quinta-feira, 15 de março de 2012

LINDA, LOIRA E... INFELIZ


Assisti a bons filmes no ultimo final de semana e escolher apenas um para comentar aqui se revelou uma verdadeira tortura. Alguns ja vinham bem recomendados pelos jornais, revistas e sites especializados como A Invencao de Hugo Cabret, A Dama de Ferro e A Separacao, mas resolvi falar sobre um que, a primeira vista, pode parecer bem bobinho, que foi mais elogiado pelos blogs de moda e afins, mas que nas entrelinhas e bem interessante e atual. Pelo menos eu o percebi dessa maneira. Estou falando, claro, de A Minha Semana com Marilyn, de Simon Curtis, baseado no livro homonimo de Colin Clark. Trata-se da primeira viagem da “mulher mais famosa do mundo” a Inglaterra e os bastidores do filme O Principe Encantado (1957), onde Marilyn Monroe protagonizou (ou pelo menos tentou), ao lado de uma lenda do teatro ingles, sir Laurence Olivier. Durante as filmagens, ela termina se envolvendo com o terceiro assistente da producao, o jovem Colin Clark, interpretado por Eddie Redmayne. Ambos passam uma semana juntos (dai o titulo) e a historia e contada sob o ponto de vista dele.
Li criticas rasas sobre o filme e mesmo alguns amigos mais cinefilos nao conseguiram ver o que pra mim saltou aos olhos: o tragico da criacao do mito. Tambem nem e preciso recorrer a um Roland Barthes para saber que Marilyn Monroe sofreu e sucumbiu por ter se deixado aprisionar naquela personagem de mulher fatal, devoradora de homens, absurdamente linda e que movia multidoes (literalmente). O filme mostra isso de forma clara e bastante convincente. O roteiro e correto, sem nada de extraordinario em termos de estrutura, linear, ate porque se supoe ser baseado em fatos reais, mas o que destaco mesmo sao os dialogos que, em alguns momentos, sao tao espirituosos, abusando do trocadilho com o peculiar senso de humor ingles que e impossivel nao rir. Achei apenas que a personagem da Emma Watson, uma figurinista apaixonada por Colin, fica um pouco apagada, perdida, funcionando mais como coadjuvante de luxo do que uma verdadeira antagonista, mas entendo tambem que uma figura como Marilyn Monroe iria eclipsar involuntariamente qualquer outra mulher que atravessasse o seu caminho. Menos a veterana Judi Dench que, embora tenha pouquissimas falas, prova que com ela nao existe mesmo essa historia de papeis menores. Isso fica claro na modesta cena em que ela presenteia Colin com um cachecol vermelho, na entrada do estudio. Terna. Rica em sutilezas.
Michelle Williams (que eu nao me lembrava mais, desde Brokeback Mountain) interpreta Marilyn e esta muito segura no papel, numa caracterizacao bastante crivel,  mas o que mais me chamou atencao foi mesmo a interpretacao. A mistura de leveza e drama poderia resultar desastrosa, por ser uma atriz jovem, mas ela nao decepciona e ate algumas cenas sao bastante comoventes. Numa delas, por exemplo, Marilyn toma varios comprimidos e se tranca no quarto, para desespero de seus agentes e do proprio Colin. Quando este entra pela janela e a encontra na cama, ela lanca fora um travesseiro e indica que ele se deite. Ambos adormecem entrelacados. Sem usar uma unica palavra, ficamos sabendo que a razao de sua fragilidade era uma incomoda solidao, movida talvez pela falta de confianca nas pessoas. Alias, isso fica bem claro quando as filmagens de Principe Encantado comecam e ela esta um desastre no papel, consciente disso, mas todos a sua volta, abusardamente hipnotizados por sua beleza, afirmam que ela esta maravilhosa. O proprio Colin, ainda na cena do quarto, e questionado por ela se ele a ama. “Sim” – ele responde, para emendar logo em seguida: “Voce e como uma deusa grega pra mim”. Marilyn entao o interrompe: “Eu so quero ser amada como uma garota normal”. Algo que nunca conseguiu. Um filme leve, com algumas pitadas de drama e que, sem dizer muito, deixa um otimo alerta: beleza e fundamental, mas felicidade tambem.


Postado por Luis Fabiano Teixeira COMENTARIOS

2 comentários:

Tiago Cardoso disse...

Esse filme me ajudou a entender minha propria semana... essa semana vivi uma guerra com meus proprios fantasmas, mas assistir a esse filme me faz entender ou no minimo compreender que talvez o que eu sinta não seja algo fora do comum, ou sei lá... beleza eh fundamental, mas felicidade tbm.. acho que tudo acaba sendo fundamental, mas felicidade tbm... mas ao mesmo tempo acredito que exista felicidade sim, sem nada mais... mas essa felicidade não é pra todo mundo. Sorte de quem pode ser feliz com nada.

GilsonBicudo disse...

Sou suspeito porque a-do-ro MM. Comecei a montar um álbum de fotos dela no meu Fbook (já viu?). Já refleti muito sobre a tragédia humana que a história dela reflete e cheguei a conclusão que MM sempre foi suicida. Seu sucesso, seus amantes, seus fãs e seu dinheiro só protelaram o fim inevitável (?).