E tem também um lado divertido, na fotografia, essa referência "pin up" que está super em alta.
A “modelo” foi fotografada por Cris Bierrenbach para a revista ELLE de maio de 2001, num editorial intitulado “Nossos Corpos”. Curiosamente se trata de uma colega, uma artista plástica, M.N., que deu a seguinte declaração na época: “A quimioterapia terminou e há dois meses meus fiozinhos começaram a reaparecer. Já tenho 1 cm de cabelo. Pareço mesmo uma criança. Com o fim dessa infância, vou voltar a ser mulher”. Ainda recorri ao Google, na tentativa de parabenizá-la pela coragem, mas não a encontrei. No mês passado, perdemos Andrea Maltarolli, aos 46 anos, uma das criadoras de “Malhação”. Enfim, é um assunto bastante sério, o câncer de mama é o câncer que mais mata mulheres, no Brasil, por isso quem puder abrace essa causa, ajude a divulgá-la, é importante.

Azul, porque uma nova fase deve sempre começar com essa cor

Mudando de rosa pra azul, estou entrando numa fase nova na minha vida. Eu sei que 2009 mal terminou, mas já estou fazendo as minhas resoluções de ano novo. Não vou entrar em detalhes, porque não vem ao caso, mas posso dizer que é um daqueles momentos em que cuidar de si mesmo não significa “a solenidade de si próprio”, apenas uma questão de definir objetivos e valorizar cada vez mais quem realmente importa. Um dos responsáveis por esse “abrir de olhos”, se é que posso chamar assim, foi o primeiro livro de Marcel Proust, “Os Prazeres e os Dias”, que estou acabando de ler e que já adianto, é ótimo e não tem nada a ver com autoajuda. Selecionei até uma das frases dele para terminar o colóquio de hoje: “Sejamos gratos às pessoas que nos propiciam felicidade, são elas os encantadores jardineiros que nos fazem florir a alma”. Lindo, né? Espero que vocês tenham curtido as dicas de hoje e, em breve, estarei de volta. Abração!!!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

PARANGOLÉS DE FOGO

Parangolé de "fogo"

Cosmococa

Final de semana dramático, hein? Bang bang, no Rio de Janeiro, 90% do acervo do artista Hélio Oiticica queimado em incêndio domiciliar, o São Paulo tropeçou no Atlético em pleno Morumbi e, pra finalizar, o Rubinho ainda deixou escapar o título da F1 em casa. Haja Lei de Murphy, pessoal! Alguém, por favor, me dê uma notícia boa, umazinha sequer.

De todas as tragédias que citei acima, a que mais me comoveu foi, sem dúvida, o incêndio que consumiu quase todas as obras do Hélio Oiticica. Não que eu esteja me lixando pra violência no Rio, mas, infelizmente, nós já nos acostumamos a ela, não é? Aliás, houve até quem me acusasse de ser “do contra”, porque fui cauteloso em relação às Olimpíadas de 2016. Viu só? Bem, mas voltando, Hélio Oiticica é um dos artistas mais importantes do nosso país, revolucionário em sua arte, influenciou gerações, o próprio nome “Tropicália” surgiu de uma instalação homônima dele. Foi responsável, assim como Lygia Clark, por nos tirar do gueto nacional. Impossível falar em arte contemporânea brasileira sem citá-lo. Com um histórico desses, que eu apenas pincelei pra não me estender muito, em qualquer lugar do mundo que se valorize arte e cultura, ele seria considerado um patrimônio nacional. Aqui, lamentavelmente, nunca foi cultuado fora do meio acadêmico e artístico, talvez porque ainda persista essa ideia mesquinha de que arte é artigo de luxo, coisa pra rico, elite. Uma pena. E assim vamos perdendo mais um pouco o registro da nossa identidade cultural pós-Colônia.

