segunda-feira, 22 de abril de 2013

DE CORPO E ARTE (MAKING OF)


















Faz um tempão que não posto nada aqui, porque de modo geral tenho tido muita preguiça de redes sociais e afins, mas achei que deveria quebrar esse jejum para escrever sobre uma pequena conquista pessoal: ter o meu primeiro curta-metragem selecionado para um festival internacional de cinema. Digo "meu" apenas para ser prático, porque embora tenha assinado a direção, o roteiro, a direção de arte e até atuado "de leve", todo e qualquer filme é sempre uma obra coletiva. De Corpo e Arte não foge à regra, ele jamais teria existido sem o grande esforço da atriz e amiga Maria Dias, que abraçou o projeto desde o início, sem pudores, permitindo que dois malucos, eu e o Tiago Cardoso, invadíssimos a sua casa, compartilhássemos da sua intimidade, cheios de ideias e referências, tudo para realizar o sonho de fazer cinema de forma independente, esbarrando em vários problemas técnicos, mas com muita vontade de acertar e contar uma história interessante e que celebrasse à arte. Depois de várias tentativas de emplacar o filme em festivais no Brasil, o Festival BIBLIOFILMES 2013, de Portugal, nos selecionou para a sua mostra oficial e isso nos deixou bastante felizes. Não por "vaidade", mas exatamente porque ainda temos na memória todas as dificuldades que passamos e agora podemos dizer que cumprimos a nossa meta. Ganhar é uma outra história. Eu ainda posso dizer que esse curta me ensinou tudo que sei hoje sobre o ofício de fazer cinema. 
O curta nasceu do desejo da atriz Maria Dias de fazer algo um pouco mais experimental, já que ela tinha acabado de sair de uma outra produção e que seguia a linha mais comercial. O Tiago então me encomendou o projeto e eu escrevi rapidamente o roteiro. Pensei numa atriz sensível e perfeccionista, que sempre sonhou em interpretar o papel de Ofélia. Em busca da melhor maneira de construir a personagem de Shakespeare, ela lê "O Lobo da Estepe", aquele livro pauleira do Hermann Hesse. E muito impressionada com a obra,  termina ficando cara a cara com a própria morte. Tudo isso poderia ser resumido numa única pergunta, um livro pode realmente influenciar  decisivamente o comportamento de uma pessoa? Não estou falando desses livros de autoajuda que prometem a felicidade em cinco minutos. Eu, particularmente, li O Lobo da Estepe e fiquei bem perturbado e a Maria também teve a mesma impressão, a escritora Clarice Lispector também leu e ficou "chocada"… Fica aqui o convite para essa leitura impressionante também.
