É a segunda vez que faço isso. Saio de casa
meia hora antes da virada e vou me aventurar pelas ruas estreitas e repletas de
turistas de Amsterdam, para cruzar aqueles canais maravilhosos, enquanto um filme,
com o perdão do trocadilho, passa na minha cabeça, rememorando o ano que se
passou. Este ano foi ainda melhor, tudo pareceu ainda mais belo e encantador ou
teria sido 2014 um ano espetacular? Fazendo, assim, uma análise geral, o ano
passado não foi exatamente incrível, mas foi perfeito. Devo a esse ano a força
que me manteve firme para continuar com meus projetos artísticos, não ter
morrido de amor (como fui tolo) e seguir com os meus planos de viagem ao Brasil,
depois de quase quatro anos, fora de casa. Finalmente chegarei lá, me aguardem. Por tudo isso e mais algumas agradáveis surpresas de última hora, posso
dizer que foi um ano muito bom.
Não fiz exposições, mas pude avançar nas
pesquisas do meu trabalho e produzir mais de dez quadros, exatamente como eu os
imaginei, fora outros tantos que estão inacabados, no ateliê, e que devem
aparecer em breve. Ano em que pude escrever mais um novo roteiro, que agora se
soma aos outros três engavetados e que, pelo menos, um deles pretendo filmar ainda
este ano, no Brasil. Sem contar o projeto de um site cultural e mais a minha
adesão ao mundo dos vloggers, que resultou na criação do Fixação, programa de
dicas culturais e afins do meu canal do You Tube e que vai melhorar (e muito!),
nas próximas edições.
Ano em que abandonei de vez a TV e apenas me
dediquei a assistir a poucos e bons filmes, e muito deles nacionais. Claro,
está cada vez mais difícil encontrar boas produções brasileiras, mas como não
se emocionar com “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” ou dar boas risadas com o
desbunde de “Tatuagem” e até mesmo se decepcionar com “Praia do Futuro”. No quesito músicas do ano, eu que já não sou uma pessoa cheia de
trilhas favoritas, qual não foi a minha surpresa e prazer ao descobrir, já no
final do ano, o talentosíssimo Johnny Hooker, cuja canção “Volta”, do já citado
“Tatuagem”, foi uma das que mais escutei junto com “Alma Sebosa”. Depois baixei
o CD “Roquestar” e os meus treinos na academia ficaram bem mais interessantes e
suportáveis. Viva esse talento pernambucano! Pude ainda realizar o sonho de
conhecer, aqui em Amsterdam, a cantora Daniela
Mercury, de quem sou fã confesso e que me fez mergulhar nas minhas raízes baianas, num show memorável
com o Olodum, numa das casas de espetáculos mais bacanas da Holanda e ainda
pude presenteá-la com um trabalho meu, inspirado no barroco brasileiro e ela se
mostrou satisfeita no Twitter e ainda me agradeceu pessoalmente pelo mesmo.
Quase morri do coração nesse dia!
O ano
que li muitas e variadas biografias. Não é tão fácil encontrar livros em
português por aqui e o meu inglês ainda não é uma Brastemp, logo ler um bom
romance ou livro de contos é bem complicado. E ainda estou me acostumando com os
livros digitais. Fui então emendando uma biografia na outra e quando vi já
tinha lido “Daniela Mercury e Malu – Uma história de Amor”, “O Som e a Fúria de
Tim Maia”, “Dolores Duran – A noite e as canções de uma mulher fascinante” e,
finalmente, “50, Eu?”, que mereceu até uma resenha aqui, no post anterior. Já
quase no final do ano, o querido Benjamin Moser autografou a minha biografia da
Clarice Lispector, “Clarice,”, e de quebra ainda assistimos a um ótimo
documentário sobre Susan Sontag, num prestigiado festival de documentários,
aqui de Amsterdam.
A exposição que me marcou profundamente foi,
sem dúvida, “Marlene Dumas – The Image As Burden”, no Stedelijk Museum. Por
tudo. Pela excelente e indiscutível qualidade do trabalho da artista
sul-africana, pela montagem que é precisa e competente, pela companhia especial
naquela linda manhã ensolarada de domingo e, sobretudo, pela atmosfera poética
e de encantamento que esta exposição nos presenteia. Não é à toa que foi um
sucesso de crítica e público. Não posso deixar de falar também no acervo de tirar o fôlego do
maravilhoso Centre Georges Pompidou, em Paris, mais até do que a exposição sobre o
início da carreira do Marcel Duchamp, que também vi, sem grande entusiasmo, lá
mesmo. Ver de perto todas aquelas maravilhas modernas e contemporâneas foi uma experiência inesquecível!
E por falar em Paris... A minha viagem pra lá,
mais uma vez, foi maravilhosa. Pela primeira vez, sozinho, pude andar e me
perder por aquelas ruas charmosas, no comecinho do outono. Só essa viagem
mereceria um post à parte, porque foi muito especial e aproveitei bastante.
Logo no primeiro dia, estava acontecendo uma espécie de Virada Cultural chamada
“Nuit Blanche”, com várias e inusitadas atrações, que conferi na companhia de um
francezinho de alma brasileira que, entre outras coisas, estava lendo Oswald de
Andrade em português. Pode uma coisa dessas? Lá também encontrei o meu amigo
Rodrigo Fauor e, com outro amigo dele, passamos uma tarde muito divertida
juntos. Já em Amsterdam, tive o prazer de receber a minha grande amiga, desde
os tempos do colegial, Fernanda Matos e passamos momentos lindos na cidade.
Recebi a visita do meu primo Felipe, vindo de Budapeste, e foi ótimo recebê-lo
também por aqui.
Nas redes sociais, o ano foi, de longe, do
Instagram, com destaque para a nossa sede voraz por selfies (melhor não
falarmos do controverso pau da selfie rs), enquanto o Facebook se mostrou cada
vez mais autoritário e invasivo, chegando às raias do insuportável com a
disputa presidencial, com as pessoas se digladiando em defesas inflamadas por
um ou outro candidato. E o que falar do Brasil, nesse sentido, hein? O ano do
retrocesso, da inflação voltando, do escândalo da Petrobras, dos crimes
homofóbicos, da fraca abertura da Copa... E o que foi aquele terrível 7x1 da
Alemanha contra a fraca seleção brasileira? Bom, melhor pararmos por aqui e
mentalizarmos um 2015 com mais motivos para a gente se orgulhar. Que não nos
falte trabalho e, sobretudo, vontade de superar os desafios. Seja bem-vindo ano
bom!