E a vida segue tranqüila.
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
SAIDEIRA
E a vida segue tranqüila.
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
NATAL, NATAL, NATAL...
Velhos amigos, não esqueço quando, depois da missa do galo, os coloquei na janela, a pedido de mamãe.
No dia seguinte, estava lá o meu carrinho com o leãozinho em cima.
Natal que não volta mais.
A nossa festa de inocência e união familiar.
Que bom seria tê-lo de volta.
Não em memória, nem no enfeite da porta, mas tão-somente tudo de novo.
Havia também uma espécie de tradição, passar a noite de Natal na casa da minha vó Criza, para ver o Deus Menino sendo colocado na manjedoura. No primeiro dia do ano novo, era a vez de levantá-lo. Não me lembro de ter presenciado nenhum dos dois rituais, porque sempre dormia antes, mas os presépios sempre exerceram sobre mim um certo fascínio porque, inconscientemente, já via ali alguma arte. O da igreja matriz era lindo, imenso, cheio de detalhes e luzes. Sonhava com um dia em que teria um igualzinho. Os enfeites de Natal também divertiam os meus olhos, mas demoramos a ter a nossa primeira árvore. Apenas quando uma prima da minha mãe hospedou-se em nossa casa, nesse período de festas. Fomos a um armarinho e eu mesmo escolhi os enfeites. As bolas ainda eram de vidro e manuseá-las requeria muito cuidado. Completamos o pinheiro com cartões, já que não dava para comprar muitas bolas. Tempos difíceis, de inflação exorbitante, dos fiscais do Sarney. Até então, não havia aquelas guloseimas todas tão bem descritas por Mario de Andrade, no conto “Peru de Natal”. Por outro lado, havia a Mula do Zé do Ovo. Explico. Era uma espécie de mula, aos moldes de um bumba-meu-boi, só que incorporada à uma figura lendária da cidade, um senhor corcunda e que por isso recebera o apelido de Zé do Ovo. No interior, há essas histórias pitorescas. Eu morria de medo dessa manifestação folclórica. Como ele passava de casa em casa, rodeado de pandeiristas e pessoas fazendo aquele banzé, recolhendo suas gorjetas, percebia a movimentação na rua e me escondia embaixo da mesa. Até hoje sou “gongado” por causa desse episódio. Só fui participar de um amigo oculto (usávamos esse termo e não amigo secreto), aos oito anos, porque uma tia que morava aqui no Guarujá importou a “novidade”. Nesse ano, conheci o Natal como ele sempre seria em minha família, todo mundo junto, muitas gargalhadas, música, troca de presentes, pratos diversos (a minha farofa de banana é famosa, assim como o meu lagarto ao molho madeira). Mas nenhum Natal superou em emoção ao do ano passado. O meu irmão Luciano que estava no exterior, há quase dois anos, chegou exatamente na véspera de Natal e fomos buscá-lo em Guarulhos. Chegamos quase à meia noite. Haja coração! Preparamos a casa um mês antes, decorei o seu quarto em estilo safári porque ele adora animais e foram mimos atrás de mimos. A noite parecia não ter fim. Na verdade, não queríamos que tivesse. Esse ano ele não estará conosco, uma nota triste, é verdade, mas ainda passaremos muitos Natais juntos. Bem, pessoal, o tempo está corrido, desejo a todos muita saúde, paz, alegria, felicidade, amigos, solidariedade e, sobretudo, fé. Se elevarmos os nossos sonhos à altura de nossa fé, vai ser fácil realizá-los, vocês não acham?
AQUELA NOITE DE NATAL
Nunca pude esquecer aquela noite. Faz dez anos, mas parece que foi ontem. Contava dezessete e ela trinta, embora aparentasse bem menos. Um primo distante da minha mãe, o Meneses, acomodou-me em sua casa, no Rio de Janeiro, pelos idos de 1861 ou 1862. O seu sobrado era modesto, mas não muito, ficava na rua do Senado, onde vivia além dele, a sua esposa Conceição, a sogra dona Inácia e mais dois escravos velhos e obedientes. Em plena noite de Natal, Meneses saiu de casa para dormir com a “outra”, uma senhora separada do marido, espécie de amor avulso que muito lhe agradava e que Conceição fingia não saber. Sobre isso Dona Inácia, às vezes, lhe dizia algumas verdades, no que ele respondia com um muxoxo ordinário e ainda lhe mostrava as contas pagas. Ao final, todos pareciam conviver muito bem com os seus crimes.
