segunda-feira, 28 de abril de 2008

ENTÃO TÁ!

Almoço de domingo. Churrasco tri gostoso feito pelo meu pai e minha mãe me vem com essa.
– Vocês me desculpem, mas vou almoçar na sala porque ainda não soltaram a boneca.
– Como é que é???? – vocifero.
Coube ao meu pai explicar que se tratava da reconstituição do crime da menina Isabella, exaustivamente explorado pela mídia e que, naquele dia, estava sendo transmitido ao vivo por alguns canais de TV. Gente, há ou não há um certo exagero na cobertura desse caso? Enquanto em Sampa estava rolando a Virada Cultural com recorde de público, assistíamos (sem maiores novidades), com status de final de novela das oito, a uma encenação tosca de um crime. Quantas crianças morrem neste país, na mesma ou em pior circunstância que a menina Isabella, e não recebem uma linha de jornal? São sepultadas (às vezes até indignamente) incólumes a qualquer repercussão de suas mortes. Não estou com isso minimizando o papel da imprensa, pelo amor de Deus, mas não vamos transformar um fato policial num grande circo dos horrores. O apresentador parecia até o Galvão Bueno. Prefiro não citar o nome da TV. Nada mais sinistro. Ainda bem que começou a nova temporada do “Irritando Fernanda Young”. Concluindo, a campeã de reclamações daquela ONG “Quem financia a baixaria é contra a cidadania” é a novela “Duas Caras”. Então tá!

Para desviar um pouco desse assunto mórbido e chato, recebemos a visita da coelha “Princesa” (foto). A namorada do meu irmão ganhou essa coelha e ela a trouxe para nos fazer uma visitinha cordial de domingo. A pequena roedora reinou absoluta. Até o Shiro (o nosso Akita), de tão enciumado que é, começou a fazer cena. Só faltou protestar a um só fôlego: “Ou ela ou eu”. Sim, porque no ano passado, na presença de um outro cão, o Beethoven, ele quase teve um enfarte. Deve ter puxado a um dos seus donos que é, em certas ocasiões, um verdadeiro Otelo rs.

Já que o assunto se voltou para a literatura, quero dividir com vocês que estou no processo de adaptação de um romance do século XIX para o teatro. Por isso a minha fase notívaga está de férias. MSN e Orkut, apenas de quando em quando. Tenho feito pesquisas deliciosas. Descobri em D. Pedro II uma figura interessantíssima: sensível, cordato, boa-praça... Posso adiantar que o texto vai contar a história de um triângulo amoroso, na cidade do Rio de Janeiro, naquele período, em meio ao rebuliço da Guerra do Paraguai, o fim da escravidão, a proximidade da Proclamação da República, etc... Apesar de ser uma adaptação, onde a essência da história se mantém, vou fazer certas interferências bem bacanas. E a vida segue. Tenho várias dicas de leitura, mas vou deixar para o próximo post.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

OCEANO PRESENTE


Há um rio dentro de mim.
Um rio que nunca seca,
Que me atira ao longe e ao silêncio,
Contra as pedras e contra mim mesmo.
Um rio que me violenta por dentro,

Mas que sempre me leva a um oceano presente.

UMAS E OUTRAS

Depois de uma temporada pintando alucinadamente, fiz as pazes com a Literatura. Não que houvéssemos brigado de fato, mas todo casamento passa por suas crises e inseguranças. Há tempos, vinha desenvolvendo um texto chamado “De Tanto Olhar” e queria postar aqui. É uma história aparentemente simples. Uma jovem operária se apaixona por uma foto de um rapaz e, quando o encontra pessoalmente, revela-se para o mundo. Estive nessa história em cada letra. Uma sensação incrível que há muito tempo não experimentava. Espero que vocês gostem.
No plano pessoal, passei por momentos bem complicados, mas, graças a Deus, as coisas têm se encaminhado dentro da normalidade. Poderia ser pior. Estou me visitando por dentro. Tenho também feito planos diversos, na tentativa de não me perder.
Visitei outras paragens e estou sorrindo mais. Na TV, me encantei com “Queridos Amigos”, minissérie de Maria Adelaide Amaral. Já havia lido o livro antes. Claro que há diferença entre uma obra e outra, mas a essência da história se manteve na TV. Foi emocionante. Um elenco de primeira. Sempre me reconhecia em alguma cena. Ficou fácil lidar com os sentimentos que guardava para os meus amigos. Hoje a ausência deles chega a ser até afetiva. Lembro-me que, certa vez, terminei um e-mail dramatizando: “A amizade também está no silêncio”. Foi melhor chegar a essa conclusão e seguir em frente.
Já um livro que me abriu os olhos para uma série de coisas foi “A publicidade é um cadáver que nos sorri”, de Oliviero Toscani.

“Para criar, é preciso mudar de olhar, encontrar um ângulo de ataque para si, inventar uma visão, exercitar-se sem parar para mudar as regras, contornar as dificuldades, lutar consigo mesmo para evitar os lugares-comuns”.

