domingo, 25 de março de 2012

NAS NUVENS




Como se nao bastasse o meu aniversario este ano acontecer, na Primavera, uma estacao do ano que eu adoro – e isso so foi possivel porque ainda estou aqui na Holanda –, ainda recebi uma tonelada de amor vinda dos quatro cantos do planeta (Alemanha, Argentina, Brasil, Chile, Espanha, Estados Unidos, Holanda, Italia, Reino Unido e… Singapura!). Obrigado mesmo por tanto carinho, pessoal! De coracao. Voces tornaram o meu dia muito mais feliz! Thanks, gracias, dank je wel!


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sexta-feira, 23 de março de 2012

ADEUS, ADEUS...

ilustracao: Lucas Leibholz

Como gostaria de estar em casa, no Brasil, e ouvir o Plantao da Globo dizer que o humorista Chico Anysio teve alta do hospital e que, mais uma vez, resistiu bravamente. Melhor ainda, que esta curado. Infelizmente nao foi assim. Ele partiu hoje, depois de uma longa batalha contra a morte, travada numa cama de hospital, no Rio de Janeiro. Quase completando 81 anos. Acompanhei aqui da Holanda os boletins medicos e sempre fazendo preces e torcendo muito, porque todos na minha casa sempre fomos admiradores do seu talento. Lembro-me, nitidamente, de ficar acordado ate mais tarde, na minha infancia, apenas para assistir ao Chico Anysio Show e poder ver o Jovem, que era o meu personagem favorito, mas morria de medo quando aparecia o Bento Carneiro, aquele vampirao horroroso que ele fazia tao bem. Vai ser dificil ser original ao elogia-lo ou mesmo prestar essa simples e honesta homenagem, mas e melhor correr o risco do lugar-comum do que ficar em silencio, afinal qual pais nao gostaria de ter tido a honra de contar com um artista como ele, nao e mesmo?
Ha pouco tempo, li o Livro do Boni e um dos capitulos mais bacanas e justamente o que fala do humorista. Vou transcrever um trechinho porque resume bem o talento desse genio do humor brasileiro: “Os personagens do Chico sao mais de duzentos. Um nao tem nada a ver com o outro, em carne, osso e alma. E mesmo sem fazer tipo, se apresentando de cara limpa, com sua voz bem colocada e com um ritmo de narracao perfeito, Chico Anysio e imbativel. Quando precisei dele no Fantastico, o Chico tornou-se a principal atracao do programa, narrando de forma impecavel as aventuras do Azambuja. (…) Nao e preciso narrar a trajetoria de sucesso do Chico na Globo e em outras emissoras, mas vale lembrar o curioso programa Linguinha X Mr. Yes, apos o Jornal Nacional e dava mais audiencia que o proprio jornal, e tambem a eterna Escolinha do Professor Raimundo, que tive a ideia de colocar no ar diariamente, de segunda a sexta e, de forma surpreendente, levantou os indices do horario”. Citei esse trecho nao por acaso. Ha alguns anos eu e meu pai sempre discutiamos em casa o fato de, nos ultimos anos da carreira dele, a Globo nao ter lhe dado um espaco maior, digno. Aquelas participacoes em novelas nao eram suficientes para concentrar todo o seu talento, ainda que em Caminho das Indias ele tenha dado um show de interpretacao como um indiano golpista, impagavel.
Fico triste pela ausencia do artista, mas tambem nao esqueco do homem que lancou tanta gente nova e que esta ai brilhando ate hoje na TV e no teatro, da solidariedade que ele tinha com os seus companheiros de trabalho e da generosidade de saber dividir uma cena, mesmo quando o show era feito so pra ele. Consciente do grande valor que o seu nome tinha no mercado e que sozinho daria conta de qualquer programa, a sua preocupacao sempre esteve ligada aos seus companheiros, por isso sempre trabalhava com muita gente, para poder empregar todos esses artistas que, com o surgimento da TV, e praticamente todos oriundos do radio ou das chanchadas, ficariam sem ter onde trabalhar, onde ganhar a vida. A ultima versao da Escolinha do Professor Raimundo, por exemplo, a que a maioria de nos conhecemos, so foi possivel gracas a essa generosidade. Quando a Escolinha acabou, ele falou pro Boni que muitos daqueles humoristas nao durariam mais de um ano e, infelizmente, seis (se nao me engano) morreram nesse periodo, segundo ele mesmo contou em uma de suas ultimas entrevistas, na Globo News. 
Ta na cara que o Chico morreu contrariado, com um no na garganta, querendo mais vida, reclamando mais espaco na TV (sua grande paixao, alem das muitas mulheres que teve e filhos), mais alegria para o povo brasileiro... Sim porque essa onda de humor-agressao, humor-trocadilho-infame, humor-em-pe-com-exibicionismo, enfim, humor-sem-Humor, isso tudo pode ate marcar uma epoca e. para alguns comediantes, marcar a carreira de forma ate negativa, como o autor de “comeria a mae e o bebe”, mas sera que vale a pena carregar nas costas um legado desses? Prefiro me lembrar dos grandes, do criador do Jovem, do Painho, do Haroldo, da Neide Taubate, do Alberto Roberto, do Bozo, do Coalhada, do Tintones e ate do horrivel Bento Carneiro, O Vampiro Brasileiro. E sao tantos personagens inesqueciveis… Sem contar os bordoes, um melhor do que o outro: “Po, mae, jovem e outro papo”, “Aff”, “E o salario, o!”, “E vapt-vupt” e muitos e muitos outros que tambem estao, ate hoje, na boca do povo. O unico consolo possivel, neste momento, e saber que ele vai ficar na nossa memoria para sempre. Ariano tipico, pra mim Chico Anysio saiu de cena cantarolando Adeus, Batucada, como quem quer dar uma cutucada em algumas pessoas: “Adeus, adeus… Vou-me embora chorando… E guardo no lenco essa lagrima sentida. Adeus batucada. Adeus batucada querida…”. Chico, mestre do humor, artista de mil faces, descanse em paz. O Brasil lhe agradece por tantas alegrias.