A primeira vez que tive acesso a informações sobre o trabalho do Hélio foi em 95, numa reportagem da revista VOGUE, assinada pela Márcia Fortes, dona da prestigiada galeria Fortes Vilaça. Naquele momento, o mercado internacional começava a perceber que existia uma arte feita aqui e que não estava ligada diretamente a araras, barquinhos e paisagens tropicais, que dialogava com o que se fazia de mais conceitual no mundo. Os Penetráveis e Parangolés do Hélio sempre fizeram muito sucesso, lá fora, assim como a polêmica série Cosmococa, onde símbolos da cultura pop norte-americana eram contornados com cocaína, uma parceria do artista com Neville de Almeida. Os Parangolés são os meus favoritos, adoro essa ideia de se “vestir” de arte, dela ter sentido, a partir do momento em que você dá vida a ela. Hoje é modinha se falar em interatividade, mas a primeira vez que ele propôs isso foi na década de 60, no auge da ditadura militar. Quer metáfora melhor do que essa, de convidar as pessoas a se mobilizarem? Um visionário. Não é nenhum consolo, mas como sou bem fatalista, jamais me esqueceria de uma das frases mais previsíveis da Clarice Lispector, para este momento: “As coisas acontecem quando devem acontecer”.

A cantora Adriana Calcanhotto, antenada e sofisticada que é, em seu ótimo “Marítimo” já nos ensinava como fazer um Parangolé: “O Parangolé Pamplona a gente mesmo faz / Com um retângulo de pano de uma cor só / E é só dançar / E é só deixar a cor tomar conta do ar”. E, se você é arteiro como eu, faça o seu Parangolé também e dance pra espantar os maus espíritos, as notícias negativas, pra chamar a chuva... Não!, menos pra chamar a chuva. Pelo menos, por aqui, que já choveu demais. E vamos torcer por dias melhores. Obrigado pelos comentários lindos, no post anterior, e também pela audiência do blog que tem sido cada vez maior. Abração e uma ótima semana a todos!

domingo, 11 de outubro de 2009

MEU BAUZINHO DE MEMÓRIAS

Não me sortearam o bebê da Caras Baby rs

Em comemoração ao Dia das Crianças, resolvi abrir o meu bauzinho de memórias. Não por acaso, fui atrás das minhas fotos mais remotas e fiquei um bom tempo rememorando momentos preciosos da minha vida. Nem todos sabem, mas nasci e passei a minha primeira infância na Bahia, numa cidade minúscula do interior chamada Brejões, a minha Macondo. Só quem já morou no interior e veio pra cidade grande sabe o quanto é diferente. Existe lá toda uma atmosfera de inocência e generosidade que nos acompanha a vida inteira.

Ensinando como chupar chupeta e sorrir ao mesmo tempo

Pra começar, os anos 80 não foram só excessos e rock in roll, como hoje vemos nesses almanaques coloridos das livrarias, foram anos também ácidos para a política e economia do país, mesmo pós-Diretas, onde havia até os "fiscais do Sarney" (no tempo em que ele era apenas um cordeirinho), alguém lembra? As donas de casa iam ao supermercado pela manhã e compravam a batata por um preço e, à tarde, já estava por outro. Uma loucura. A inflação era galopante. Isso tudo só para ilustrar que, mesmo para uma família de classe média, ter três filhos não era nada fácil. Para completar, na minha casa, os filhos vieram em escadinha: Luis Gustavo, Luciano e eu. Também acho cafona essa história de nomes de filhos com as mesmas iniciais, mas não posso fazer nada, embora até ache o meu bem bonito. Meu pai tinha uma lanchonete famosa na cidade e, aos finais de semana, ainda promovia festas. Cresci assistindo ao Cassino do Chacrinha, vendo meu pai fazer coxinhas ou entre muitas capas de LPs ou fitas cassetes. Tenho um amigo que acha curioso eu gostar tanto dos anos 80, das músicas, revistas, visual, mas vem daí, porque nada marca mais a nossa vida do que a infância.

