segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

ESSA DOR CHAMADA ARTE




Depois de acompanhar o nosso carnaval interminavel e xoxo pela TV, a pretexto de matar a saudade do Brasil, a semana seguiu melancolica por essas bandas geladas, mas ontem o sol deu as caras por aqui e eu me animei e fui pra rua comemorar.  O que? O fato de estar vivo, oras. Simples assim. Depois de ler e me emocionar com uma mensagem deixada pela empresaria Eliana Tranchesi, antes de morrer, no blog da sua filha, e tambem a reportagem de capa da revista Epoca desta semana, com o ator Reynaldo Gianecchini (de quem sou fa, admito), percebi que as vezes reclamo demais. Meus amigos mais proximos veem nisso ate um certo charme, uma marca registrada minha, “Ah, Luis, voce e um velhinho. Se voce nao reclamar, nao e voce”. Claro que a maioria das vezes a minha rabugice e pura cena, mas, ainda assim, resolvi ligar o sinal de alerta.  O lema agora e: “Aproveitar o dia”. Mas aproveitar mesmo. E quem sabe ate me distanciar um pouco dessa dor chamada arte.
Bom, depois de caminhar pelo centro de Amsterdam e uma tentativa frustrada de ir ao Jewish Historical Museum, corri para assistir ao Artista, nos 45 do segundo tempo, afinal o Oscar estava chegando e prometia consagrar essa terna obra-prima do cinema. De cara, o filme nao me pegou, demorei um pouco ate me acostumar com essa nova velha linguagem do cinema mudo. Dito assim, a queima roupa, voces podem achar que estou trocando as bolas, mas logo vao me entender. Resumindo bem, O Artista, de Michel Hazanavicius, conta a historia de um ator do cinema mudo, George Valentin, as voltas com as suas frustracoes impulsionadas pelas novas transformacoes do cinema, ao passo em que vive uma torrida paixao por uma aspirante a atriz, Peppy Miller, mais ambiciosa e que pensa exatamente o contrario que ele, ela ve no cinema falado uma otima oportunidade de alavancar sua carreira. Coloque ali varias referencias cinematograficas, varias mesmo!, no visual, na trilha, intertextualidades com varios filmes (De Chaplin a Cinema Paradiso), uma fotografia e figurinos deslumbrantes, uma atuacao impecavel de Jean Dujardin e, pronto, emocao pura. Ah, claro, e um caozinho charmoso chamado Ugiee que, ca entre nos, deveria estar na disputa para melhor ator coadjuvante. Um filme delicado, poetico, que cada um vai assistir e perceber-lo de maneiras diferentes, “Ah, e so uma homenagem boba ao cinema”, “Ah, e legal mostrar as novas geracoes como eram os filmes mudos” e por ai vai. Ledo engano, acho que o filme encanta nao apenas por mostrar que o gesto, a delicadeza, a expressao, o trabalho de ator esta sendo substituido por efeitos especiais e um monte de artificios criados pela propria industria para acompanhar a evolucao do cinema, mas mostra tambem o quanto estamos perdendo a inocencia, o quanto somos expostos diariamente a tantas e tantas informacoes, ao ponto de causar estranheza uma linguagem que de nova nao tem absolutamente nada. Cinema e e sempre sera imagem e, quando houver uma boa historia por tras, o casamento sera perfeito. Acho que as cinco estatuetas do Oscar estao de bom tamanho e viva a inteligencia no cinema.
