quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

SAIDEIRA


Me dá um abraço?


Pessoal, já estou em clima de saideira também. Passei aqui rapidinho só para agradecer a vocês pela companhia, durante o ano, e fazer um brevíssimo retrospecto do ano que passou. Ontem, dei um rasante em São Paulo e não poderia deixar de falar que o famigerado espírito natalino tomou conta de mim. A Paulista estava toda enfeitada, iluminada, as pessoas indo de um lado a outro com as suas compras, as crianças encantadas com o Papai Noel... Enfim, senti exatamente o que a Cecília Meireles tão bem sintetizou em uma das suas belas crônicas de “Escolha o seu Sonho”, “esses dons da infância que o tempo nos vai roubando cruelmente e que todos os dias precisamos energicamente recuperar”. Fica aqui a minha primeira resolução de ano novo, dias com mais leveza, com um olhar mais puro e infantil, mesmo que a realidade e a violência sejam brutais.

Na volta pra casa, uma carreta que vinha um pouco mais à frente do ônibus onde eu estava bateu em dois caminhões. Fiquei umas 4 horas dentro do ônibus esperando liberarem a pista. Aproveitei esse tempo para refletir o quanto é importante “gastar o presente”, viver com intensidade, perdoar, dizer ao outro o que se tem vontade, tudo em vida. Muitas pessoas acham isso uma babaquice, um clichê sem tamanho, mas, por muitas vezes ignorarmos essas coisas tão simples, nos arrependemos depois.


2009 foi um ano muito bom pra mim, graças a Deus. Pude realizar a minha primeira exposição, escrever e encenar a minha primeira peça infantil, ter um lugar maior para trabalhar e, claro, fazer novos e preciosos amigos. Um deles foi o Vitor, que conheci na segunda-feira, em sua rápida passagem por Santos. Eu já tinha feito pra ele uma ilustração (foto), por conta de sua viagem a NY, em setembro, mas só agora pude lhe entregar o presente. Ele gostou tanto que dava pra ver em seus olhos cinza azulados. O bacana de presentear é justamente esse, proporcionar às pessoas esses pequenos momentos de alegria. Ganhei dele várias imagens do que há de mais “in” em termos de arte em solo americano. Obrigadão, meu amigo. Vamos tentar nos ver mais vezes, sim. Foi uma tarde muito divertida.

Neste ano, o Natal aqui em casa vai ser muito especial, porque o meu irmão Luciano, que mora na Holanda, veio passar as férias conosco. Estou muito feliz, as melhores lembranças dessa época do ano, pra mim, sempre estiveram ligadas à família reunida, mais do que presentes, comida farta, essas coisas. E a família Teixeira é enorme! Para vocês terem uma ideia, temos até uma comunidade no Orkut. Entre parentes e agregados somam-se mais de 45 pessoas (basicamente só daqui de São Paulo). E é tradição todos se reunirem no Natal, na casa da minha tia Gessi. O amigo secreto adentra a madrugada e dura horas. Mas é uma família abençoada, unida, eu amo muito todos eles.

E já estou cheio de planos para o ano que vem. Pretendo viajar mais, pintar mais, escrever mais, ler mais, fazer mais amigos, ouvir mais música, ir mais ao cinema, estar mais presente aqui no Blog... Ser mais feliz resume tudo, né? Que todos nós sejamos muito felizes, em 2010, é o que desejo a todos, de coração! Estou saindo para umas breves férias, mas voltarei logo cheio de novidades. Abraços e beijos!!! Fui.

sábado, 19 de dezembro de 2009

MUSIC AND ME

"O mundo é um moinho..." Cartola, sempre!

Do retrô ao contemporâneo

Já fazia algum tempo que eu queria postar aqui sobre música. Na semana passada, um amigo meu me visitou e viu no meu ateliê um rádio bem antigo e o meu walkman azul da Sony. Imediatamente nos reportamos aos nossos tempos de colégio, numa época pré-ipod, e começamos a falar do que ouvíamos, das matinês que frequentávamos, enfim, deu logo vontade de escrever sobre o assunto. Coincidentemente, um dia depois, recebi aqui no Blog um convite do Jay, do Ká entre Nós, para participar de uma postagem coletiva sobre música e topei na hora.

