terça-feira, 10 de abril de 2012

REPUBLICA DOS SEM LEITORES

Nao estou no Facebook. Lendo um livro.

Ha alguns dias, saiu na imprensa uma pesquisa do Ibope apontando que metade dos brasileiros nao gosta de ler. Os entrevistados reconhecem que a leitura e importante para o desenvolvimento intelectual, profissional e academico, mas preferem outros programas como assistir a TV e acessar a internet. Trocando em miudos: nao gostam e pronto. Quando vi os numeros, entrei em panico. Vejam bem, nessa pesquisa, foi considerado leitor apenas aqueles que leram um unico livro, nos ultimos tres meses anteriores as entrevistas, mas, ainda assim, apenas 47% responderam afirmativamente: “Sim, eu li um livro nesse periodo”. E ou nao e motivo de preocupacao? Que o brasileiro nao goste de ler, isso nao chega a ser nenhuma novidade, mas continuar insistindo no erro, batendo na tecla de que se trata de uma questao socio-cultural como justificou (?) Maria Antonieta Cunha, diretora do programa do Livro Leitura e Literatura do Minc – “A questao e que nos nao temos a leitura como um valor social” – pra mim, ja e um pouco demais.
Muitas pessoas escolhem a ecologia, os animais, os flagelados da Africa, os soropositivos, enfim, nao faltam ao mundo e, sobretudo ao Brasil, boas acoes para se defender ou apoiar, mas eu escolhi essa bandeira, lutar por um pais leitor, porque tenho certeza absoluta de que, se tivessemos um povo mais culto, muitas coisas seriam diferente. Onde ja se viu, por exemplo, eleger um deputado federal que nunca ficou claro se realmente e alfabetizado ou nao? Nao se trata de preconceito, longe disso, mas nunca engoli o Tiririca no Congresso. Pronto, falei. Sem contar o principal: a Educacao no Brasil, que ja era capenga, passou a ser camuflada com varios projetos assistencialistas-bons-de-voto, que apenas empurram a sujeira pra debaixo do tapete. Uma vergonha. E por essas e outras que Thor (19 anos), o filho mais velho do empresario Eike Batista, se gabou ao dizer que o unico livro que leu ate o final foi a biografia do proprio pai. Grave. Se a elite brasileira ja e considerada preguicosa culturalmente, imagina o que vem pela frente.
As iniciativas para o crescimento da leitura, no Brasil, nunca deram certo porque falta vontade politica e a iniciativa privada, que poderia fazer alguma diferenca, ou prefere aderir a outras causas ou nao estao nem ai mesmo. Ha dois anos, mantenho o Amigo Leitor, um blog bem despretensioso sobre o prazer de ler, nao e sobre literatura e muito menos fechado aos apaixonados por livros, e um blog para todos, onde coleciono depoimentos diversos e iniciativas que promovem a leitura. Mesmo com textos curtos e leves, o blog nao emplaca, mas eu nao desisto desse projeto e ainda pretendo amplia-lo, quando chegar ao Brasil. Cada um tem que fazer a sua parte, nao tem outro jeito. A TV, por exemplo, poderia ajudar nessa empreitada, mas sao raros os autores de novelas e diretores de programas que compram a ideia. O fato de um livro pertencer a uma editora X ou Y o impede de aparecer na novela das oito – o que e uma grande mesquinharia, vamos combinar. Mas ainda bem que nem tudo esta perdido. Muito recentemente, o Esquenta, da TV Globo, lancou a sua biblioteca itineraria, uma iniciativa louvavel, sobretudo porque e um programa que fala direto as camadas mais populares. Na TV Brasil, do Rio de Janeiro, existe um outro programa muito bom tambem chamado De La Pra Ca (os videos estao todos na rede, muito bem realizados e com personagens bem interessantes. Ja assisti a quase todos.), mas, por outro lado, a TV Cultura, que ja foi referencia no assunto, com o seu Entrelinhas nao conseguiu aproximar os livros dos telespectadores, porque errou ao apostar numa linguagem “cult”, apenas para "entendidos". Livro e pra ser visto como alimento, deveria estar na cesta basica de todo mundo, ser motivo de conversa no boteco, estar por todos os lados, as criancas deveriam brincar com eles, mas ainda existe essa mentalidade besta de ver o livro como objeto de decoracao, como o opium de poucos afortunados. Sim, livro novo e caro, mas com mais leitores os precos cairiam bastante e tambem existem outras formas de conseguir livros baratos: em sebos, mercado de pulgas, sites como o Mercado Livre, etc. So nao le, mesmo, quem nao quer. Falta de tempo? Sai um pouco do Facebook, oras. Desabafei.
P.S. Para comemorar os 5 anos do Blog, resolvi dar uma reformada na casa. Espero que voces gostem do novo visual.


