quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

AI QUE PREGUICA!



Nao estou no Brasil pra ver, mas imagino que chegar as bancas e dar de cara com uma bunda dessas (foto) e o titulo em letras garrafais “PASSOU DOS LIMITES?” deve ser no minimo impactante. Claro que a revista Veja nao iria perder a chance de repercutir um dos assuntos mais comentados da semana passada, uma suposta tentativa de estupro dentro do programa BBB, o pavoroso reality show que a Globo insiste em manter em sua programacao, sob direcao do Boninho, o filho do incensado Boni, o responsavel pelo “padrao Globo de qualidade”. Nunca fui fa do programa e so assisti as primeiras edicoes por mera curiosidade. A propria Globo so deve mante-lo no ar por questoes financeiras, mas, depois do que aconteceu na semana passada, espero que a emissora tenha ligado o sinal de alerta. Ainda que os envolvidos tenham negado se tratar de estupro, mas sim de caricias consensuais, o que esta em questao agora e a falta de qualidade desses programas. Em todos os sentidos. E de todas as TVs que os exibem.
Nunca entendi por que o BBB tem tanta audiencia no Brasil. Sera que os telespectadores sao tao ingenuos de achar que aquelas pessoas estao ali enjauladas porque e sua grande chance na vida, ganharem uma bolada ou na pior das hipoteses ficarem instantaneamente famosas? Que graca tem assistir aquelas pessoas fofocando, malhando, comendo, enchendo a cara e depois falando aquelas besteiras? Que tipo de entretenimento e esse? Novela da vida real pra mim nao cola. Como se nao houvesse instrucoes para que os participantes se comportem daquela maneira ou edicao que possa transforma-los em mocinhos ou bandidos. E o pior e que ainda existem artistas, bons ate, que adoram essa palhacada e perdem tempo indo a programas para comentar a saida de fulano ou sicrano. Nas redes sociais, o assunto so se esgotou com a chegada de outra grande besteira nacional, a “Luiza que estava no Canada”. O que se falou dessa menina nao esta no gibi... Eu mesmo assisti, aqui na Holanda, a quatro telejornais da GloboNews e todos mencionaram o novo fenomeno da internet.
Mais indagacao e indignacao. Por que perdemos tanto tempo com coisas assim, hein? Com o Enem tao cheio de problemas, de irregularidades... Sera que as pessoas estao soltando fogos porque o Mercadante e o novo ministro da Educacao? Pelo visto estao achando maravilhoso. Ironias a parte, nao tem como nao se aborrecer com essas coisas. Em um momento em que o mundo olha para o Brasil como nunca olhou antes, como um pais emergente de verdade, responsavel, a 6 melhor economia do planeta, damos exemplo de pura falta do que fazer, personificamos o Macunaima do Mario de Andrade... Ai que preguica! digo eu sobre o BBB e afins. Vejam bem, eu disse ai que preguica e nao “Ai, se eu te pego!.  Entenderam, ne? Ah, e so para nao perder a oportunidade, parabens a cidade de Sao Paulo pelo seu aniversario, cidade que eu realmente amo e que guarda as minhas melhores e piores lembrancas tambem. E isso. 

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

DO LIXO AO MURO






Ontem foi dia de praticar o desapego. Como tive que deixar o atelier, por razoes que nao vem ao caso comentar aqui, e nao tendo onde guardar a maior colagem que fiz la, resolvi presentear Amsterdam com o trabalho. A poucos metros do atelier, tem um muro onde alguns artistas de rua  fazem seus grafites e eu fui ate la me juntar a eles. Quem me conhece sabe o quanto sou “lixeiro”, de pegar coisas na rua mesmo, revistas, livros e ate moveis. Me corta o coracao ver coisas que ainda podem ser utilizadas jogadas fora, mas ontem senti uma sensacao boa com a minha atitude, e justamente porque estava fazendo o contrario, mas de uma forma totalmente consciente e... sustentavel. Percebi tambem que estava nascendo algo novo ali, a minha forma de interferir com o espaco urbano das cidades: levar um pouco de arte e beleza, sem agredir o que ja existe. E o melhor de tudo, com o proprio lixo que a cidade produziu. Nao quero bancar o “eco-chato”, mas o destino do lixo deveria ser discutido com mais seriedade, no mundo inteiro. No Brasil, por exemplo, ainda que aquela lei sancionada pelo ex-presidente Lula, no ultimo ano do seu governo, criando uma Politica de Residuos Solidos seja um avanco, faltam ainda medidas mais eficazes para a coleta do lixo reciclavel. Espero que a minha intervencao sirva tambem para que as pessoas reflitam sobre isso. Registrei tudo em video, ou pelo menos tentei, afinal estava sozinho, mas, por enquanto, deixo aqui as imagens desse novo projeto “Do lixo ao muro”. A colagem foi inspirada na famosa escultura barroca O Extase de Santa Teresa, de Bernini, e terminou por dar nome a uma serie de trabalhos que fiz por aqui: Extase do Sagrado. Espero que voces curtam. Ate mais!

