quarta-feira, 28 de maio de 2008

NOTAS, NOTINHAS E IRRELEVÂNCIAS

Fiquei muito triste com a morte da escritora Zélia Gattai, por quem tinha um grande apresso. Sem dúvida ela está agora na companhia do marido, o escritor Jorge Amado, porque aqueles dois nasceram um para o outro.

E a nota dos alunos do ensino médio do estado de São Paulo, hein? Um pontinho e alguma coisa. Que fiasco! Eu que já fui romântico e lecionei em escola pública sei o quanto a relação que os alunos têm com a escola é complicada e o quanto existe de descaso dos pais com a educação dos seus filhos. Sem contar o corpo docente que, de modo geral, não quer saber de muita coisa. Ou melhor, quer, sim: do salário baixo, dos adicionais, das férias, dos feriados e da aposentadoria. O sonho do professor de escola pública é a aposentadoria. Não os culpo totalmente, porque as condições de trabalho são horríveis.

E por que não existe uma campanha eficiente de incentivo à leitura, no Brasil? A última do Governo Federal, que eu me lembre, foi “fictícia”. Quem é que lê “O Guarani”, na academia, pelo amor de Deus? Se um dia encontrar alguém que faça isso, dou-lhe um beijo na boca. Falando sério. Por que nas novelas não aparecem também jovens lendo? Eles nunca lêem. Tudo bem, alguma cena em “Ciranda de Pedra” e “7 Pecados”. Só. Eu quero ver o Reinaldo Gianecchini lendo um livro na TV. É pedir muito? Essa vai ser a minha campanha daqui pra frente. Vou sugerir aos meus amigos autores de novela. Leia, Giane! Leia!

Nessa mesma leva encontram-se os programas de literatura da TV. Não há um sequer a que se consiga assistir até o final, tamanho o pedantismo. Os diretores desses programas deveriam se mirar nos “Cadernos de Literatura Brasileira” do Instituto Moreira Salles. Explorar mais imagens, entrevistas com os escritores, curiosidades da vida deles e da criação dos seus livros. É isso que chama atenção e seduz o leitor. Mas, não, preferem sempre tratar o assunto com frescura. Fazer o quê?

“É melhor ver seu filho no colo de outro, do que jazendo no seu próprio colo”. Com estas comoventes palavras a ex-ministra do meio ambiente Marina Silva se despediu da sua pasta e foi com ela o que restava da minha esperança neste governo. E o presidente Lula com aqueles seus trocadilhos de balcão de padaria...

No mundo, há pessoas que nasceram para ser belas e pessoas que nasceram para ser inteligentes. E há também aquelas que não podendo ser uma coisa nem outra são apenas infelizes. Isso me veio, assim, numa golfada.

E vocês já leram os blogs dos artistas? Um ou outro vale a pena, mas, no geral, é pura falta do que dizer. Sem contar os tropeços na língua. Já li na apresentação de um deles o termo “fazem anos”. Onde está a qualidade ortográfica, hein? Aproveito o gancho para dizer que ainda não tenho opinião formada a respeito do novo acordo ortográfico entre os países de língua portuguesa. A imprensa também pouco tem ajudado a esclarecer a mudança, que já se dá como certa.

Adorando tirar fotos em P&B.

DÍVIDA PAGA

Havia prometido fazer um apanhado geral dos últimos livros que li. A lista é enorme, por isso selecionei apenas os mais mais ou aqueles que apresentam alguma curiosidade. Vamos lá. Devo não nego e pago agora.

"A Vida dos Grandes Brasileiros – Castro Alves". Biografia deliciosa do poeta baiano pelas mãos de Francisco Pereira da Costa. Já fui um fã ardoroso de poetas e romancistas românticos, mas hoje não tenho tanta paciência para páginas e páginas de descrições em cor local e nem tampouco sensibilidade à flor da pele para os arroubos da “geração do amor e medo”. No entanto, Castro Alves teve uma vida tão fascinante que vale muito a pena ler essa biografia. O Lauro César Muniz tem um sonho antigo de levar às telas a vida do poeta. Não sei exatamente a que pé anda esse projeto, depois que o novelista foi contratado pela TV Record.

"A Carne" – de Júlio Ribeiro. Há nesse livro o carimbo indelével de “proibido”. Já o censuraram incontáveis vezes por conta da história que foi considerada polêmica pra sua época (final do século XIX). É um pouco cansativo como todo romance naturalista, porque invariavelmente eles pecam pelo excesso de cientificismo e teorias correlatas. Páginas e páginas de descrições que poderiam estar melhor figuradas em qualquer compêndio de geografia, botânica, etc. O interessante é que, já naquela época, havia uma corrente de pensamento que defendia o desejo pelo desejo, o prazer sem culpa. Amor? O amor para esses autores era como um ramo de urtiga a pinicar suas carnes. Observem o que diz Júlio Ribeiro sobre isso: “A palavra amor é um eufemismo para abrandar um pouco a verdade ferina da palavra cio”. Então, tá.

