segunda-feira, 22 de abril de 2013

DE CORPO E ARTE (MAKING OF)


















Faz um tempão que não posto nada aqui, porque de modo geral tenho tido muita preguiça de redes sociais e afins, mas achei que deveria quebrar esse jejum para escrever sobre uma pequena conquista pessoal: ter o meu primeiro curta-metragem selecionado para um festival internacional de cinema. Digo "meu" apenas para ser prático, porque embora tenha assinado a direção, o roteiro, a direção de arte e até atuado "de leve", todo e qualquer filme é sempre uma obra coletiva. De Corpo e Arte não foge à regra, ele jamais teria existido sem o grande esforço da atriz e amiga Maria Dias, que abraçou o projeto desde o início, sem pudores, permitindo que dois malucos, eu e o Tiago Cardoso, invadíssimos a sua casa, compartilhássemos da sua intimidade, cheios de ideias e referências, tudo para realizar o sonho de fazer cinema de forma independente, esbarrando em vários problemas técnicos, mas com muita vontade de acertar e contar uma história interessante e que celebrasse à arte. Depois de várias tentativas de emplacar o filme em festivais no Brasil, o Festival BIBLIOFILMES 2013, de Portugal, nos selecionou para a sua mostra oficial e isso nos deixou bastante felizes. Não por "vaidade", mas exatamente porque ainda temos na memória todas as dificuldades que passamos e agora podemos dizer que cumprimos a nossa meta. Ganhar é uma outra história. Eu ainda posso dizer que esse curta me ensinou tudo que sei hoje sobre o ofício de fazer cinema. 
O curta nasceu do desejo da atriz Maria Dias de fazer algo um pouco mais experimental, já que ela tinha acabado de sair de uma outra produção e que seguia a linha mais comercial. O Tiago então me encomendou o projeto e eu escrevi rapidamente o roteiro. Pensei numa atriz sensível e perfeccionista, que sempre sonhou em interpretar o papel de Ofélia. Em busca da melhor maneira de construir a personagem de Shakespeare, ela lê "O Lobo da Estepe", aquele livro pauleira do Hermann Hesse. E muito impressionada com a obra,  termina ficando cara a cara com a própria morte. Tudo isso poderia ser resumido numa única pergunta, um livro pode realmente influenciar  decisivamente o comportamento de uma pessoa? Não estou falando desses livros de autoajuda que prometem a felicidade em cinco minutos. Eu, particularmente, li O Lobo da Estepe e fiquei bem perturbado e a Maria também teve a mesma impressão, a escritora Clarice Lispector também leu e ficou "chocada"… Fica aqui o convite para essa leitura impressionante também.
Bom, com o roteiro pronto, fomos para uma única reunião e já decidimos ali mesmo o que cada um poderia contribuir. Não foi difícil porque nesse aspecto costumo ser bastante generoso e agregador. Na verdade, acho até gostoso costurar todas as ideias, sugerir referências… Uma semana depois já estávamos no set (de madrugada, diga-se de passagem), filmando as primeiras cenas. O processo, de modo geral, é bem cansativo (como em qualquer set): enquadra daqui, mexe dali, para por causa do barulho, a luz queimou, a maquiagem derreteu, retoca ali, acolá… Aliás, só para colocar os cílios postiços da Maria era uma verdadeira novela… Mas estávamos sempre confiantes, tentando e repetindo cenas várias e várias vezes… Acho que nunca fui tão "odiado" num trabalho rs. Filmamos entre o outono e o inverno de 2011 e fizemos uma externa onde a personagem tem lá o seu momento "Escobar", de frente para um mar extremamente revolto. Pra mim é a melhor cena, sem dúvida, porque adoro externas e tinha um quê de aventura muito grande… Nunca vou esquecer aquele final de tarde gelado e maravilhoso. 
Tudo foi pensado e cuidado com muito carinho, desde os objetos de cena (a colcha da cama com flores, por exemplo, era para lembrar o lago que Ofélia se suicida), os figurinos e até a fotografia em preto e branco foi inspirada nos filmes do Fellini… E nós curtíamos cada nova iniciativa, cada ideia, cada palpite. O dia da filmagem no Teatro Procópio Ferreira foi o mais tenso, porque tínhamos um horário exíguo e dias depois o mesmo seria fechado para uma reforma faraônica. Ou seja, quase tudo que fizemos lá foi de primeira, mas os deuses do teatro estavam do nosso lado naquele dia e deu tudo certo. Até experimentei estar do outro lado da câmera e interpretei um ator canastrão, sem o menor talento, que disputava uma vaga para o papel de Hamlet. Achei o máximo e vivo me prometendo repetir a dose. O trabalho de pós-produção foi tão exaustivo quanto as filmagens, mas fiz questão de montar meu acampamento na ilha de edição, na casa do Tiago. Literalmente. Houve um dia em que voltei pra minha casa, às cinco horas da manhã, exausto, enrolado num cobertor. Tive uma gripe braba no meio do caminho, depois machuquei a minha perna, mas desistir nem pensar. Aliás, cantávamos sempre aquela música da Cássia Eller, no set. Não por acaso ela está no making of que vocês podem conferir acima.
Dois anos depois, estou aqui revivendo tudo aquilo, agradecendo todas as pessoas envolvidas, mas, sobretudo vim pedir que as pessoas votem ou continuem votando no De Corpo e Arte, no site do BIBLIOFILMES, porque um dos quesitos é o voto popular. Muitas pessoas estão compartilhando no Facebook, outras sequer retornaram meus e-mails, mas a minha sensação é de dever cumprido. E, claro, obrigado a todos que acreditam no meu trabalho, aos que me inspiram todos os dias ou simplesmente aqueles que me estimulam a nunca desistir. No fundo, é exatamente como a escritora Lygia Fagundes Telles costuma dizer, o Caio Fernando Abreu reproduziu (à sua maneira) e a Maria Adelaide Amaral reafirmou numa entrevista: a gente só faz tudo isso para ser "amado". 
Para votar no De Corpo e Arte basta entrar no link abaixo e votar. O nosso filme é o último da lista. Muito obrigado!


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