uma colagem que fiz em homenagem ao escritor, ha dois anos
Estava navegando pela internet e
tropecei numa cronica linda do escritor Caio Fernando Abreu chamada Existe
Sempre Uma Coisa Ausente, cujo trecho reproduzo a seguir:
Há meses não havia sol, ninguém mandava notícias de lugar algum,
o dinheiro estava no fim, pessoas que eu considerava amigas tinham sido cruéis
e desonestas. Pior que tudo, rondava um sentimento de desorientação. Aquela
liberdade e falta de laços tão totais que tornam-se horríveis, e você pode
então ir tanto para Botucatu quanto para Java, Budapeste ou Maputo — nada
interessa. Viajante sofre muito: é o preço que se paga por querer ver “como um
danado”, feito Pessoa. Eu sentia profunda falta de
alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio.
Caio F. Abreu – O Estado
de S. Paulo, 3/4/1994
As vezes, me sinto aqui na Holanda exatamente como o escritor descreve nesse texto. E ja perdi a conta de quantas vezes me peguei me penitenciando por essa especie de “solidao com vista pro mar”. Nao que eu esteja literalmente de frente para um marzao e agonizando de depressao. Nao e nada disso. Alias, nem de longe e parecido. O sentimento e outro, e apenas o de nao pertencer a um lugar que aos olhos da maioria das pessoas e incrivel. No caso do Caio, ele estava em Paris. Uma estranheza que para quem nao passou pela experiencia fica mesmo dificil de entender, afinal nao se resolve apenas arrumando as malas e voltando pra casa. Entao so me resta fazer o que ele sugere no final da cronica, guardar este recado: “alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo”. Bom, so nao deu pra ficar em segredo rs.
2 comentários:
Eu acredito que como ser humano, um ser imperfeito, vamos está sempre em busca de algo. Nunca vamos está satisfeitos, mesmo quando achamos que algo possa trazer nossa felicidade. Seja uma viagem, um carro novo, um amor ou uma Canon 5D Mark III, rs. Sempre vai existir um vazio e nunca estaremos completos. Mas também acredito que existe um lado bom pra tudo. E o lado bom disso é que essa busca por ocupar o vazio vai nos fazer criar, produzir e sair do lugar onde estamos. No final, as coisas existem por um motivo e mesmo a solidão é necessaria, como li ontem, para que se dê valor quando se está junto.
Então amigo, aproveita seu exílio na neve da europa por que quem ficou por aki, no calor de Guarujá, tbm sempre sente falta de alguma coisa.
Eu sei que você não gosta, mas: VOLTA LOGO!
Mon chère ami,
Caio, quando em Paris escreveu isso? Hum... Por certo, ele já estava deprimido e nem a Cidade-luz pode resolver toda a falta, fazer o milagre sozinha.
Brincadeira à parte, o texto transcrito diz de forma pouco explicável e bastante louvável aquilo que eu, mero mortal, preciso de linhas e linhas e ainda assim (supondo ter alcançado clareza e sido honesto/ imparcial) ainda esboçaria muito mal.
Isso não macula de modo algum minha capacidade de saber muito bem o essas poucas palavras do escritor me faz lembrar, ressentir.
Sou capaz de resgatar integralmente das minhas lembranças os momentos em que o escritor parece falar de mim... Como não sei se é possível comunga-los recorro às palavras que apenas sugerem, cercam-se disso: Um vazio de existência, um vazio de sentido, uma dor de abandono (como no em um recente término de relação indesejado).
Nem tudo é ausente. A ausência, esta sim, é bastante presente.
Como disse Proust: "Para quem ama, não será a ausência a mais certa, a mais eficaz, a mais intensa, a mais indestrutível, a mais fiel das presenças?"
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