quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

SAIDEIRA


Me dá um abraço?


Pessoal, já estou em clima de saideira também. Passei aqui rapidinho só para agradecer a vocês pela companhia, durante o ano, e fazer um brevíssimo retrospecto do ano que passou. Ontem, dei um rasante em São Paulo e não poderia deixar de falar que o famigerado espírito natalino tomou conta de mim. A Paulista estava toda enfeitada, iluminada, as pessoas indo de um lado a outro com as suas compras, as crianças encantadas com o Papai Noel... Enfim, senti exatamente o que a Cecília Meireles tão bem sintetizou em uma das suas belas crônicas de “Escolha o seu Sonho”, “esses dons da infância que o tempo nos vai roubando cruelmente e que todos os dias precisamos energicamente recuperar”. Fica aqui a minha primeira resolução de ano novo, dias com mais leveza, com um olhar mais puro e infantil, mesmo que a realidade e a violência sejam brutais.

Na volta pra casa, uma carreta que vinha um pouco mais à frente do ônibus onde eu estava bateu em dois caminhões. Fiquei umas 4 horas dentro do ônibus esperando liberarem a pista. Aproveitei esse tempo para refletir o quanto é importante “gastar o presente”, viver com intensidade, perdoar, dizer ao outro o que se tem vontade, tudo em vida. Muitas pessoas acham isso uma babaquice, um clichê sem tamanho, mas, por muitas vezes ignorarmos essas coisas tão simples, nos arrependemos depois.


2009 foi um ano muito bom pra mim, graças a Deus. Pude realizar a minha primeira exposição, escrever e encenar a minha primeira peça infantil, ter um lugar maior para trabalhar e, claro, fazer novos e preciosos amigos. Um deles foi o Vitor, que conheci na segunda-feira, em sua rápida passagem por Santos. Eu já tinha feito pra ele uma ilustração (foto), por conta de sua viagem a NY, em setembro, mas só agora pude lhe entregar o presente. Ele gostou tanto que dava pra ver em seus olhos cinza azulados. O bacana de presentear é justamente esse, proporcionar às pessoas esses pequenos momentos de alegria. Ganhei dele várias imagens do que há de mais “in” em termos de arte em solo americano. Obrigadão, meu amigo. Vamos tentar nos ver mais vezes, sim. Foi uma tarde muito divertida.

Neste ano, o Natal aqui em casa vai ser muito especial, porque o meu irmão Luciano, que mora na Holanda, veio passar as férias conosco. Estou muito feliz, as melhores lembranças dessa época do ano, pra mim, sempre estiveram ligadas à família reunida, mais do que presentes, comida farta, essas coisas. E a família Teixeira é enorme! Para vocês terem uma ideia, temos até uma comunidade no Orkut. Entre parentes e agregados somam-se mais de 45 pessoas (basicamente só daqui de São Paulo). E é tradição todos se reunirem no Natal, na casa da minha tia Gessi. O amigo secreto adentra a madrugada e dura horas. Mas é uma família abençoada, unida, eu amo muito todos eles.

E já estou cheio de planos para o ano que vem. Pretendo viajar mais, pintar mais, escrever mais, ler mais, fazer mais amigos, ouvir mais música, ir mais ao cinema, estar mais presente aqui no Blog... Ser mais feliz resume tudo, né? Que todos nós sejamos muito felizes, em 2010, é o que desejo a todos, de coração! Estou saindo para umas breves férias, mas voltarei logo cheio de novidades. Abraços e beijos!!! Fui.

sábado, 19 de dezembro de 2009

MUSIC AND ME

"O mundo é um moinho..." Cartola, sempre!

Do retrô ao contemporâneo

Já fazia algum tempo que eu queria postar aqui sobre música. Na semana passada, um amigo meu me visitou e viu no meu ateliê um rádio bem antigo e o meu walkman azul da Sony. Imediatamente nos reportamos aos nossos tempos de colégio, numa época pré-ipod, e começamos a falar do que ouvíamos, das matinês que frequentávamos, enfim, deu logo vontade de escrever sobre o assunto. Coincidentemente, um dia depois, recebi aqui no Blog um convite do Jay, do Ká entre Nós, para participar de uma postagem coletiva sobre música e topei na hora.

A música está presente na minha vida, desde a minha primeira infância, porque o meu pai tinha uma empresa chamada SuperStar Som, que colocava som em festas na cidade, promovia bailes de formatura, etc. A minha casa vivia cheia de LPs e fitas cassete e eu adorava ficar mexendo nos bolachões, ver os encartes, aquelas imagens bem coloridas, os figurinos espalhafatosos, tudo aquilo me fascinava. Ao invés de ouvirmos Balão Mágico e cia., ouvíamos tudo que estivesse em voga no momento, basicamente muita MPB e música regional baiana. Mas essa fase nem conta muito porque a música não tinha o sentido que ela só viria a ter pra mim, na adolescência. Quem não teve uma trilha sonora do primeiro amor, né? Hoje, com as facilidades da internet, o normal é baixar a música na hora, mas eu ainda peguei a época da rádio FM. As melhores músicas pop só se ouviam na Jovem Pan e Transamérica. Faz tempo que não ouço rádio, então não sei se elas ainda tem o mesmo impacto que antes, mas suponho que não, parece que se resumem ao hit parade e às notícias do trânsito, pelo menos em cidades maiores como São Paulo.




No auge da minha puberdade, depois de toda a melancolia das músicas sertanejas que tomou conta do país, conheci a música da cantora Daniela Mercury e passei a ser seu fã, com direito a ir a todos os shows, pedir autógrafo e outras loucurinhas, como gastar a minha mesada em CDs e revistas e jornais em que ela aparecia. Na verdade, eu ainda gosto das músicas dela. Ela soube direcionar bem a sua carreira e não se tornou refém do ritmo que a consagrou, “mesmo que erre, é para o futuro”. Daniela já cantou com Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano, Gil, entre outros, mas também vive flertando com a música eletrônica, samba e agora está numa onda de retomar a Tropicália, que eu adoro. É dessa fase também a leitura de “O Jovem Lennon”, de Jordi Sierra i Fabra, uma biografia juvenil de John Lennon que li no colegial e da qual nunca me esqueci.

Minha primeira sleeveface

Depois dessa fase macaco de auditório, já na faculdade, descobri Maria Bethânia, Ana Carolina, Adriana Calcanhotto, Vanessa da Mata, Marisa Monte, Marina Lima, Cartola (que eu amo), Paulinho da Viola, Caetano Veloso, U2, muita música dos anos 80, gospel, pop, hip hop, enfim, não tenho o menor preconceito, ouço tudo e vou selecionando naturalmente o que me agrada. Fica quem tem maior empatia com o que estou sentindo, no momento, se tem bom gosto, etc. Proust tem uma frase que eu acho ótima: “Detestem a música ruim, não a desprezem”. Concordo plenamente. Não consigo imaginar um churrasco de domingo ao som de Beethoven, por exemplo. E depois, por mais que gêneros como funk, pagode, música sertaneja, forró e axé se deixaram banalizar, existe algo louvável em todos eles: a inegável capacidade de (re)invenção dos seus compositores. Não pensem nas letras fáceis, no excesso de vogais, palavras de duplo sentido, etc, mas, sim, na inventividade desses caras, no ritmo dessas músicas que quase sempre é contagiante. Não se trata de um elogio à música ruim, mas pensem bem: dentro desse nosso país que é enorme, onde cada estado é tão diferente um do outro, com tamanha disparidade sociocultural, “a música ruim pode não ter o seu lugar na história da Arte, mas é imenso na história sentimental dele”.