Pândego

Vivíamos soltos pela cidade como cabritinhos libertos. Depois da escola, íamos correndo pra casa da nossa vó Criza (só essa passagem já me renderia várias crônicas e livros de receitas). Passei ali os melhores anos da minha vida, indiscutivelmente. Minha vó tinha uma barraca na feira (na Bahia, geralmente, as feiras são no sábado e é o acontecimento da semana, assim como a festa da padroeira é o acontecimento do ano). Ramon Cruz, músico baiano talentosíssimo, tem uma música que eu acho linda, “Feijão de Corda”, lá pelas tantas, diz assim: “Sábado dia de feira / Tem feijão de corda / Cê me amarrou”. Às tardes, minha vó costurava numa máquina milenar. Com uma mão auxiliava o tecido e com a outra rodava uma espécie de cilindro. Ficavam espalhados, na mesa, tecidos e botões de todas as cores. Meus olhos faíscavam de felicidade só de estar ali perto. De repente, se fazia um café no fogão à lenha com bolachinhas de goma ou, no verão, se tomava um suco de umbu, tamarindo, manga. No quintal, as galinhas faziam a festa com os milhos colhidos, na roça do meu avô. Eu tinha até a minha, toda preta, a mais feia de todas. Imagina a riqueza de cores, texturas, sabores, sons, causos, expressões... Meu destino já estava traçado ali. Eu iria, de alguma forma, retratar tudo aquilo com a minha arte.


Aos sete anos, já treinava o meu autógrafo rs

Quando comecei a ir à escola, meu passatempo passou a ser o desenho. Comprava com a minha mesadinha canetas idrocor de apenas 6 cores, mais do que isso era uma fortuna (pela hora da morte, como se dizia) e desenhava em papel de embrulho. Um papel tão grosseiro, cinza, nada muito especial. Como engatinhava no desenho, meu pai até pedia para ilustrar os cartazes das festas. No carnaval, fazia máscaras, pierrôs, confetes e serpentinas e, no São João, casais de caipiras, milhos, fogueiras, balões... Quando descobri Guinard, tempos depois, claro, quase chorei de emoção. Ninguém pintaria a minha infância melhor do que ele. Aos onze anos, escrevi o meu primeiro poema inspirado em “Porquinho-da-Índia”, do Manuel Bandeira. Tenho até hoje. Assim como o desenho que fiz, aos sete anos, de uma casinha campestre. Tudo bem, sem gerânios em flor na janela, mas com flores no... teto rs.



Não nasci em berço de ouro, mas nunca faltou amor na minha família, nem boa educação e muito menos algumas palmadas. E detesto saudosismo barato, mas, às vezes, me pego pensando em como os tempos mudaram. Lamentavelmente pra pior. Algumas crianças de hoje mal vem ao mundo e já tem até perfil no Orkut. Se bobear, até tuítam: “Cabei minha papinha, tô indo dumi”. Não precisa ser assim também, né? Aposentaram a amarelinha, o jogo de damas, a brincadeira de médico, o troca-troca? rs Falando sério, ontem vi algo na TV que me incomodou. A filha da modelo Alessandra Ambrósio tem pouco mais de um ano e a mãe já pintou as unhas da menina de vermelho. Juro. Tem até asinhas de Angel. Será que ela já sonha com a filha debutando, na Victoria’s Secret??? Medo. Não quero parecer aqui o defensor da infância perdida, mas existem outros valores mais importantes que precisam ser resgatados, vocês não acham? Não custa muito fazer uma criança feliz. Nunca tive brinquedos, mas nem por isso ficava reclamando, criava os meus com pedras pintadas, bonecos de barro, até um ventilador quebrado já me serviu de cachorro. Isso mesmo. Minha imaginação não conhecia limites. Ainda bem. Meus irmãos me enchiam o saco porque eu vivia desenhando e até inventei, uma vez, que poderíamos ter, ao menos, uma piscina de areia. Virei a gozação da casa, o menino maluquinho. Fazer o quê?, não tínhamos grana, mas tínhamos sonhos e criança que sonha vira adulto criativo. É importante também os pais lerem ou contarem histórias para os seus filhos. O meu só contou uma, aquela da Festa no Céu, mas nunca esqueci. Bem, chega de "saudades da aurora da minha vida", vou comer o meu algodão doce, porque eu também sou filho de Deus. Feliz Dia das Crianças pra nós. Abração!!!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