"Primeira Carta Aos Andróginos" – de Agnaldo Silva. Comprei o livro na Bienal de 2004, mas só fui lê-lo agora. Quase todo em metáforas, aborda a sexualidade humana de forma insólita e por vezes cansativa. Tenho a impressão de que em alguns momentos o autor de “Duas Caras” recorreu às suas reminiscências pernambucanas, para compor parte da história. Olha só o absurdo que ele escreveu, lá pelas tantas: “Dizem que todo branco de cabelo ruim tem tendências criminosas”. Ainda bem que eu sou mulato claro, como o Caetano.

"O Incesto" – de Mário de Sá Carneiro. Adoro os poemas dele e também as suas novelas soturnas. Ninguém escreve melhor sobre o tédio do que Mário de Sá Carneiro. Destaco uma passagem do livro e que julgo importante para quem quer trilhar o caminho da criação: “O prazer de criar avantaja-se a todos. Em frente da arte, o artista esquece. A sua dor, se não se cura, suaviza-se pelo menos. A arte é um refúgio. Eis a única utilidade – digamo-lo baixinho: Se não fossem os belos livros da minha estante e as páginas de má prosa que escrevo de quando em quando, há muito que eu teria dado talvez um tiro nos miolos”. Concordo somente com a primeira parte. Há um poema lindo dele musicado pela Adriana Calcanhotto chamado “O Outro” que também vale a pena conferir.

"Dom Casmurro" e "Quincas Borba" – de Machado de Assis. O primeiro tem o seu encanto na forma de contar e não propriamente na história em si. O segundo alcança maior vigor em termos de narrativa, embora com passagens bem enfadonhas. De todos os personagens da literatura brasileira nenhum é tão emblemático quanto Capitu. A propósito, aguardo ansioso a série homônima para a TV, dirigida por Luiz Fernando Carvalho, um dos diretores brasileiros de maior prestígio e inventividade. “Quincas Borba” me despertou para um tema que tenho pesquisado muito: a loucura. Também me fez refletir que não devemos nos fiar em amigos, afinal, eles “entortam o focinho na hora do enterro e depois esquecem até os pirões que já filaram”. Palavras do escritor-lâmina-alagoano Graciliano Ramos.

domingo, 11 de maio de 2008

DONA CANÔ, DONA CANÔ!

Dia das mães e eu presto esta singela homenagem a dona Claudionor Vianna Telles Velloso, mais conhecida entre nós por Dona Canô, a mãe de Caetano Veloso e Maria Bethânia. O escritor ou jornalista que escrever a biografia dessa senhora centenária terá em suas mãos um rico material. Humano, sensível, poderoso. O que Dona Canô fala, logo se corre e escreve. As suas palavras jamais podem se confundir com o vento, porque são muito preciosas. Aliás, vou sugerir essa idéia para o Antonio Bivar.
Em setembro de 2000, Dona Canô concedeu uma longa entrevista ao jornalista Sérgio Augusto de Andrade, para a revista “República”, intitulada “No Coração Brilhante da Bahia”. Um daqueles documentos afetuosos, que não se podem perder por nada. Como se houvesse na mídia uma polêmica acerca da inteligência de nós baianos, posta em dúvida pelo coordenador do curso de medicina da UFBA (o nome do sujeitinho não me ocorre agora), resolvi recorrer à entrevista de Dona Canô, como quem pede socorro a uma cartomante, em busca de alguma salvação. Queria escrever sobre o assunto, mas não me arriscar em ser traído pela vaidade. Evitaria também ao máximo os nomes de baianos ilustres, porque outros já o citaram em nossa defesa. Tudo bem, não me alongarei, ficam aqui as palavras de Dona Canô: “Não nasce gente burra em Santo Amaro (cidade do Recôncavo baiano onde a matriarca da família Velloso reside). E, se nascer, morre”. É, deu pra perceber que essa polêmica vem de longe. Para completar, ela ainda põe fogo na eterna briga entre cariocas e paulistas: “Gosto do Rio, mas eles não têm afeto. Em São Paulo os amigos são de verdade. Com mar, era outra Bahia”. Dona Canô, Dona Canô!

(foto) Dona Canô ao telefone, por Elói Corrêa, Agência A Tarde.