Todas as pessoas que trabalham com o imaginário se debate, em algum momento da vida, com a pergunta “O que criar? Tudo parece já inventado”. Toscani lança luz sobre essa e outras dúvidas, mostrando que é possível, sim, fazer uma publicidade mais “agressiva” e menos óbvia. Fica a dica de leitura. Devo postar com mais freqüência. Aos que me lêem, muitíssimo obrigado! E a vida segue!

UNITED COLORS



sexta-feira, 19 de outubro de 2007

ESCAPISMO URGENTE


Vocês devem achar que eu pirei de vez ou estou tentando emplacar uma capa da I-D (o que não seria má idéia rs), mas a verdade é que estou lhes sugerindo um pouco mais de escapismo. Sim, precisamos dele. Depois de voltar pra casa, fui surpreendido com uma série de mudanças, próprias e alheias, falta de trabalho, decepções com amigos e outras cositas más. Pintar tornou-se uma espécie de refúgio, um alento de cores e sensações. Porém, depois de pintar os meus quadros, fiquei com um vazio enorme. Melancólico. Como se precisasse começar outro imediatamente. Como se aquele filho estivesse entregue ao mundo e não houvesse mais nada o que fazer. Ficaria ele, na parede, imóvel, para ser contemplado ou odiado, mas a sua missão de existir já estava cumprida. Desde criança, sempre gostei de desenhar e pintar. Até hoje tenho um desenho de quando tinha uns seis ou sete anos. Lembro-me nitidamente de rabiscar todo tipo de papel que entrava em minha casa. Nem as paredes escapavam. Ali, naquele desenho, podia viver o que a realidade não me permitia. Não tinha preconceito de cores e formas. Tudo obedecia exclusivamente à minha imaginação. E numa Bahia romântica, cheia de referências populares, saía do papel casais de caipirinhas (calma, não tem nada a ver com a bebida, mas com um casal em trajes junino rs), casas cercadas de flores em colinas distantes, etc. Depois vieram as pedras pintadas e os bonecos de barro. Em nossa ampla casa da Góes Calmon, o quintal tinha um barro argiloso, vermelho, que usávamos para moldar também nossos sonhos, numa época em que os brinquedos eram muito distantes e somente podíamos contemplá-los na TV em preto e branco, nos intervalos do programa da Xuxa. Nunca reclamei de nada disso, de não ter tido brinquedos na infância, mas há, sim, uma ponta de tristeza. O último dos filhos a ser batizado, e isso só aconteceria no final da minha primeira infância, sempre ficava com os brinquedos que já não serviam aos meus outros irmãos maiores e devidamente apadrinhados. Tempos difíceis aqueles. Talvez venha daí a minha aproximação com as artes, de um gesto de solidariedade delas para comigo. Já que não tinha brinquedos, então que inventasse os meus próprios. A imaginação sempre fértil. Latente em mim. Outra lembrança dessa época me ocorre agora. Uma vez meu pai jogou um ventilador quebrado fora. Eu e meus irmãos o desmontamos e fizemos coisas inimagináveis. Corria o ano de 1984 ou 1985. Não lembro exatamente em detalhes tudo que saiu daquela geringonça, mas eu, por exemplo, fiz um cachorro com a base do ventilador. “Perdeste o melhor amigo. / (...) Mas tens um cão”. Grande Drummond. Havia também na cidade, minúscula, um rapaz chamado Jairo que fazia grafite em muros. Minha mãe me prometia constantemente que esse rapaz pintaria um Snoop em um tecido qualquer e uma costureira se encarregaria de costurá-lo pra mim. Teria então o que anteciparia o meu único urso de pelúcia, um Petute muito em voga nos anos 80, com sua gravatinha de borboleta, olhos lustrosos e pêlos bicolores (marrom escuro e claro). Presente da minha futura madrinha. “Quem tem padrinho não morre pagão” – filosofava Nete, a mocinha que ajudava em nossa casa. Na mudança para São Paulo, esse urso se perdeu ou foi parar em outro lar. Nunca mais nos vimos. Às vezes, paro no meu quarto/estúdio e vejo o quanto amadureci “artisticamente”. As formas dos meus desenhos que eram tão genuínas, libertas, hoje são polidas e acompanham as tendências da arte pelo mundo. A perda da inocência. Em 1993, conheci Frida e dava início a minha fase vermelha. Sangüínea. Fiquei encantado com a sua história e, principalmente, com a sua pintura visceral. Paixão que seria levada aos palcos, dez anos depois, na faculdade. Lembro-me agora das palavras que encerravam o espetáculo: “Sonhos, sonhos, sonhos. Vou morrer de sonhos”. Disse-nos ela, no alto de sua dor. A dor que hoje também sinto, na minha recente fase azul. É isso, pessoal. A minha temporada das cores está só começando. E a sua?

terça-feira, 18 de setembro de 2007

DORMINDO

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

IMPRESSÕES AVULSAS

MÔNICA VELOSO COMENDO PIZZA NA PLAYBOY

Tive uma idéia superbacana para o aguardado ensaio fotográfico da Mônica Veloso, na revista Playboy. Ela deveria aparecer na última página comendo uma “inocente” pizza. Pensei até numa foto em PB, tipo aquela da Madonna do livro Sex. Já que, quando se trata de corrupção neste país, tudo termina em pizza mesmo, seria uma forma de reafirmar o óbvio ululante (inevitável o trocadilho com o molusco presidencial). E, cá entre nós, seria uma jogada de marketing e tanto!