Depois aceitei a sugestao de um amigo para ver “Estamos Juntos”, um filme nacional de Toni Venturi que eu ja queria muito assistir, desde que sai do Brasil no ano passado, protagonizado e produzido pela otima e jovem atriz Leandra Leal. Esse e um daqueles filmes que nos revira de cabeca pra baixo e nos faz perceber que a vida e mesmo muito rara, como diz a cancao do Lenine e que no final do filme ganhou uma versao excelente, na voz da Elza Soares. O roteiro e sobre a vida de uma jovem medica, Carmem, que descobre que tem uma doenca grave, exatamente quando esta numa otima fase da sua vida. Sem muitos amigos –  apenas um gay, vivido de forma muito ruim por Caua Reymond –, e com uma relacao (imaginaria?) com um homem misterioso, ela conhece o prazer sexual com um jovem musico argentino, mas nao se liga a ele afetivamente. Com o avanco da doenca, Carmem tenta driblar as dificuldades, a medida em que vai conhecendo seus medos, suas angustias e mudancas pelo meio do caminho sao inevitaveis. Em alguns momentos, ele nos remete a “Mentiras y Gordas”, um filme espanhol de 2009, bem interessante por sinal. Duas coisas eu curti muito nesse filme: apesar do tema, ele nao e nem um pouco moralizante (olha, aproveite a vida enquanto ha tempo!) e segundo que ele e tao bem feito (com um que de filme argentino) que so veio a se unir a filmes mais intimistas que estao sendo produzindos agora no Brasil, como o tambem otimo Como Esquecer, de Malu De Martino. E eu que nao esperava que o filme corroborasse essa minha nova urgencia de aproveitar melhor o dia, so posso dizer que a vida nao so imita a arte (e vice-versa), mas principalmente se surpreende com ela.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O LUTO COMO ESPETACULO



Que final de semana, hein? Estava em casa, um frio tenebroso, acordei no meio da madrugada e, de repente, leio a noticia na internet sobre a morte da cantora Witney Houston, aos 48 anos. Eu e meus amigos ate ficamos um pouco abalados, mais pelo fato de ser uma morte precosse do que exatamente uma surpresa, afinal ha mais de uma decada ela vinha se decompondo em publico, por causa da sua estreita relacao com as drogas. Assim como foi na morte da Cassia Eller, do Michael Jackson e da Amy Whinehouse, e comum a gente se questionar sobre as razoes que levaram um artista tao bem-sucedido a passar pro outro lado de forma tao tragica. Tinha tanto talento, dinheiro, fama, era linda, uma voz magnifica, por que?, por que? Eu acho que so mesmo um popstar pra responder isso, mas e evidente que em casos assim, de alguem que passou anos colecionando premios, sempre no topo das paradas, o fato de nao emplacar mais hits, nao ser mais o centro das atencoes, tudo isso deve criar um monstro dentro da propria pessoa, deve pesar muito. Apenas uma especulacao. Sem contar essa pressao louca que existe hoje em dia de acertar, de estar na midia o tempo todo, de querer ser menos um na multidao... Muito complicado. Se o artista nao tiver algum preparo emocional, o popular “amor a propria vida”, cai  em varias tentacoes mesmo, facil facil.
Apesar de nao ser assim fa declarado da cantora, mas sendo o ultimo dos romanticos, na minha adolescencia assisti muitas vezes ao Guarda Costas e ate engrossei o coro daqueles que achavam esse filme o maximo. Arroubos romanticos da adolescencia, claro.  Na verdade, eu sempre admirei mais o poder da voz da Whitney Houston do que propriamente as letras acucaradas das suas cancoes. Tenho duas passagens interessantes em que ela esteve presente. A primeira, ainda na adolescencia, quando inventei de fazer um musical no colegio para homenagear o centenario do cinema e tive a ideia de chamar uma colega de classe para dublar a cantora, numa cena do Guarda Costas. Bem, a garota nao so comprou a ideia como tambem se esforcou para aprender a letra em ingles e a apresentacao foi um sucesso, com direito a beijo na boca e tudo. Um beijo nada tecnico, diga-se de passagem.  Nessa mesma epoca, tinhamos em casa uma fita de video (lembram a febre do videocassete?) de uma apresentacao da cantora num navio, se nao me engano para marinheiros americanos, onde ela cantava o hino nacional dos Estados Unidos de forma espetacular. Sempre assistiamos a esse video. A outra passagem ja foi na sua fase mais dark, eu estava num onibus indo para o Guaruja e me caiu as maos um jornal da Igreja Universal do Reino de Deus, onde li uma nota sensacionalista ao seu respeito, ilustrada por uma foto dela quase irreconhecivel. Segundo a publicacao, devido ao uso do crack e outros demonios. Roguei uma prece para que ela recuperasse logo o tempo perdido e so fui reve-la, em 2009, naquela famosa entrevista a Oprah, onde se acreditava ser, realmente, a retomada da sua carreira.
