sexta-feira, 27 de novembro de 2009

MERCHAN



Semana bem corrida. Como já comentei e até mostrei, no post anterior, estou reformando o meu ateliê. Toda reforma começa como uma grande novidade, planos aqui e ali, mas depois começa a encher o saco, vira um caos. Estou nessa fase angustiante. Até ficar tudo pronto, é uma pequena via-crúcis, sobretudo porque sou bem perfeccionista, gosto que tudo saia como imaginei. Para o ator Leopoldo Fróes, “a perfeição é o céu dos artistas”, mas, no meu caso, é algo mais junguiano mesmo, de alcançar a totalidade, de testar todas as possibilidades até me sentir satisfeito. Por isso todo o meu tempo livre tem sido só para anotar ideias para quadros e textos novos ou mesmo lendo alguma coisa, antes de dormir. Mas também vim aqui fazer o meu merchan porque eu não sou bobo. Neste final de semana, dia 29/11, tem a minha peça infantil “Na Ilha”, no Sesc-Birigui, no interior de São Paulo. Depois de uma breve temporada, em junho, no Commune, em São Paulo, a peça começa a excursionar pelo interior. Nesta nova etapa, a atuação/direção fica por conta dos incansáveis Alexandre Acquiste e Apollo Faria, do Teatro de Gaia e Belatriz, respectivamente. Aliás, todo o esforço dessa nova empreitada se deve a eles, porque não se faz teatro, principalmente no Brasil, sem dedicação, paciência e disciplina.

O texto da peça é uma adaptação livre do livro infantil “Meu Amigo Jim” da escritora belga Kitty Crowther e gira em torno da amizade entre dois pássaros de espécies diferentes, Jack e Jim, um melro e uma gaivota. Como já escrevi detalhadamente sobre o processo de criação dele, (quem perdeu é só recorrer aos arquivos) vou acrescentar apenas o release fofo feito pelo próprio Sesc-Birigui: Aprender a lidar com o outro, com o diferente, de forma respeitosa, essa é a proposta do espetáculo ‘Na Ilha’, baseado na tradição milenar dos contadores de histórias. São abordados também, com leveza e naturalidade, temas do cotidiano de toda criança: a discriminação racial, o valor da amizade e a importância do hábito da leitura”. A peça emociona tanto crianças quanto adultos. Sou suspeito, claro, mas não resisto, a peça é linda.



E, já que o clima enveredou por esse caminho “babador”, vou até o fim. Recebi da querida Perla Rossetti a edição de nº 30 da revista “Lindenberg & Life”, cujo tema é “mundo das artes”. Como a revista não é vendida em bancas, a jornalista gentilmente ma enviou. O projeto gráfico e o papel são de primeira, formato extra large (raríssimo depois da crise que passou como uma avalanche, no mercado editorial), textos bem escritos, com leveza, mas sem esquecer a informação. Enfim, muito bacana. Fica aqui os meus parabéns a toda a equipe da revista. De quebra, ainda tem uma longa entrevista com o meu amigo Paulo Von Poser, onde ao ser questionado sobre as suas dificuldades, no começo da carreira, ele respondeu: “A mesma dos jovens artistas de hoje: expor. Outro dia, falei a um pintor muito bom que conheci no Guarujá: ‘Vai expor em uma pizzaria, seu trabalho tem de ser visto pelo público'”. Ele me indicou a Piola para minha primeira exposição e deu super certo. Expor realmente é bem complicado, muitas pessoas me questionam sobre novas exposições e a resposta é sempre a mesma; quando surgir uma oportunidade. Enquanto isso, continuo na batalha.


E saiu a minha resenha, no Aplauso Brasil – IG, "Nas Quebradas de Plínio Marcos". http://colunistas.ig.com.br/aplausobrasil/2009/11/23/nas-quebradas-de-plinio-marcos/ E chega de merchan por hoje. Semana que vem quero postar só alguns trabalhos novos e pretendo dar um rasante, na bloguesfera, porque já estou com saudades dos meus amigos blogueiros. E a vida segue “operária”. Um ótimo final de semana a todos! Abração!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O TEMPO NÃO PÁRA

"Só as mães são felizes"