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quinta-feira, 22 de março de 2012

INFERNO ASTRAL





...Entao o cisne nao quis comemorar o dia da agua, em Waterloplein. Preferiu tirar uma soneca. Porque, as vezes, a vida e assim. Tudo fica chato. Tudo e inferno astral. 


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domingo, 18 de março de 2012

A MELANCOLIA DO RISO


Ontem assisti ao filme O Palhaco, do talentoso Selton Mello. O filme e tao simples que chega a causar uma certa estranheza, mas o tema me tocou profundamente: essa luta ingloria que todo artista trava consigo mesmo, em maior ou menor grau, para conseguir viver do seu oficio, sem maiores traumas. O filme nao tem o mesmo rigor tecnico de Feliz Natal (2008), seu longa anterior, mas nao deixa de fazer parte do que esta se tornando uma marca ou uma linguagem dos filmes que ele assina como diretor: ir na contramao do mainstream. E quando falo contramao e contramao mesmo! Por outro lado, acho que esse e bem mais popular que Feliz Natal, talvez por ter o circo como pano de fundo para a crise existencial do palhaco Pangare, o protagonista, interpretado pelo proprio Selton. O roteiro e centrado num momento crucial da vida desse palhaco lirico criado pelo ator/diretor: quando ele descobre que faz todos rirem, mas “quem o fara rir tambem?”. Um argumento simples, mas que ao longo do filme  vai se desdobrando em situacoes de extrema poesia, delicadeza, passando por dialogos leves, com um humor acido, uma fotografia em tons de terra, quase sepia, ate chegar ao final, num reencontro fascinante do palhaco com ele mesmo.
O filme tem muitos pontos positivos, alem daqueles que eu acabei de citar, mas pra mim o destaque mesmo sao as participacoes especiais: Jorge Loredo, Jackson Antunes, Fabiana Carla, Ferrugem, Danton Mello, Tonico Pereira, enfim, uma galera que entra e rouba a cena na mao grande. Sem do. E ainda bem que Selton nao ve nisso uma competicao desleal, um problema, quer mesmo que esses atores brilhem da melhor forma possivel. O cantor multi talentoso Moacyr Franco, por exemplo, faz tao bem o papel de um subornavel delegado de cidade do interior, que levou, merecidamente, o premio de melhor ator coadjuvante no Festival de Paulinia, do ano passado. A cena realmente e muito boa. Porem, em alguns momentos, cheguei a me perguntar se encher um filme de excelentes participacoes especiais nao tiraria o foco do protagonista. Terminei me convencendo de que eu e que tinha que mandar o meu racionalismo as favas. Foi o que eu fiz e so entao me deixei envolver pelo filme por inteiro. E dai pra frente foi so emocao.
Paulo Jose, que e o meu ator brasileiro favorito, faz muito bem o papel do pai de Pangare, mas senti falta de cenas mais elaboradas para ele. Fica aqui a minha bronca. A atuacao do proprio Selton tambem me despertou uma duvida. Quando Pangare esta no picadeiro, tenho a impressao de que o Joao Grilo, de O Auto da Compadecida, tambem esta por ali, no gestual e ate na intonacao da voz. Nao sei se isso foi proposital, se ele quis flertar com esse lado autobiografico ou se foi uma mancada mesmo, por ter que estar em dois lugares ao mesmo tempo. Achei fraca tambem a solucao do roteiro de mostrar a  busca da identidade (o documento) para reforcar que o Pangare esta em busca da propria identidade como artista, mas nao e nada que comprometa tambem o filme como todo. Gosto mais da ideia de inserir o ventilador como um objeto simbolico, intrigante, que me remeteu aos moinhos de vento do livro Dom Quixote. Mas, ainda assim, o Pangare, com toda sua ternura, ja esta na galeria dos personagens inesqueciveis do nosso cinema. Podem conferir. E, se os ventos do Norte tem mostrado que chegou a hora de reverenciar o cinema, dar a vez a uma certa inocencia – estao ai filmes como O Artista e A Invencao de Hugo Cabret que nao me deixam mentir –, nos tambem temos a nossa homenagem a Chaplin: bem mais original e, o que e melhor ainda, sem que a industria americana nos impusesse. 