LUX IN TENEBRIS


E cá estou pra fazer o meu balanço do 7 Curta Santos, um dos festivais de curtas-metragens mais bacanas do gênero. O tema deste ano foi “lux in tenebris”, luz nas trevas. Segundo o diretor Toninho Dantas, a ideia era exaltar a boa safra de filmes nacionais, sem esquecer a sua distribuição que ainda é muito capenga. A abertura foi no SESC-Santos, só para convidados. Não havia aquele clima de red carpet, mas um oba-oba local, com o que há de melhor e pior nisso.

O evento começou com um número de dança que misturava música de rua e performance. De uma simplicidade e beleza tocantes. Depois dos discursos de praxe, subiram ao palco os homenageados da noite, a atriz Maitê Proença e o diretor Carlos Manga. Digamos que Maitê não estivesse tão confortável assim. Ela mal pegou o microfone e já foi reclamando da demora pra chegar a Santos, etc. Ainda tentou se corrigir, mas já era tarde. Causou uma tremenda saia justa. Já o diretor Carlos Manga emocionou a todos e foi aplaudido de pé. Merecidamente. Manga dirigiu várias chanchadas, aqueles filmes populares que, nos anos 40 e 50, eram considerados toscos pela crítica, mas que hoje se transformaram em cult. Visivelmente emocionado, desabafou: “Ainda bem que eu vivi mais de setenta anos, para poder ver tudo isso”. E ainda bem que eu estava lá para conferir tudo.

Participei de duas oficinas bem interessantes, roteiro e direção e realização de documentários. A primeira com o cineasta mexicano Aarón Fernández que dirigiu “Partes Usadas”, de 2007. Não foi das melhores, mas deu pra aprender coisas bem legais. Sobre criação de roteiro, ele foi bastante categórico: “Um bom roteiro é aquele que vira um filme. Não adianta escrever cenas irrealizáveis, que só funcionem no papel”. A segunda foi mais completa, com a cineasta Andrea Pasquini. Talvez ela seja mais conhecida pelo documentário “Fiel”, que retrata a queda e o retorno do Corinthians ao Brasileirão e que tem como produtores o apresentador Serginho Groisman e o escritor Marcelo Rubens Paiva, mas o documentário dela que eu mais curto e recomendo é “Os Melhores Anos de Nossas Vidas”. Imperdível. Andrea não economizou dicas, mas vou citar apenas uma, a que considero mais importante, para não me alongar muito: “Para fazer um documentário, o assunto tem que ser apaixonante. Você tem que se envolver de verdade”.



O festival ainda me deu a oportunidade de conhecer ou apenas ver de perto pessoas que sempre admirei. Foi o caso do cineasta Guilherme de Almeida Prado, cuja biografia já foi indicada aqui. Também bati um papinho com o André Fischer (foto), jornalista e editor da revista Junior. Ele achou lindo um quadro que fiz pra ele e até elogiou o meu trabalho, no seu Twitter. Quando vi o ator Sérgio Mamberte, a primeira coisa que me passou pela cabeça foi “Tio Vitor” rs, adorava o Castelo Rá-Tim-Bum. Mas foi o ator Matheus Nachtergaele quem realmente me surpreendeu pela simplicidade e carisma. Ele estava lá promovendo o seu filme “A Festa da Menina Morta”. Aliás, filme que, na minha opinião, tem um certo mérito, mas também vários equívocos. Muitas pessoas deixaram a sala de exibição. Matheus é um dos nossos melhores atores, inegavelmente, mas como diretor ainda tem um longo caminho a percorrer. Pessoalmente não é nada freak, apenas muito tímido. Da mostra "Olhar Caiçara", o único filme que, realmente, me agradou e que de fato estava torcendo foi “Malu e Fred”, de Rodrigo Bernardo. Aliás, faturou vários prêmios, a torcida era bem grande. De modo geral, faltaram roteiros mais elaborados, porque tecnicamente os filmes estavam bem aceitáveis. “Vende-se”, do Dino Menezes, veterano no festival, merecia até um prêmio de consolação, mas ele cometeu um erro até amador, filmar um espetáculo teatral. Qualquer pessoa sabe que teatro e vídeo nunca se bicaram, o resultado quase sempre é destoante e cansativo. Claro que não é nada fácil fazer cinema no Brasil. Um dia, quem sabe eu até posso estar lá, mas, se a pessoa tem mesmo muita vontade de contar aquela história, deve pensar mil vezes no roteiro e principalmente no elenco, ambos precisam estar em total sintonia, afinadíssimos, caso contrário o espectador vai sair sempre do cinema com a sensação de que seria melhor ter ficado em casa acessando o Youtube.