Bom, com o roteiro pronto, fomos para uma única reunião e já decidimos ali mesmo o que cada um poderia contribuir. Não foi difícil porque nesse aspecto costumo ser bastante generoso e agregador. Na verdade, acho até gostoso costurar todas as ideias, sugerir referências… Uma semana depois já estávamos no set (de madrugada, diga-se de passagem), filmando as primeiras cenas. O processo, de modo geral, é bem cansativo (como em qualquer set): enquadra daqui, mexe dali, para por causa do barulho, a luz queimou, a maquiagem derreteu, retoca ali, acolá… Aliás, só para colocar os cílios postiços da Maria era uma verdadeira novela… Mas estávamos sempre confiantes, tentando e repetindo cenas várias e várias vezes… Acho que nunca fui tão "odiado" num trabalho rs. Filmamos entre o outono e o inverno de 2011 e fizemos uma externa onde a personagem tem lá o seu momento "Escobar", de frente para um mar extremamente revolto. Pra mim é a melhor cena, sem dúvida, porque adoro externas e tinha um quê de aventura muito grande… Nunca vou esquecer aquele final de tarde gelado e maravilhoso. 
Tudo foi pensado e cuidado com muito carinho, desde os objetos de cena (a colcha da cama com flores, por exemplo, era para lembrar o lago que Ofélia se suicida), os figurinos e até a fotografia em preto e branco foi inspirada nos filmes do Fellini… E nós curtíamos cada nova iniciativa, cada ideia, cada palpite. O dia da filmagem no Teatro Procópio Ferreira foi o mais tenso, porque tínhamos um horário exíguo e dias depois o mesmo seria fechado para uma reforma faraônica. Ou seja, quase tudo que fizemos lá foi de primeira, mas os deuses do teatro estavam do nosso lado naquele dia e deu tudo certo. Até experimentei estar do outro lado da câmera e interpretei um ator canastrão, sem o menor talento, que disputava uma vaga para o papel de Hamlet. Achei o máximo e vivo me prometendo repetir a dose. O trabalho de pós-produção foi tão exaustivo quanto as filmagens, mas fiz questão de montar meu acampamento na ilha de edição, na casa do Tiago. Literalmente. Houve um dia em que voltei pra minha casa, às cinco horas da manhã, exausto, enrolado num cobertor. Tive uma gripe braba no meio do caminho, depois machuquei a minha perna, mas desistir nem pensar. Aliás, cantávamos sempre aquela música da Cássia Eller, no set. Não por acaso ela está no making of que vocês podem conferir acima.
Dois anos depois, estou aqui revivendo tudo aquilo, agradecendo todas as pessoas envolvidas, mas, sobretudo vim pedir que as pessoas votem ou continuem votando no De Corpo e Arte, no site do BIBLIOFILMES, porque um dos quesitos é o voto popular. Muitas pessoas estão compartilhando no Facebook, outras sequer retornaram meus e-mails, mas a minha sensação é de dever cumprido. E, claro, obrigado a todos que acreditam no meu trabalho, aos que me inspiram todos os dias ou simplesmente aqueles que me estimulam a nunca desistir. No fundo, é exatamente como a escritora Lygia Fagundes Telles costuma dizer, o Caio Fernando Abreu reproduziu (à sua maneira) e a Maria Adelaide Amaral reafirmou numa entrevista: a gente só faz tudo isso para ser "amado". 
Para votar no De Corpo e Arte basta entrar no link abaixo e votar. O nosso filme é o último da lista. Muito obrigado!