A música está presente na minha vida, desde a minha primeira infância, porque o meu pai tinha uma empresa chamada SuperStar Som, que colocava som em festas na cidade, promovia bailes de formatura, etc. A minha casa vivia cheia de LPs e fitas cassete e eu adorava ficar mexendo nos bolachões, ver os encartes, aquelas imagens bem coloridas, os figurinos espalhafatosos, tudo aquilo me fascinava. Ao invés de ouvirmos Balão Mágico e cia., ouvíamos tudo que estivesse em voga no momento, basicamente muita MPB e música regional baiana. Mas essa fase nem conta muito porque a música não tinha o sentido que ela só viria a ter pra mim, na adolescência. Quem não teve uma trilha sonora do primeiro amor, né? Hoje, com as facilidades da internet, o normal é baixar a música na hora, mas eu ainda peguei a época da rádio FM. As melhores músicas pop só se ouviam na Jovem Pan e Transamérica. Faz tempo que não ouço rádio, então não sei se elas ainda tem o mesmo impacto que antes, mas suponho que não, parece que se resumem ao hit parade e às notícias do trânsito, pelo menos em cidades maiores como São Paulo.




No auge da minha puberdade, depois de toda a melancolia das músicas sertanejas que tomou conta do país, conheci a música da cantora Daniela Mercury e passei a ser seu fã, com direito a ir a todos os shows, pedir autógrafo e outras loucurinhas, como gastar a minha mesada em CDs e revistas e jornais em que ela aparecia. Na verdade, eu ainda gosto das músicas dela. Ela soube direcionar bem a sua carreira e não se tornou refém do ritmo que a consagrou, “mesmo que erre, é para o futuro”. Daniela já cantou com Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano, Gil, entre outros, mas também vive flertando com a música eletrônica, samba e agora está numa onda de retomar a Tropicália, que eu adoro. É dessa fase também a leitura de “O Jovem Lennon”, de Jordi Sierra i Fabra, uma biografia juvenil de John Lennon que li no colegial e da qual nunca me esqueci.

Minha primeira sleeveface

Depois dessa fase macaco de auditório, já na faculdade, descobri Maria Bethânia, Ana Carolina, Adriana Calcanhotto, Vanessa da Mata, Marisa Monte, Marina Lima, Cartola (que eu amo), Paulinho da Viola, Caetano Veloso, U2, muita música dos anos 80, gospel, pop, hip hop, enfim, não tenho o menor preconceito, ouço tudo e vou selecionando naturalmente o que me agrada. Fica quem tem maior empatia com o que estou sentindo, no momento, se tem bom gosto, etc. Proust tem uma frase que eu acho ótima: “Detestem a música ruim, não a desprezem”. Concordo plenamente. Não consigo imaginar um churrasco de domingo ao som de Beethoven, por exemplo. E depois, por mais que gêneros como funk, pagode, música sertaneja, forró e axé se deixaram banalizar, existe algo louvável em todos eles: a inegável capacidade de (re)invenção dos seus compositores. Não pensem nas letras fáceis, no excesso de vogais, palavras de duplo sentido, etc, mas, sim, na inventividade desses caras, no ritmo dessas músicas que quase sempre é contagiante. Não se trata de um elogio à música ruim, mas pensem bem: dentro desse nosso país que é enorme, onde cada estado é tão diferente um do outro, com tamanha disparidade sociocultural, “a música ruim pode não ter o seu lugar na história da Arte, mas é imenso na história sentimental dele”.

Não vou me arriscar a fazer uma lista das mais mais do meu i-pod, porque inevitavelmente faltaria com algum cantor ou cantora, mas vou lançar a vocês uma pergunta. Qual o verso de uma canção que vocês mais curtem? O poeta Manuel Bandeira achava lindo “Tu pisavas nos astros distraída”. O meu é “O canto do negro veio lá do alto. É belo como a íris dos olhos de Deus”. Toda vez que ouço isso me emociono. Ah, tenho curtido também uma série chamada Glee, da FOX, não sei se vocês conhecem. Ela mistura comédia, drama, musical. É bem interessante. Outro dia, morri de rir quando vi um time inteiro de baseball dançando “Single Ladies”, da Beyoncé. E também estou doido pra ler “Morangos Mofados”, do Ramon Mello. Pelo que andei lendo sobre o livro dele, tem tudo a ver com o tema de hoje. E já ia me esquecendo, só canto mesmo no chuveiro rs. Bem, é isso, pessoal. Obrigadão, de verdade, pelos belos comentários sobre o meu trabalho, no post anterior. Vou visitar todos os blogs esta semana, estou em dívida com vocês. Volto ainda com uma mensagem de Natal. Abração!!!