ENTRE LIVROS

Recentemente passei por uma fase bem complicada e ler foi uma espécie de “descanso na loucura”. Começo indicando “Werther”, de Goethe, que eu já havia lido na faculdade, mas que nesta releitura vi coisas incríveis como a fluência extraordinária do texto, algo bem atípico em livros românticos. Há trechos saborosos como este: “Por que é que aquilo que faz a felicidade do homem acaba sendo, igualmente, a fonte de suas desgraças?”. “Duas Ou Três Coisas Que Sei Dela, A Vida”, do Domingos Oliveira, é um livro excelente para quem busca algumas respostas da vida, mas não tem idade suficiente para entendê-la (o meu caso) ou não quer ficar enchendo o saco dos pais ou amigos mais velhos perguntando sobre ela (o meu caso também). E o melhor de tudo: não é auto-ajuda. Quando assistia o programa dele no Canal Brasil, ele não me inspirava o menor dos adjetivos, mas agora tenho vontade de conhecer a fundo tudo que ele já fez. Virei fã mesmo. “Solo de Clarineta – Vol 2”, do Erico Verissimo, não chega a ser tão bom quanto o Vol 1, que li no último verão, mas está repleto de boas dicas de viagem para quem deseja conhecer a Grécia, Portugal e Espanha. Reli também “Laços de família”, da Clarice Lispector, acompanhado de um roteiro de leitura, que fez toda diferença na hora de entender alguns contos. Os que mais me impressionaram foram “O Crime do Professor de Matemática” e “O Búfalo”. Do livro “A Rosa do Povo”, de Carlos Drummond de Andrade, li e reli diversas vezes “Consolo na Praia”. Não há um só verso com o qual eu não me identifique ou que não tenha alguma relação com a minha mudança de vida recente. Numa tarde cor de aço, coração opresso, me sentei nas pedras da Ponta da Praia, em Santos, sem me dar conta de que inconscientemente estava protagonizando aquele poema. Um desses raros momentos de beleza triste de nossas vidas. Outro livro que gostei bastante foi “Uma escola para a vida”, de Muriel Spark, escritora escocesa que possui uma sensibilidade incrível. A história do jovem Chris (às voltas com o seu primeiro romance) e do frustrado professor Rowland Mahler (que não consegue terminar o seu) é repleta daquele humor que os anglo-saxões são mestres. Lembra muito Nick Hornby e Sue Townsend. O final surpreende. Comecei também a ler “Neve”, de Orhan Pamuk, o incensado escritor turco ganhador do Prêmio Nobel de Literatura do ano passado. Indicação da minha amiga Fernanda, que tem livros ótimos e que espero ler todos um dia (risos). Há uma frase nele que curti bastante e que tem tudo pra se tornar uma das minhas favoritas: “Se alguém passa muito tempo se sentindo feliz, se torna banal”. Bem, por ora é só.

DOIS CÔMODOS AJEITADINHOS

E o último CD (duplo) da Ana Carolina, hein? Impossível não ouvi-los sem sentir a mesma estranheza de quem lê pela primeira vez “Deus (Revelação Magnética)”, de Alan Poe. Afeito aos diminutivos, comecei pelo “Quartinho”. Não sei por que razão me veio à cabeça a imagem de um quartinho de empregada (e de minha parte não há nada de pejorativo nisso), onde, longe dos olhos dos patrões, o pequeno cômodo serve de cenário a toda sorte de jogos eróticos (e a partir daqui a imaginação é por sua conta). Gostei bastante de “Então Vá Se Perder”, “Carvão”, “Manha”, “Corredores”, “Eu Não Paro” e “Claridade”. Sim, sou um cara romântico e gosto de músicas piegas. Li recentemente que os trabalhos anteriores dela são melhores. Concordo em parte. Só pela coragem de ter lançado um CD (duplo) com músicas inéditas ela já merece quinze minutos de aplauso. As malditas regravações parecem não ter fim neste país, meu Deus! O que houve com os compositores brasileiros? Greve? Bloqueio criativo?... Mas, voltando, o CD não foge a fórmulas já consagradas como as baladas que sempre viram temas de novela, mas também há lá seus experimentos, o que eu acho extremamente positivo. “Quarto” é mais sofisticado, mais dançante, mas também tem o seu quê de “despudor”. Por falar nisso, fico ruborizado de cantar algumas músicas (de ambos os CDs) em público ou mesmo deixar que a minha mãe as ouça na minha presença. Longe de qualquer moralismo, mas ficaria muito constrangido de ouvi-la cantando, por exemplo,... Bom, deixa pra lá.