Postado por Luis Fabiano Teixeira COMENTARIOS

domingo, 8 de abril de 2012

ENJOY THE LIBERTY



O alerta veio do blog da minha amiga Angelica: o Instagram, aquela rede social ate entao fechada para usuarios de iPhones (uma especie de fotolog de “bacanas”), agora passou a incorporar tambem os usuarios do Android, o sistema operacional criado pelo Google, para outras marcas de celulares e ate mais acessiveis. Sou totalmente leigo nesse assunto, mas foi o que entendi. O que antes era de um grupo seleto e, digamos, abonado, agora esta disponivel para qualquer pessoa. Vamos ficar nesses termos e aceitar o politicamente correto, para nao ofendermos ninguem. Pois bem, sempre tive vontade de entrar nessa rede social, embora ja me custe atualizar Facebook, Twitter, Flickr, Tumblr, etc, mas, como muitas vezes esqueco a minha camera em casa e vivo registrando street art por ai, vi no Instagram a possibilidade de divulgar, com moderacao, coisas que me agradassem e em tempo real. Nem muito por aqueles filtros-retros porque o Photoshop ja me quebra um galhao, mais pelo fato de tirar a foto e posta-la, instantaneamente, mesmo. Ja estava ate pesquisando o preco do aparelho, quando saiu a “novidade”.
E a gritaria foi geral entre os “hipsters” de plantao: “Vao estragar o Instagram”, “O Bolsa Familia chegou para os usuarios do Android” e por ai vai, na maior demonstracao explicita de preconceito que eu ja vi na internet. Muito embora esse tipo de reacao nao seja assim tao recente. Quando o Orkut comecou a ficar bem popular, acessado pelas camadas mais humildes da populacao e surgiu aquela avalanche de rosinhas e frufrus nos scraps, essa mesma turma foi a primeira a migrar pro Myspace e depois para o Facebook, que por sua vez acabou engolindo os dois. Vem dai o termo “orkutizacao”. Quando uma rede social comeca a ficar bem kitsch, bem trash, e porque, segundo essas pessoas, estao orkutizando a mesma.
Ha algum tempo, estou estudando esse “fenomeno”, para um proximo trabalho, e o que mais me chamou atencao na escolha do tema foi justamente como o mundo virtual incorporou uma das mazelas mais hediondas da vida real: a manifestacao do odio e do preconceito. Aposto que cada um de nos tem uma experiencia pra contar. Esse rapaz que imita a Xuxa, por exemplo, me parece ser a bola da vez. Nao sou de entrar em discusses calorosas, na rede, mas outro dia critiquei uma pessoa da minha lista do Facebook porque um dos albuns dela se chama “Porque pobre nao pode ter maquina fotografica”, onde ela coleciona fotos de gosto pra la de duvidoso, bizarras e algumas simplesmente engracadas, de pessoas anonimas e principalmente de brasileiros. Muitas pessoas temem que o Instagram seja invadido por imagens assim e que deixe de ser "cool". Bom, expliquei as minhas razoes a pessoa, disse-lhe que achava aquilo cafona e que promover essa divisao de classes nao a levaria a lugar nenhum e que ela estava apenas tripudiando da pobreza de espirito alheia. Resultado: ela concordou comigo, apagou o meu comentario, mas preferiu continuar com o seu circo. Dei de ombros.
E chato ter que trombar, todos os dias, com a falta de bom senso das pessoas? E. Mas, por outro lado, voce tem a chance de nao querer receber mais atualizacoes dessas pessoas e ate exclui-las, se for o caso, por isso eu nao me incomodo com essas coisas, nao procuro esquentar a minha cabeca com essas bobagens. E depois eu costumo pensar da seguinte maneira: cada um tem o direito de fazer da sua vida o que quiser, quer ser futil? (e olha que estou farto de ver marcas via Instagram), quer se fingir de rico?, quer fazer a linha nerd?, o pegador?, a periguete?, enfim, seja la o que for, cada um tem o direito de ser o que quiser, usar a mascara que quiser. Pra essas pessoas eu nao dou a menor bola. Nao perco o meu tempo. E outra, todo mundo conhece os perigos a que isso implica. Como diz uma propaganda de bicicleta que faz muito sucesso por aqui: Enjoy the liberty. E, claro, capriche nos cliques do seu Instagram. Seja ele de qual celular for.


