segunda-feira, 12 de abril de 2010

MR. AMERICA




No último final de semana, estive em São Paulo para assistir à exposição Andy Warhol, Mr. America, na Estação Pinacoteca, em cartaz até 23/05. Fã confesso de Pop Art e do artista (quem acompanha meu trabalho em pintura sabe disso), a exposição não causou em mim impressão melhor que a de ter estado diante de uma grande “piada”. E não poderia ser diferente, as frases muito bem sacadas e humoradas de Warhol, estampadas praticamente em todos os lugares, chegam a ser muito mais interessantes e divertidas do que boa parte do seu trabalho exposto.

Vendida como o evento do ano das artes plásticas, a exposição pretende alcançar (e está conseguindo) o mesmo sucesso de mostras anteriores como a do pintor francês Henri Matisse e as dos brasileiros Vik Muniz e Beatriz Milhazes. Desnecessário dizer que a propaganda é a alma do negócio, daí o público estar comparecendo em peso, a ponto de ter sido montado até um esquema especial, na entrada do museu, para evitar possíveis confusões. Aos sábados, com a bilheteria free, o número de visitantes triplica. De crianças a velhinhos, todos querem ver os quadros multicoloridos do artista, ainda que não saibam absolutamente nada sobre ele. Melhor assim, os mais puritanos poderiam até voltar pra casa.

Longe de ser uma retrospectiva e soando mais como “é o que a América Latina tem pra hoje”, não podemos também fazer a “linha” os inconformados, boa parte do repertório iconográfico de Warhol está lá: as famosas séries “Marilyn Monroe”, “Sopas Campbell's” e “Jackie”, o polêmico “Mao”, “Pelé”, “Autorretratos”, a nostálgica série de polaroids e até trabalhos mais experimentais (os meus preferidos) como “Silver Clouds”, porque segundo o artista “prateado é a cor do narcisismo”, “Cow Wallpaper”, que lamentavelmente com a péssima iluminação da primeira sala ficou relegada a segundo plano e “Blow Job”, que recebeu o brasileiríssimo título de “Boquete” e que, em pleno século 21, não chega sequer a corar as pessoas, mas atrai bastante atenção pela semelhança física do “ator” do vídeo com James Dean.

A Pop Art é um produto direto da sociedade de consumo, é uma forma estética de retratar o universo das coisas, por isso até hoje muitos críticos ainda torcem o nariz: “Isto não é arte” – costumam dizer, ignorando até mesmo o seu enorme apelo popular. Harold Rosenberg, por exemplo, duvidou da sua legitimidade, por não encontrar nela conceitos mais “nobres” que a justificassem: “Não se sabe se se trata de uma obra-prima ou de uma porcaria”. Cabe então uma dica: não se espante, ao se deparar com uma frase de Warhol se defendendo de que “não critica a sociedade norte-americana”, como se imagina à primeira vista. Ou que ele fez um quadro sobre dinheiro, porque “é a coisa de que mais gosta”. É aí que entra o outro lado do “espetáculo”, não se pode separar arte e artista, quando se trata de Andy Warhol. Toda a tradição pictórica anterior ao seu surgimento era reduzida simplesmente à pintura, mas depois dele se tornou comum muitos artistas afirmarem, sem o menor pudor, cheios de vaidade: “Eu sou a arte”, como o semiólogo francês Roland Barthes observa muito bem, no catálogo “Pop art, evoluzione di una generazione”, de uma exposição em Veneza, em 1980.

Li num jornal que o teor da exposição é “uma faceta crítica” do artista, que existe ironia na escolha das imagens, na manipulação delas, no uso das cores, que por trás daquelas que são mais sedutoras existe uma América de cara limpa, pouco atraente, etc. Não contesto nada disso e ainda acrescento que existem trabalhos mais “sérios” dele, que merecem até uma atenção redobrada: a série “Suicídios”, “Cadeiras Elétricas” e “Os Homens Mais Procurados”, para ficarmos apenas nesses exemplos. O fato é que esses trabalhos visualmente até surpreendem e, dependendo de cada um, podem até chocar, mas os textos de Warhol que os acompanham, de tão debochados e irônicos, não nos oferecem outra possibilidade que não seja a de estarmos diante do simples reflexo das coisas representadas.

