domingo, 11 de maio de 2008

CIRANDA DE PEDRA


Sou noveleiro. Não escondo isso de ninguém e nem acho que seja demérito algum acompanhar um folhetim, por meses a fio. Sonho um dia escrever para TV e até me vejo encarando sorrindo a árdua tarefa de conduzir uma telenovela. Por conta disso leio muitos roteiros, livros sobre o assunto, tenho os meus autores preferidos, etc. Não a vejo como uma arte menor, descartável, um patinho feio, como é considerada a crônica dentro da literatura por alguns críticos. Sobretudo em países subdesenvolvidos, a telenovela cumpre muito bem o papel de entreter e emocionar aqueles que não dispõem de dinheiro para ir ao cinema, ao teatro, comprar um livro, etc. O Eugênio Bucci, em outras palavras, já discorreu melhor sobre o assunto. Aguardo a estréia de “Ciranda de Pedra”, há mais de um ano, desde quando li a notícia numa revista. Imediatamente corri pra ler o romance e fiquei encantado com a história. O poeta Augusto Frederico Schmidt afirmou na época que “o encontro de Virgínia (a caçula de Laura) menina com o mundo é alguma coisa de realmente excepcional em nossas letras”. E ele não estava exagerando. O romance consegue tratar de loucura, paixão e desamor com muita sensibilidade e poesia, como só a Lygia Fagundes Telles é capaz de escrever, perscrutando sem fazer concessões os labirintos da nossa alma. Esta nova “Ciranda” é escrita brilhantemente pelo Alcides Nogueira, o querido Tide, de quem tive o privilégio de conhecer em 2005 (foto) e também por Mario Teixeira (que por acaso não é meu parente), com a colaboração de Lúcio Manfredi e Rodrigo Amaral (se não me engano, filho da escritora Maria Adelaide Amaral). O Tide vem mostrando que é possível respeitar os limites do gênero (telenovela), sem trair o texto original (o romance da Lygia). O resultado é um belíssimo trabalho de reconstrução de época. Desde “Força de Um Desejo”, não via nada com tanto apuro. Como tenho memória visual, vou logo cravando os meus olhos nos cenários, nas roupas, nos objetos de cena, etc. A direção de arte é impecável. Até as plantas que se entrelaçam nas paredes e que no decorrer da trama darão a Laura (a protagonista) a sensação de que dos seus dedos brotam raízes estão lá. O elenco na minha opinião também foi muito bem escalado. A trilha sonora é um charme. Vejam bem, não sou fã ardoroso de Bossa Nova, mas estou curtindo muito aquelas canções. Permita-me uma travessura imaginária. A abertura me dá a impressão de que, a qualquer momento, “As Meninas Cahen d'Anvers”, aquelas do quadro também conhecido como “Azul e Rosa”, de Renoir, darão as mãos e entrarão saltitantes na roda. Em suma, isso tudo se chama respeito ao telespectador. Honestidade de trabalho. Dedicação de uma equipe inteira. Não pensem que estou aqui fazendo propaganda da Rede Globo. Se houver outra emissora que faça algo semelhante, vou elogiar da mesma maneira, como já elogiei o trabalho do Tiago Santiago, quando este entrou para a TV Record.
Fica então aqui registrada a minha dica para os noveleiros (como eu) e para qualquer pessoa que queira se emocionar e rir bastante, de segunda a sábado, às 18:00 H. Volto amanhã em edição extraordinária. E a vida segue!!!