sábado, 14 de janeiro de 2012

"DERCY" NAO VAI DEIXAR SAUDADES


Atendendo a pedidos, vou escrever as minhas impressoes sobre a microsserie “Dercy de Verdade”, que a Globo apresentou nesta semana, assinada pela Maria Adelaide Amaral com direcao de Jorge Fernando. Assim que a imprensa comecou a publicar as primeiras notas sobre o projeto, no comeco do ano passado, achei arriscado a autora praticamente emendar Ti-Ti-Ti com a microsserie, embora ela tenha escrito tambem a biografia que a inspirou. O mesmo pensei sobre Heloisa Perrisse que mal saiu de Cordel Encantado e foi direto protagonizar a primeira fase da microsserie. Deu no que deu. Apesar de pontos muito positivos, tudo soou oscilante, com excecao da direcao de arte e fotografia. Mencao honrosa para trilha sonora tambem. Nao houve uma unica pessoa com quem eu comentasse que nao dissesse a mesma coisa: “Foi rapida demais”. Como contar a vida de uma mulher que viveu mais de cem anos em apenas quatro capitulos? Sem contar que ao misturar imagens de arquivo com as cenas ficcionalizadas (ou quase) a microsserie pareceu ainda mais confusa. Mas isso nao foi tudo.
O problema principal, pra mim, foi a falta de um conflito central convincente, forte. Dercy Goncalves nao foi uma mulher de paixoes arrebatadoras e muito menos uma diva no auge da sua carreira. Tinha um tipo fisico esquisito e pelo que se sabe ate um pouco assexuada. Contar o que entao? Como tornar a sua biografia interessante? Claro que a alternativa era focar na carreira artistica que ela levou tao a serio e tao bem e repetir ao maximo aquelas frases: “As pessoas achavam que eu era puta. Eu sofri toda sorte de preconceitos, mas o publico nunca falhou comigo, ele sempre me aplaudiu...”. OK, tudo isso aconteceu, mas na microsserie ficou bastante cansativo, mesmo porque com aquele ritmo galopante a justificativa para o conservadorismo dela se perdeu. A unica coisa que realmente desconheciamos sobre a artista. Numa conversa banal de bar, ficamos sabendo que a sua filha foi rejeitada no Tenis Clube por ser filha de Dercy Goncalves. Ou seja, um otimo argumento para uma daquelas cenas comoventes que so a Maria Adelaide sabe escrever, mas que o formato da microsserie engessou. Pena. E assim foi com a cronologia. Uma imagem de passeata relampago aqui e entramos nos tempos da ditadura militar, volta pro palco, corta pra imagens do desfile da Viradouro... Aquela opcao clownesca ou chapliniana (como preferirem), no comeco, tambem nao me agradou. Parecia um deja-vu, precisamente Chocolate com Pimenta, novela de Walcyr Carrasco cuja direcao era tambem de Jorge Fernando. E tanto Heloisa Perrisse quanto Fafy Siqueira ficaram no meio do caminho em suas interpretacoes, as cenas mais dramaticas foram bem convincentes, emocionantes ate, mas as mais engracadas me pareceram bem forcadas. Quanto a isso eu acho que merece ate um desconto, afinal teatro filmado e sempre muito dificil. Sem contar que a figura da comediante ainda esta muito viva na nossa memoria, ne? Alias, um tipo raro de comediante, daqueles que bastam existir para provocar o riso. No caso da Dercy, meia duzia de palavroes ajudava bastante tambem.
E os atores? Gostei bastante do trabalho do Cassio Gabus Mendes e do Tuca Andrada, mas os mais jovens... Vou citar apenas um aprendiz de canastrao pra nao ficar chato. Aquele rapazinho que fez o papel do Boni nao deveria estar nem em Malhacao. Por que interpretacoes tao mediocres? So para nao comprometer o visual dos personagens? As proprias protagonistas nem ficaram assim tao identicas a Dercy. Falha imperdoavel. Outra coisa que eu nao gostei tambem foi a ausencia de sofrimento. Nao e porque a comediante “nao pensava na morte” que temos que ficar com essa falsa sensacao de que ela realmente nunca sofreu de verdade. Alias, de verdade mesmo so tinha o titulo, tudo muito sublimado. Eu espero que nao facam o mesmo com o remake de O Tempo e o Vento e Gabriela que vem por ai... Os dias ja passam voando e a Globo nao precisava reforcar isso com “Dercy”. Continuo guardando uma imagem que tenho dela, num programa bem tosco que ela fez no SBT, ja no apagar das luzes, onde lutava bravamente para decorar o texto, contracenando com um jovem ator desconhecido. Ali, pra mim, ficou inegavel o quanto aquela mulher amava o que fazia, estar no palco. Ate o fim. A microsserie explorou muito bem isso, a audiencia correspondeu, mas nao vai deixar saudades.

