Como prometi no sabado, no Facebook, estou aqui para contar os detalhes da minha segunda exposicao na Holanda. Segunda, mas com cara de primeira. Vou me ater apenas aos bastidores, porque o video acima ja explica bastante o meu processo de trabalho. Quando comecei a fazer essas colagens, no comeco de outubro do ano passado, nao esperava que tivesse uma recepcao tao bacana por grande parte das pessoas que foi a Galerie Lokaal WV 15, no dia 15/09, na abertura. Foi um momento emocionante e unico pra mim. Primeiro por mostrar fora do Brasil, pela primeira vez, da forma como eu gostaria, o meu trabalho e, segundo, porque houve tantos contratempos que a realizacao dessa exposicao se tornou uma questao de honra pra mim. Acho que qualquer artista que expoe fora do seu pais passa pela mesma situacao: a desconfianca dos donos da casa, o medo da desaprovacao, a pressao de ter que vender, a inseguranca de nao dominar a lingua… Comigo nao foi diferente, mas, por incrivel que pareca, eu que costumo ser uma bomba relogio nas vesperas de minhas exposicoes, estava bem tranquilo. Nao totalmente seguro, mas tranquilo. E ja explico o porque.
Um mes antes da abertura, estava
no supermercado e dei de cara com a capa da revista Wallpaper* com uma imagem
muito parecida com a das minhas colagens. Abri
correndo a revista e vi um editorial inteiro saudando o retorno do Barroco. Achei isso de muito bom agouro, afinal a
Wallpaper* ainda e um grande referencial para artistas e designer, no mundo inteiro. Alias, ja
houve ate uma edicao dedicada ao Brasil. Foi o sinal de que eu precisava para
saber que o trabalho que eu tinha comecado, um ano antes, estava no caminho
certo. Quando a dona da galeria escolheu todos os 10 trabalhos,
sem tirar nenhum!, tambem comemorei bastante. Mas faltava o principal: a
aprovacao do publico, dos amigos e tambem do mercado de arte daqui, afinal voce
pode ser um genio, o que nao e o meu caso, mas, se nao vender nada, a chance de
novas oportunidades fica cada vez mais remota. Tudo isso aconteceu, mas nao
sem um pouquinho de tensao.
O tempo que estava otimo, de
repente virou. Uma garoa chata ia e voltava, o tempo inteiro. Para quem faz tudo andando de
bicicleta nao tem nada mais irritante. Encomedar as molduras foi outra novela
tambem. Qualquer servico na Holanda custa uma pequena fortuna e os
profissionais daqui sao extremamente voluntariosos, fazem tudo no seu proprio
tempo e nem adianta forjar aquele jeitinho brasileiro de resolver as coisas de
ultima hora. Tive que ir algumas vezes a loja (que nao fica exatamente no
centro da cidade). Gentilemnte, um amigo holandes me emprestou um quarto de sua
linda cobertura, numa das principais ruas de Amsterdam, no centro, para que eu
fizesse o meu QG. De la, comecei a divulgacao e os preparativos finais. Dias
antes, ja tinha finalizado o meu site www.luisfabianoteixeira.com
(alias, todos convidados a conhecer). Material grafico em maos (que aqui fica
pronto no mesmo dia!), depois foi so levar os quadros para a galeria. A montagem
comecou bem cedo, mas tudo correu as mil maravilhas. A dona da galeria, Josilda
da Conceicao, propos – e eu aceitei – algo bem desconectado, os quadros
dispersos, sem sequencia logica ou combinacao de cores, quebrando aquela
pretensa formalidade que geralmente obras de arte costumam ter, quando
colocadas lado a lado. Adorei a ideia. No dia seguinte, ainda voltei a galeria
para colocar um suporte que faltou em um dos quadros. Mas, quando pensei que,
enfim, descansaria, tive uma dor de coluna subita, e isso ja era a vespera da
abertura.
Medico aquela altura seria
impossivel, entao o jeito foi tomar um banho bem quente e dormir em posicao de…
mumia. E nao e que deu certo? Acordei no sabado bem cedo com o sol entrando
pela janela e a dor nas costas ja bastante controlada. Diante do espelho, percebi
que estava ainda visivelmente cansado, embora inegavelmente feliz. No caminho para a
galeria, fui relembrando tudo que tinha acontecido ate ali: as coisas boas e
ruins, a minha primeira exposicao na Piola, em Santos… E bastante longe de casa,
dos meus pais, dos meus amigos do Brasil, tudo parecia ainda mais melancolico. Mas
essa sensacao durou pouco. Entrei na galeria com alguns convidados ja
apreciando as obras, me desculpei pelo pequeno atraso, pluguei o meu ipod no aparelho de som e escolhi O Tropicalismo, A Poesia Concreta e o Mar, uma trilha de um desfile elaborada pelo Dj Ze Pedro, anos atras. Um set maravilhoso, cheio de intervencoes sonoras inusitadas. "Confusao!". Respirei fundo e
disse a mim mesmo: Valeu a pena! Dai pra frente voces podem imaginar, vieram os cumprimentos, lindas flores, a
reacao bacana das pessoas, as vendas comecando, a dona da galeria feliz, os
amigos dizendo palavras tao carinhosas... Isso sem contar os inumeros emails
lindos que recebi, durante a semana inteira. Uma vez um holandes me disse uma coisa que
eu nunca esqueci, “ser artista e dificil em qualquer lugar do mundo”, no que eu
concordei imediatamente. Sim, as dificuldades sao enormes, mas os momentos
felizes tambem existem. E e principalmente por eles que nos vivemos, nao e? Agradeci
pessoalmente a todos aqueles que me ajudaram na realizacao desse primeiro
passo, longe de casa. Pessoas muito especiais pra mim. Agora vou sair para curtas
ferias em Lisboa, mas depois volto contando as novidades de la. Abracao!
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