O post de hoje está bem saudosista e vocês já vão entender por que. Assisti ontem ao programa Cazuza – Por Toda a Minha Vida e confesso que ainda estou muito emocionado. Já tinha assistido e gostado do filme da Sandra Werneck e Walter Carvalho e tive novamente a mesma reação. Discordo que o programa veio para tapar alguns “buracos” deixados pela cinebiografia. São enfoques diferentes. Por mais que o roteiro do filme seja baseado em fatos reais, sem a ficção não teria muita graça, porque é ela quem vai “costurando” tudo, como se diz no jargão dos roteiristas. E todos desse gênero são feitos da mesma maneira, não adianta fazer beicinho. O programa da TV pode ter soado mais “quente”, porque é um docudrama, entremeado por depoimentos de pessoas que conviveram com o cantor, por isso se tem a ilusão de ser mais crível, mas ambas as interpretações e reconstrução de época são impecáveis, bastante convincentes. Sem contar que é a primeira vez que a Globo deixa a caretice de lado. Impossível em outros tempos imaginar a cena em que Cazuza e Ney Matogrosso estão namorando ao ar livre, com direito a beijinho na boca e tudo. Enfim, um acerto e tanto, porque a TV aberta está bem entediante, vocês não acham?

Claro, o componente trágico da vida do Cazuza prende a nossa atenção também. Um cantor que nasceu numa família de classe-média alta, que era uma tormenta de criatividade, um poeta fabuloso, mas, como muitos artistas da época, por alguma razão não se cuidou e foi ceifado pela AIDS. Também não dá para ser indiferente à relação dele com a mãe, Lucinha Araújo. Muitas vezes me reconheço nele, naquele gênio intempestivo, dizem que os arianos são assim. A minha mãe tem teses maravilhosas a respeito rs. O meu irmão mais velho, que sempre foi uma influência musical muito grande pra mim, tinha um LP do Cazuza, se não me engano um duplo, e ouvia sempre. Então com os meus dez ou onze anos eu ficava na sala ouvindo aquele som vibrante, aquele rock gostoso, umas músicas lentas aqui e ali. Era um outro tempo. Não se trata de ser melhor ou pior, era apenas uma outra atmosfera, diferente, as pessoas se freqüentavam mais, talvez fossem até mais felizes.

"Jamais a arte e a poesia vão brotar do interior de pessoas fracas"

E há dez anos perdíamos um dos dramaturgos mais sensíveis à realidade brasileira: Plínio Marcos. Plínio nasceu em Santos e a cidade tem um carinho enorme por ele, por isso está acontecendo na Cadeia Velha, ao lado do Terminal Valongo, uma exposição sobre a sua vida. A convite do querido Toninho Dantas, também faço parte dessa mostra. Adorei a experiência de voltar a ter contato com a obra do Plínio. Tenho uma edição rara de “Querô”, autografada, edição do próprio autor. É bem interessante, o livro não tem prefácio, orelha assinada, nada disso, é seco, áspero. Toda a obra dele é assim. O quadro que fiz chama-se “Brutal” (foto) e a minha intenção foi transmitir essa ideia de indignação, no olhar dele. Acho que consegui. Deve sair por esses dias também uma resenha minha sobre o livro “Histórias das Quebradas do Mundaréu”, no site Aplauso Brasil, do Portal IG. O nosso cinema se especializou em mostrar as nossas mazelas, as nossas chagas sociais mais incrementes, mas quem primeiro fez isso foi o Plínio, aliás, quem melhor as retratou.

Porque eu sou pau pra toda obra

E o meu sumiço nos últimos dias tem a ver com a reforma do meu ateliê, da minha “Caverna Criativa”, como costumo chamar. Tive que colocar literalmente a mão na massa. Sabe aquela história de que não basta querer tem que participar? Pois é. A minha peça infantil “Na Ilha” deve se apresentar no dia 29/11 no SESC-Birigui também. Enfim, o tempo não pára! Hoje é feriado, o sol está radiante, mas eu não estarei na praia. Então, aproveitem por mim. Abração!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

ADEUS, REBELDES


Já ouvi algumas vezes que as novas gerações sofrem da falta de idealismo, no que concordo em parte, mas não foi isso que me fez ler, recentemente, “Anos Rebeldes”, de Gilberto Braga, com adaptação para romance de Flávio de Souza. A razão foi afetiva mesmo. Aos 14 anos, quando comecei a escrever ficção, a minissérie inspirou o que seria a minha primeira peça teatral. Os originais se perderam nas inúmeras arrumações que o meu pai vive fazendo num depósito que temos, nos fundos de casa, mas da história ainda me lembro muito bem, girava em torno do drama de Rosália, uma jovem de classe-média "empobrecida" que, depois de engravidar do namorado, ficava em dúvida se faria ou não um aborto. Tudo, no começo dos anos 60, num período de transição entre a timidez da década anterior e a revolução sexual que ensaiava os seus primeiros passos.

