Achei tão interessante esse texto do artista e poeta mexicano Ulises Carrión que não pude deixar de reproduzi-lo aqui.
A NOVA ARTE DE FAZER LIVROS
Para ler a velha arte, basta conhecer o alfabeto.
Para ler a nova arte devemos apreender o livro como uma estrutura, identificar seus elementos e compreender sua função.
Podemos ler a velha arte acreditando que a entendemos e podemos estar errados. Tal engano é impossível na nova arte. Você só pode ler se você compreender.
Na velha arte todos os livros são lidos da mesma maneira. Na nova arte cada livro requer uma leitura diferente.
Na velha arte, ler a última página leva tanto tempo quanto ler a primeira. Na nova arte o ritmo da leitura muda, aumenta, acelera.
Para compreender e apreciar um livro da velha arte é necessário lê-lo completamente. Na nova arte você NÃO precisa ler o livro inteiro. A leitura pode parar no momento em que você compreendeu a estrutura total do livro.
A nova arte torna possível uma leitura mais rápida do que os métodos de leitura dinâmica. Existem métodos de leitura dinâmica porque os métodos de escrita são demasiado lentos.
Ler um livro é perceber sequencialmente sua estrutura. A velha arte ignora a leitura. A nova arte cria condições específicas de leitura.
O mais longe que a velha arte chegou, foi levar em consideração seus leitores, o que já foi longe demais.
A nova arte não discrimina leitores; não se dirige aos viciados em leitura nem tenta roubar o público da televisão. Para poder ler a nova arte, e para compreendê-la, você não precisa gastar cinco anos em uma faculdade de letras.
Para ser apreciados, os livros da nova arte não necessitam de cumplicidade sentimental e/ou intelectual dos leitores em matéria de amor, política, psicologia, geografia, etc.
A nova arte apela para a habilidade que cada homem possui para compreender e criar signos e sistemas de signos.
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Arte Nuevo de Hacer Libros, de Ulises Carrión, publicado na revista Plural, em fevereiro de 1975.
1 comentários:
Eu acho que este artigo possui muita validade para nosso tempo. O autor foi um visionario ao escrevê-lo já que consegue captar em sua descrição a esencia de nosso tempo.
Hoje é possível entender e aceitar que a linguagem é o que nos define. Somos através da linguagem e ele é gerador de nossa realidade. Todo o que fazemos adquire valor através da linguagem.
Por tanto o conjunto de signos que formam a linguagem é o responsável de nossa realidade e assim nós, quem criámos os signos seremos então os criadores de nosso mundo … como o conhecemos.
Hoje apostamos por ler para além das palavras, por entender uma situação segundo o lugar onde esta ocorra, procuramos a esencia das coisas mas que as características dela mesma. Isto é, o espírito do texto é mais importante que a letra que o forma.
As formas não são mais importantes que a ideia que as concebem.
Hoje aceitamos que o encontro das almas é mais importante uma reunião de negócios.
O mundo de hoje precisa que sejamos capazes de ver para além do evidente.
(peço perdão, por tentar assassinar uma linguagem bela como o brasileiro ou português com minhas pobres palavras. Espero que o esp´çiritu da mensagem chegue a ti .... um abraço meu querido amigo)
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