Não sou um bom exemplo de cristão e antes era bem menos do que agora, mas uma missa do galo na Corte tinha lá os seus encantos. Combinei com um amigo de irmos juntos à igreja, naquela noite. Não dormiria até a hora marcada, mas, caso ele não aparecesse, é porque não agüentara o sono. Assim foi feito. A casa estava muito silenciosa, todos já haviam se recolhido. Para dar fim ao tédio, peguei um desses romances de capa e espada e me fiei a ler. Os minutos voavam e, de repente, ouvi dar onze horas. Assustei-me apenas com a chegada repentina de Conceição.
– Ainda não foi?
– Não. Ainda não deu meia-noite.
– Ah... Que paciência!
Fechei o livro e ela foi se aproximando devagarzinho até se sentar numa cadeira de frente pra mim. A minha primeira reação foi ficar vermelho, embora não deva ter notado, porque estávamos apenas à meia luz.
– A senhora me desculpe se fiz barulho.
– Não, bobagem. Acordei por acordar.
Mentira. Ela não parecia ter dormido nada. Os seus olhos estavam ainda mais nítidos e tinham um não sei quê de mistério que tanto me atraíam.
– Que paciência esperar pelo vizinho. O que estava lendo? Ah, o romance dos Mosqueteiros.
– Sim, é muito bonito.
– Gosta de romances?
– Gosto.
– Já leu A Moreninha?
– Do Dr. Macedo? Já, mas prefiro aqueles que tenham mais aventuras como O Guarani.
– Eu já gosto dos mais levinhos, mas tenho lido tão pouco ultimamente. Não me sobra tempo.
A conversa não tinha a menor gravidade, mas Conceição me ouvia com tanto interesse e, de vez em quando, ainda passava a língua pelos lábios para umedecê-los. Refez-se o silêncio. “Talvez esteja aborrecida!”, pensei comigo.
– D. Conceição, já é quase meia noite e eu...
– Não, ainda é cedo. Vi agora mesmo o relógio, são onze e meia. Tem tempo.
– Sendo assim...
– Permita-me apenas um conselho, não se torne um papa missas. Não fica bem um menino como você ser chamado de carola.
– Não, não. O meu interesse é tão-somente porque nunca fui a uma missa do galo aqui na Corte.
– Ora, é a mesma missa da roça. No fundo, são todas iguais.
– Penso que a daqui há de haver mais luxo, mais gente... Desculpe, devo lhe parecer muito caipira, não é?
– Estou gostando. Continue.
Ao se acomodar na cadeira, num movimento leve de corpo, deixou-me ver metade dos seus braços. Uma visão inesquecível. Cabe aqui uma confissão íntima, caro leitor. Essa visão não era tão nova pra mim, posto também que não fosse comum. O fato é que a presença de Conceição começava a despertar em mim uma inquietação perturbadora. Quando alteava um pouco a voz, ela reprimia-me.
– Fale baixo! Mamãe pode acordar.
E não saía daquela posição que me enchia de gosto. Passamos então a cochichar outros assuntos. Não satisfeita, ela deu a volta à mesa e veio sentar-se ao meu lado, no canapé. Nesse momento, vi escapar do seu longo roupão uma nesga de pés tão mimosos.
– É que mamãe tem o sono muito leve. Se acordasse agora, custaria a dormir.
Pensei em sentar na cadeira que ficava ao lado, mas não achei jeito. Ela foi mais rápida e pousou a sua mão sobre a minha. Não posso dizer quanto, mas ficamos por algum tempo calados. Nesses arroubos da juventude, qualquer fração de segundos pode durar uma eternidade. No entanto, tentei manter os olhos fixos na parede, alternando apenas entre uma ou outra gravura antiga, ao passo que já estava pingando de suor e talvez tremesse um pouco também. Conceição então me virou pra si.
– Suas mãos estão geladas, meu anjo.