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domingo, 1 de abril de 2012

INSACIAVEL



Assisti na semana passada ao tao comentando Shame, de Steve McQueen, e esperava ser apenas mais um filme com nudez explicita e so por isso faria um certo barulhinho. Ainda bem que quebrei a cara. Tudo que se tem falado ou escrito sobre ele e absolutamente procedente. Fiz uma busca na minha memoria cinematografica, por exemplo, que nao chega a ser tao prodigiosa em termos de numeros, mas bastante seletiva, e nao me lembro de ter assistido a nada mais perturbador e interessante. Pelo menos nao na ultima decada. Fa assumido de classicos como 9 Semanas e Meia de Amor, Ata-me e Intinto Selvagem, nao tenho o menor pudor em colocar Shame entre essas perolas do cinema mais… apimentado. O filme e basicamente sobre o desejo sexual compulsivo. Um viciado em sexo. Assim mesmo, sem rodeios. O diferencial esta na sua abordagem: realista no sentido de expressar o que realmente acontece nos  dias de hoje (a facilidade de se fazer muito sexo, aliada a  uma certa angustia), mas com um olhar absolutamente melancolico, nada comum para filmes dessa natureza.
Faz algum tempo que postei aqui no Blog um conto chamado Aquele e o Outro, onde abordei esse mesmo assunto, por estar  incomodado com esse comportamento, mais ou menos recente, das pessoas “dissolverem trizteza em sexo”, em tentativas quase sempre frustradas de realizacao pessoal e apenas momentaneas. Para minha surpresa, Steve McQueen (que tambem e artista plastico) ja estava de olho no tema. Na revista Dazed and Confused, de fevereiro, ele disse que so fez o filme porque o “assunto pedia”. Nao da mesmo para ignorar essa oferta absurda de prazer a que estamos expostos, todos os dias. A propria internet e responsavel por tornar a vida sexual das pessoas bem mais agitada, mas isso tambem traz la as suas consequencias – o que o filme mostra, sem julgar ninguem. O roteiro e bem intimista, com pouquissimos personagens, a narrativa e das mais lentas, assim como A Single Man, de Tom Ford, mas nem por isso e chata ou se leva a serio demais. Com o perdao do trocadilho,  e um filme sem vergonha, mas na medida certa.
Vamos ao que interessa. Brandon Sullivan, interpretado brilhantemente por Michael Fassbender (melhor ator no Festival de Veneza), e um novaiorquino viciado em sexo e que leva ao pe da letra aquela maxima do Nelson Rodrigues: “O homem comeca a morrer na sua primeira experiencia sexual”. Sim, o cara se masturba varias vezes ao dia, fica grudado em sites eroticos, tem em casa um arsenal pornografico de respeito, prostitutas frequentam o seu apartamento como se fossem amigas de infancia, faz pegacao no metro, na rua, no trabalho e ate vai parar numa boite gay, com direito a receber sexo oral e tudo… Ou seja, vive e transpira sexo, mas felicidade que e bom, nada. Para piorar, recebe em casa a  visita de uma irma bem moderninha e espivitada, que insiste em lhe fazer alguns inocentes agrados carinhosos, fato que o deixa  completamente perturbado. Relacao incestuosa? Bom, tem que assistir pra saber.
Homens viciados em sexo costumam ser tratados pela sociedade como verdadeiros garanhoes e isso vai alimentando o ego deles ao ponto de mal se darem conta de que aquilo realmente e um problema, um vicio como outro qualquer. Lembro muito bem que, quando saiu a noticia de que o ator Michael Douglas estava internado numa clinica em tratamento contra a dependencia de sexo, muitos amigos meus estranharam e ate fizeram aquelas piadas machistas de mau gosto. O filme propoe exatamente essa reflexao, alias, bastante oportuna nesses tempos de Grindr (ja apontado como a nova revolucao sexual) e tantos e tantos outros aplicativos e sites de paquera e sexo, que seduzem cada vez mais pessoas mundo afora. Nao sei exatamente como funciona no Brasil, mas aqui na Europa, por exemplo, e impossivel se falar em relacionamento ou sexo, sem usar a internet. Ja testemunhei, varias e varias vezes, pessoas em bares marcando encontros pela internet, quando poderiam partir para o cara a cara ali mesmo. Questoes que podemos levar pra cama, antes de dormir: essas relacoes servem pra que afinal? Proporcionar apenas prazer? E o afeto onde fica nessa historia toda? Nao fica?
Nao vou me alongar. Gostei muito da fotografia tambem, em tons mais sobrios e com uma luz bem direcionada (prestem atencao na primeira cena, como a luz ajuda a nao expor tanto a nudez do protagonista). E como sou particularmente louco por paisagens urbanas, nao posso deixar de exaltar tambem as cenas externas, muito bem feitas e sacadas. A sequencia do metro tambem e uma das minhas preferidas e as cenas de sexo, embora nao sejam escandalosamente apimentadas, sao bem coreografadas e bonitas. A trilha sonora e uma delicinha. Figurinos muito elegantes. Confiram mesmo. Mas nao facam como alguns blogueiros gays que assistiram apenas para ver o… a genitalia desnuda de Michael Fassbender. O filme tem outros atrativos, e muito mais que um simples detalhe. Bom, nao chega a ser tao simples assim, mas...


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