Sempre admirei o trabalho do estilista e agora diretor de cinema Tom Ford pela sua ousadia, senso estético refinado e, principalmente, pela sua “fome de beleza” em tudo. Assim que soube que ele dirigiria A Single Man (me recuso a usar o título em português), não o levei muito a sério. Tinha lido, há uns três anos, o livro homônimo de Christopher Isherwood, encontrado por acaso num sebo, e achei a narrativa terrivelmente lenta, embora o assunto me interessasse bastante. Era esperar pra ver, mas eu tinha quase certeza de que nem toda a sua criatividade o salvaria de um fiasco. Mas, para minha surpresa, ele não só se saiu um ótimo diretor, como o filme se revelou melhor que o livro. Sei que esse tipo de comparação é sempre injusto, mas não vamos nos ater a esse detalhe por enquanto.
Na época do lançamento, que não faz tanto tempo assim, me recordo de ter lido críticas bastante mornas. Algumas pessoas reconhecendo apenas o ótimo aspecto visual do filme e alguns críticos muito impacientes com a lentidão da trama. No entanto, todos concordaram numa coisa, a péssima tradução brasileira para o título. Um Homem Solitário foi rebatizado aqui de “Direito de Amar”. Em Portugal também não foi diferente, os lusos chamaram o filme de “Um Homem Singular”. Nenhum dos dois reflete a essência da história, a solidão imposta pela perda de um amor (no caso, entre homossexuais), apenas serviu para reafirmar o preconceito diante do assunto. Broncas à parte, vamos ao roteiro que é de uma simplicidade absurda: um dia na vida do cinquentão George (interpretado pelo excelente ator inglês Colin Firfh), um professor de literatura de uma universidade da Califórnia, que passa meses sofrendo pela perda do companheiro, morto num terrível acidente de carro, em 1962. O filme vai o tempo todo fazer essa ponte entre passado e presente, entre os momentos bacanas que os dois viveram juntos e o estrago que a ausência de um causa na vida do outro. O diferencial fica por conta da interpretação brilhante de Firfh que não precisou de nenhum artifício extra para tornar crível o seu personagem. É um dos melhores trabalhos de interpretação já vistos nos últimos tempos, sem dúvida. Todo focado no lado psicológico, mas sem exageros. E o mais curioso: num filme sem uma única curva dramática. Totalmente linear. Até bonito demais. Um editorial de moda em movimento.
O verbal é radicalmente superado pela imagem. Começando pela fotografia que, como era de se esperar, é extremamente linda. Os figurinos, que foram muito aguardados também, são impecáveis. Os ternos, por exemplo, são todos bem cortados, enquanto os óculos e suéters no melhor estilo geek dão um charme todo especial ao vestuário masculino. Há ainda referências visuais à atriz Brigitte Bardot e uma trilha sonora pra lá de sofisticada. E quem achava que Tom Ford esqueceria o seu lado “hot”, que o tornou mundialmente conhecido, se enganou também. A aparição relâmpago do modelo Jon Kotajarena, interpretando Carlos, um espanhol que por um momento tenta seduzir George, não deixa dúvidas de que o diretor abriria espaço também para provocar a libido de meninos e meninas. Tudo muito cool, poético e, principalmente, delicado.
Podemos abordar duas questões diferentes: as pessoas estão abertas a uma experiência mais contemplativa, a partir de um filme que é essencialmente “cult”, no meio de tantos e imbatíveis blockbusters? Queria Tom Ford dar um recado à comunidade gay para que se pense menos em relações flutuantes e mais em afeto, mas sem se parecer panfletário? Eu mesmo só consegui pensar numa coisa, na forma como George encara a sua finitude diante do espelho, ora com coragem, ora pateticamente hesitante, como convém a pessoas frágeis. Ou simplesmente na ideia de morrer. Por amor.
12 comentários:
Ah, Lui
Postamos juntos! Plena sincronia pra um belo filme. Gostei do tom de seu texto, analisou bem o filme, detalhou pontos gerais, você sentiu muita coisa que eu vivenciei...engraçado que também nem esperava tanto do filme, sério mesmo...até demorei de vê-lo em função disso. Ainda que goste dos trabalhos de Colin Firth.
A maneira de colocar o personagem mais intimo do publico - com a narrativa em off, a trilha bela de Abel Korzeniowski pontuando suas emoções e, principalmente, o recurso técnico visual da linda fotografia (como você disse no post) são pontos perfeitos no filme - o uso das cores fortes, densas, quando representam algumas sensações de George é incrível de se ver...
E é um filme que fala apenas de um homem que sente a perde de outro...de seu grande amor...um ser homossexual, sim...mas, o filme nem é panfletário...
Eu gostei muito deste filme!
Primoroso! Triste!
Beijos
Faz tempo que quero ver esse filme, mas nunca fiz muita questão por achar também que seria morno.
Mas, depois de ler aqui, vou ver se consigo ve-lo este final de semana!
bela dica moço!
bj
Traduções de nomes de filmes são sempre terríveis. Só uso o título "dublado" para ir ao cinema ou buscar o filme em DVD para comprar. E não entendi a capa do filme. Se o homem é solitário, não havia a necessidade de outra pessoa na capa, mesmo sendo uma Julianne Moore.
Depois desta resenha quero mais é assistir a este filme ... sou frágil tb ...
bjux
;-)
É um filme extremamente belo. Visualmente, psicologicamente, artisticamente.
Quem dera todas as estreias de cineastas fossem de tão bom gosto.
Grande abraço,
Clênio
www.lennysmind.blogspot.com
www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com
O filme é belo.
Permite que possamos entender um pouco mais o significado do amor na vida de uma pessoa, mesmo que essa pessoa seja do mesmo sexo, e sua relação não seja aceita pela maioria.
Mostra que somos todos profundamente humanos. Sem panfletagem, sem cenas exageradas, sem apelações tão comuns nos blockbusters.
Infelizmente, um filme para poucos. Como os sentimentos verdadeiramente humanos e isentos de preconceitos também não são, ainda, universais.
Apenas um porém, que não compromete, ao contrário, mas só pra não dizer que o filme é perfeito. A beleza é indiscutível, e não me cabe discutir as opções estéticas, certamente influenciadas pela origem do diretor. O filme é belo, mas concordo com uma frase do Zanin (do Estado): "é inegável que tanto apuro esfria o filme."
Parabéns pela escolha e referências ao filme.
assisti duas vezes.
a riqueza de detalhes é um primor e como bem disseste, é um filme para poucos.
beijos e bom final de semana.
=D
Desde que ouvi falar desse filme há um tempinho atrás quis ver, vi um pedaço e adorei a fotografia, as roupas e talz, não conheço a história, espero que valia mesmo a pena... O título em português ficou realmente muito clichê... Abraçoo!
EU fiquei encantado quando assisti. =D
Caramba, fiquei intrigado ao ler seu post. Eu tinha ouvido falar deste filme, mas não havia me chamado atenção.
Quero assistir com urgencia!
Abraços.
Vou assistir depois dou meu parecer.... :)
bjux
... passando pra deixar um abraço.
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