Não vou me arriscar a fazer uma lista das mais mais do meu i-pod, porque inevitavelmente faltaria com algum cantor ou cantora, mas vou lançar a vocês uma pergunta. Qual o verso de uma canção que vocês mais curtem? O poeta Manuel Bandeira achava lindo “Tu pisavas nos astros distraída”. O meu é “O canto do negro veio lá do alto. É belo como a íris dos olhos de Deus”. Toda vez que ouço isso me emociono. Ah, tenho curtido também uma série chamada Glee, da FOX, não sei se vocês conhecem. Ela mistura comédia, drama, musical. É bem interessante. Outro dia, morri de rir quando vi um time inteiro de baseball dançando “Single Ladies”, da Beyoncé. E também estou doido pra ler “Morangos Mofados”, do Ramon Mello. Pelo que andei lendo sobre o livro dele, tem tudo a ver com o tema de hoje. E já ia me esquecendo, só canto mesmo no chuveiro rs. Bem, é isso, pessoal. Obrigadão, de verdade, pelos belos comentários sobre o meu trabalho, no post anterior. Vou visitar todos os blogs esta semana, estou em dívida com vocês. Volto ainda com uma mensagem de Natal. Abração!!!

RARIDADES MUSICAIS





Algumas raridades que garimpei na discoteca da minha casa. Na ordem: toda a bossa da juventude dos anos 60; em seguida, quem não compraria um disco de boleros com o título "El bigote se pone romantico"? rs, eu acho essa capa engraçadíssima; tem também os vovôs dos Backstreet Boys e cia., Os Menudos, cujo hit "Não se reprima" virou "mania" entre as meninas nos anos 80 e, por fim, o disco mais vendido de todos os tempos, "Triller", do inesquecível Michael Jackson.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

RELICÁRIO






Prometi postar alguns trabalhos novos com colagens e aqui estou para pagar a minha dívida. Muito também impulsionado por uma espécie de “teste” que fiz agora pouco, no Messenger, onde coloquei no meu display uma foto em que estou, pasmem!, de cueca boxer branca, dorso nu, sentado de frente, uma perna tocando o chão e a outra dobrada sobre a minha cama, olhos levemente fechados, numa atmosfera bem onírica. Não tem nada de escandaloso, pornográfico, etc. Talvez não passe de uma foto “sexy”. Bem, houve um certo reboliço, algumas pessoas pediram insistentemente a imagem, que é em preto e branco e muito inspirada nos belos trabalhos do fotógrafo Bruce Weber. Lá pelas tantas, houve uma reação do tipo: “Mudei os meus conceitos em relação a você”. Não vou fazer aqui uma tese sobre moralismo ou o que faço ou deixo de fazer com a minha própria imagem, mas cabe apenas uma explicação. Quando procuro me autorretratar dessa forma mais “artística” é tão-somente para “brincar” com referências do universo da moda, porque tem muito a ver com arte. E isso também nem é um desabafo, porque quem me conhece de verdade sabe que eu não sou um sex symbol ou algo do gênero. Guardem apenas esse acontecimento, pois vou retomar o assunto na conclusão do post e vocês logo entenderão o porquê.

No ano passado, o calendário dos padres sexies esteve ali, lado a lado com o da Pirelli, em termos de audiência. Neste ano, a bola da vez são os mórmons “descamisados”. Então eu me questiono onde foi parar aquele velho discurso dessas religiões sobre a exposição do nosso corpo e tudo mais. Vejam bem, não sou contra esse tipo de exposição, apenas me incomoda quando há um certo exagero. E fica aqui até uma espécie de mea culpa, porque já tive também a minha fase hedonista, no passado, mas falo agora de modo geral, porque o excesso sempre banaliza. Também me irrita a incoerência dessas religiões que todos nós sabemos que costumam, sim, segregar muitas pessoas, usando ou não a Bíblia como parâmetro.

A série de imagens que criei dei o nome de “Relicário” e as razões já foram citadas, no post do dia 1º de dezembro, só quero acrescentar que não faz muito tempo que li um texto muito interessante em “O Crepúsculo dos Ídolos”, de Nietzche, em que ele aparece como um destruidor de ídolos e entrega-se à tarefa de livrar o homem de suas crenças religiosas. Não partilho dessa posição radical, claro, mas me interesso também em mostrar que tanto o paganismo quanto o cristianismo se serviram de múltiplas possibilidades de divinização da existência. Por isso esse novo trabalho une sagrado e profano, mostrando que essas imagens tanto ocultam como revelam, tanto assustam como seduzem. E isso não é nada original, este ano mesmo foi até "tendencinha". Vários fotógrafos como David LaChapelle e a dupla Pierre e Gilles trabalham esse tema do simulacro muito melhor, com recursos modernosos de computador e todo um aparato de direção de arte. Preferi uma técnica bem mais simples, que todo o seu conceito lembrasse a nossa cultura popular com o seu colorido, que tivesse um charme kitsch, humor, enfim, o resultado me agradou bastante. Postei só um "aperitivo", mas espero que vocês curtam.

Só pra finalizar o assunto “minha foto de cueca” e já linkar com tudo que escrevi depois: tenho a impressão de que estamos vivendo um momento bem confuso, onde há um forte desejo indiscriminado de “desnudar” o outro, mas, ao mesmo tempo, não sabemos se nos sentimos culpados por isso, se comemoramos, se nos penitenciamos ou se fazemos tudo isso junto, como no já clássico episódio do vestido curto daquela estudante que foi execrada pelos estudantes da UNIBAN e saudada por muitas mulheres como uma “mártir” feminista, dos novos tempos. Bem, vou ficando por aqui, porque tenho que entregar encomendas de quadros pro Natal, no próximo finde, em São Paulo. E na sexta ainda quero postar sobre música. Então, abração a todos! Fui.

domingo, 6 de dezembro de 2009

NATAL AMARGO


"Tem gente que não sabe viver com felicidade"
Ontem assisti ao tão esperado “Feliz Natal”, o primeiro longa dirigido pelo ator Selton Mello. Embora o filme não tenha me entusiasmado muito, também não posso dizer que tudo que vi não gostei. Desde que soube dessa sua nova empreitada no cinema, fiquei cheio de curiosidade. Em frente às câmeras, Selton não precisa nos provar mais nada, mas atrás delas ainda está se descobrindo. “Este não é o filme da minha vida, é apenas o meu filme de estreia” – esta foi a sua declaração, no ano passado, durante o lançamento desse seu primeiro “filho”. E é exatamente assim que o vejo, como o seu début na direção, com direito a todas as influências e erros a que estreantes estão vulneráveis.

Não esperem por uma história linear, comercial, pelo contrário, para compreendê-la é preciso embarcar nas suas sutilezas e ironias, a começar pelo título. O perturbado Caio, muito bem interpretado pelo ator Leonardo Medeiros, é aquele filho que não deu certo na vida, o máximo que conseguiu foi um ferro velho pra chamar de seu, enquanto o irmão Theo, vivido por Paulo Guarnieri, financeiramente não tem por que se queixar, mas o seu casamento com Fabiana, uma ótima Graziella Moretto em versão dramática, está em crise. Para completar o clima “todos já pro divã”, o seu pai Miguel, o veterano Lucio Mauro, se separou da sua mãe Mércia, a sensacional Darlene Glória, e não o admite como a personificação do fracasso. Os sobrinhos, que dão uma leveza ao filme, criança sempre dá, né?, aparecem como as maiores vítimas dessa família desestruturada, cheia de vícios. Caio faz apenas uma aparição relâmpago, na noite de Natal, para visitá-los, mas é o suficiente para atingi-los no seu íntimo.

