sexta-feira, 22 de junho de 2007

UM DIA NO SPFW

Primeira vez no São Paulo Fashion Week. Confesso que imaginava uma outra atmosfera, com muito mais glamour. Não cheguei a ficar decepcionado, mas saí de lá com a nítida impressão de que os rumos da moda brasileira já não são mais os mesmos. O próprio prédio da Bienal que, na TV, tem uma certa imponência, a olho nu não esconde suas imperfeições. Salvam-se as curvas sinuosas tão características às obras de Niemayer. Logo de cara, vejo saindo de uma van a editora de moda Lilian Pacce e sua família. Meu instinto de paparazzi pede para clicá-los. É o que faço. Logo na entrada, a distribuição de copinhos de água pela metade dá o tom da festa: a água está acabando e precisamos fazer alguma coisa. Penso em tomar banho, uma vez por semana. O Planeta agradece, mas a minha mãe não deve gostar nada disso. Há poucos metros dali, no chão, copinhos de plásticos vazios e folhetos repousam solitários e rebeldes. É. A consciência ecológica não atingiu a todos. O verbo de ordem é “reciclar”. Pena que alguns estilistas faltaram nessa aula. E os castings dos modelos? Os mesmos rostos. As mesmas formas. Talvez, isso explique os atrasos insuportáveis, em alguns desfiles. Carolina Pantoliano, que eu tive a chance de fotografá-la no seu debut nas passarelas, ora abria um desfile, ora fechava outro. Ainda tímida, mas com uma certa delicadeza no andar. Despontando, lá fora, nas páginas da revista Numéro e i-D. Bruna Tenório tem uma beleza interessante, a que mais me agradou, pra falar a verdade. Uma Capitu das passarelas. Já o modelo Ismael Lunkes é o mais low-profile. Com o qual eu mais me identifiquei. Sempre na dele. O modelo Vinicius Briani desfila sem qualquer maneirismo. Perfeito como dândi moderno. O backstage do estilista Mario Queiroz, que pessoalmente lembra muito o diretor Antunes Filho, estava tranqüilo, quase zen. Pasmem, tinha até um modelo lendo um livro. Tudo bem, de auto-ajuda, mas já é alguma coisa. Os lanchinhos desapareceram em alguns segundos. Tive que me contentar com uma limonada e uma torradinha com geléia de tangerina. Eu esqueço que, nesses lugares, é tudo muito light. Mas tinha massagem também. Não para os pobres mortais, como eu, claro. Gostei das redes colocadas próximas à rampa de acesso ao segundo e ao terceiro andar. Vistas de cima, a impressão era de um daqueles barcos gigantes de Manaus. Os mais inspirados podiam ver também um hotel bem ao estilo Dorival Caymmi. O SPFW Journal anuncia “Branco é o futuro”. Nas exposições, a cor predomina. Imagino o evento tomado pelos Filhos de Gandhi. O tapete branco da paz passando e emanando boas vibrações, afinal, o pecado mais cometido no SPFW é a inveja. De repente, bate uma invejinha branca naquele estilista: “Por que eu não tive essa idéia, antes? Por que, hein?” Os mais cruéis ficam na corrente positiva, ou melhor, negativa: “Ela vai tropeçar na passarela. Tropeça, desgraçada. Tropeça!”. Eu também pensei que fosse a vaidade, mas não é. Ou é em menor grau. Luxúria só se for em pensamento, porque é tudo muito monitorado. Bem, também não fui ao banheiro. Nos corredores, circulam pessoas dos mais variados estilos. Um balaio de extravagâncias. O ator Emílio Orciollo Netto passa ao meu lado escoltando a sua acompanhante (sei que acompanhante soa como acompanhante de executivo ou mesmo garota de programa, mas como vou saber se ela é namorada dele, esposa ou nenhuma coisa nem outra?). Aliás, celebridade estava em extinção por lá. Melhor ir tirar a sorte, no realejo da entrada. Um realejo que não agride a natureza. Sem periquito. Já tinha cruzado com o simpático dono do realejo, na Paulista. A sua ave-ganha-pão chama-se Cristina, que, por conta do SPFW, gozou de uma merecida semana de folga. Pelo menos, alguém tinha que ganhar alguma coisa, já que o comentário era de que a maioria dos modelos desfilou sem cachê. Por duas vezes, tiro o mesmo bilhetinho e em locais e horários diferentes. Aprendi a não duvidar dessas coisas. A noite se aproxima e é hora de voltar pra casa cheio de novidades. Ah, lembram da foto da Lilian Pacce e família? Foi parar no GNT Fashion. Fui convidado a mostrar na TV uma imagem que só eu fiz, no prédio da Bienal. Escolheram a da apresentadora do programa. Por que será?
P.S. Devo a minha visita relâmpago ao SPFW a duas pessoas bem legais, Marcos Cunha e Roni. Valeu!