RARIDADES MUSICAIS





Algumas raridades que garimpei na discoteca da minha casa. Na ordem: toda a bossa da juventude dos anos 60; em seguida, quem não compraria um disco de boleros com o título "El bigote se pone romantico"? rs, eu acho essa capa engraçadíssima; tem também os vovôs dos Backstreet Boys e cia., Os Menudos, cujo hit "Não se reprima" virou "mania" entre as meninas nos anos 80 e, por fim, o disco mais vendido de todos os tempos, "Triller", do inesquecível Michael Jackson.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

RELICÁRIO






Prometi postar alguns trabalhos novos com colagens e aqui estou para pagar a minha dívida. Muito também impulsionado por uma espécie de “teste” que fiz agora pouco, no Messenger, onde coloquei no meu display uma foto em que estou, pasmem!, de cueca boxer branca, dorso nu, sentado de frente, uma perna tocando o chão e a outra dobrada sobre a minha cama, olhos levemente fechados, numa atmosfera bem onírica. Não tem nada de escandaloso, pornográfico, etc. Talvez não passe de uma foto “sexy”. Bem, houve um certo reboliço, algumas pessoas pediram insistentemente a imagem, que é em preto e branco e muito inspirada nos belos trabalhos do fotógrafo Bruce Weber. Lá pelas tantas, houve uma reação do tipo: “Mudei os meus conceitos em relação a você”. Não vou fazer aqui uma tese sobre moralismo ou o que faço ou deixo de fazer com a minha própria imagem, mas cabe apenas uma explicação. Quando procuro me autorretratar dessa forma mais “artística” é tão-somente para “brincar” com referências do universo da moda, porque tem muito a ver com arte. E isso também nem é um desabafo, porque quem me conhece de verdade sabe que eu não sou um sex symbol ou algo do gênero. Guardem apenas esse acontecimento, pois vou retomar o assunto na conclusão do post e vocês logo entenderão o porquê.

No ano passado, o calendário dos padres sexies esteve ali, lado a lado com o da Pirelli, em termos de audiência. Neste ano, a bola da vez são os mórmons “descamisados”. Então eu me questiono onde foi parar aquele velho discurso dessas religiões sobre a exposição do nosso corpo e tudo mais. Vejam bem, não sou contra esse tipo de exposição, apenas me incomoda quando há um certo exagero. E fica aqui até uma espécie de mea culpa, porque já tive também a minha fase hedonista, no passado, mas falo agora de modo geral, porque o excesso sempre banaliza. Também me irrita a incoerência dessas religiões que todos nós sabemos que costumam, sim, segregar muitas pessoas, usando ou não a Bíblia como parâmetro.

A série de imagens que criei dei o nome de “Relicário” e as razões já foram citadas, no post do dia 1º de dezembro, só quero acrescentar que não faz muito tempo que li um texto muito interessante em “O Crepúsculo dos Ídolos”, de Nietzche, em que ele aparece como um destruidor de ídolos e entrega-se à tarefa de livrar o homem de suas crenças religiosas. Não partilho dessa posição radical, claro, mas me interesso também em mostrar que tanto o paganismo quanto o cristianismo se serviram de múltiplas possibilidades de divinização da existência. Por isso esse novo trabalho une sagrado e profano, mostrando que essas imagens tanto ocultam como revelam, tanto assustam como seduzem. E isso não é nada original, este ano mesmo foi até "tendencinha". Vários fotógrafos como David LaChapelle e a dupla Pierre e Gilles trabalham esse tema do simulacro muito melhor, com recursos modernosos de computador e todo um aparato de direção de arte. Preferi uma técnica bem mais simples, que todo o seu conceito lembrasse a nossa cultura popular com o seu colorido, que tivesse um charme kitsch, humor, enfim, o resultado me agradou bastante. Postei só um "aperitivo", mas espero que vocês curtam.

