Rodrigo Faour é jornalista, pesquisador, crítico, produtor musical e autor dos livros: “Bastidores – Cauby Peixoto: 50 anos da voz e do mito” (2001), “Revista do Rádio – Cultura, fuxicos e moral nos anos dourados” (2002) e do pioneiro “História Sexual da MPB – A evolução do amor e do sexo na canção brasileira” (2006), livro que deu origem ao programa homônimo no Canal Brasil, na sua segunda temporada, e outro na rádio MPB FM (carioca),“Sexo MPB”. É também responsável pelo processo de revitalização do acervo das principais gravadoras brasileiras, organizando coletâneas de cantores pra lá de consagrados como Maria Bethânia, Ney Matogrosso, Caetano Veloso e Dolores Duran (só para ficarmos nesses quatro). Rodrigo acabou de lançar a sua segunda biografia, “A bossa sexy e romântica de Claudette Soares”, pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. E foi depois do lançamento do livro, em São Paulo, que nos encontramos para um bate-papo rápido e descontraído sobre um assunto que ele domina como poucos: música popular brasileira.
“De la musique avant toute chose”, mesmo?
Sim. A música é minha água, meu sangue mesmo. Vida. Por isso adoro unir tesão e MPB, no mesmo balaio. Pra mim, são sinônimos. Mas não qualquer MPB, mas, sim, “a” MPB que me interessa.
Como surgiu a ideia do delicioso “A bossa sexy e romântica de Claudette Soares”?
O livro nasceu por causa do CD duplo “A bossa sexy de Claudette Soares”, que produzi em 2006, resgatando as gravações super modernas e pop que ela fez, no final dos anos 60, na Philips, com arranjos de Antonio Adolfo, César Camargo Mariano e Rogério Duprat. No encarte, eu escrevi um texto a seu respeito e ela ficou encantada. Daí, me convidou para escrever este livro e eu aceitei e batizei de “A bossa sexy – e romântica – de Claudette Soares” porque ela também desenvolveu um lado romântico mais sério em sua obra, que eu gosto menos, mas que também marcou muito para o público dela, tanto que seu maior sucesso foi a balada (tristíssima) “De tanto amor”, de Roberto & Erasmo, em 1971.
Você não me parece ter sido aquela criança retraída, “na janela”, como o poeta Mario Quintana. O que você fazia nessa época, espiava pelo buraco da fechadura?
Fui uma criança agitada e alegre. Depois passei uma pré-adolescência e adolescência difíceis, com muitos conflitos por ser um pouco diferente dos outros garotos, com gostos, educação, atitudes e responsabilidades.
O seu livro mais popular, o “História Sexual da MPB”, pode ser chamado carinhosa ou maliciosamente de “Kama Sutra da MPB”?
Obrigado pela parte que me toca (risos). Acho que ambos. Na parte comportamental, há questões mais sérias que levanto, ao mesmo tempo em que tem pitadas maliciosas, tesudas e também um convite à reflexão do que buscamos no amor e no sexo em nossa vida.
Há alguma música de duplo sentido que você considere a mais ousada ou um daqueles funks beeem pesadões?
Cito logo a pioneira “Boceta de Rapé”, da primeira década do século passado. Aliás, ela está no meu CD duplo, Sexo MPB com Rodrigo Faour, recém lançado pela EMI. Esta não deixa a desejar a nenhum funk.
Se você fosse a Leila Diniz que palavrão você diria agora?
Caralho!!!
E essa alegria interminável? Você nunca parou e disse “meu mundo caiu”? Nunca fez análise, nunca ficou carente, triste, tomou remédios para dormir...?
Sou mais alegre, mas também sou melancólico e reflexivo, sofro a mesma solidão dos artistas que, num dia, cantam ou se apresentam para milhares de pessoas e, no outro, se vê sozinho num quarto de hotel ou na sua própria casa, num sábado à noite. A gente nasce e morre todo dia. A Angela Maria me disse isso uma vez e concordo com ela.
Por você saber tanto sobre MPB, as pessoas normalmente não o abordam ao estilo “Essa Noite se Improvisa”? Eu mesmo já fiz isso (risos).
Sim. Faz parte. Eu gosto. Me divirto muito com música.
E nunca pensou em cantar profissionalmente?