Como vocês já devem ter notado, há um excesso de componentes trágicos, mas o pior nem é isso, o roteiro é que não segura até o fim. Em alguns momentos, desgasta-se, torna-se lento demais. Uma pena, porque a fotografia é maravilhosa, a trilha é marcante, a maior parte das interpretações também. O ator Emiliano Queiroz, por exemplo, faz uma pontinha como zelador de um cemitério e arrebenta. Mas o destaque desse filme pra mim, sem sombra de dúvida, é a atriz Darlene Glória, caricatural ou não. E não sei por que ela anda afastada da TV e do cinema. Não dá para não se emocionar numa cena em que, depois de tomar um coquetel psicotrópico, ela entra em transe, começa a se pintar (ou borrar?) desajeitadamente e a se imaginar dançando com o Caio. Seria esta a razão dos seus infortúnios? Uma espécie de amor incestuoso? Só o Selton para nos responder.

“Feliz Natal” é um filme diferente, que privilegia as sensações, as vivências dos personagens, mais do que qualquer outra coisa. Quem curte a literatura de escritores como Clarice Lispector, Tchecov ou Dostoievski vai estar mais acostumado a ele, porque a pegada é bem parecida, mas o melhor é cada um assistir e tirar as suas próprias conclusões. E, se quiser dividir comigo o que achou, melhor ainda. E, depois dessa prova de fogo que é colocar no mundo um rebento e já receber vários bofetões, Selton Mello está preparado para novos desafios. E eu torço muito por ele.

E, neste final de semana, uma nota bem triste, né?, o dramaturgo Mário Bortolotto foi baleado, no Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt, no centro de São Paulo, onde estive há pouco mais de um mês, nas Satyrianas. Estou torcendo pela sua recuperação e tenho certeza de que ele vai sair dessa. Fica aqui a minha solidariedade à família e aos amigos dele e também ao Ivam, ao Rodolfo, enfim, a todo pessoal dos Satyros que foi tão vítima dessa violência absurda quanto o próprio dramaturgo. Aliás, quem está imune a ela, hoje em dia, não é mesmo? Infelizmente. Força, aí! Abração a todos e uma semana cheia de paz, para todos nós.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

DIA DE COMBATE À AIDS




Hoje é o dia mundial de luta contra a AIDS e seria bacana se as pessoas parassem um pouco para refletir sobre o assunto. Ainda que o HIV não seja + uma sentença de morte, por conta dos medicamentos que prolongam a vida dos pacientes ou das pesquisas atuais que apontam uma luz no fim do túnel, até pelo fato do Brasil ser uma referência no tratamento público da doença, mesmo assim, é importante se prevenir, principalmente usar camisinha. Na impossibilidade de não me parecer pedagógico demais, preferi fazer algumas intervenções artísticas, para reforçar a importância do dia. Sei que o estilista Carlos Tufvesson também está liderando uma campanha virtual no Twitter, pedindo que as pessoas coloquem em suas fotos aquele lacinho vermelho, símbolo mundial da luta contra a AIDS, o que também é bacana, mas preferi fazer algo diferente. O badalado artista plástico Vik Muniz também fez, neste ano, uma daquelas suas fotografias curiosas com vários soropositivos se beijando e, provavelmente, deve ser divulgada hoje.

Muito recentemente, fiz uma série de colagens, que pretendo postar aqui depois ou expor em algum lugar, inspirada num episódio envolvendo a cantora Daniela Mercury, que teria sido impedida de cantar num concerto de Natal, no Vaticano, em 2005, porque fez uma campanha de uso da camisinha, num Carnaval. Não só não concordo com a posição do Vaticano em relação ao uso de preservativos, como achei a atitude de barrar a cantora baiana, no evento, um tremendo absurdo. A questão não é religiosa, é de saúde pública mesmo, basta ver a situação desesperadora da África, com os seus milhões de infectados. Lá, o número de funerais, por causa da doença, ultrapassa a média dos cinco mil por dia. Dá para ignorar isso? Sem contar que, em nome de Deus, a Igreja Católica fez também barbaridades, as Cruzadas são apenas uma delas.

E nem é preciso dizer que o preconceito em relação aos soropositivos é uma bobagem, né? Estamos todos expostos às intempéries desses tempos malucos, correndo riscos... Pra quê lhes sonegar afeto ou tratá-los de forma diferente, não é mesmo? A frase do educador Rubem Alves, que coloquei ontem, no mural do meu ateliê, vem bem a calhar: “Hoje não há razões para otimismo. Hoje só é possível ter esperança”. Sobre a cura da AIDS, não apenas sou otimista como também reforço todo dia a minha esperança.

Existem vários livros e filmes sobre o tema, vou indicar os meus favoritos: a excelente autobiografia “Antes Que Anoiteça”, do escritor cubano Reinaldo Arenas, o filme também é muito bom, chorei pencas; os menos densos e carismáticos “Meu Caro H”, de Samir Thomaz e “A Corrente do Bem”, do Walcyr Carrasco; os filmes “Filadélfia”, com uma interpretação maravilhosa do Tom Hanks, “Gia - Fama e Destruição”, com outra brilhante atuação, dessa vez, da iniciante Angelina Jolie, e um que é bem sessão da tarde, mas que, se passar mil vezes, assisto a todas, “A Cura”. A peça “Angels in America”, que virou filme e minissérie da TV a cabo, também é muito bacana.
Bem, vou ficando por aqui, porque tenho que organizar muitas coisas ainda. E a vida segue positiva. Abração!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

MERCHAN



Semana bem corrida. Como já comentei e até mostrei, no post anterior, estou reformando o meu ateliê. Toda reforma começa como uma grande novidade, planos aqui e ali, mas depois começa a encher o saco, vira um caos. Estou nessa fase angustiante. Até ficar tudo pronto, é uma pequena via-crúcis, sobretudo porque sou bem perfeccionista, gosto que tudo saia como imaginei. Para o ator Leopoldo Fróes, “a perfeição é o céu dos artistas”, mas, no meu caso, é algo mais junguiano mesmo, de alcançar a totalidade, de testar todas as possibilidades até me sentir satisfeito. Por isso todo o meu tempo livre tem sido só para anotar ideias para quadros e textos novos ou mesmo lendo alguma coisa, antes de dormir. Mas também vim aqui fazer o meu merchan porque eu não sou bobo. Neste final de semana, dia 29/11, tem a minha peça infantil “Na Ilha”, no Sesc-Birigui, no interior de São Paulo. Depois de uma breve temporada, em junho, no Commune, em São Paulo, a peça começa a excursionar pelo interior. Nesta nova etapa, a atuação/direção fica por conta dos incansáveis Alexandre Acquiste e Apollo Faria, do Teatro de Gaia e Belatriz, respectivamente. Aliás, todo o esforço dessa nova empreitada se deve a eles, porque não se faz teatro, principalmente no Brasil, sem dedicação, paciência e disciplina.

O texto da peça é uma adaptação livre do livro infantil “Meu Amigo Jim” da escritora belga Kitty Crowther e gira em torno da amizade entre dois pássaros de espécies diferentes, Jack e Jim, um melro e uma gaivota. Como já escrevi detalhadamente sobre o processo de criação dele, (quem perdeu é só recorrer aos arquivos) vou acrescentar apenas o release fofo feito pelo próprio Sesc-Birigui: Aprender a lidar com o outro, com o diferente, de forma respeitosa, essa é a proposta do espetáculo ‘Na Ilha’, baseado na tradição milenar dos contadores de histórias. São abordados também, com leveza e naturalidade, temas do cotidiano de toda criança: a discriminação racial, o valor da amizade e a importância do hábito da leitura”. A peça emociona tanto crianças quanto adultos. Sou suspeito, claro, mas não resisto, a peça é linda.