Só pra finalizar o assunto “minha foto de cueca” e já linkar com tudo que escrevi depois: tenho a impressão de que estamos vivendo um momento bem confuso, onde há um forte desejo indiscriminado de “desnudar” o outro, mas, ao mesmo tempo, não sabemos se nos sentimos culpados por isso, se comemoramos, se nos penitenciamos ou se fazemos tudo isso junto, como no já clássico episódio do vestido curto daquela estudante que foi execrada pelos estudantes da UNIBAN e saudada por muitas mulheres como uma “mártir” feminista, dos novos tempos. Bem, vou ficando por aqui, porque tenho que entregar encomendas de quadros pro Natal, no próximo finde, em São Paulo. E na sexta ainda quero postar sobre música. Então, abração a todos! Fui.

domingo, 6 de dezembro de 2009

NATAL AMARGO


"Tem gente que não sabe viver com felicidade"
Ontem assisti ao tão esperado “Feliz Natal”, o primeiro longa dirigido pelo ator Selton Mello. Embora o filme não tenha me entusiasmado muito, também não posso dizer que tudo que vi não gostei. Desde que soube dessa sua nova empreitada no cinema, fiquei cheio de curiosidade. Em frente às câmeras, Selton não precisa nos provar mais nada, mas atrás delas ainda está se descobrindo. “Este não é o filme da minha vida, é apenas o meu filme de estreia” – esta foi a sua declaração, no ano passado, durante o lançamento desse seu primeiro “filho”. E é exatamente assim que o vejo, como o seu début na direção, com direito a todas as influências e erros a que estreantes estão vulneráveis.

Não esperem por uma história linear, comercial, pelo contrário, para compreendê-la é preciso embarcar nas suas sutilezas e ironias, a começar pelo título. O perturbado Caio, muito bem interpretado pelo ator Leonardo Medeiros, é aquele filho que não deu certo na vida, o máximo que conseguiu foi um ferro velho pra chamar de seu, enquanto o irmão Theo, vivido por Paulo Guarnieri, financeiramente não tem por que se queixar, mas o seu casamento com Fabiana, uma ótima Graziella Moretto em versão dramática, está em crise. Para completar o clima “todos já pro divã”, o seu pai Miguel, o veterano Lucio Mauro, se separou da sua mãe Mércia, a sensacional Darlene Glória, e não o admite como a personificação do fracasso. Os sobrinhos, que dão uma leveza ao filme, criança sempre dá, né?, aparecem como as maiores vítimas dessa família desestruturada, cheia de vícios. Caio faz apenas uma aparição relâmpago, na noite de Natal, para visitá-los, mas é o suficiente para atingi-los no seu íntimo.

Como vocês já devem ter notado, há um excesso de componentes trágicos, mas o pior nem é isso, o roteiro é que não segura até o fim. Em alguns momentos, desgasta-se, torna-se lento demais. Uma pena, porque a fotografia é maravilhosa, a trilha é marcante, a maior parte das interpretações também. O ator Emiliano Queiroz, por exemplo, faz uma pontinha como zelador de um cemitério e arrebenta. Mas o destaque desse filme pra mim, sem sombra de dúvida, é a atriz Darlene Glória, caricatural ou não. E não sei por que ela anda afastada da TV e do cinema. Não dá para não se emocionar numa cena em que, depois de tomar um coquetel psicotrópico, ela entra em transe, começa a se pintar (ou borrar?) desajeitadamente e a se imaginar dançando com o Caio. Seria esta a razão dos seus infortúnios? Uma espécie de amor incestuoso? Só o Selton para nos responder.

“Feliz Natal” é um filme diferente, que privilegia as sensações, as vivências dos personagens, mais do que qualquer outra coisa. Quem curte a literatura de escritores como Clarice Lispector, Tchecov ou Dostoievski vai estar mais acostumado a ele, porque a pegada é bem parecida, mas o melhor é cada um assistir e tirar as suas próprias conclusões. E, se quiser dividir comigo o que achou, melhor ainda. E, depois dessa prova de fogo que é colocar no mundo um rebento e já receber vários bofetões, Selton Mello está preparado para novos desafios. E eu torço muito por ele.

