segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

LÁGRIMAS DE DIAMANTE


Sei que os holofotes ainda estão sobre a tediosa cerimônia do Oscar, que aconteceu ontem, mas, embora tenha assistido e torcido para algumas produções, escolhi para comentar aqui um filme que não teve a menor repercussão entre nós, mas que também não precisava ser tãããão ignorado assim. Refiro-me a The Loss of a Teardrop Diamond, rebatizado no Brasil com o título novelesco de Tesouro Perdido e dirigido pela atriz Jodie Markell (?), numa empreitada independente orçada em módicos US$ 6,5 milhões, sobre um texto até então inédito do brilhante dramaturgo norte-americano Tennessee Williams.

O que me chamou atenção foi, sem dúvida, o texto de Tennessee Williams, que é um dos meus dramaturgos favoritos, e curiosamente está creditado no filme como autor do roteiro, embora todos saibamos que ele já morreu faz um bom tempo. Veja bem, não é “baseado na obra de” é “escrito por”. No Google, não achei nada sobre. Tampouco acredito se tratar de um roteiro psicografado. Bem, marketing ou não, o fato é que só o texto salva esse filme e, graças a isso, o dramaturgo não precisa se envergonhar dele (seja lá onde ele esteja).

A trama gira em torno da voluntariosa Fisher Willow (Bryce Dallas Howard), que não consegue se adaptar ao estilo simples de Memphis, uma cidade do sudoeste americano, para onde regressa depois de uma temporada na Europa, na segunda metade dos anos 20. Cansada do tédio do lugar e da mentalidade tacanha dos seus moradores, ela não se furta em chocá-los, mas sempre amparada pela sua privilegiada condição social. Porém, para não ter a sua fortuna ameaçada, precisa encontrar um pretendente à sua altura, condição imposta pela tia-avó Cornélia (Ann-Margret), que administra o patrimônio da família. Fischer então recruta o humilde e sexy Jimmy Dobyne (Chris Evans), um funcionário do seu pai, para que finja ser esse homem. Bem, desnecessário dizer que ela se apaixona por ele, mas a perda de um dos seus brincos, uma lágrima de diamante, pode mudar tudo.

Acho perfeita essa metáfora dos brincos, pois concentra na imagem tudo o que é a história, o drama de uma garota rica que quer encontrar um amor verdadeiro. Os diálogos são pontuados por aquelas máximas tão comuns à obra de Tennessee Williams e cabem direitinho na boca dos atores, sem parecer exageradamente teatrais, mas seriam melhor apreciadas, se fossem ditas por atores mais talentosos. Algumas atuações são bem desastrosas, inseguras, sofríveis até, mas, como já disse, vale a pena esperar pelo final, pelo menos para saber como tudo se desenrola. E também porque a história traz alguns temas recorrentes na obra do autor: loucura, alcoolismo, o papel opressor das convenções sociais, etc. Sobre isso o dramaturgo costumava se defender dizendo que o escritor, ao longo da carreira, exprime os mesmos temas por uma necessidade de compreensão.

A fotografia também não empolga tanto, salvo uma ou outra externa das margens do Mississipi. Já a direção de arte se destaca, bem como os figurinos. A dica é: quem aprecia um bom texto, repleto de sutilezas, com diálogos inteligentes ou quem gosta de escrever não pode deixar de assisti-lo. Já quem prefere interpretações mais cativantes, com atores mais experientes, figurões de Hollywood, melhor então passar longe. Enfim, sem a mesma força arrebatadora de “Um Bonde Chamado Desejo”, The Loss of a Teardrop Diamond confirma apenas o poder de encantar com inteligência do texto de Tennessee Williams, mas isso apenas não basta. Alguém poderia ter dito a Jodie Markell.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

LÁ VEM O PATO

Alexandre Acquiste e Aldy Lima
Sei que estou bem atrasado, mas, mesmo assim, vou registrar aqui os meus sinceros votos de feliz ano novo a todos. Já faz um tempinho que não posto nada no Blog, porque resolvi tirar férias junto com ele. Precisava de um tempo pra mim e também para começar a colocar em prática projetos antigos. Na hora certa, vocês saberão. E vamos combinar, os últimos meses não foram também tão generosos, assim, né? Chuvas torrenciais que arrasaram a região serrana do Rio, alagamentos quase diários em São Paulo, dias intermináveis de calor, incêndio na Cidade do Samba, dúvidas irrelevantes no mundo pop como: “Born This Way” é uma cópia de “Express Yourself”? Natalie Lamour e Darlene são parecidas? Barraco de ex-modelo com o filho na TV. Sem falar na aposentadoria do jogador Ronaldo que teve uma cobertura patética da mídia, com direito até a destaque para uma foto em que ele aparece... fumando. Um pouco demais, né? Enfim, mas também fui a exposições bacanas, li livros que já queria ler faz tempo, assisti a filmes bem interessantes e, aos poucos, vou postando essas impressões aqui.

A quem interessar possa: estou pesquisando o tema da minha próxima exposição, que provavelmente deve acontecer em São Paulo, local e data indefinidos ainda, mas estou bem apaixonado pelo tema. Aguardem! Nesse período sabático também co-escrevi um texto infantil – é a segunda vez que escrevo para crianças –, trata-se de “O Pato, a Morte e a Tulipa: a Contação”, em parceria com o Alexandre Acquiste, do Teatro de Gaia, e que também atua no espetáculo com o ator Aldy Lima. A história é bem fofa e lúdica: dois viajantes narram a história de um Pato que se depara com a Morte e acaba se tornando amigo dela. O texto é livremente inspirado no livro homônimo do premiado escritor alemão Wolf Erlbruch. O espetáculo ficou uma graça, como vocês podem conferir pelas imagens. Tem mais no blog do Teatro de Gaia. As crianças adoraram e, durante este mês de fevereiro (dias 13, 20 e 27), a contação está em cartaz no SESC PINHEIROS, em São Paulo, às 14:00H. Depois segue para uma apresentação no prestigiado Festival de Teatro de Curitiba, no dia 02/04. Vida longa ao nosso rebento então.

Por hoje é só. Admito que o post ficou um merchan bem descarado, mas estou só aquecendo as baterias e prometo voltar em breve com assuntos menos autorreferentes. Então, vamos que vamos. Abração e até a próxima!