E, já que o clima enveredou por esse caminho “babador”, vou até o fim. Recebi da querida Perla Rossetti a edição de nº 30 da revista “Lindenberg & Life”, cujo tema é “mundo das artes”. Como a revista não é vendida em bancas, a jornalista gentilmente ma enviou. O projeto gráfico e o papel são de primeira, formato extra large (raríssimo depois da crise que passou como uma avalanche, no mercado editorial), textos bem escritos, com leveza, mas sem esquecer a informação. Enfim, muito bacana. Fica aqui os meus parabéns a toda a equipe da revista. De quebra, ainda tem uma longa entrevista com o meu amigo Paulo Von Poser, onde ao ser questionado sobre as suas dificuldades, no começo da carreira, ele respondeu: “A mesma dos jovens artistas de hoje: expor. Outro dia, falei a um pintor muito bom que conheci no Guarujá: ‘Vai expor em uma pizzaria, seu trabalho tem de ser visto pelo público'”. Ele me indicou a Piola para minha primeira exposição e deu super certo. Expor realmente é bem complicado, muitas pessoas me questionam sobre novas exposições e a resposta é sempre a mesma; quando surgir uma oportunidade. Enquanto isso, continuo na batalha.


E saiu a minha resenha, no Aplauso Brasil – IG, "Nas Quebradas de Plínio Marcos". http://colunistas.ig.com.br/aplausobrasil/2009/11/23/nas-quebradas-de-plinio-marcos/ E chega de merchan por hoje. Semana que vem quero postar só alguns trabalhos novos e pretendo dar um rasante, na bloguesfera, porque já estou com saudades dos meus amigos blogueiros. E a vida segue “operária”. Um ótimo final de semana a todos! Abração!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O TEMPO NÃO PÁRA

"Só as mães são felizes"

O post de hoje está bem saudosista e vocês já vão entender por que. Assisti ontem ao programa Cazuza – Por Toda a Minha Vida e confesso que ainda estou muito emocionado. Já tinha assistido e gostado do filme da Sandra Werneck e Walter Carvalho e tive novamente a mesma reação. Discordo que o programa veio para tapar alguns “buracos” deixados pela cinebiografia. São enfoques diferentes. Por mais que o roteiro do filme seja baseado em fatos reais, sem a ficção não teria muita graça, porque é ela quem vai “costurando” tudo, como se diz no jargão dos roteiristas. E todos desse gênero são feitos da mesma maneira, não adianta fazer beicinho. O programa da TV pode ter soado mais “quente”, porque é um docudrama, entremeado por depoimentos de pessoas que conviveram com o cantor, por isso se tem a ilusão de ser mais crível, mas ambas as interpretações e reconstrução de época são impecáveis, bastante convincentes. Sem contar que é a primeira vez que a Globo deixa a caretice de lado. Impossível em outros tempos imaginar a cena em que Cazuza e Ney Matogrosso estão namorando ao ar livre, com direito a beijinho na boca e tudo. Enfim, um acerto e tanto, porque a TV aberta está bem entediante, vocês não acham?

Claro, o componente trágico da vida do Cazuza prende a nossa atenção também. Um cantor que nasceu numa família de classe-média alta, que era uma tormenta de criatividade, um poeta fabuloso, mas, como muitos artistas da época, por alguma razão não se cuidou e foi ceifado pela AIDS. Também não dá para ser indiferente à relação dele com a mãe, Lucinha Araújo. Muitas vezes me reconheço nele, naquele gênio intempestivo, dizem que os arianos são assim. A minha mãe tem teses maravilhosas a respeito rs. O meu irmão mais velho, que sempre foi uma influência musical muito grande pra mim, tinha um LP do Cazuza, se não me engano um duplo, e ouvia sempre. Então com os meus dez ou onze anos eu ficava na sala ouvindo aquele som vibrante, aquele rock gostoso, umas músicas lentas aqui e ali. Era um outro tempo. Não se trata de ser melhor ou pior, era apenas uma outra atmosfera, diferente, as pessoas se freqüentavam mais, talvez fossem até mais felizes.

"Jamais a arte e a poesia vão brotar do interior de pessoas fracas"

E há dez anos perdíamos um dos dramaturgos mais sensíveis à realidade brasileira: Plínio Marcos. Plínio nasceu em Santos e a cidade tem um carinho enorme por ele, por isso está acontecendo na Cadeia Velha, ao lado do Terminal Valongo, uma exposição sobre a sua vida. A convite do querido Toninho Dantas, também faço parte dessa mostra. Adorei a experiência de voltar a ter contato com a obra do Plínio. Tenho uma edição rara de “Querô”, autografada, edição do próprio autor. É bem interessante, o livro não tem prefácio, orelha assinada, nada disso, é seco, áspero. Toda a obra dele é assim. O quadro que fiz chama-se “Brutal” (foto) e a minha intenção foi transmitir essa ideia de indignação, no olhar dele. Acho que consegui. Deve sair por esses dias também uma resenha minha sobre o livro “Histórias das Quebradas do Mundaréu”, no site Aplauso Brasil, do Portal IG. O nosso cinema se especializou em mostrar as nossas mazelas, as nossas chagas sociais mais incrementes, mas quem primeiro fez isso foi o Plínio, aliás, quem melhor as retratou.

Porque eu sou pau pra toda obra

E o meu sumiço nos últimos dias tem a ver com a reforma do meu ateliê, da minha “Caverna Criativa”, como costumo chamar. Tive que colocar literalmente a mão na massa. Sabe aquela história de que não basta querer tem que participar? Pois é. A minha peça infantil “Na Ilha” deve se apresentar no dia 29/11 no SESC-Birigui também. Enfim, o tempo não pára! Hoje é feriado, o sol está radiante, mas eu não estarei na praia. Então, aproveitem por mim. Abração!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

ADEUS, REBELDES


Já ouvi algumas vezes que as novas gerações sofrem da falta de idealismo, no que concordo em parte, mas não foi isso que me fez ler, recentemente, “Anos Rebeldes”, de Gilberto Braga, com adaptação para romance de Flávio de Souza. A razão foi afetiva mesmo. Aos 14 anos, quando comecei a escrever ficção, a minissérie inspirou o que seria a minha primeira peça teatral. Os originais se perderam nas inúmeras arrumações que o meu pai vive fazendo num depósito que temos, nos fundos de casa, mas da história ainda me lembro muito bem, girava em torno do drama de Rosália, uma jovem de classe-média "empobrecida" que, depois de engravidar do namorado, ficava em dúvida se faria ou não um aborto. Tudo, no começo dos anos 60, num período de transição entre a timidez da década anterior e a revolução sexual que ensaiava os seus primeiros passos.

O livro talvez leve um pouco mais de vantagem sobre a minissérie de 1992, porque é “sem cortes”, o que faz toda a diferença. Aliás, embora eu não seja adepto a teorias conspiratórias, também não sou tão ingênuo a ponto de não acreditar que ela foi decisiva para o impeachment de Collor. No mínimo, impulsionou o surgimento dos “caras-pintadas” e de inúmeras manifestações que pipocaram no país, naquele ano.