E foi aproximando o seu rosto ao encontro do meu como quem suplica por um beijo. Não posso dizer que não devaneava. Subitamente ouvi uma pancada na janela, do lado de fora, seguida de uma voz: “Missa do galo! Missa do galo!”.
– Aí está o seu companheiro, disse ela levantando-se irritada. Vá que hão de ser horas. Adeus.
– Naturalmente.
– Vá, não se faça esperar. A culpa foi minha. Até amanhã.
E, com o mesmo balanço gracioso de corpo, Conceição enfiou pelo corredor adentro, pisando bem de mansinho até sumir entre os outros aposentos.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
ERA UMA VEZ CAPITU
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
RESSACA
O mar tem uma força muito grande sobre mim. Não sei exatamente quando isso começou, mas me lembro de algumas vezes, mesmo à noite, ter saído da faculdade pra ficar alguns momentos apenas vendo e ouvindo o barulho do mar. Absorvia aquela energia por um tempinho e depois voltava pra sala de aula totalmente renovado. Essa semana, numa pequena folga, fui fazer o mesmo e, para minha surpresa e alegria, havia ressaca. A água quase chegando ao calçadão. Apenas surfistas corajosos se aventuravam a romper aquelas ondas. Havia vários deles e fiz imagens lindas. Lembrei-me de uma crônica que escrevi há um bom tempo que narrava a história de um desses meus momentos íntimos com o mar. Foi em 2004. Eu estava nas Pitangueiras. Chovia bem fraquinho. O mar estava também bravio, mas não tanto quanto o desses dias. Fiquei observando os surfistas e um deles se aproximou de mim. Reconheci a sua fisionomia, mas não sabia exatamente o seu nome, apenas que tínhamos um amigo em comum...
“Queria dizer-lhe: ‘Você não é amigo do Rodrigo?’. Ele apressou-se: ‘E aí, cara, saiu da faculdade?...’. Entre negativas, enganos e palavras balbuciadas, o surfista se dispersou e eu também. Nem tive tempo de dizer-lhe: ‘Você não é...’. Esquece. Ficou na minha memória aquele sorriso, a chuva, o sorriso, a chuva... E principalmente esta lição: ‘Não importa a fúria dos nossos problemas, temos de enfrentá-los, pois o sorriso há de ser vindouro’”.
É isso. E a vida segue agitada.
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
BLOQUINHO DE ROSAS
Não, bilhetes para o Papai Noel e casas.
Por que você pinta?
Porque a pintura me ajuda muito a desenhar.
Você tem um olhar generoso sobre São Paulo. Por quê?
Porque São Paulo tem um olhar generoso sobre minha arte.
O que é melhor, o vazio (da Bienal) ou as rosas?
As rosas (elas são completas).
Você encheria de rosas o 2º piso da Bienal?
Eu andaria com pétalas escondidas e iria despetalando sutilmente, disfarçado, sem nenhum segurança perceber, só para dar gotas vermelhas para as faxineiras.
Você é feliz?
Sim, sou.
Você fica chateado quando rotulam seu trabalho de pop?
Não. E sou bastante popular.
Quem merece um buquê de rosas vermelhas?
Todos e cada um dos seres vivos do planeta e dos mortos também.
Nenhum artista?
Rumi e Hilke.
O MESTRE DE TODAS AS ROSAS
Quem acompanha o meu blog deve ter visto o post “A Cidade e as Rosas”, em junho. Uma das fotos foi dedicada a ele e postada, no meu Orkut, o que chamou atenção do meu amigo Felipe que me contou que o Paulo tinha sido o seu professor de desenho, na faculdade de Arquitetura. Fucei na Internet o contato dele e, numa “timidez ousada”, enviei as fotos das rosas que tinha feito. Ele não só respondeu o e-mail como também me disse que tinha gostado bastante das imagens. Daí até “O Mar, As Rosas e Paulo Von Poser” foram algumas mensagens, a última de negociação. Ele topou se deixar fotografar por mim, mas não sem antes saber que as fotos seriam num clima bem natural e explorariam ângulos mais poéticos. Fechamos com uma imagem dele de costas, numa praia quase deserta.