Comecei cantando. Meu sonho era ser cantor, mas sou muito autocrítico, por isso acho que sou mais útil ao país sendo produtor, escritor e pesquisador musical.
Você prefere como os paulistanos se vestem ou como os cariocas se despem?
Adoro pouca roupa. No Rio, vivo seminu o dia todo. O máximo de luxo em ser carioca da zona sul é ir ao banco sacar dinheiro de sunga. É o máximo!
Quem você acha que é o cantor “Divino Maravilhoso” da MPB?
Cauby.
Por quê?
Porque ele soube se renovar e conservar a voz bonita por 60 anos. Tenho muito orgulho de ter escrito a sua biografia.
E pra quem você cantaria “Carcará”?
Pra você. De preferência imitando Maria Bethânia, intérprete definitiva da canção.
Por falar em Bethânia, porque os gays gostam tanto dela, hein?
Não só dela, mas de todas as grandes cantoras. São mulheres fortes, exuberantes e, não raro, teatrais. Faz parte da cultura gay.
E o que você tem cantado no chuveiro?
Matriz ou Filial, Na Baixa do Sapateiro, O Primeiro Clarim...
E pra terminar... “Quando o sexo acaba, tudo desaba”?
Depende da expectativa. “Amor é bossa nova, sexo é carnaval”.
Não dava e também não era a minha intenção fazer uma investigação profunda sobre o trabalho do Rodrigo, o importante mesmo é ler os seus livros, cuja narrativa é sempre muito leve, divertida, com muita informação (“História Sexual da MPB” é um primor do gênero, não é à toa que tem o aval do escritor Ruy Castro), assistir ao programa dele no Canal Brasil (tem vídeos no site do canal), ouvir o da rádio, seu CD duplo (que é ótimo, sobretudo o primeiro), mas, claro, quem quiser saber mais novidades sobre o trabalho dele basta acessar o seu site oficial (está entre os meus favoritos). O que não posso deixar de ressaltar mesmo é que o Rodrigo é totalmente apaixonado pelo que faz e não mede esforços para realizar os seus inúmeros projetos. Claro, que suas palavras podem ser também manejadas como machado, “comigo é 8 ou 80, não tem meio termo”, ele costuma dizer, mas, quando elas entram em cena, é tão-somente para protestar contra falsos talentos, protegidos da mídia, pela falta de letras transgressoras na atual MPB, etc. Mas nada que o faça perder o humor. Comecei o nosso papo com aquele célebre verso do poeta Paul Verlaine, “Antes de tudo, a música”, e recorro agora a outros dele também: “Lembro-me / Dos velhos tempos / E choro”, porque esses livros do Rodrigo só vieram confirmar o que eu já sabia: o melhor da nossa música continua ainda, no passado.
6 comentários:
Já havia ouvido falar do Rodrigo e de todo o seu trabalho, mas agora, com certeza, me interessei mais ... correndo atrás de sua obra, começando claro pela biografia de Cauby ... efetivamente o maior cantor brasileiro de todos os tempos ...
Obrigado por compartilhar esta preciosidade ...
Parabéns aos dois ...
;-)
Luis
Excelente post, de alto nível com uma bela entrevista que me despertou a vontade de ler o livro. Nada comouma boa música e como o Rodrigo mesmo falou com bstante propriedade: A música é minha água, meu sangue mesmo.
Agora a ergunta que não quer calar:
Ele cantou carcará para você?????
Com a mesma associação que você e ele falaram música e sexo se completam...rs.rs..........
No Brasil em que evidência recebe Restart, nxzero, entre outros [tá, tem gosto para tudo e devo respeitar as diferenças], mas não me conformo muito vendo pessoas com grande vozes e grandes canções tão longe da evidência, perdendo por coisas que sinceramente não vejo qualidade.
Como sempre, você me encanta com suas escritas e com sua entrevista.
Maravilhoso o entrevistado. Já tinha ouvido falar dele mas gostei de saber mais sobre sua carreira. Parabéns por ter conduzido de forma tão bonita a entrevista. Abraços querido e lindo fim de semana.
Cara, cheguei ao seu blog através do Rodrigo Faour.
Garanto voltar mais vezes.
Abraço e, se puder, dá uma passada no meu Projeto 365 canções.
abraço
Ah, o Rodrigo é o máximo... to apaixonado...lendo, vendo seus programas...
-A entrevista foi ótima! Congrats!
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