O romance narra a história de amor entre João Alfredo, um jovem com poucas ambições na vida, mas cheio de ideais políticos e Maria Lúcia, estudante de Comunicação que prefere a leveza dos segundos cadernos a bater de frente com os milicos. Como pano de fundo, claro, toda a crueldade do regime militar, inibidor das manifestações políticas e artísticas contrárias a ele, num período que vai de 1964 a 1971. E para dar um clima bem "Julie et Jim", de François Truffaut, entra na história o pragmático Edgar para balançar o coração de Maria Lúcia. Mas quem rouba a cena mesmo é a despojada Heloísa, interpretada brilhantemente na TV pela atriz Claudia Abreu. Filha de banqueiro com uma dondoca, ela abandona o conforto e o luxo para aderir à luta armada. "Bem novelesco", vocês devem pensar, e é, mas com aquela ironia irresistível do Gilberto Braga. A orelha é ainda assinada por Zuenir Ventura, autor de "1968 – o Ano que Não Terminou", livro que considero definitivo sobre esse período sangrento da nossa história.

Ontem mesmo passou na TV uma reportagem extensa sobre a “diversão” dos jovens de hoje e foi inevitável fazer a comparação. Numa rave, em Maresias, repleta de estudantes universitários, eles enchiam a cara e se drogavam, ininterruptamente, dando trabalho até aos bombeiros que precisavam tirá-los do mar o tempo todo. Pessoas bem nascidas, na flor da idade, entregues a um caminho que muitas vezes já se provou ser sem volta. Uma pena mesmo. Não estou aqui bancando o moralista, pelo amor de Deus, até em Woodstock, já que estamos falando em “Anos Rebeldes”, rolava muita droga, o que não é uma justificativa, mas os propósitos passavam por um simbolismo também, a luta pela paz e pelos direitos dos jovens que se negavam a entrar para o exército. Tenho a impressão de que hoje estamos bem perdidos, há democracia, liberdade de expressão e mil facilidades, mas só isso basta? Até a palavra “Rebelde” já virou sinônimo de boy band mexicana de gosto pra lá de duvidoso. O refrão chato "Y soy rebelde" em nada faz lembrar o discurso comunista de Che Guevara.

Aos que preferem experimentar coisas bem melhores, recomendo o ótimo “Tropicália” (1968), pois o CD inteiro é bacana, faixa a faixa, com sonoridades e letras absurdas, é bem o retrato da época. Pensei em sugerir às meninas a minissaia da Mary Quant, mas já vi que elas não fariam o menor sucesso, nas universidades rs. O filme “Easy Rider” (1969) é muito bom também, dois motoqueiros perambulando sem destino pelas estradas dos Estados Unidos, para denunciar a intolerância da sociedade americana. A lista é imensa, “Hair”, “Blow Up”, os filmes do Glauber Rocha, a música dos Beatles, Stones, Janis Joplin, Bob Dylan, até Roberto Carlos, fica ao gosto do freguês. Bem, vou ficando por aqui, mas a vida segue “guerrilheira”. Em breve, apareço com novidades. Abração!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

SATYRIANAS E TUTTI QUANTI


E não é que o sol apareceu mesmo? Os dias tem sido luminosos por aqui, já com cara de verão. Bem, no final de semana, estive em São Paulo e cheguei cheio de novidades, por isso, se o post ganhar um tom mais descritivo, vocês me perdoem. Sábado, que é um dia que eu adoro, fui acompanhar a 10ª edição das Satyrianas, na Praça Roosevelt. Cheguei cedo, mas perdi a mesa redonda com os escritores Santiago Nazarian e Marcelo Rubens Paiva. O horário também era bastante ingrato, vamos combinar, meio-dia. De qualquer forma, fiquei por ali perambulando. Mais de 30º na sombra. Sobrou tempo até para lamentar a degradação da Escola Caetano de Campos e observar de perto os skatistas e até um rapaz solitário praticando le parkuor.

Aos poucos, figuras inusitadas foram aparecendo e o barato desses eventos é justamente esse, a diversidade humana. Da imprensa só vi mesmo uma equipe do Programa Novo, da TV Cultura. E teatro que é bom nada, até cheguei a entrar numa das tendas de lona, mas a sensação térmica lá dentro era absurda e desisti. Nesse intervalo, surgiu um rapaz e me ofereceu o seu “livro”, o qual poderia pagá-lo com “qualquer moeda”. Achei aquilo tão insólito que não resisti e comprei o exemplar na hora. Vocês não fazem ideia do que se trata. Numa folha reciclada, cortada ao meio e dividida em quatro, Nando Mello escreveu quatro poemas bemmm “psicodélicos”, se é que vocês me entendem rs. "Raios de Sol", por exemplo, é assim, ipsis litteris: “Nuvens / Somos / Poetaço / Vamos!”. Detalhe, vieram até rabiscadas as contas do "poeta", na folha. O livro, que não possui título, já enriquece a minha coleção de raridades literárias, claro.

No finzinho da tarde, encontrei o meu amigo Paulo von Poser, que estava no Espaço Visumix, se preparando para a performance “Pedra Sobre Pedra”, com o músico Danilo Tomic. Essa performance, cujo vídeo está no meu canal no Youtube /luisfabianoteixeira, era uma homenagem aos 20 anos da queda do muro de Berlim e tinha tudo a ver com o local onde foi realizada, pois a demolição da Praça Roosevelt está prevista pelo Governo do Estado, se não me engano, para março do ano que vem. Num determinado momento, o artista parou e se aproximou da parede num gesto de imersão na obra, quase ritualístico. No começo, pensei que ele estivesse passando mal, mas depois ele nos confidenciaria que fez aquilo para “sentir” a parede. Foi mágico. Emocionante. Ainda no mesmo local, assisti a uma apresentação da Épicac Tropical Banda que tem um som bem interessante, moderno, cool. Quem quiser conhecer o trabalho deles é só visitar o Myspace dos caras. Vale a pena.

E ainda teve rosa atirada a noivos que acabavam de se casar, na primeira igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, e jantar num restaurante bem charmoso, o Ritz, na Alameda Franca, point de artistas e pessoas descoladas da cidade. Aliás, deixei lá a minha assinatura na parede e a frase de Proust: “O amor apenas passou por mim como um sonho”. Espero voltar lá um dia para conferir se ela ainda está lá. Na saída, conheci uma artista incrível que eu até já recomendei aqui uma de suas exposições, no ano passado, quando ela comemorou 50 anos de carreira, Maria Bonomi. Foram apenas alguns minutos, mas o suficiente para captar a beleza dos seus gestos, o falar calmo, "a sua sina traçada pelas estrelas", enfim, um encontro inesquecível, afinal eu estava diante também de uma amiga da escritora Clarice Lispector. Há uma passagem entre a amizade das duas que vale a pena ser contada. Clarice, que é também madrinha do filho da Maria, certa vez numa exposição da amiga, teria que escolher uma obra de presente. Em vez de optar pela obra final, a escritora quis ficar com a matriz da gravura “A águia”, de 1967, que pendurou na sala de sua casa e numa crônica escreveu: “Maria escreve meus livros e eu canhestramente talho a madeira”.


Momento Clipping, quadro meu na Junior #13
Já o domingo teve momento árcade com passeio no Ibirapuera e parada na Fenac da Paulista, onde abri a Junior #13 e dei de cara com a foto do quadro que fiz pro André Fischer. Sorte pra toda a equipe da revista. Agora é voltar ao batente. Tenho que começar ainda um quadro em homenagem ao Plínio Marcos, por conta dos 10 anos de sua morte. A imagem é bem forte, como a obra do Plínio, quando estiver pronto, posto aqui. Por enquanto, a vida segue solar. Abração!

