Já ouvi algumas vezes que as novas gerações sofrem da falta de idealismo, no que concordo em parte, mas não foi isso que me fez ler, recentemente, “Anos Rebeldes”, de Gilberto Braga, com adaptação para romance de Flávio de Souza. A razão foi afetiva mesmo. Aos 14 anos, quando comecei a escrever ficção, a minissérie inspirou o que seria a minha primeira peça teatral. Os originais se perderam nas inúmeras arrumações que o meu pai vive fazendo num depósito que temos, nos fundos de casa, mas da história ainda me lembro muito bem, girava em torno do drama de Rosália, uma jovem de classe-média "empobrecida" que, depois de engravidar do namorado, ficava em dúvida se faria ou não um aborto. Tudo, no começo dos anos 60, num período de transição entre a timidez da década anterior e a revolução sexual que ensaiava os seus primeiros passos.
O livro talvez leve um pouco mais de vantagem sobre a minissérie de 1992, porque é “sem cortes”, o que faz toda a diferença. Aliás, embora eu não seja adepto a teorias conspiratórias, também não sou tão ingênuo a ponto de não acreditar que ela foi decisiva para o impeachment de Collor. No mínimo, impulsionou o surgimento dos “caras-pintadas” e de inúmeras manifestações que pipocaram no país, naquele ano.
O romance narra a história de amor entre João Alfredo, um jovem com poucas ambições na vida, mas cheio de ideais políticos e Maria Lúcia, estudante de Comunicação que prefere a leveza dos segundos cadernos a bater de frente com os milicos. Como pano de fundo, claro, toda a crueldade do regime militar, inibidor das manifestações políticas e artísticas contrárias a ele, num período que vai de 1964 a 1971. E para dar um clima bem "Julie et Jim", de François Truffaut, entra na história o pragmático Edgar para balançar o coração de Maria Lúcia. Mas quem rouba a cena mesmo é a despojada Heloísa, interpretada brilhantemente na TV pela atriz Claudia Abreu. Filha de banqueiro com uma dondoca, ela abandona o conforto e o luxo para aderir à luta armada. "Bem novelesco", vocês devem pensar, e é, mas com aquela ironia irresistível do Gilberto Braga. A orelha é ainda assinada por Zuenir Ventura, autor de "1968 – o Ano que Não Terminou", livro que considero definitivo sobre esse período sangrento da nossa história.
Ontem mesmo passou na TV uma reportagem extensa sobre a “diversão” dos jovens de hoje e foi inevitável fazer a comparação. Numa rave, em Maresias, repleta de estudantes universitários, eles enchiam a cara e se drogavam, ininterruptamente, dando trabalho até aos bombeiros que precisavam tirá-los do mar o tempo todo. Pessoas bem nascidas, na flor da idade, entregues a um caminho que muitas vezes já se provou ser sem volta. Uma pena mesmo. Não estou aqui bancando o moralista, pelo amor de Deus, até em Woodstock, já que estamos falando em “Anos Rebeldes”, rolava muita droga, o que não é uma justificativa, mas os propósitos passavam por um simbolismo também, a luta pela paz e pelos direitos dos jovens que se negavam a entrar para o exército. Tenho a impressão de que hoje estamos bem perdidos, há democracia, liberdade de expressão e mil facilidades, mas só isso basta? Até a palavra “Rebelde” já virou sinônimo de boy band mexicana de gosto pra lá de duvidoso. O refrão chato "Y soy rebelde" em nada faz lembrar o discurso comunista de Che Guevara.