VOTE AQUI!


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

É SIMPLESMENTE ISSO



Vai direto pra parede do meu novo studio...

"Os artistas são as pessoas mais motivadas e corajosas sobre a face da terra. Lidam com mais rejeição num ano do que a maioria das pessoas encara durante toda uma vida. 
Todos os dias, artistas enfrentam o desafio financeiro de viver um estilo de vida independente, o desrespeito de pessoas que acham que eles deviam ter um emprego a sério e o seu próprio medo de nunca mais ter trabalho. Todos os dias, têm de ignorar a possibilidade de que a visão à qual têm dedicado suas vidas seja apenas um sonho. Com cada obra ou papel, empurram os seus limites, emocionais e físicos, arriscando a crítica e o julgamento, muitos deles a ver outras pessoas da sua idade a alcançar os marcos previsíveis da vida normal - o carro, a família, a casa, o pé-de-meia. Por quê? 
Porque os artistas estão dispostos a dar a sua vida inteira por um momento - para que aquele verso, aquele riso, aquele gesto, agite a alma do público. Artistas são seres que provaram o néctar da vida naquele momento de cristal quando derramaram o seu espírito criativo e tocaram no coração do outro. 
Nesse instante, eles estão mais próximos da magia, de Deus e da perfeição do que qualquer um poderia estar. E nos seus corações, sabem que dedicar-se a esse momento vale mil vidas." 

David Ackert, empresário e ator

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O EXTASE DO SAGRADO: BASTIDORES