O livro talvez leve um pouco mais de vantagem sobre a minissérie de 1992, porque é “sem cortes”, o que faz toda a diferença. Aliás, embora eu não seja adepto a teorias conspiratórias, também não sou tão ingênuo a ponto de não acreditar que ela foi decisiva para o impeachment de Collor. No mínimo, impulsionou o surgimento dos “caras-pintadas” e de inúmeras manifestações que pipocaram no país, naquele ano.

O romance narra a história de amor entre João Alfredo, um jovem com poucas ambições na vida, mas cheio de ideais políticos e Maria Lúcia, estudante de Comunicação que prefere a leveza dos segundos cadernos a bater de frente com os milicos. Como pano de fundo, claro, toda a crueldade do regime militar, inibidor das manifestações políticas e artísticas contrárias a ele, num período que vai de 1964 a 1971. E para dar um clima bem "Julie et Jim", de François Truffaut, entra na história o pragmático Edgar para balançar o coração de Maria Lúcia. Mas quem rouba a cena mesmo é a despojada Heloísa, interpretada brilhantemente na TV pela atriz Claudia Abreu. Filha de banqueiro com uma dondoca, ela abandona o conforto e o luxo para aderir à luta armada. "Bem novelesco", vocês devem pensar, e é, mas com aquela ironia irresistível do Gilberto Braga. A orelha é ainda assinada por Zuenir Ventura, autor de "1968 – o Ano que Não Terminou", livro que considero definitivo sobre esse período sangrento da nossa história.

Ontem mesmo passou na TV uma reportagem extensa sobre a “diversão” dos jovens de hoje e foi inevitável fazer a comparação. Numa rave, em Maresias, repleta de estudantes universitários, eles enchiam a cara e se drogavam, ininterruptamente, dando trabalho até aos bombeiros que precisavam tirá-los do mar o tempo todo. Pessoas bem nascidas, na flor da idade, entregues a um caminho que muitas vezes já se provou ser sem volta. Uma pena mesmo. Não estou aqui bancando o moralista, pelo amor de Deus, até em Woodstock, já que estamos falando em “Anos Rebeldes”, rolava muita droga, o que não é uma justificativa, mas os propósitos passavam por um simbolismo também, a luta pela paz e pelos direitos dos jovens que se negavam a entrar para o exército. Tenho a impressão de que hoje estamos bem perdidos, há democracia, liberdade de expressão e mil facilidades, mas só isso basta? Até a palavra “Rebelde” já virou sinônimo de boy band mexicana de gosto pra lá de duvidoso. O refrão chato "Y soy rebelde" em nada faz lembrar o discurso comunista de Che Guevara.

Aos que preferem experimentar coisas bem melhores, recomendo o ótimo “Tropicália” (1968), pois o CD inteiro é bacana, faixa a faixa, com sonoridades e letras absurdas, é bem o retrato da época. Pensei em sugerir às meninas a minissaia da Mary Quant, mas já vi que elas não fariam o menor sucesso, nas universidades rs. O filme “Easy Rider” (1969) é muito bom também, dois motoqueiros perambulando sem destino pelas estradas dos Estados Unidos, para denunciar a intolerância da sociedade americana. A lista é imensa, “Hair”, “Blow Up”, os filmes do Glauber Rocha, a música dos Beatles, Stones, Janis Joplin, Bob Dylan, até Roberto Carlos, fica ao gosto do freguês. Bem, vou ficando por aqui, mas a vida segue “guerrilheira”. Em breve, apareço com novidades. Abração!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

SATYRIANAS E TUTTI QUANTI


E não é que o sol apareceu mesmo? Os dias tem sido luminosos por aqui, já com cara de verão. Bem, no final de semana, estive em São Paulo e cheguei cheio de novidades, por isso, se o post ganhar um tom mais descritivo, vocês me perdoem. Sábado, que é um dia que eu adoro, fui acompanhar a 10ª edição das Satyrianas, na Praça Roosevelt. Cheguei cedo, mas perdi a mesa redonda com os escritores Santiago Nazarian e Marcelo Rubens Paiva. O horário também era bastante ingrato, vamos combinar, meio-dia. De qualquer forma, fiquei por ali perambulando. Mais de 30º na sombra. Sobrou tempo até para lamentar a degradação da Escola Caetano de Campos e observar de perto os skatistas e até um rapaz solitário praticando le parkuor.