E, neste final de semana, uma nota bem triste, né?, o dramaturgo Mário Bortolotto foi baleado, no Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt, no centro de São Paulo, onde estive há pouco mais de um mês, nas Satyrianas. Estou torcendo pela sua recuperação e tenho certeza de que ele vai sair dessa. Fica aqui a minha solidariedade à família e aos amigos dele e também ao Ivam, ao Rodolfo, enfim, a todo pessoal dos Satyros que foi tão vítima dessa violência absurda quanto o próprio dramaturgo. Aliás, quem está imune a ela, hoje em dia, não é mesmo? Infelizmente. Força, aí! Abração a todos e uma semana cheia de paz, para todos nós.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

DIA DE COMBATE À AIDS




Hoje é o dia mundial de luta contra a AIDS e seria bacana se as pessoas parassem um pouco para refletir sobre o assunto. Ainda que o HIV não seja + uma sentença de morte, por conta dos medicamentos que prolongam a vida dos pacientes ou das pesquisas atuais que apontam uma luz no fim do túnel, até pelo fato do Brasil ser uma referência no tratamento público da doença, mesmo assim, é importante se prevenir, principalmente usar camisinha. Na impossibilidade de não me parecer pedagógico demais, preferi fazer algumas intervenções artísticas, para reforçar a importância do dia. Sei que o estilista Carlos Tufvesson também está liderando uma campanha virtual no Twitter, pedindo que as pessoas coloquem em suas fotos aquele lacinho vermelho, símbolo mundial da luta contra a AIDS, o que também é bacana, mas preferi fazer algo diferente. O badalado artista plástico Vik Muniz também fez, neste ano, uma daquelas suas fotografias curiosas com vários soropositivos se beijando e, provavelmente, deve ser divulgada hoje.

Muito recentemente, fiz uma série de colagens, que pretendo postar aqui depois ou expor em algum lugar, inspirada num episódio envolvendo a cantora Daniela Mercury, que teria sido impedida de cantar num concerto de Natal, no Vaticano, em 2005, porque fez uma campanha de uso da camisinha, num Carnaval. Não só não concordo com a posição do Vaticano em relação ao uso de preservativos, como achei a atitude de barrar a cantora baiana, no evento, um tremendo absurdo. A questão não é religiosa, é de saúde pública mesmo, basta ver a situação desesperadora da África, com os seus milhões de infectados. Lá, o número de funerais, por causa da doença, ultrapassa a média dos cinco mil por dia. Dá para ignorar isso? Sem contar que, em nome de Deus, a Igreja Católica fez também barbaridades, as Cruzadas são apenas uma delas.

E nem é preciso dizer que o preconceito em relação aos soropositivos é uma bobagem, né? Estamos todos expostos às intempéries desses tempos malucos, correndo riscos... Pra quê lhes sonegar afeto ou tratá-los de forma diferente, não é mesmo? A frase do educador Rubem Alves, que coloquei ontem, no mural do meu ateliê, vem bem a calhar: “Hoje não há razões para otimismo. Hoje só é possível ter esperança”. Sobre a cura da AIDS, não apenas sou otimista como também reforço todo dia a minha esperança.

Existem vários livros e filmes sobre o tema, vou indicar os meus favoritos: a excelente autobiografia “Antes Que Anoiteça”, do escritor cubano Reinaldo Arenas, o filme também é muito bom, chorei pencas; os menos densos e carismáticos “Meu Caro H”, de Samir Thomaz e “A Corrente do Bem”, do Walcyr Carrasco; os filmes “Filadélfia”, com uma interpretação maravilhosa do Tom Hanks, “Gia - Fama e Destruição”, com outra brilhante atuação, dessa vez, da iniciante Angelina Jolie, e um que é bem sessão da tarde, mas que, se passar mil vezes, assisto a todas, “A Cura”. A peça “Angels in America”, que virou filme e minissérie da TV a cabo, também é muito bacana.
Bem, vou ficando por aqui, porque tenho que organizar muitas coisas ainda. E a vida segue positiva. Abração!