Como prometi no sabado, no Facebook, estou aqui para contar os detalhes da minha segunda exposicao na Holanda. Segunda, mas com cara de primeira. Vou me ater apenas aos bastidores, porque o video acima ja explica bastante o meu processo de trabalho. Quando comecei a fazer essas colagens, no comeco de outubro do ano passado, nao esperava que tivesse uma recepcao tao bacana por grande parte das pessoas que foi a Galerie Lokaal WV 15, no dia 15/09, na abertura. Foi um momento emocionante e unico pra mim. Primeiro por mostrar fora do Brasil, pela primeira vez, da forma como eu gostaria, o meu trabalho e, segundo, porque houve tantos contratempos que a realizacao dessa exposicao se tornou uma questao de honra pra mim. Acho que qualquer artista que expoe fora do seu pais passa pela mesma situacao: a desconfianca dos donos da casa, o medo da desaprovacao, a pressao de ter que vender, a inseguranca de nao dominar a lingua… Comigo nao foi diferente, mas, por incrivel que pareca, eu que costumo ser uma bomba relogio nas vesperas de minhas exposicoes, estava bem tranquilo. Nao totalmente seguro, mas tranquilo. E ja explico o porque.
Um mes antes da abertura, estava no supermercado e dei de cara com a capa da revista Wallpaper* com uma imagem muito parecida com a das minhas colagens. Abri correndo a revista e vi um editorial inteiro saudando o retorno do Barroco. Achei isso de muito bom agouro, afinal a Wallpaper* ainda e um grande referencial para artistas e designer, no mundo inteiro. Alias, ja houve ate uma edicao dedicada ao Brasil. Foi o sinal de que eu precisava para saber que o trabalho que eu tinha comecado, um ano antes, estava no caminho certo. Quando a dona da galeria escolheu todos os 10 trabalhos, sem tirar nenhum!, tambem comemorei bastante. Mas faltava o principal: a aprovacao do publico, dos amigos e tambem do mercado de arte daqui, afinal voce pode ser um genio, o que nao e o meu caso, mas, se nao vender nada, a chance de novas oportunidades fica cada vez mais remota. Tudo isso aconteceu, mas nao sem um pouquinho de tensao.
O tempo que estava otimo, de repente virou. Uma garoa chata ia e voltava, o tempo inteiro. Para quem faz tudo andando de bicicleta nao tem nada mais irritante. Encomedar as molduras foi outra novela tambem. Qualquer servico na Holanda custa uma pequena fortuna e os profissionais daqui sao extremamente voluntariosos, fazem tudo no seu proprio tempo e nem adianta forjar aquele jeitinho brasileiro de resolver as coisas de ultima hora. Tive que ir algumas vezes a loja (que nao fica exatamente no centro da cidade). Gentilemnte, um amigo holandes me emprestou um quarto de sua linda cobertura, numa das principais ruas de Amsterdam, no centro, para que eu fizesse o meu QG. De la, comecei a divulgacao e os preparativos finais. Dias antes, ja tinha finalizado o meu site www.luisfabianoteixeira.com (alias, todos convidados a conhecer). Material grafico em maos (que aqui fica pronto no mesmo dia!), depois foi so levar os quadros para a galeria. A montagem comecou bem cedo, mas tudo correu as mil maravilhas. A dona da galeria, Josilda da Conceicao, propos – e eu aceitei – algo bem desconectado, os quadros dispersos, sem sequencia logica ou combinacao de cores, quebrando aquela pretensa formalidade que geralmente obras de arte costumam ter, quando colocadas lado a lado. Adorei a ideia. No dia seguinte, ainda voltei a galeria para colocar um suporte que faltou em um dos quadros. Mas, quando pensei que, enfim, descansaria, tive uma dor de coluna subita, e isso ja era a vespera da abertura.
Medico aquela altura seria impossivel, entao o jeito foi tomar um banho bem quente e dormir em posicao de… mumia. E nao e que deu certo? Acordei no sabado bem cedo com o sol entrando pela janela e a dor nas costas ja bastante controlada. Diante do espelho, percebi que estava ainda visivelmente cansado, embora inegavelmente feliz. No caminho para a galeria, fui relembrando tudo que tinha acontecido ate ali: as coisas boas e ruins, a minha primeira exposicao na Piola, em Santos… E bastante longe de casa, dos meus pais, dos meus amigos do Brasil, tudo parecia ainda mais melancolico. Mas essa sensacao durou pouco. Entrei na galeria com alguns convidados ja apreciando as obras, me desculpei pelo pequeno atraso, pluguei o meu ipod no aparelho de som e escolhi O Tropicalismo, A Poesia Concreta e o Mar, uma trilha de um desfile elaborada pelo Dj Ze Pedro, anos atras. Um set maravilhoso, cheio de intervencoes sonoras inusitadas. "Confusao!". Respirei fundo e disse a mim mesmo: Valeu a pena! Dai pra frente voces podem imaginar, vieram os cumprimentos, lindas flores, a reacao bacana das pessoas, as vendas comecando, a dona da galeria feliz, os amigos dizendo palavras tao carinhosas... Isso sem contar os inumeros emails lindos que recebi, durante a semana inteira. Uma vez um holandes me disse uma coisa que eu nunca esqueci, “ser artista e dificil em qualquer lugar do mundo”, no que eu concordei imediatamente. Sim, as dificuldades sao enormes, mas os momentos felizes tambem existem. E e principalmente por eles que nos vivemos, nao e? Agradeci pessoalmente a todos aqueles que me ajudaram na realizacao desse primeiro passo, longe de casa. Pessoas muito especiais pra mim. Agora vou sair para curtas ferias em Lisboa, mas depois volto contando as novidades de la. Abracao!