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quinta-feira, 15 de março de 2012

LINDA, LOIRA E... INFELIZ


Assisti a bons filmes no ultimo final de semana e escolher apenas um para comentar aqui se revelou uma verdadeira tortura. Alguns ja vinham bem recomendados pelos jornais, revistas e sites especializados como A Invencao de Hugo Cabret, A Dama de Ferro e A Separacao, mas resolvi falar sobre um que, a primeira vista, pode parecer bem bobinho, que foi mais elogiado pelos blogs de moda e afins, mas que nas entrelinhas e bem interessante e atual. Pelo menos eu o percebi dessa maneira. Estou falando, claro, de A Minha Semana com Marilyn, de Simon Curtis, baseado no livro homonimo de Colin Clark. Trata-se da primeira viagem da “mulher mais famosa do mundo” a Inglaterra e os bastidores do filme O Principe Encantado (1957), onde Marilyn Monroe protagonizou (ou pelo menos tentou), ao lado de uma lenda do teatro ingles, sir Laurence Olivier. Durante as filmagens, ela termina se envolvendo com o terceiro assistente da producao, o jovem Colin Clark, interpretado por Eddie Redmayne. Ambos passam uma semana juntos (dai o titulo) e a historia e contada sob o ponto de vista dele.
Li criticas rasas sobre o filme e mesmo alguns amigos mais cinefilos nao conseguiram ver o que pra mim saltou aos olhos: o tragico da criacao do mito. Tambem nem e preciso recorrer a um Roland Barthes para saber que Marilyn Monroe sofreu e sucumbiu por ter se deixado aprisionar naquela personagem de mulher fatal, devoradora de homens, absurdamente linda e que movia multidoes (literalmente). O filme mostra isso de forma clara e bastante convincente. O roteiro e correto, sem nada de extraordinario em termos de estrutura, linear, ate porque se supoe ser baseado em fatos reais, mas o que destaco mesmo sao os dialogos que, em alguns momentos, sao tao espirituosos, abusando do trocadilho com o peculiar senso de humor ingles que e impossivel nao rir. Achei apenas que a personagem da Emma Watson, uma figurinista apaixonada por Colin, fica um pouco apagada, perdida, funcionando mais como coadjuvante de luxo do que uma verdadeira antagonista, mas entendo tambem que uma figura como Marilyn Monroe iria eclipsar involuntariamente qualquer outra mulher que atravessasse o seu caminho. Menos a veterana Judi Dench que, embora tenha pouquissimas falas, prova que com ela nao existe mesmo essa historia de papeis menores. Isso fica claro na modesta cena em que ela presenteia Colin com um cachecol vermelho, na entrada do estudio. Terna. Rica em sutilezas.
Michelle Williams (que eu nao me lembrava mais, desde Brokeback Mountain) interpreta Marilyn e esta muito segura no papel, numa caracterizacao bastante crivel,  mas o que mais me chamou atencao foi mesmo a interpretacao. A mistura de leveza e drama poderia resultar desastrosa, por ser uma atriz jovem, mas ela nao decepciona e ate algumas cenas sao bastante comoventes. Numa delas, por exemplo, Marilyn toma varios comprimidos e se tranca no quarto, para desespero de seus agentes e do proprio Colin. Quando este entra pela janela e a encontra na cama, ela lanca fora um travesseiro e indica que ele se deite. Ambos adormecem entrelacados. Sem usar uma unica palavra, ficamos sabendo que a razao de sua fragilidade era uma incomoda solidao, movida talvez pela falta de confianca nas pessoas. Alias, isso fica bem claro quando as filmagens de Principe Encantado comecam e ela esta um desastre no papel, consciente disso, mas todos a sua volta, abusardamente hipnotizados por sua beleza, afirmam que ela esta maravilhosa. O proprio Colin, ainda na cena do quarto, e questionado por ela se ele a ama. “Sim” – ele responde, para emendar logo em seguida: “Voce e como uma deusa grega pra mim”. Marilyn entao o interrompe: “Eu so quero ser amada como uma garota normal”. Algo que nunca conseguiu. Um filme leve, com algumas pitadas de drama e que, sem dizer muito, deixa um otimo alerta: beleza e fundamental, mas felicidade tambem.