SAUDAÇÃO À PRIMAVERA




sexta-feira, 30 de outubro de 2009

UM BONDE E TANTO

Outro dia estava assistindo à TV, praticamente pulando de canal em canal, quando resolvi parar no TCM, aquele que só passa clássicos do cinema. Estava começando um filme que eu queria assistir faz tempo, “Um Bonde Chamado Desejo” (1951), de Elia Kazan, com uma dupla de atores que dispensa maiores apresentações, Vivien Leigh e Marlon Brando. O filme é tão arrebatador que praticamente me impôs a escrever sobre ele, já que eu não pretendia postar tão cedo. Mas aqui estou, ainda um pouco entorpecido, para registrar as minhas impressões sobre essa obra-prima de Tennessee Williams.

A história parece simples, mas não é, o roteiro não é nada superficial e tampouco as interpretações, pelo contrário, são tão pungentes que em pouco tempo já nos tornamos seus cúmplices e não apenas meros espectadores. Não vou me estender na sinopse: a sofisticada Blanche DuBois (Vivien Leigh) chega a New Orleans para visitar a irmã Stella (Kim Hunter) e o cunhado Stanley Kowalski (Marlon Brando). Para chegar ao subúrbio onde moram, pega um bonde chamado Desire, daí o título do filme. Num minúsculo apartamento, os três vão conviver sob tensão. Blanche não se adapta à pobreza em que vive a irmã, mas tem motivos para não deixar o local, já Stanley tem a sua privacidade invadida e constantemente quer mostrar quem manda ali. Os dois passam quase todo o filme “duelando” pra ver quem pode mais. E cada um usa a sua melhor arma. Enquanto Blanche não economiza em desfaçatez e sedução, Stanley se encarrega de investigar e mostrar a esposa que a sua irmã não é um anjo como parece. Se escondo alguns detalhes, é para não estragar a surpresa.

Em linhas gerais, "Um Bonde Chamado Desejo" é um drama cujo foco são as ilusões e frustrações de uma mulher extremamente sensível, traumatizada pela irrealização do amor e que se vê diante de um homem vigoroso e primitivo, por quem se sente desprezada e ao mesmo tempo atraída. Os dois personagens, Blanche e Stanley, são muito bem construídos e não temem (entre aspas) ser expostos ao medo, à dor, à solidão e ao prazer.

Não resisti e fui ler a peça homônima que inspirou o filme e posso lhes assegurar que a adaptação é quase literal. Aliás, o texto é repleto daquelas frases lapidares que em tempos de Twitter fazem o maior sucesso. Selecionei duas da categoria humor negro que talvez vocês curtam: “Eu sei que minto muito. Afinal, o encanto de uma mulher é 50% ilusão” e “Acho que a tristeza conduz à sinceridade”. Mas há também aquelas mais dramáticas como “Eu sempre dependi da bondade de estranhos”. Esta até levou o artista Maurício Ianês a fazer uma performance, na estranha Bienal do ano passado. Ele chegou nu ao Prédio da Bienal e ficou lá, por alguns dias, recebendo toda sorte de bondade dos visitantes. Tirem suas próprias conclusões rs. Enfim, quem curte um filme mais denso, reflexivo, essa é uma ótima pedida.

Pra terminar, agradeço a todos que participaram voluntariamente da campanha “Outubro Rosa”, divulgando em seus blogs a arte que fiz e até parcialmente o texto que escrevi aqui, especialmente ao Jay e Alê do “Ká entre Nós”, ao Arthur do “Em Crônicas e Contos” e a Fátima do “Diário de Bordo”. Obrigadão mesmo, pessoal. E também a todos que comentaram aqui, no Facebook, no Twitter, enfim, tenho certeza de que cada um fez a sua parte e está ajudando a melhorar o mundo. Por falar nisso, hoje tá rolando o “Dia Verde”, na bloguesfera, uma ótima iniciativa dos meninos do "Ká entre Nós". Não deu pra preparar nada especial, mas é algo que também incentivo. Abração e ótimo final de semana!

domingo, 25 de outubro de 2009

ROSA E AZUL

Não, não vou falar daquele famoso quadro do Renoir que leva o mesmo nome do post de hoje. As cores rosa e azul são referências à campanha “Outubro Rosa” e a minha fase atual, respectivamente. Mas, antes de entrar nesses assuntos, vamos às frivolidades do dia: vi hoje alguns vídeos na internet do Oi Fashion Rocks e não achei que foi tudo isso. O que gostei bastante foi o carisma da Mariah Carey. Ela que já foi do topo ao limbo soube cativar muito bem os seus fãs brazucas. E agora que ninguém mais vende CD mesmo tem mais é que bajular esses pobres-diabos que passam, dias e noites, à porta de um hotel esperando um mísero aceno do ídolo.
Desde que terminou a minha exposição, não tinha postado nada de trabalho aqui e até já levei um puxãozinho de orelha por causa disso. Como também apoio a campanha de combate ao câncer de mama, que nesta época do ano ganha maior visibilidade, por conta do “Outubro Rosa”, fiz uma arte para a divulgação do evento na internet. Tudo extraoficial, por minha conta mesmo. Não acho que artistas devam ficar se justificando, porque cada um vai interpretar uma obra de arte à sua maneira, mas só queria esclarecer que a minha intenção com esse trabalho e com os próximos que tem a mesma pegada não é chocar simplesmente, embora lembre aquelas campanhas da Benetton, do Oliviero Toscani, dos anos 90. Quis apenas criar uma imagem que estimulasse a prevenção da doença e ao mesmo tempo não esquecesse as mulheres que já estão em tratamento ou que, lamentavelmente, tiveram que perder um seio. Nada contra também ao bunner que vi na bloguesfera feminina, mas acho que funcionaria melhor algo que chamasse mais atenção, que fizesse refletir e não apenas lembrar que em outubro monumentos serão iluminados de rosa, etc. E tem também um lado divertido, na fotografia, essa referência "pin up" que está super em alta.
A “modelo” foi fotografada por Cris Bierrenbach para a revista ELLE de maio de 2001, num editorial intitulado “Nossos Corpos”. Curiosamente se trata de uma colega, uma artista plástica, M.N., que deu a seguinte declaração na época: “A quimioterapia terminou e há dois meses meus fiozinhos começaram a reaparecer. Já tenho 1 cm de cabelo. Pareço mesmo uma criança. Com o fim dessa infância, vou voltar a ser mulher”. Ainda recorri ao Google, na tentativa de parabenizá-la pela coragem, mas não a encontrei. No mês passado, perdemos Andrea Maltarolli, aos 46 anos, uma das criadoras de “Malhação”. Enfim, é um assunto bastante sério, o câncer de mama é o câncer que mais mata mulheres, no Brasil, por isso quem puder abrace essa causa, ajude a divulgá-la, é importante.

Azul, porque uma nova fase deve sempre começar com essa cor

Mudando de rosa pra azul, estou entrando numa fase nova na minha vida. Eu sei que 2009 mal terminou, mas já estou fazendo as minhas resoluções de ano novo. Não vou entrar em detalhes, porque não vem ao caso, mas posso dizer que é um daqueles momentos em que cuidar de si mesmo não significa “a solenidade de si próprio”, apenas uma questão de definir objetivos e valorizar cada vez mais quem realmente importa. Um dos responsáveis por esse “abrir de olhos”, se é que posso chamar assim, foi o primeiro livro de Marcel Proust, “Os Prazeres e os Dias”, que estou acabando de ler e que já adianto, é ótimo e não tem nada a ver com autoajuda. Selecionei até uma das frases dele para terminar o colóquio de hoje: “Sejamos gratos às pessoas que nos propiciam felicidade, são elas os encantadores jardineiros que nos fazem florir a alma”. Lindo, né? Espero que vocês tenham curtido as dicas de hoje e, em breve, estarei de volta. Abração!!!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

PARANGOLÉS DE FOGO

Parangolé de "fogo"

Cosmococa

Final de semana dramático, hein? Bang bang, no Rio de Janeiro, 90% do acervo do artista Hélio Oiticica queimado em incêndio domiciliar, o São Paulo tropeçou no Atlético em pleno Morumbi e, pra finalizar, o Rubinho ainda deixou escapar o título da F1 em casa. Haja Lei de Murphy, pessoal! Alguém, por favor, me dê uma notícia boa, umazinha sequer.