Aos que preferem experimentar coisas bem melhores, recomendo o ótimo “Tropicália” (1968), pois o CD inteiro é bacana, faixa a faixa, com sonoridades e letras absurdas, é bem o retrato da época. Pensei em sugerir às meninas a minissaia da Mary Quant, mas já vi que elas não fariam o menor sucesso, nas universidades rs. O filme “Easy Rider” (1969) é muito bom também, dois motoqueiros perambulando sem destino pelas estradas dos Estados Unidos, para denunciar a intolerância da sociedade americana. A lista é imensa, “Hair”, “Blow Up”, os filmes do Glauber Rocha, a música dos Beatles, Stones, Janis Joplin, Bob Dylan, até Roberto Carlos, fica ao gosto do freguês. Bem, vou ficando por aqui, mas a vida segue “guerrilheira”. Em breve, apareço com novidades. Abração!
O livro talvez leve um pouco mais de vantagem sobre a minissérie de 1992, porque é “sem cortes”, o que faz toda a diferença. Aliás, embora eu não seja adepto a teorias conspiratórias, também não sou tão ingênuo a ponto de não acreditar que ela foi decisiva para o impeachment de Collor. No mínimo, impulsionou o surgimento dos “caras-pintadas” e de inúmeras manifestações que pipocaram no país, naquele ano.
O romance narra a história de amor entre João Alfredo, um jovem com poucas ambições na vida, mas cheio de ideais políticos e Maria Lúcia, estudante de Comunicação que prefere a leveza dos segundos cadernos a bater de frente com os milicos. Como pano de fundo, claro, toda a crueldade do regime militar, inibidor das manifestações políticas e artísticas contrárias a ele, num período que vai de 1964 a 1971. E para dar um clima bem "Julie et Jim", de François Truffaut, entra na história o pragmático Edgar para balançar o coração de Maria Lúcia. Mas quem rouba a cena mesmo é a despojada Heloísa, interpretada brilhantemente na TV pela atriz Claudia Abreu. Filha de banqueiro com uma dondoca, ela abandona o conforto e o luxo para aderir à luta armada. "Bem novelesco", vocês devem pensar, e é, mas com aquela ironia irresistível do Gilberto Braga. A orelha é ainda assinada por Zuenir Ventura, autor de "1968 – o Ano que Não Terminou", livro que considero definitivo sobre esse período sangrento da nossa história.
Ontem mesmo passou na TV uma reportagem extensa sobre a “diversão” dos jovens de hoje e foi inevitável fazer a comparação. Numa rave, em Maresias, repleta de estudantes universitários, eles enchiam a cara e se drogavam, ininterruptamente, dando trabalho até aos bombeiros que precisavam tirá-los do mar o tempo todo. Pessoas bem nascidas, na flor da idade, entregues a um caminho que muitas vezes já se provou ser sem volta. Uma pena mesmo. Não estou aqui bancando o moralista, pelo amor de Deus, até em Woodstock, já que estamos falando em “Anos Rebeldes”, rolava muita droga, o que não é uma justificativa, mas os propósitos passavam por um simbolismo também, a luta pela paz e pelos direitos dos jovens que se negavam a entrar para o exército. Tenho a impressão de que hoje estamos bem perdidos, há democracia, liberdade de expressão e mil facilidades, mas só isso basta? Até a palavra “Rebelde” já virou sinônimo de boy band mexicana de gosto pra lá de duvidoso. O refrão chato "Y soy rebelde" em nada faz lembrar o discurso comunista de Che Guevara.
Aos que preferem experimentar coisas bem melhores, recomendo o ótimo “Tropicália” (1968), pois o CD inteiro é bacana, faixa a faixa, com sonoridades e letras absurdas, é bem o retrato da época. Pensei em sugerir às meninas a minissaia da Mary Quant, mas já vi que elas não fariam o menor sucesso, nas universidades rs. O filme “Easy Rider” (1969) é muito bom também, dois motoqueiros perambulando sem destino pelas estradas dos Estados Unidos, para denunciar a intolerância da sociedade americana. A lista é imensa, “Hair”, “Blow Up”, os filmes do Glauber Rocha, a música dos Beatles, Stones, Janis Joplin, Bob Dylan, até Roberto Carlos, fica ao gosto do freguês. Bem, vou ficando por aqui, mas a vida segue “guerrilheira”. Em breve, apareço com novidades. Abração!