Fiquei acompanhando a cobertura da morte pela midia e redes sociais e, ai sim, fiquei assustado. Com excecao do Estadao que cobriu de forma precisa, os outros meios ficaram entre “fomos pegos de surpresa e agora?” e “vamos encher linguica”. Na GloboNews, por exemplo, vi uma serie de deslizes: o primeiro a comentar foi o cantor Gabriel O Pensador (que ate onde eu sei nunca foi um profundo conhecedor de musica pop), depois entrou um Ed Motta totalmente perdido “Ah e?, nao sabia” e para finalizar um Zeca Camargo totalmente deslumbrado com o assunto. Acho uma pena veiculos de comunicacao e/ou artistas tao serios transformarem um luto, por mais que seja de uma figura publica, em espetaculo. Nesse quesito, quem acertou mesmo foi o musico Joao Marcelo Boscolli que fez comentarios interessantes sobre a carreira da cantora, ressaltando o DNA artistico dela e o legado musical que ela deixa para as novas geracoes. Destaco tambem as impressoes da jornalista Lucia Guimaraes sobre a morte, direto de Nova York e a agilidade do site TMZ, mais uma vez. Como eles conseguem aquelas imagens e informacoes tao depressa? So. O Facebook mesmo virou um samba do crioulo doido, video pra tudo quanto e lado, piadas sem graca perdidas no meio de varios comentarios mornos, apenas um oba oba no calor da emocao. O assunto pra mim tambem ja se esgotou. Foi uma perda previsivel, mas nem por isso menos triste. Que agora a cantora, enfim, descanse em paz.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

QUEM CANTA O QUE QUER,,,



Depois de meses prometendo ser o lancamento musical do ano, assisti ao clipe novo da cantora Madonna e de cara torci o nariz. A musica e tao chata e grudenta que faz qualquer cantor de axe music parecer o supra-sumo da MPB. O clipe e pior ainda, repete os mesmos cliches de sempre, caroes e autolovacao. Criatividade zero. No desespero de se manter no topo e de causar impacto com suas noticias, a cantora nao mede mesmo esforcos para aparecer e semore que pode manipular a midia. Mas tem passado dos limites. Pedir aos fas que guardem dinheiro para assistir ao seu show foi, de longe, a coisa mais ridicula que ela ja pronunciou em toda a sua carreira. Por outro lado, isso reflete o que todos nos ja sabiamos sobre ela e fingiamos nao perceber, a diva pop so quer mesmo lucrar com os seus fieis seguidores. E nao se trata de implicancia minha,  nao. Reconheco que ela e ainda um grande nome da musica pop, gosto muito do seu trabalho dos anos 80 e 90, mas depois ela so foi despencando e precisa urgente sair da zona de conforto ou simplesmente pendurar as chuteiras, o que deve ser quase impossivel. Pelo menos por enquanto. A apresentacao no Super Bowl foi tao carnavalesca e megalomaniaca que so serviu mesmo para disfarcar o seu cansaco criativo. Sim, porque dar piruetas pra la e pra ca nao e atestado nenhum de qualidade musical. Eu ainda acho antologica a apresentacao do Michael Jackson no mesmo evento, em 1993, a luz do dia, num palco bem menos ornamentado, mas ninguem desgrudou os olhos do artista um unico segundo, um primor de apresentacao  e que se encontra facilmente na internet. 