De todas as tragédias que citei acima, a que mais me comoveu foi, sem dúvida, o incêndio que consumiu quase todas as obras do Hélio Oiticica. Não que eu esteja me lixando pra violência no Rio, mas, infelizmente, nós já nos acostumamos a ela, não é? Aliás, houve até quem me acusasse de ser “do contra”, porque fui cauteloso em relação às Olimpíadas de 2016. Viu só? Bem, mas voltando, Hélio Oiticica é um dos artistas mais importantes do nosso país, revolucionário em sua arte, influenciou gerações, o próprio nome “Tropicália” surgiu de uma instalação homônima dele. Foi responsável, assim como Lygia Clark, por nos tirar do gueto nacional. Impossível falar em arte contemporânea brasileira sem citá-lo. Com um histórico desses, que eu apenas pincelei pra não me estender muito, em qualquer lugar do mundo que se valorize arte e cultura, ele seria considerado um patrimônio nacional. Aqui, lamentavelmente, nunca foi cultuado fora do meio acadêmico e artístico, talvez porque ainda persista essa ideia mesquinha de que arte é artigo de luxo, coisa pra rico, elite. Uma pena. E assim vamos perdendo mais um pouco o registro da nossa identidade cultural pós-Colônia.

A primeira vez que tive acesso a informações sobre o trabalho do Hélio foi em 95, numa reportagem da revista VOGUE, assinada pela Márcia Fortes, dona da prestigiada galeria Fortes Vilaça. Naquele momento, o mercado internacional começava a perceber que existia uma arte feita aqui e que não estava ligada diretamente a araras, barquinhos e paisagens tropicais, que dialogava com o que se fazia de mais conceitual no mundo. Os Penetráveis e Parangolés do Hélio sempre fizeram muito sucesso, lá fora, assim como a polêmica série Cosmococa, onde símbolos da cultura pop norte-americana eram contornados com cocaína, uma parceria do artista com Neville de Almeida. Os Parangolés são os meus favoritos, adoro essa ideia de se “vestir” de arte, dela ter sentido, a partir do momento em que você dá vida a ela. Hoje é modinha se falar em interatividade, mas a primeira vez que ele propôs isso foi na década de 60, no auge da ditadura militar. Quer metáfora melhor do que essa, de convidar as pessoas a se mobilizarem? Um visionário. Não é nenhum consolo, mas como sou bem fatalista, jamais me esqueceria de uma das frases mais previsíveis da Clarice Lispector, para este momento: “As coisas acontecem quando devem acontecer”.

A cantora Adriana Calcanhotto, antenada e sofisticada que é, em seu ótimo “Marítimo” já nos ensinava como fazer um Parangolé: “O Parangolé Pamplona a gente mesmo faz / Com um retângulo de pano de uma cor só / E é só dançar / E é só deixar a cor tomar conta do ar”. E, se você é arteiro como eu, faça o seu Parangolé também e dance pra espantar os maus espíritos, as notícias negativas, pra chamar a chuva... Não!, menos pra chamar a chuva. Pelo menos, por aqui, que já choveu demais. E vamos torcer por dias melhores. Obrigado pelos comentários lindos, no post anterior, e também pela audiência do blog que tem sido cada vez maior. Abração e uma ótima semana a todos!

domingo, 11 de outubro de 2009

MEU BAUZINHO DE MEMÓRIAS

Não me sortearam o bebê da Caras Baby rs

Em comemoração ao Dia das Crianças, resolvi abrir o meu bauzinho de memórias. Não por acaso, fui atrás das minhas fotos mais remotas e fiquei um bom tempo rememorando momentos preciosos da minha vida. Nem todos sabem, mas nasci e passei a minha primeira infância na Bahia, numa cidade minúscula do interior chamada Brejões, a minha Macondo. Só quem já morou no interior e veio pra cidade grande sabe o quanto é diferente. Existe lá toda uma atmosfera de inocência e generosidade que nos acompanha a vida inteira.

Ensinando como chupar chupeta e sorrir ao mesmo tempo

Pra começar, os anos 80 não foram só excessos e rock in roll, como hoje vemos nesses almanaques coloridos das livrarias, foram anos também ácidos para a política e economia do país, mesmo pós-Diretas, onde havia até os "fiscais do Sarney" (no tempo em que ele era apenas um cordeirinho), alguém lembra? As donas de casa iam ao supermercado pela manhã e compravam a batata por um preço e, à tarde, já estava por outro. Uma loucura. A inflação era galopante. Isso tudo só para ilustrar que, mesmo para uma família de classe média, ter três filhos não era nada fácil. Para completar, na minha casa, os filhos vieram em escadinha: Luis Gustavo, Luciano e eu. Também acho cafona essa história de nomes de filhos com as mesmas iniciais, mas não posso fazer nada, embora até ache o meu bem bonito. Meu pai tinha uma lanchonete famosa na cidade e, aos finais de semana, ainda promovia festas. Cresci assistindo ao Cassino do Chacrinha, vendo meu pai fazer coxinhas ou entre muitas capas de LPs ou fitas cassetes. Tenho um amigo que acha curioso eu gostar tanto dos anos 80, das músicas, revistas, visual, mas vem daí, porque nada marca mais a nossa vida do que a infância.

Pândego

Vivíamos soltos pela cidade como cabritinhos libertos. Depois da escola, íamos correndo pra casa da nossa vó Criza (só essa passagem já me renderia várias crônicas e livros de receitas). Passei ali os melhores anos da minha vida, indiscutivelmente. Minha vó tinha uma barraca na feira (na Bahia, geralmente, as feiras são no sábado e é o acontecimento da semana, assim como a festa da padroeira é o acontecimento do ano). Ramon Cruz, músico baiano talentosíssimo, tem uma música que eu acho linda, “Feijão de Corda”, lá pelas tantas, diz assim: “Sábado dia de feira / Tem feijão de corda / Cê me amarrou”. Às tardes, minha vó costurava numa máquina milenar. Com uma mão auxiliava o tecido e com a outra rodava uma espécie de cilindro. Ficavam espalhados, na mesa, tecidos e botões de todas as cores. Meus olhos faíscavam de felicidade só de estar ali perto. De repente, se fazia um café no fogão à lenha com bolachinhas de goma ou, no verão, se tomava um suco de umbu, tamarindo, manga. No quintal, as galinhas faziam a festa com os milhos colhidos, na roça do meu avô. Eu tinha até a minha, toda preta, a mais feia de todas. Imagina a riqueza de cores, texturas, sabores, sons, causos, expressões... Meu destino já estava traçado ali. Eu iria, de alguma forma, retratar tudo aquilo com a minha arte.