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domingo, 15 de julho de 2012

SALADAO




Faz um bom tempo que nao consigo atualizar o Blog, mas hoje resolvi voltar pro ninho como naquela parabola do filho prodigo. Espero que voces possam compreender a minha ausencia e ate torcer pelas novidades. Antes de qualquer coisa, por aqui ja e verao (nada comparado ao do Brasil, claro) e so por isso e mais facil sorrir. Encarar os desafios com mais leveza. E isso e muito bom. Um dos motivos da minha correria e tao-somente profissional, surgiram dois convites para exposicoes, aqui em Amsterdam, com um intervalo apenas de um mes entre uma e outra, entao logo precisei me concentrar nessas duas excelentes oportunidades e praticamente abandonei Facebook e afins. Tambem porque essas redes sociais todas ja estavam me dando nos nervos com tamanho excesso de banalidades. Porem, como sempre fui a favor da liberdade de expressao, preferi me retirar por um tempo a ter que ficar reclamando o tempo todo ou mesmo escrevendo post para retrucar bobagens, como uma brincadeira que fiz num comentario, sobre um post do Instagram aqui mesmo no Blog, em que afirmei que uma das razoes de usar o aplicativo e que gosto de fotografia e sou “exibido”.  Teve “vizinho” que nao gostou nadinha disso e, sem citar meu nome (e nem precisava), fez la sua reclamacao. Dou de ombros. Vou encerrar essa pendenga boba recorrendo as palavras de Henri-Pierre Jeudy: “A exibicao nao e necessariamente publica, ela e, antes de tudo, essa intimidade do corpo oferecida ao olhar do Outro”. Sem mais.
Tambem encontrei um tempinho pra passar um final de semana em Bruxelas, na Belgica. Trouxe excelentes recordacoes de la. O dia estava ensolarado, conheci pessoas muito bacanas, a cidade e uma graca e o povo e muito acolhedor e simpatico. Sem contar que a lingua francesa e de derreter coracoes. Eu, por exemplo, ouco duas frases e ja fico molinho, molinho. Adoro. Pessoalmente, e tao sensual quanto o portugues e para eles. Foi apenas um final de semana, mas deu para conhecer a famosa La Demence, uma festa diferente de tudo que ja vi em termos de casa noturna e tambem fui ao Museu Magritte que, confesso, nao me empolgou muito. Na verdade, o museu em si e muito bom, mas as obras mais conhecidas do artista nao estao la, mas, mesmo assim, indico o programa, principalmente aos mais chegados ao Surrealismo. Nao e o meu caso. Aproveitei a chance de estar em outro pais e sapequei num muro do centro da cidade outra colagem da minha intervencao urbana Do Lixo ao Muro. A imagem era uma alusao a um casal de gays adolescentes que vi namorando num parque lindo, nos arredores do museu. Por coincidencia, tempos depois, seria convidado para o evento do PAX 2012 para responder a pergunta “O que e uma arte `rosa`?”. Mas falarei sobre isso mais adiante. 
Nao tive muito tempo para cinema, mas abri uma excecao para dois filmes bem interessantes, Paraisos Artificiais e Weekend, respectivamente de Marcos Prado e Andrew Haigh. O primeiro me chamou atencao pelo cenario, Amsterdam, mas apesar de imagens belissimas e de uma atuacao inspirada de Nathalia Dill, o roteiro nao e dos melhores e, dependendo de quem o assista, pode parecer ate uma grande louvacao ao controverso mundo das drogas. Filmes com esse tema prefiro com uma boa dose de radicalismo como Kids e Gia – Fama e Destruicao, ambos dos anos 90 e Mentiras y Gordas, de 2009. Ja Weekend foi uma grata surpresa, o filme e otimo em todos os sentidos. O roteiro e muito bom, as atuacoes, a fotografia… Nao e a toa que ganhou varios premios mundo afora. O roteiro e tao bom e cheio daquelas frases com aquele humor ingles saboroso que ate anotei uma delas: “Sabe como e quando voce dorme pela primeira vez com alguem que nao conhece? E tipo… Voce se torna uma tela em branco e isso te da uma oportunidade de projetar nessa tela quem voce quer ser”. Nao custa nada parar e refletir.
Acompanhei algumas noticias do Brasil com uma certa preguica, porque, sem querer ser pessimista, mas ja sendo, a impressao de que tenho e que a impunidade e a violencia no nosso pais nao tem conserto. Cansei mesmo. Ver Lula e Maluf juntinhos foi de doer. E isso foi so uma dessas lambancas em tempos eleitorais. Mulher que mata e esquarteja marido, assassinato barbaro de gemeo motivado por homofobia, mais uma morte de morador de rua, queimado vivo, ambos na Bahia… Sinceramente nao da! Nao sei como vou me acostumar a tudo isso, quando voltar. Enfim, sei que foi um saladao de noticias, mas pelo menos dei o ar da graca. Vou tentar aparecer mais pra colocar o papo em dia, porque muitas coisas ficaram de fora. Entao, ate ja. Abracao!