Passei a semana vendo noticias pipocarem sobre uma nova estrela, Lana Del Rey. Conhecem? Fui correndo atras, avido por uma boa novidade. Nao tive paciencia para garimpar tudo, mas apesar de Born To Die ser extremamente melancolica (e por isso a considero tambem uma representante mor desses tempos bicudos na America), gostei da voz da cantora e ate do seu aparente jeito inseguro. Visualmente tem uma elegancia natural que me agradou. Ainda vamos ouvir muito falar dela, para o bem ou para o mal. Melhor aguardar.
Mas o que me deixou irritado mesmo foi a frase infeliz do estilista Karl Lagerfeld sobre a cantora britanica Adele: “Ela e um pouco gorda demais, mas tem um rosto bonito e uma voz divina”. Ta, mas por que ela nao pode ser gorda? Qual o problema? Depois que choveram criticas, o todo poderoso da Chanel resolveu se desculpar publicamente, mas e aquela historia, uma vez a flecha lancada... Merece ou nao merece um bom “#Cala a boca, Lagerfeld!”? Todos nos sabemos o quanto a industria da moda ignora pessoas acima do peso, mas fazer disso uma condicao para a pessoa ser aceita e um crime. Eu, sinceramente, acho a cantora linda e com aquela voz ela nao precisa de mais nada, apenas ser feliz. Torco para que a apresentacao dela no Grammy seja um sucesso. Ouvi o seu Cd “21”, tao logo cheguei a Amsterdam no ano passado, e de certa forma ele se tornou a trilha sonora dos meus dias cinzentos por aqui. Na minha humilde opiniao, o CD inteiro e muito bom e eu sempre me emociono toda vez que ouco Someone Like You.
Outro aue que teve grande repercussao foi o (ultimo?) show da cantora Rita Lee, em Aracaju, nao e? A cantora que e bastante conhecida por suas letras irreverentes terminou xingando os policiais de “cavalos” e resultou na maior confusao. Ainda que eu concorde com boa parte do discurso dela, afinal todo mundo sabe que nao e a primeira vez e nem vai ser a ultima que alguem fuma maconha em show e realmente e uma hipocrisia esse patrulhamento besta sobre a maconha no Brasil (cheio de problemas maiores, ne nao?), mas tambem nao precisava tanto. Os policiais estavam no cumprimento do seu trabalho e, pelo que eu vi no video divulgado pelos telejornais, nao houve agressao fisica, etc. Com ou sem confusao, vamos sentir saudades da cantora nos palcos. Volta, Rita!
Sem querer puxar brasa pra nossa sardinha, mas ja puxando, o que eu curti mesmo foi o novo CD da Gal Costa, Recanto, que ouvi por aqui no mes passado, na casa de um amigo. Achei de cara a sonoridade estranha e so por isso ja o considerei corajoso e interessante, afinal de contas os artistas hoje estao cada vez mais caretas musicalmente... Quando soube que as letras e a producao eram do Caetano Veloso, exultei de alegria,  porque ele e um dos meus cantores favoritos. Gosto bastante do seu jeito inquieto, culto, um exemplo de artista em atividade. A musica Neguinho e um hino contra a burrice e ao consumismo babaca (ter para aparecer), nao tem como ficar indiferente a ela. No primeiro verso ja tem o dedao na ferida: “Neguinho não lê, neguinho não vê, não crê, pra quê”... E nao para por ai, nao, e uma paulada atras da outra:  “Votou, chorou, gozou: o que importa, neguinho? / Neguinho compra 3 TVs de plasma, um carro GPS e acha que é feliz / Neguinho também só quer saber de filme em shopping”. Genial. Fazia tempo que nao tinhamos nada tao incomodo na MPB e esse disco novo da Gal veio para quebrar esse marasmo. Uma otima pedida, com certeza. Bom, vou ficando por aqui, mas com os ouvidos aquecidos, neste inverno gelado do Hemisferio Norte. Um otimo final de semana a todos!