RUIDO


Ja me preparava para escrever sobre o vergonhoso programa “Mulheres Ricas”, da Band, quando soube que havia uma discussao calorosa, no blog do jornalista Zeca Camargo, sobre critica de TV. Fui la conferir e mudei de ideia, achei que seria melhor repercurtir alguns pontos de vista dele do que ficar apontando as bizarrices de uma parcela da nossa sociedade, cujo dinheiro compra absolutamente tudo, menos o bom senso. Como sempre, o post do Zeca e longo e cheio de divagacoes, mas a leitura vale a pena. Ele comeca usando um texto do escritor Machado de Assis (que eu ja li e que tambem recomendo), li num volume antigo intitulado Critica Literaria, mas, se nao me engano, ha uma nova edicao com outro nome. Um texto delicioso onde Machado escreve praticamente um manual para quem pretende se tornar um bom critico (isso la no seculo 19). Em linhas gerais, o jornalista questiona sobre a crescente onda de criticos de TV na internet e que esses “ditos” criticos estao apenas preocupados em repercurtir assuntos de programas como BBB e afins, em busca de audiencia na rede. Ou seja: jogou a gasolina, o fosforo e saiu correndo (ou quase).
Ele nao deixa de ter razao, claro. Se fizermos uma busca pela internet, vamos notar que a industria de celebridades domina boa parte do que se oferece, dai o fato de portais importantes do pais investirem pesado nela. A TV, como era de se esperar, esta ali coladinha. Assistindo a TVs de varios paises, aqui da Europa, percebi o quanto a nossa e boa (pasmem!). Sim, temos mais criatividade e ousadia e ate os nossos reallyties sao melhores. Sabemos como ninguem fazer TV porque gostamos do veiculo, ate criamos uma expressao para justificar pais cheios de filhos: “Nao tem TV em casa”. Temos ou nao temos uma relacao afetiva com as telenovelas, por exemplo? Nao e a toa que o genero, mesmo sem o folego de tempos atras, completou recentemente 60 anos. Querendo ou nao, ela faz parte da nossa cultura, nao tem como negar. Isso tudo para dizer que o interesse em cobrir os assuntos da TV existe, alias, sempre existiu, o que mudou mesmo foi a qualidade do telespectador, o que o jornalista esqueceu de mencionar. A propria Globo tem incentivado os seus autores a escreverem sobre as classes C e D, as novas cerejas do bolo nestes tempos de economia brasileira aquecida. Nao tenho o menor preconceito, ate porque sou de uma familia remediada, mas nao concordo que uma emissora de TV tenha que ser pautada por uma ou outra parcela da populacao. Acho ate perigoso. O programa da Ana Maria Braga, por exemplo, mudou tanto que nao ficarei nada surpreso se qualquer dia desses houver um quadro chamado Cafe com Crime, porque ate esses assuntos policiais tem sido constantemente destaques no programa.
Outra questao levantada foi a da profundidade da critica e dos comentarios vagos nos sites/blogs. Concordo quando ele diz que os internautas estao apressados e, na ansia de comentarem logo, leem apenas o titulo: o suficiente para o autor se encher de vaidade, ja que o seu texto teve centenas ou milhares de pageviews. Eu ja vejo essa pressa como uma mudanca mais ou menos recente do comportamento do internauta (de modo geral mesmo), sobretudo aqueles mais jovens, somada a ascencao de midias e redes sociais como Twitter e Facebook. Alias, li por esses dias um texto otimo sobre isso, assinado pelo Pedro Burgos, com o titulo de Sobre Michel Telo e as discussoes rasas das redes sociais, no site GIZMODO Brasil (vale muito a pena). Essas redes sociais, infelizmente, condicionaram grande parte dos internautas a fingir que gosta de algo para ser aceito ou mesmo comentar algo engracadinho para que o seu nome fique em evidencia. Poucas pessoas leem os textos ate o final e comentam algo realmente relevante. Ate a nossa forma de ser informado mudou. Ha pouquissimo tempo, o jornal Folha de S. Paulo fez uma mudanca editorial onde e visivel a influencia desse “novo estilo”, se e que podemos chamar assim. Quanto a queixa do Zeca sobre a ausencia de criticas mais ousadas, nao acho que ele esteja totalmente certo. A internet democratizou bastante a informacao e a diversidade de opiniao, e so uma questao de achar a sua turma. Vamos que vamos, porque 2012 comecou cheio de expectativas. Abracao!