Aos poucos, figuras inusitadas foram aparecendo e o barato desses eventos é justamente esse, a diversidade humana. Da imprensa só vi mesmo uma equipe do Programa Novo, da TV Cultura. E teatro que é bom nada, até cheguei a entrar numa das tendas de lona, mas a sensação térmica lá dentro era absurda e desisti. Nesse intervalo, surgiu um rapaz e me ofereceu o seu “livro”, o qual poderia pagá-lo com “qualquer moeda”. Achei aquilo tão insólito que não resisti e comprei o exemplar na hora. Vocês não fazem ideia do que se trata. Numa folha reciclada, cortada ao meio e dividida em quatro, Nando Mello escreveu quatro poemas bemmm “psicodélicos”, se é que vocês me entendem rs. "Raios de Sol", por exemplo, é assim, ipsis litteris: “Nuvens / Somos / Poetaço / Vamos!”. Detalhe, vieram até rabiscadas as contas do "poeta", na folha. O livro, que não possui título, já enriquece a minha coleção de raridades literárias, claro.

No finzinho da tarde, encontrei o meu amigo Paulo von Poser, que estava no Espaço Visumix, se preparando para a performance “Pedra Sobre Pedra”, com o músico Danilo Tomic. Essa performance, cujo vídeo está no meu canal no Youtube /luisfabianoteixeira, era uma homenagem aos 20 anos da queda do muro de Berlim e tinha tudo a ver com o local onde foi realizada, pois a demolição da Praça Roosevelt está prevista pelo Governo do Estado, se não me engano, para março do ano que vem. Num determinado momento, o artista parou e se aproximou da parede num gesto de imersão na obra, quase ritualístico. No começo, pensei que ele estivesse passando mal, mas depois ele nos confidenciaria que fez aquilo para “sentir” a parede. Foi mágico. Emocionante. Ainda no mesmo local, assisti a uma apresentação da Épicac Tropical Banda que tem um som bem interessante, moderno, cool. Quem quiser conhecer o trabalho deles é só visitar o Myspace dos caras. Vale a pena.

E ainda teve rosa atirada a noivos que acabavam de se casar, na primeira igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, e jantar num restaurante bem charmoso, o Ritz, na Alameda Franca, point de artistas e pessoas descoladas da cidade. Aliás, deixei lá a minha assinatura na parede e a frase de Proust: “O amor apenas passou por mim como um sonho”. Espero voltar lá um dia para conferir se ela ainda está lá. Na saída, conheci uma artista incrível que eu até já recomendei aqui uma de suas exposições, no ano passado, quando ela comemorou 50 anos de carreira, Maria Bonomi. Foram apenas alguns minutos, mas o suficiente para captar a beleza dos seus gestos, o falar calmo, "a sua sina traçada pelas estrelas", enfim, um encontro inesquecível, afinal eu estava diante também de uma amiga da escritora Clarice Lispector. Há uma passagem entre a amizade das duas que vale a pena ser contada. Clarice, que é também madrinha do filho da Maria, certa vez numa exposição da amiga, teria que escolher uma obra de presente. Em vez de optar pela obra final, a escritora quis ficar com a matriz da gravura “A águia”, de 1967, que pendurou na sala de sua casa e numa crônica escreveu: “Maria escreve meus livros e eu canhestramente talho a madeira”.


Momento Clipping, quadro meu na Junior #13
Já o domingo teve momento árcade com passeio no Ibirapuera e parada na Fenac da Paulista, onde abri a Junior #13 e dei de cara com a foto do quadro que fiz pro André Fischer. Sorte pra toda a equipe da revista. Agora é voltar ao batente. Tenho que começar ainda um quadro em homenagem ao Plínio Marcos, por conta dos 10 anos de sua morte. A imagem é bem forte, como a obra do Plínio, quando estiver pronto, posto aqui. Por enquanto, a vida segue solar. Abração!

SAUDAÇÃO À PRIMAVERA