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quarta-feira, 14 de março de 2012

EM NOME DA POESIA



Ninguem tem tempo pra poesia. Hoje e o dia nacional da poesia e nao ha uma notinha sobre o assunto por ai, salvo uma timida materia no site da Folha de S. Paulo. Os milhares de poeteiros que sempre invadiram a rede com seus poemas ruins, suas dores de corno, de amores e o diabo a quatro, mas que estavam sempre por aqui brotando como ervas daninha, hoje se calaram. Parte da classe artistica, que se serve da poesia para ganhar a vida ou simplesmente dinheiro, tambem esqueceu a data. E nao me venham com “Ah, dia da poesia e todo dia. Puxa, ate rimou!”.  Rimar alho com bugalho e facil, agora vai viver de arte, de poesia, seu f%@#0! Nao vai faltar tambem quem me venha com esta: “Meu filho, vai procurar o que fazer. O Brasil e um pais de analfabetos funcionais. A Educacao nao existe aqui. Se manca”. Faco questao de dizer ao Macunaima da vez que ate em “Atirei o pau no gato” existe poesia. Tenta entao viver sem ela, pra ver o que te acontece. Tenta.
O que mais me irrita nisso tudo e que as pessoas passam o dia inteiro tuitando, facebucando e nao sei mais o que, toda e qualquer bobagem, mas sao incapazes de fazer um ato gratuito que va alem do proprio umbigo. E nao e de hoje. Vejam bem, sou totalmente a favor da liberdade de expressao e so por isso a propagacao da burrice e da futilidade tambem, mas custa parar um dia, uma horinha, dois segundos, um haikai, sei la, escrever um versinho seu ou de algum poeta favorito, uma foto poetica, algo assim ao inves de “Bom dia aqueles que tem que ir pra academia as sete da manha”, “Estou em frente ao espelho me achando o maximo”. Tenha santa paciencia, ne? Para um pouco de usar o Facebook para se vingar das pessoas. Nao quero com isso dizer que todos os posts tenham que ser cerebrais, nao e nada disso, odeio intelectualoidismo. E tambem ja postei ate fotos de cueca, me achando o ultimo bis da caixinha, entao tenho telhado de vidro tambem e sou humano, a questao e: bom senso e nao abusar da primeira pessoa. Ja imaginaram que lindo seria acordar e ver um dedo de poesia em tudo que e lado, para quebrar essa realidade massacrante  que ja somos obrigados a aturar, afinal viver nao e facil?
Muitos brasileiros nao tem dimensao de como a nossa cultura e rica, o quanto nos fomos abencoados com tanta diversidade. E nao e aquele papo cliche, tipo musica de Jorge Benjor, nao. Outro dia mesmo fiquei horas e horas ouvindo nossos cantores, Luiz Gonzaga, Roberto Carlos (voces ja pararam para ler as perolas que existem na maioria das letras dele?), Alcione, Paulinho da Viola, Marina, Daniela Mercury, Maria Bethania…  E existem mais e milhares, cada qual com o seu estilo, com sua voz, e tem a danca, o gestual, uma coisa maravilhosa.  Dai Neguinho, como eu, vem pra fora e tem que escutar cada porcaria enlatada, ver cada apresentacao cafona na televisao…  Cai a ficha. Mas nao tenham que fazer o mesmo. Acreditem em mim. A nossa poesia e linda, variada, vai da mais popular, do cordel, ate a mais erudita, refinada, tem gosto pra todos. Escolha a sua, escolha o seu sonho, como diria Cecilia Meireles. Por falar nela, alguem ja leu Romanceiro da Inconfidencia? “A terra tao rica / e – o almas inertes! – o povo tao pobre… / Ninguem que proteste!”… Quer coisa mais linda, mais atual, mais Brasil do que isso? E tem inumeros poetas fascinantes, eu adoro Manuel Bandeira, ja cheguei ate a palestrar sobre a obra dele, Hilda Hilst, Mario Quintana, Drummond, Cora Coralina (isso para ficarmos em poucos exemplos). Fernando Pessoa!, nao posso esquecer.
Quantas e quantas vezes, quando disse aqui que sou formado em Letras, ja emendaram um Carrrlos Durmoon de Andarrde… Isso mesmo, CDA e bem conhecido pelo meio academico aqui da Holanda por conta da ousadia de um tradutor holandes chamado August Willemsen, que se apaixonou pela sua poesia e traduziu um livro com os poemas eroticos de O Amor Natural, que depois ganhou um documentario nas maos da holandesa Heddi Honigman e que tambem fez bastante sucesso por esses lados. Agora uma coisa e certa, se hoje fosse o dia nacional da pornografia, milhares de trocadilhos e besteirinhas iriam pipocar na rede. A proposito, querem entao pornografia?, fiquem com esses versos do proprio Drummond. Meu presente pra voces. Sem o menor ressentimento: "Oh! Sejamos pornográficos / (docemente pornográficos)./ Por que seremos mais castos / Que o nosso avô português?". Surtei um pouco, eu sei. Mas e por uma boa causa. Em nome da poesia. Enfim, um dia poetico a todos, aos que gostam ou nao dela. 