Postado por Luis Fabiano Teixeira COMENTARIOS

terça-feira, 1 de maio de 2012

QUEEN`S DAY















Ontem foi o Queen`s Day, aqui na Holanda – uma especie de carnaval e 7 de Setembro, para simplificar. Pensei em nao postar nada, afinal ja tinha ate feito um certo barulhinho sobre esse feriado daqui, no Facebook, Twitter e Instagram (o meu mais novo passatempo na internet – ate quando?), mas como a minha vida cultural anda um pouco em baixa, por conta de uma serie de trabalhinhos de imigrante que surgiram nos ultimos dias, resolvi fazer um resumao da festa, mas bem ao estilo “a quem interessar possa”, porque para nos, acostumados com um carnaval interminavel e diverso, nao deve ser la muito convidativo ficar lendo sobre uma festa popular onde todos se vestem de laranja e vao para as ruas bater perna e comprar cacarecos. Mas tambem nao e bem assim. No quesito alegria, eles ainda deixam muito a desejar, mas como estou numa fase muito tranquila, confesso que adorei tudo e me senti completamente integrado.
O Queen`s Day e um feriado em homenagem a Beatrix, a rainha da Holanda, uma simpatica velhinha que adora chapeus extravagantes e um penteado armadao, tipo aquele da Cassandra do Sai de Baixo. Lembram? Figura carismatica, a sua alteza real costuma fazer dois discursos publicos por ano, um na abertura do Parlamento (se nao me engano, em setembro) e outro no final do ano. Nao costuma intervir na politica do pais, apenas em casos muito especificos. E, como a politica por aqui nao tem la grandes sobressaltos e tambem pelo fato da Holanda ser um pais muito rico e estar driblando a crise numa boa, ela tem suditos fieis. Todos a respeitam, a admiram, mas tambem brincam com a imagem dela e sem maiores consequencias. Quando ascendeu ao trono, ela poderia ter mudado o Queen`s Day para o dia do seu aniversario, mas preferiu manter a data no final de abril, em homenagem a sua mae. Isso fez toda a diferenca, porque esse dia e tambem uma especie de celebracao da Primavera, que chega depois de um inverno bastante rigoroso. A cidade se veste de laranja, ha festas por toda a Holanda, mas as mais animadas acontecem mesmo em Amsterdam. Dois ou tres dias antes, os turistas ja comecam a desembarcar por aqui, os hoteis ficam lotados e as ruas intransitaveis. Muda a rotina da cidade, mas geralmente os holandeses gostam muito e celebram o dia.
Moro no centro da cidade e o meu quintal e uma praca muito conhecida por aqui, a Rembrandplein, homenagem ao grande pintor holandes, conhecido por suas imagens bem realistas e uso extraordinario das sombras. A festa, aqui no centro, comecou bem cedo, as 8h:OO, ao som de… Born to Die (pasmem!), da Lana del Rey, num remix duvidoso, nas alturas, para meu desespero e do meu amigo portugues Carlos, que veio nos visitar e passar o feriado conosco. Ja haviamos saido, no domingo a noite e, por causa da barulheira, nao conseguimos dormir no dia seguinte. Decidi levar na esportiva, coloquei um par de oculos escuros, agradeci ao dia de sol, deixei o casaco em casa e fui para o Jordaan, um bairro bem charmoso de Amsterdam, cheio de atelies, brechos, galerias, enfim, um dos lugares mais descolados da cidade. Outro detalhe: como o Qday e um dia que ninguem paga imposto (e aqui os impostos sao astronomicos), ha uma tradicao de vender nas ruas tudo que se possa imaginar, novos e usados, a precos simbolicos (ou nao). Quem tem paciencia para sair bem cedo para as compras pode garimpar muitas coisas legais, mas, sem muito espaco onde moro, tive que me contentar com uma t-shirt e um tenis Nike, ambos bem baratinhos. Mas tambem vi um poster original do filme Um Bonde Chamado Desejo por 500 euros. O dono me disse que estava a venda porque ele estava com a faca no pescoco, mas nao fazia parte do espirito Qday de precos baixos.
Passei tambem por varios palcos montados em diversos lugares, onde se ouvia toda sorte de musica  – de jazz a Michel Telo e a tal Danza Kuduro , para todos os gostos, generos, idade, etc. Tudo de graca. Arrisquei ate alguns passos de danca, depois de dois unicos copos de cerveja, mas nada que possa me orgulhar rs. Terminei o dia na Reguliersdwarsstraat, onde os gays estavam pra la de divertidos e depois fui a um bar na Amstel e voltei pra casa exausto. Mas feliz. Pelo dia ensolarado, pela onda de alegria e laranja que tomou conta da cidade, enfim, por esse momento tao bacana que agora se soma aos outros que tambem vivi por aqui. Espero que voces tenham gostado das imagens. Em breve, estarei de volta. Otimo feriado do trabalhador para todos nos. Abracao.

Postado por Luis Fabiano Teixeira COMENTARIOS

terça-feira, 10 de abril de 2012

REPUBLICA DOS SEM LEITORES

Nao estou no Facebook. Lendo um livro.