6 comentários:
Fabiano
Os rebeldes foi sim uma mini série de impácto, pois era para aguçar aos jovens da época a necessidade de serem mais participantes, mais cultos e políticos. Acho que ajudou, embora concordo com vc que tinha um pouco do sangue novelesco já entranhado na escrita de Gilberto Braga, contudo se compararmos com hoje, fomos dos idealistas até o fundo do poço da mediocridade em termos de cultura politica. Hoje não sequestrariam o Embaixador Americano nem em troca de um familiar.
Abs irmão ganso.
Oi Luis,
Tudo bem cara? Legal receber sua visita de novo. Então to passando só pra agradecer. Prometo voltar com calma e deixar minha opinião sobre o post o tema me atrai e muito.
Aproveito tb pra te falar do Jay, sabe que ele ta fazendo um tratamento sério de saúde né? Tá a 3 semanas afastado do blog. Não deixa de passar lá pra dar um oi, se puder claro.
Abraço cara.
Oi amigo,
Tudo bem com vc né? Passei pra agradecer por sua amizade e presença lá no blog. Enfim estou me recuperando, ainda preciso de mais um pouco de tempo, mas em breve eu estarei de volta. a amizade de tantos amigos blogueiros tem sido positiva, nunca imaginei que amizades virtuais pudesse fazer tanto bem kkkk e tem feito.
Siceramente hj não li o post. Mas ainda venho ler e tentar deixar minha opinião
Abraço meu amigo
Jay
Eita rapaz
quanto tempo ae heim??
Sumiu poxa,
quais as novas por ae??
Bom, texto, anos rebeldes marcaram.
Abraço
Little Sheep =D
Dizer que amei seu post já virou rotina, mas há rotinas boas e essa é uma delas! Impossível não gostar do que encontro aqui ;D
Anos Rebeldes...sempre existirá! A única coisa é que as "rebeldias" tem mudado, rs.
Gostei da história da Rosália ^^
Ela chegou a virar uma peça mesmo!?
Infelizmente hoje a curtição de mtos está sendo acabar com a vida, pq é isso que eles fazem, com uma bela máscara de "diversão e alegria". Ainda bem que não quis seguir esse caminho :)Na verdade eu nunca quis conhecer, por medo de gostar, confesso. Dança me atrai de qualquer maneira, mas, melhor dançar sozinha no meu quarto, sem chance de contato com nada que não preste *rs E, na igreja =D
Eu acho q eu já ouvi música do Tropicália, pra trabalho de escola no colegial, eu acho. *rs
Hmmm, mini saia!?
É, não seria bem vinda nas universidades.
Mas, "sou menininha de perninha grossa, vestidinho curto, papai não gosta" ;D
*cresci ouvindo esse versinho ^^
Ah, Roberto Carlos tem música boa e bonita =D e o show dele em Araraquara que vai ser dia 20, já está esgotado, acho q é prova disso...ou não!? *rs
Até o próximo post ;D
Oi Luis,
Como prometi passei pra ler com calma seu post.
Eu não vou bancar o saudosista aqui por dois motivos. Primeiro eu não vivi nesse período de idealismo sócio-politico no Brasil. Segundo pq isso não alteraria o passado recente. Em suma eu concordo em partes com você. Ver os jovens de hoje nas raves e baladas as vezes chega a ser deprimente. É excesso de liberdade e facilidades? Sim e não. É sim falta de idealismo. E um ideal meu amigo a gente constrói ou os rumos sociais e políticos de uma nação o produz e ao meu ver não nos falta material pra essa produção falta mentes idealistas...
Isso é um assunto longo e polêmico. Gostei de sua abordagem coerente e sensata. Parabéns
Abraço e sucesso sempre
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