***

Chovendo a cântaros por aqui. Dia das mães bem melancólico. Devo terminar a peça ainda esta semana. O resultado tem sido muito bom. Já tenho até a imagem de um possível protagonista, o ator Sergio Menezes. Desde que me debrucei em pesquisas para escrevê-la, decobri coisas muito legais que pretendo dividir aqui com vocês, mas, por enquanto, está sendo impossível fazer esse apanhado geral. Então, para aliviar um pouco a minha culpa, presenteio vocês com um trechinho de... "BOM-CRIOULO". E a vida segue.

“Vibrai rijo o chicote. Sou negro como a noite e da morte aprendi a escapar. (IRÔNICO) Vamos, aplaudam! Aplaudam os convencionalismos dessa sociedade hipócrita! Não esqueçam também de festejar o guardião Agostinho, no final do espetáculo. (GRAVE) Não adianta. Se for preciso, defenderei novamente o meu querido amigo Aleixo. Estas 150 chibatadas só conseguem extrair de mim um único filete de sangue. O sangue que escorre para selar a nossa amizade. Uma amizade que há de ser para sempre. (AINDA MAIS IRÔNICO) Ah, como a paixão faz o sofrimento parecer inatingível!”.

CIRANDA DE PEDRA


Sou noveleiro. Não escondo isso de ninguém e nem acho que seja demérito algum acompanhar um folhetim, por meses a fio. Sonho um dia escrever para TV e até me vejo encarando sorrindo a árdua tarefa de conduzir uma telenovela. Por conta disso leio muitos roteiros, livros sobre o assunto, tenho os meus autores preferidos, etc. Não a vejo como uma arte menor, descartável, um patinho feio, como é considerada a crônica dentro da literatura por alguns críticos. Sobretudo em países subdesenvolvidos, a telenovela cumpre muito bem o papel de entreter e emocionar aqueles que não dispõem de dinheiro para ir ao cinema, ao teatro, comprar um livro, etc. O Eugênio Bucci, em outras palavras, já discorreu melhor sobre o assunto. Aguardo a estréia de “Ciranda de Pedra”, há mais de um ano, desde quando li a notícia numa revista. Imediatamente corri pra ler o romance e fiquei encantado com a história. O poeta Augusto Frederico Schmidt afirmou na época que “o encontro de Virgínia (a caçula de Laura) menina com o mundo é alguma coisa de realmente excepcional em nossas letras”. E ele não estava exagerando. O romance consegue tratar de loucura, paixão e desamor com muita sensibilidade e poesia, como só a Lygia Fagundes Telles é capaz de escrever, perscrutando sem fazer concessões os labirintos da nossa alma. Esta nova “Ciranda” é escrita brilhantemente pelo Alcides Nogueira, o querido Tide, de quem tive o privilégio de conhecer em 2005 (foto) e também por Mario Teixeira (que por acaso não é meu parente), com a colaboração de Lúcio Manfredi e Rodrigo Amaral (se não me engano, filho da escritora Maria Adelaide Amaral). O Tide vem mostrando que é possível respeitar os limites do gênero (telenovela), sem trair o texto original (o romance da Lygia). O resultado é um belíssimo trabalho de reconstrução de época. Desde “Força de Um Desejo”, não via nada com tanto apuro. Como tenho memória visual, vou logo cravando os meus olhos nos cenários, nas roupas, nos objetos de cena, etc. A direção de arte é impecável. Até as plantas que se entrelaçam nas paredes e que no decorrer da trama darão a Laura (a protagonista) a sensação de que dos seus dedos brotam raízes estão lá. O elenco na minha opinião também foi muito bem escalado. A trilha sonora é um charme. Vejam bem, não sou fã ardoroso de Bossa Nova, mas estou curtindo muito aquelas canções. Permita-me uma travessura imaginária. A abertura me dá a impressão de que, a qualquer momento, “As Meninas Cahen d'Anvers”, aquelas do quadro também conhecido como “Azul e Rosa”, de Renoir, darão as mãos e entrarão saltitantes na roda. Em suma, isso tudo se chama respeito ao telespectador. Honestidade de trabalho. Dedicação de uma equipe inteira. Não pensem que estou aqui fazendo propaganda da Rede Globo. Se houver outra emissora que faça algo semelhante, vou elogiar da mesma maneira, como já elogiei o trabalho do Tiago Santiago, quando este entrou para a TV Record.
Fica então aqui registrada a minha dica para os noveleiros (como eu) e para qualquer pessoa que queira se emocionar e rir bastante, de segunda a sábado, às 18:00 H. Volto amanhã em edição extraordinária. E a vida segue!!!