Ha alguns dias, saiu na imprensa uma pesquisa do Ibope apontando que metade dos brasileiros nao gosta de ler. Os entrevistados reconhecem que a leitura e importante para o desenvolvimento intelectual, profissional e academico, mas preferem outros programas como assistir a TV e acessar a internet. Trocando em miudos: nao gostam e pronto. Quando vi os numeros, entrei em panico. Vejam bem, nessa pesquisa, foi considerado leitor apenas aqueles que leram um unico livro, nos ultimos tres meses anteriores as entrevistas, mas, ainda assim, apenas 47% responderam afirmativamente: “Sim, eu li um livro nesse periodo”. E ou nao e motivo de preocupacao? Que o brasileiro nao goste de ler, isso nao chega a ser nenhuma novidade, mas continuar insistindo no erro, batendo na tecla de que se trata de uma questao socio-cultural como justificou (?) Maria Antonieta Cunha, diretora do programa do Livro Leitura e Literatura do Minc – “A questao e que nos nao temos a leitura como um valor social” – pra mim, ja e um pouco demais.
Muitas pessoas escolhem a ecologia, os animais, os flagelados da Africa, os soropositivos, enfim, nao faltam ao mundo e, sobretudo ao Brasil, boas acoes para se defender ou apoiar, mas eu escolhi essa bandeira, lutar por um pais leitor, porque tenho certeza absoluta de que, se tivessemos um povo mais culto, muitas coisas seriam diferente. Onde ja se viu, por exemplo, eleger um deputado federal que nunca ficou claro se realmente e alfabetizado ou nao? Nao se trata de preconceito, longe disso, mas nunca engoli o Tiririca no Congresso. Pronto, falei. Sem contar o principal: a Educacao no Brasil, que ja era capenga, passou a ser camuflada com varios projetos assistencialistas-bons-de-voto, que apenas empurram a sujeira pra debaixo do tapete. Uma vergonha. E por essas e outras que Thor (19 anos), o filho mais velho do empresario Eike Batista, se gabou ao dizer que o unico livro que leu ate o final foi a biografia do proprio pai. Grave. Se a elite brasileira ja e considerada preguicosa culturalmente, imagina o que vem pela frente.
As iniciativas para o crescimento da leitura, no Brasil, nunca deram certo porque falta vontade politica e a iniciativa privada, que poderia fazer alguma diferenca, ou prefere aderir a outras causas ou nao estao nem ai mesmo. Ha dois anos, mantenho o Amigo Leitor, um blog bem despretensioso sobre o prazer de ler, nao e sobre literatura e muito menos fechado aos apaixonados por livros, e um blog para todos, onde coleciono depoimentos diversos e iniciativas que promovem a leitura. Mesmo com textos curtos e leves, o blog nao emplaca, mas eu nao desisto desse projeto e ainda pretendo amplia-lo, quando chegar ao Brasil. Cada um tem que fazer a sua parte, nao tem outro jeito. A TV, por exemplo, poderia ajudar nessa empreitada, mas sao raros os autores de novelas e diretores de programas que compram a ideia. O fato de um livro pertencer a uma editora X ou Y o impede de aparecer na novela das oito – o que e uma grande mesquinharia, vamos combinar. Mas ainda bem que nem tudo esta perdido. Muito recentemente, o Esquenta, da TV Globo, lancou a sua biblioteca itineraria, uma iniciativa louvavel, sobretudo porque e um programa que fala direto as camadas mais populares. Na TV Brasil, do Rio de Janeiro, existe um outro programa muito bom tambem chamado De La Pra Ca (os videos estao todos na rede, muito bem realizados e com personagens bem interessantes. Ja assisti a quase todos.), mas, por outro lado, a TV Cultura, que ja foi referencia no assunto, com o seu Entrelinhas nao conseguiu aproximar os livros dos telespectadores, porque errou ao apostar numa linguagem “cult”, apenas para "entendidos". Livro e pra ser visto como alimento, deveria estar na cesta basica de todo mundo, ser motivo de conversa no boteco, estar por todos os lados, as criancas deveriam brincar com eles, mas ainda existe essa mentalidade besta de ver o livro como objeto de decoracao, como o opium de poucos afortunados. Sim, livro novo e caro, mas com mais leitores os precos cairiam bastante e tambem existem outras formas de conseguir livros baratos: em sebos, mercado de pulgas, sites como o Mercado Livre, etc. So nao le, mesmo, quem nao quer. Falta de tempo? Sai um pouco do Facebook, oras. Desabafei.
P.S. Para comemorar os 5 anos do Blog, resolvi dar uma reformada na casa. Espero que voces gostem do novo visual.