Antes de sair de casa, tive a idéia de pegar um caderninho e escrever algumas perguntas, para que ele as respondesse à mão, uma forma de ter comigo também a sua caligrafia. Dei o nome de “BLOQUINHO DE ROSAS”, por ter colado várias imagens de rosas que encontrei pela frente. Ele as respondeu, sem medir esforço ou fazer cara feia, enquanto lanchava. Tudo perfeito, mas a despedida chegou de repente. E fui para casa feliz, sorrindo, com a certeza de ter cativado mais um amigo. O mestre de todas as rosas.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
30 ANOS DE GARFIELD
Há muito mais piadas sobre idade na tirinha. Garfield se dá conta de sua idade uma vez por ano, em seu aniversário, em 19/6. Assim como eu, ele fica progressivamente mais resmungão cada vez que ganha mais um ano. Garfield se recusa a crescer, e minha mulher diria o mesmo de mim.
Uma vez por mês me reúno com dois assistentes e trocamos idéias, rimos. Nos concentramos nisso por três ou quatro dias. Ainda escrevo os roteiros, mas tenho ajuda para desenhar. Não planejo me aposentar por ora.
domingo, 23 de novembro de 2008
CELEBRAÇÃO DO SILÊNCIO II
Escolhi essa frase da Virginia Woolf, porque, de ontem pra cá, me bateu uma vontade, sem precedentes, de sumir. Não me perguntem pra onde. Topo qualquer destino, desde que, nesse lugar, eu seja uma outra pessoa. Fiquei horas olhando para os mesmos quadros, esboços e tintas e me perguntando: “É isso?”. Quis dormir. Em vão. Verifiquei e-mails, mas não havia nada que modificasse a minha vida. Tentei até o áudio-livro “O Pequeno Príncipe”, mas, de tudo que ouvi, o mais interessante foi: “Desenha-me um carneiro...”, no que fiquei repetindo aquilo feito um parvo, imitando o pequeno monarca com uma vozinha esquisita. Cheguei à conclusão de que toda pessoa que trabalha com criação artística, que tem que extrair idéias de si mesmo, todos os dias, deve passar por esse esgotamento emocional. Agora só me interessa saber quando renasço. Pode ser amanhã ou quem sabe quando estiver transbordando daquele estado de amor que deixa as pessoas a um palmo do chão. Ou quando superar o medo da perda e cativar inúmeras pessoas a quem possa chamá-las de meus amigos. Ou, o menos provável, se perceber que tudo isso não passou de um pesadelo. É melhor vocês ficarem com as belas imagens que fiz na orla de Santos e que fazem parte da continuação da série “Celebração do Silêncio”. E a vida segue gótica.
PADRES DO CALENDÁRIO
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
MEU ENCONTRO COM "ZÉ DO CAIXÃO"
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
EXTRA-EXTRA!
domingo, 9 de novembro de 2008
NAQUELA ESTAÇÃO
O FLAUTISTA DA ESTAÇÃO DA LUZ
Tudo que não se vê é mais fácil de imaginar?
Não sei o que me faz prestar tanta atenção nas coisas. Talvez um desejo inconsciente de desviar o olhar de mim para o outro. E não me importa quem ou o que seja o outro. Qualquer coisa pode ser recreio para os olhos. Literalmente. Confesso, podem me tirar todos os sentidos, mas não suportaria viver sem a visão. Tudo pra mim é muito visual. Por isso entendo aquele amargor no final da vida de Jorge Luís Borges. Tudo isso pra dizer que, como sempre faço depois de sair da Estação Pinacoteca, passei na Estação da Luz, mas dessa vez para registrar algumas imagens em P&B. Um dia perfeito para elas. A luz dramática do final da tarde, o metrô ainda bastante movimentado, personagens anônimos incríveis. Muitos estranhos. Ser estranho é tão bom, né? Não há preocupação com a vergonha de ontem e nem com o medo de amanhã, apenas vive-se no anonimato de ser. Longe da movimentação de passageiros, um casal de namorados (ou seria amantes?) se destacava dos demais pelas suas “feições petrificadas de alheamento”, encostados à grade de proteção, no piso superior. Uma cena que me lembrou, imediatamente, uma reportagem da Marie Claire sobre a China que li, nos anos 90. Fiquei ali por algum tempo e depois fui embora. A imagem da mãe boliviana apoiando o filho para que ele visse a partida do metrô é uma das melhores que já fiz até hoje. Enfim, julgava já ter tido um dia bom, uma aula boa, imagens interessantes, mas, para minha total surpresa, naquele mar de gente que invade a Estação, de minuto a minuto, vejo um velhinho tocando uma flauta, solitariamente, numa dessas escadas que intermedeiam as rolantes e que as pessoas só as usam, quando não há outro jeito. Fiquei olhando um pouco pra ele, louco pra registrar aquele momento, mas segui adiante. No entanto, não pude cruzar a catraca, voltei para fazer aquela imagem. Claro, pedi a autorização e ele ma concedeu. Aproximando mais, porque ele também não me ouvia direito, percebi que era cego. Não só cego como tinha também um olho vazado. Imaginem, vocês, uma pessoa com todos os motivos do mundo para ser infeliz, mas que, ainda assim, não aparentava tristeza. Melhor, não vivia tristeza. E sem amigos, mas com uma flauta. Fiz um videozinho, o primeiro que posto aqui, desse momento tão tocante. Espero que vocês gostem.