Aos sete anos, já treinava o meu autógrafo rs

Quando comecei a ir à escola, meu passatempo passou a ser o desenho. Comprava com a minha mesadinha canetas idrocor de apenas 6 cores, mais do que isso era uma fortuna (pela hora da morte, como se dizia) e desenhava em papel de embrulho. Um papel tão grosseiro, cinza, nada muito especial. Como engatinhava no desenho, meu pai até pedia para ilustrar os cartazes das festas. No carnaval, fazia máscaras, pierrôs, confetes e serpentinas e, no São João, casais de caipiras, milhos, fogueiras, balões... Quando descobri Guinard, tempos depois, claro, quase chorei de emoção. Ninguém pintaria a minha infância melhor do que ele. Aos onze anos, escrevi o meu primeiro poema inspirado em “Porquinho-da-Índia”, do Manuel Bandeira. Tenho até hoje. Assim como o desenho que fiz, aos sete anos, de uma casinha campestre. Tudo bem, sem gerânios em flor na janela, mas com flores no... teto rs.



Não nasci em berço de ouro, mas nunca faltou amor na minha família, nem boa educação e muito menos algumas palmadas. E detesto saudosismo barato, mas, às vezes, me pego pensando em como os tempos mudaram. Lamentavelmente pra pior. Algumas crianças de hoje mal vem ao mundo e já tem até perfil no Orkut. Se bobear, até tuítam: “Cabei minha papinha, tô indo dumi”. Não precisa ser assim também, né? Aposentaram a amarelinha, o jogo de damas, a brincadeira de médico, o troca-troca? rs Falando sério, ontem vi algo na TV que me incomodou. A filha da modelo Alessandra Ambrósio tem pouco mais de um ano e a mãe já pintou as unhas da menina de vermelho. Juro. Tem até asinhas de Angel. Será que ela já sonha com a filha debutando, na Victoria’s Secret??? Medo. Não quero parecer aqui o defensor da infância perdida, mas existem outros valores mais importantes que precisam ser resgatados, vocês não acham? Não custa muito fazer uma criança feliz. Nunca tive brinquedos, mas nem por isso ficava reclamando, criava os meus com pedras pintadas, bonecos de barro, até um ventilador quebrado já me serviu de cachorro. Isso mesmo. Minha imaginação não conhecia limites. Ainda bem. Meus irmãos me enchiam o saco porque eu vivia desenhando e até inventei, uma vez, que poderíamos ter, ao menos, uma piscina de areia. Virei a gozação da casa, o menino maluquinho. Fazer o quê?, não tínhamos grana, mas tínhamos sonhos e criança que sonha vira adulto criativo. É importante também os pais lerem ou contarem histórias para os seus filhos. O meu só contou uma, aquela da Festa no Céu, mas nunca esqueci. Bem, chega de "saudades da aurora da minha vida", vou comer o meu algodão doce, porque eu também sou filho de Deus. Feliz Dia das Crianças pra nós. Abração!!!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

LUX IN TENEBRIS


E cá estou pra fazer o meu balanço do 7 Curta Santos, um dos festivais de curtas-metragens mais bacanas do gênero. O tema deste ano foi “lux in tenebris”, luz nas trevas. Segundo o diretor Toninho Dantas, a ideia era exaltar a boa safra de filmes nacionais, sem esquecer a sua distribuição que ainda é muito capenga. A abertura foi no SESC-Santos, só para convidados. Não havia aquele clima de red carpet, mas um oba-oba local, com o que há de melhor e pior nisso.

O evento começou com um número de dança que misturava música de rua e performance. De uma simplicidade e beleza tocantes. Depois dos discursos de praxe, subiram ao palco os homenageados da noite, a atriz Maitê Proença e o diretor Carlos Manga. Digamos que Maitê não estivesse tão confortável assim. Ela mal pegou o microfone e já foi reclamando da demora pra chegar a Santos, etc. Ainda tentou se corrigir, mas já era tarde. Causou uma tremenda saia justa. Já o diretor Carlos Manga emocionou a todos e foi aplaudido de pé. Merecidamente. Manga dirigiu várias chanchadas, aqueles filmes populares que, nos anos 40 e 50, eram considerados toscos pela crítica, mas que hoje se transformaram em cult. Visivelmente emocionado, desabafou: “Ainda bem que eu vivi mais de setenta anos, para poder ver tudo isso”. E ainda bem que eu estava lá para conferir tudo.

Participei de duas oficinas bem interessantes, roteiro e direção e realização de documentários. A primeira com o cineasta mexicano Aarón Fernández que dirigiu “Partes Usadas”, de 2007. Não foi das melhores, mas deu pra aprender coisas bem legais. Sobre criação de roteiro, ele foi bastante categórico: “Um bom roteiro é aquele que vira um filme. Não adianta escrever cenas irrealizáveis, que só funcionem no papel”. A segunda foi mais completa, com a cineasta Andrea Pasquini. Talvez ela seja mais conhecida pelo documentário “Fiel”, que retrata a queda e o retorno do Corinthians ao Brasileirão e que tem como produtores o apresentador Serginho Groisman e o escritor Marcelo Rubens Paiva, mas o documentário dela que eu mais curto e recomendo é “Os Melhores Anos de Nossas Vidas”. Imperdível. Andrea não economizou dicas, mas vou citar apenas uma, a que considero mais importante, para não me alongar muito: “Para fazer um documentário, o assunto tem que ser apaixonante. Você tem que se envolver de verdade”.



O festival ainda me deu a oportunidade de conhecer ou apenas ver de perto pessoas que sempre admirei. Foi o caso do cineasta Guilherme de Almeida Prado, cuja biografia já foi indicada aqui. Também bati um papinho com o André Fischer (foto), jornalista e editor da revista Junior. Ele achou lindo um quadro que fiz pra ele e até elogiou o meu trabalho, no seu Twitter. Quando vi o ator Sérgio Mamberte, a primeira coisa que me passou pela cabeça foi “Tio Vitor” rs, adorava o Castelo Rá-Tim-Bum. Mas foi o ator Matheus Nachtergaele quem realmente me surpreendeu pela simplicidade e carisma. Ele estava lá promovendo o seu filme “A Festa da Menina Morta”. Aliás, filme que, na minha opinião, tem um certo mérito, mas também vários equívocos. Muitas pessoas deixaram a sala de exibição. Matheus é um dos nossos melhores atores, inegavelmente, mas como diretor ainda tem um longo caminho a percorrer. Pessoalmente não é nada freak, apenas muito tímido. Da mostra "Olhar Caiçara", o único filme que, realmente, me agradou e que de fato estava torcendo foi “Malu e Fred”, de Rodrigo Bernardo. Aliás, faturou vários prêmios, a torcida era bem grande. De modo geral, faltaram roteiros mais elaborados, porque tecnicamente os filmes estavam bem aceitáveis. “Vende-se”, do Dino Menezes, veterano no festival, merecia até um prêmio de consolação, mas ele cometeu um erro até amador, filmar um espetáculo teatral. Qualquer pessoa sabe que teatro e vídeo nunca se bicaram, o resultado quase sempre é destoante e cansativo. Claro que não é nada fácil fazer cinema no Brasil. Um dia, quem sabe eu até posso estar lá, mas, se a pessoa tem mesmo muita vontade de contar aquela história, deve pensar mil vezes no roteiro e principalmente no elenco, ambos precisam estar em total sintonia, afinadíssimos, caso contrário o espectador vai sair sempre do cinema com a sensação de que seria melhor ter ficado em casa acessando o Youtube.

Por hoje é só, mas em breve estarei de volta. Fica aqui, então, os meus largos cumprimentos ao querido Toninho Dantas e toda a equipe do Curta Santos por esse evento que nos enche de tanto orgulho. Um abraço especial também aos meninos do Ká Entre Nós, Jay e Alê, que indicaram o meu blog entre um dos que eles acham bacana. Obrigadão mesmo. E a vida segue cheia de expectativas. Abraços e beijos!