Postado por Luis Fabiano Teixeira COMENTARIOS

domingo, 8 de abril de 2012

ENJOY THE LIBERTY



O alerta veio do blog da minha amiga Angelica: o Instagram, aquela rede social ate entao fechada para usuarios de iPhones (uma especie de fotolog de “bacanas”), agora passou a incorporar tambem os usuarios do Android, o sistema operacional criado pelo Google, para outras marcas de celulares e ate mais acessiveis. Sou totalmente leigo nesse assunto, mas foi o que entendi. O que antes era de um grupo seleto e, digamos, abonado, agora esta disponivel para qualquer pessoa. Vamos ficar nesses termos e aceitar o politicamente correto, para nao ofendermos ninguem. Pois bem, sempre tive vontade de entrar nessa rede social, embora ja me custe atualizar Facebook, Twitter, Flickr, Tumblr, etc, mas, como muitas vezes esqueco a minha camera em casa e vivo registrando street art por ai, vi no Instagram a possibilidade de divulgar, com moderacao, coisas que me agradassem e em tempo real. Nem muito por aqueles filtros-retros porque o Photoshop ja me quebra um galhao, mais pelo fato de tirar a foto e posta-la, instantaneamente, mesmo. Ja estava ate pesquisando o preco do aparelho, quando saiu a “novidade”.
E a gritaria foi geral entre os “hipsters” de plantao: “Vao estragar o Instagram”, “O Bolsa Familia chegou para os usuarios do Android” e por ai vai, na maior demonstracao explicita de preconceito que eu ja vi na internet. Muito embora esse tipo de reacao nao seja assim tao recente. Quando o Orkut comecou a ficar bem popular, acessado pelas camadas mais humildes da populacao e surgiu aquela avalanche de rosinhas e frufrus nos scraps, essa mesma turma foi a primeira a migrar pro Myspace e depois para o Facebook, que por sua vez acabou engolindo os dois. Vem dai o termo “orkutizacao”. Quando uma rede social comeca a ficar bem kitsch, bem trash, e porque, segundo essas pessoas, estao orkutizando a mesma.
Ha algum tempo, estou estudando esse “fenomeno”, para um proximo trabalho, e o que mais me chamou atencao na escolha do tema foi justamente como o mundo virtual incorporou uma das mazelas mais hediondas da vida real: a manifestacao do odio e do preconceito. Aposto que cada um de nos tem uma experiencia pra contar. Esse rapaz que imita a Xuxa, por exemplo, me parece ser a bola da vez. Nao sou de entrar em discusses calorosas, na rede, mas outro dia critiquei uma pessoa da minha lista do Facebook porque um dos albuns dela se chama “Porque pobre nao pode ter maquina fotografica”, onde ela coleciona fotos de gosto pra la de duvidoso, bizarras e algumas simplesmente engracadas, de pessoas anonimas e principalmente de brasileiros. Muitas pessoas temem que o Instagram seja invadido por imagens assim e que deixe de ser "cool". Bom, expliquei as minhas razoes a pessoa, disse-lhe que achava aquilo cafona e que promover essa divisao de classes nao a levaria a lugar nenhum e que ela estava apenas tripudiando da pobreza de espirito alheia. Resultado: ela concordou comigo, apagou o meu comentario, mas preferiu continuar com o seu circo. Dei de ombros.
E chato ter que trombar, todos os dias, com a falta de bom senso das pessoas? E. Mas, por outro lado, voce tem a chance de nao querer receber mais atualizacoes dessas pessoas e ate exclui-las, se for o caso, por isso eu nao me incomodo com essas coisas, nao procuro esquentar a minha cabeca com essas bobagens. E depois eu costumo pensar da seguinte maneira: cada um tem o direito de fazer da sua vida o que quiser, quer ser futil? (e olha que estou farto de ver marcas via Instagram), quer se fingir de rico?, quer fazer a linha nerd?, o pegador?, a periguete?, enfim, seja la o que for, cada um tem o direito de ser o que quiser, usar a mascara que quiser. Pra essas pessoas eu nao dou a menor bola. Nao perco o meu tempo. E outra, todo mundo conhece os perigos a que isso implica. Como diz uma propaganda de bicicleta que faz muito sucesso por aqui: Enjoy the liberty. E, claro, capriche nos cliques do seu Instagram. Seja ele de qual celular for.


Postado por Luis Fabiano Teixeira COMENTARIOS