Momento bastidores. Tenho um prazer irresistível, quase infantil, de fotografar exposições, quando não se pode registrar nada. Quando é permitido, não vejo muita graça. Já pergunto esperando o “Não pode!”. Daí é aguardar um vacilo dos monitores para poder conseguir o meu “furo”. Já fiz isso várias vezes. Primeiro porque é sem flash e não danifico obra nenhuma, segundo porque é para divulgação da exposição, eles é que deveriam me agradecer. Andy Warhol, Mr. America foi a mais difícil de todas. Havia muitos monitores (muitos mesmo!), além de centenas de visitantes e por um descuido meu (me pegaram com a câmera na mão) me tornei um alvo fácil para eles. Um dos monitores nem disfarçava mais em me seguir, parecia um papagaio de pirata, de tão na minha cola. Mas também não iria deixar os leitores do meu Blog sem poder curtir um pouquinho da exposição. Fiz dois cliques, muito rapidamente, mas fiz. Bem, pra terminar o post, que já está imenso, queria só registrar aqui duas coisas: a minha solidariedade aos cariocas por conta das fortes chuvas que culminaram em tantas perdas e estragos, no Rio e em Niterói. Estou torcendo muito por vocês. Força aí! E também agradecer a companhia do meu querido amigo Paulo Henrique Moura (foto), do site Culture-se.com, do qual participo como colaborador, que bloga de vez em quando no “Tenho Opinião, Logo Existo” e que eu tive o grande prazer de conhecê-lo pessoalmente, no último sábado, na gélida capital paulista. É isso. Uma ótima semana a todos! Abração!!!

6 comentários:

Anônimo disse...

Luis

Quantas vezes tenho vontade de voltar a morar em SP, onde a arte se mistura ao ar, nos enebria com tanta informação. Fico as vezes frustado no RJ porque falta interesse por exposições desse nível, onde aprendemos, questionamos e crescemos enquanto ser humano e culturalmente falando.
Ainda reclamo de você não colocar mais posts com suas obras, gostaria muito de conhecer um pouco mais de seus trabalhos e que sabe quando vc fizer uma exposição não me ponho a caminho de SP para ver.

Abração meu amigo, ainda vamos nos conhecer pessoalmente.

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Tive a oportunidade de estar em Sampa e ver esta mostra ... sensacional mesmo ... parabéns pela abordagem inteligente e pelos furos dos cliques ... rs

sempre bom navegar por aqui ...

bjux

;-)

Caju disse...

Só de ler este post já me dou por satisfeito. Mesmo se ter conferido a exposição. Warhol é brilhante!

XD

Lorenço Franke disse...

vi essa expo na mtv... pena eu morar tão longe
gostaria muito de ver de perto!!!!!

Átila Goyaz disse...

Confesso pra você que nunca fui a exposições rs. Mas tenho curiosidade, e me interesso muito por arte em sí.

O que é proibido é mais gostoso né? tá certo, eu tb acho. Muito boas ficaram as fotos, nem parece que você estava "penando" esperando uma "brecha paparázíca".

enfim, te ensinar a viver em lugares livres? se eu soubesse acho que teria a solução para todos os conflitos do mundo.
Como o mundo ainda é mundo estamos aqui nesse bolo disforme.

Bons ares ae pra tuh!
abraços!

GilsonBicudo disse...

Luis,

Particularmente, adoro o Warhol, as obras e a "personagem". Gosto de crítica/comentário como esse seu. Analisa o evento em si, seus pontos positivos e negativos, e contextualiza o artista e a exposição.

Confesso que detesto críticos de arte. Afinal, as artes plásticas são um prazer pessoal. É o efeito das cores, das formas, do tema dentro da gente. Ficar explicando isso é o mesmo que tentar explicar e qualificar orgasmos: é pessoal, né?

Quanto aos "pecados", o meu é tocar. Cara, não resisto em tentar (e as vezes conseguir) tocar as obras. É indescritível a sensação de passar o dedo por cima da pincelada de um Monet, por exe.

Algumas vezes consegui e já toquei obras incríveis.
Hehehe

Abs,

GB