domingo, 2 de novembro de 2008
OS EGONAUTAS_# 04
Você bem que podia fazer uma comunidade pra mim, no Orkut, né?
Pelo amor de Deus! Até aqui, Cadu?
Eu sou o seu melhor amigo, o mais articulado, confiável...
Modesto.
Vai dizer que, pra você, eu não sou interessante?
Nivelando assim por baixo, até o Mark Chapman é uma figura interessante.
Eu também li O Apanhador no Campo de Centeio, tá bom?
Mas não teve a brilhante idéia de matar o John Lennon. OK. OK. Foi só pra chocar. Meu, pára de perseguir esse lance de fama na web. Se tiver de rolar, vai ser naturalmente.
E um verbetezinho na Wikipedia?
Às vezes, eu acho que você saltou das páginas de um desses livros do Nick Hornby e tá aqui pagando de adulto. Não é possível!
Todas as pessoas que interessam na Internet têm uma comunidade pra chamar de sua, pra se exibir pros amigos. Menos eu.
Empresta uma grana aí, vai. Estou sem um puto pro cigarro.
Só se você fizer a minha comunidade.
Ordinário. Mas, olha, não vou perder meu tempo moderando essa sua autolouvação, não, viu?
Vendida.
domingo, 26 de outubro de 2008
ODE A UM DIA SIMPLES
O que esperar de um domingo que ele não seja apenas SIMPLES? A menor das banalidades pode ter importância fundamental na vida de cada um. Geralmente, na juventude, costumamos ignorá-la. Estamos tão preocupados em agarrar o mundo com as próprias mãos que pequenos grãos de felicidade vão se perdendo por aí. Nunca me esqueço de uma crônica da Clarice Lispector, que saiu na década de 70, no Jornal do Brasil, intitulada “Um Ato Gratuito”. Depois de chegar ao limite emocional, tudo que a escritora precisava era de um passeio no Jardim Botânico. Hoje, me concedi a esse tão necessário ato de auto-indulgência. Dei um pulo na casa da minha amiga Fernanda onde lá se encontravam também duas de suas amigas e mais duas filhas de uma delas, as pequenas e encantadoras Luana e Sofia. Ali, por alguns momentos, rememorei a minha infância, um dos períodos mais felizes senão o mais feliz de nossas vidas. Quando se é criança, o futuro não passa do dia seguinte com a promessa de ir a um parque ou praia ou qualquer um desses programas saborosos que as mães costumam nos subornar para ficarmos quietos. Aliás, a melhor corrupção materna. A minha sempre me prometia também bolos. Como não fica bem me levar hoje a um parquinho de diversões, quando quer tirar alguma coisa de mim, ela usa o bom e velho golpe do bolo de laranja ou da torta de banana. Claro, não resisto. Não se deve resistir a um pedido de mãe. E passeamos ali, no calçadão da praia, como se estivéssemos numa novela do Manuel Carlos, absolutamente felizes. As meninas brincaram na areia, se lambuzaram em sorvetes, contagiaram a todos que passavam com os seus sorrisos francos e gestos brincalhões... E com um lindo pôr-do-sol, na Ponta da Praia, me despedi do nosso dia de recreio. Um dia para lembrar que viver e ser feliz ainda é possível.