Por hoje é só, mas em breve estarei de volta. Fica aqui, então, os meus largos cumprimentos ao querido Toninho Dantas e toda a equipe do Curta Santos por esse evento que nos enche de tanto orgulho. Um abraço especial também aos meninos do Ká Entre Nós, Jay e Alê, que indicaram o meu blog entre um dos que eles acham bacana. Obrigadão mesmo. E a vida segue cheia de expectativas. Abraços e beijos!

sábado, 3 de outubro de 2009

FELICIDADE CARIOCA



O Rio é Copacabana cheia
É a garota de Ipanema na areia
É o carioca alegre e festeiro
É o mar cantado em verso e prosa.

O Rio é Cartola e suas rosas mudas
É a Rocinha
É a tragédia e a volta por cima
É a música de Tom, Vinicius e Pixinguinha.

Que me perdoem os meus amigos poetas, mas hoje até eu me permito escrever versinhos simpáticos sobre o Rio de Janeiro. Tá na ordem do dia, o Rio será a sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Parabéns à cidade e ao Brasil por essa conquista. Acho importante para o país, mas não vou alimentar maiores euforias. Sempre gostei do Rio, tenho amigos preciosos lá, mas também não dá pra fechar os olhos e imaginar que até 2016 viveremos de carnaval. Não vejo outra cidade brasileira com potencial pra sediar um evento esportivo desse porte, mas muita coisa precisa ser feita. Não vamos esquecer aqueles momentos tensos que antecederam ao Pan, quando as obras não se concluíam, com histórias de superfaturamento, etc. Mas, por ora, não quero ser pessimista, prefiro torcer para que tudo dê certo, sobretudo com planejamento, transparência, competência, segurança e também sustentabilidade. O vídeo feito pelo Fernando Meirelles é lindo, à altura da beleza da cidade. Quem não viu ainda vale a pena procurar na internet. Acho que boa parte dessa conquista deve-se a ele também, porque acredito que aquelas imagens, que traduzem tão bem o espírito carioca de ser, tocaram tanto quanto o discurso do presidente Lula. Aliás, nunca as metáforas futebolísticas do nosso presidente estiveram em total acordo com o momento. Fico feliz até pelo escritor Machado de Assis que, a essa altura, deve estar com um sorriso de orelha a orelha. Talvez agora a Secretaria de Turismo da cidade tire do papel o esperado roteiro ilustrado com passagens dos personagens machadianos por ruas, praças, praias e outros cenários do Rio, onde o Bruxo do Cosme Velho passou a sua vida inteira. Gostei da cobertura das TVs e da repercussão no Twitter, fez toda diferença mesmo, tanto que nos Estados Unidos fala-se que Chicago não levou a melhor porque não houve envolvimento da mídia. Achei bacana a cobertura da Globo News e da TV Record. Em geral, apresentadores e repórteres não sabiam se repercutiam a notícia ou se caíam no samba. Na dúvida, fizeram as duas coisas. Vou ficando por aqui com a minha felicidade "carioca", mas já pensando em malhar pra não fazer feio em 2016 rs. Obrigadão a todos pelos gentis comentários sobre o layout novo do blog. Abração!