sábado, 10 de março de 2012

AUSENCIA

uma colagem que fiz em homenagem ao escritor, ha dois anos


Estava navegando pela internet e tropecei numa cronica linda do escritor Caio Fernando Abreu chamada Existe Sempre Uma Coisa Ausente, cujo trecho reproduzo a seguir:


Há meses não havia sol, ninguém mandava notícias de lugar algum, o dinheiro estava no fim, pessoas que eu considerava amigas tinham sido cruéis e desonestas. Pior que tudo, rondava um sentimento de desorientação. Aquela liberdade e falta de laços tão totais que tornam-se horríveis, e você pode então ir tanto para Botucatu quanto para Java, Budapeste ou Maputo — nada interessa. Viajante sofre muito: é o preço que se paga por querer ver “como um danado”, feito Pessoa. Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio.

Caio F. Abreu – O Estado de S. Paulo, 3/4/1994



As vezes, me sinto aqui na Holanda exatamente como o escritor descreve nesse texto. E ja perdi a conta de quantas vezes me peguei me penitenciando por essa especie de “solidao com vista pro mar”. Nao que eu esteja literalmente de frente para um marzao e agonizando de depressao. Nao e nada disso. Alias, nem de longe e parecido. O sentimento e outro, e apenas o de nao pertencer a um lugar que aos olhos da maioria das pessoas e incrivel. No caso do Caio, ele estava em Paris. Uma estranheza que para quem nao passou pela experiencia fica mesmo dificil de entender, afinal nao se resolve apenas arrumando as malas e voltando pra casa. Entao so me resta fazer o que ele sugere no final da cronica, guardar este recado: “alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo”. Bom, so nao deu pra ficar em segredo rs.

domingo, 4 de março de 2012

UM MENDIGO QUEIMADO E A MINHA PATRIA



Assisti, com algum atraso, a uma reportagem sobre a morte de um mendigo queimado em Brasilia, nesta semana. Imediatamente pensei, “Ue, de novo?!?”. Quem nao se lembra do indio Galdino que foi queimado vivo, em 1997, num ponto de onibus, por um bando de babacas de classe media alta do DF? Pois e, mais uma vez a barbarie se repete (no mesmo lugar e provavelmente por criminosos parecidos) e o mais engracado (pra nao dizer igualmente tragico) e que eu nao vi uma misera nota no meu Facebook, o que me leva a crer que “na geleia geral brasileira”, realmente, se “assiste a tudo e se cala”. Estamos, assim, tao voltados para nos mesmos ao ponto de nao protestarmos contra uma coisa absurda dessas ou estamos tao fatigados que preferimos fechar os olhos? Absurdo. Agora passo a alterar, com todo respeito, claro, aquele verso de Patria Minha do Vinicius, e nao digo mais uma crianca dormindo e, sim, “um mendigo queimado e a minha patria”.