Enfim, consegui assistir ao filme “Abraços Partidos”, o mais recente do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, de quem sou fã, mas não achei exatamente uma obra-prima. Almodóvar é, na minha opinião, o melhor cineasta em atividade. Podem até torcer o nariz, mas, por enquanto, nada me convence do contrário. Criativamente, ele ainda consegue tirar leite de pedra, com o diferencial de que agora há um nível de sofisticação em seus filmes que beira os padrões de Hollywood. Ao mesmo tempo em que ainda existe muita inquietação neles, a estética que o consagrou está cada vez mais desbotando. Confesso que tenho saudades daquelas imagens absurdas como as de “A Lei do Desejo”, mas os tempos são outros, as necessidades de mercado idem.
Embora reconhecido como um exímio criador de mulheres extravagantes e dramáticas, em “Abraços Partidos”, Almodóvar se debruça no seu melhor personagem masculino, o cineasta e roteirista Mateo Blanco, muito bem interpretado por Lluis Homar. Quem já está acostumado ao seu universo sabe o quanto seus roteiros são cheios de “viradas”, por isso vou tentar não estragar nenhuma surpresa. Aliás, esse tem sido um pedido recorrente do diretor em algumas de suas entrevistas: “Por favor, não tirem o prazer do público. Não revelem nada”. Não é fácil, mas prometo tentar.
Mateo Blanco, antes de ficar cego e adotar o pseudônimo de Harry Caine, se apaixona por Lena (Penélope Cruz), uma ex-garota de programa e aspirante a atriz que protagoniza seu último filme, “Garotas e Malas”. Até aí nada demais, se a película não fosse financiada pelo velho milionário Ernesto Martel (José Luis Gómez), com quem Lena é, de certa forma, casada. Prestem atenção, mais uma vez, a metalinguagem, o filme dentro do filme, exatamente como em “Má Educação”. Quando o milionário descobre a pulada de cerca da mulher e ela escolhe viver com o diretor amante, ambos são severamente perseguidos. Tudo no maior estilo, sexo, traição e viodeotape.
O que teria prejudicado, então, este que já é o mais complexo filme de Almodóvar? Sem dúvida, o excesso (excesso mesmo!) de elementos surpresas no roteiro e a mistura arriscada dos gêneros noir e melodrama. No desespero de não perder nenhum detalhe, o espectador pode facilmente se irritar, ligar o automático e deixar para trás diálogos saborosos como só Almodóvar sabe escrever, a fotografia que é belíssima (a melhor de todos os seus filmes), a trilha cool... Sem contar que o filme traz citações a Felini, Visconti, retoma as origens cinematográficas do próprio Almodóvar, flerta com a Pop Art,... Já não basta o Google???
“Abraços Partidos” também não possui grandes interpretações. O papel da Penélope Cruz, por exemplo, embora grande, tem uma função mais plástica do que dramática. Neste aspecto, Blanca Portillo, que interpreta a mal amada Judith, a agente de Mateo Blanco, leva a melhor. Mas, com todos os tropeços, felizmente, o pior também não acontece, a perda completa da mensagem do filme: o olhar devastador do outro sobre a intimidade alheia. Nada mais atual e, portanto, merecedor da nossa atenção.
Termino agradecendo publicamente ao Jay e Alê, do Ká entre Nós, pela entrevista que fizeram comigo e que saiu no blog deles, com uma excelente repercussão. Por causa dela, ganhei novos amigos blogueiros e vários comentários aqui, no meu Orkut, Facebook, enfim, nem eu mesmo esperava esse alcance. Obrigado mesmo, meninos! Já agradeci os demais em seus respectivos blogs e aproveitei também para conhecer um pouco o espaço de cada um. Bem, vou para Salvador amanhã e tento postar as novidades de lá. É isso, a vida segue agitada. Abração!!!
14 comentários:
É isto mesmo Luis ... sua percepção sobre esta nova obra de Almodovar está perfeita ... tb fiz uma leitura similar sobre a mesma ... Sem qualquer dúvida, Almodovar continua sendo o maior e o mais importante cineasta da atualidade ... mas realmente, a guinada que ele deu em seus filmes, fruto de uma imposição dos tempos modernos e de mercado,os deixaram bem aquém de sua produções anteriores, mas sem diminuir sua importância no contexto cinematográfico. Gostei muito de Abraços Partidos, principalmente por sua complexidade, por seus ricos diálogos, por sua fotografia primorosa e sua trilha ...
enfim ... parabéns por este registro ...
bjux
;-)
Olá, fiquei curioso para assistir, não ando muito ligado nesse tipo de filmes ultimamente, mas gosto muito, principalmente pela parte da fotografia e cenas que expressam algo mesmo, sabe, sem aquela coisa toda comercial, do modismo. Boa Bahia! rs Abraçãoooo!
Fiquei curioso para ver o filme, Luis.
Aguardarei as postagens direto de Salvador!
Abraço!
Almodóvar sempre é fantástico. Participei há alguns anos de uma mostra com seus filmes mais marcantes e me fascinei ainda mais.
Com certeza, assistirei a mais essa.
Quanto a Salvador, so tenho a dizer uma coisa:
Inveja, amigo... Inveja...
(risos)
Abraços
Olá Luis, tb só consegui ver Abraços Partidos há pouco tempo e no vídeo... Almodovar é sempre mágico... não é qualquer filme... deve ser visto com vontade, vontade de ir além... não sou uma crítica de cinema, nem entendo muito...mas sei ver quando um filme é inteligente e tem algo mais... belo post sobre o filme, perfeita descrição... Beijos Roberta
O que acho interessante nas obras do Almodóvar é justamente esta multiplicidade de ângulos. São trabalhos ricos que permitem articular diferentes concepções. Tuas críticas estão bem colocadas.
Vou segui-lo, portanto.
abraços
www.cinefreud.blogspot.com
Oiii, eu sei q nem te conheço há mto tempo, e por incrivel q pareça é a primeira vez q faço isso rsrs, mas queria te pedir algo. Fui indicado ao troféu "The Best GB Janeiro/2010" pelo site "Gazeta dos Blogueiros" dá uma passadinha lá e vota em mim? :D
(http://gazetadosblogueiros.com)
Desculpa se incomodei! Abçç!
Amigo,
Mais um post ultra cult ahn?
Olha nem precisa nos agradecer. Ficamos contentes em divulgar seu trabalho e seu blog. e pode ter certeza que ainda vamos divulgar mais coisas sobre vc outra vez kkkk
É só vc ver as novidades de q estamos falando em nosso post atual. Vc poderá participar.
Grande abraço aproveite Salvador.
Da vez que eu e Alê fomos aí a gente foi assaltado kkkk, se cuida!
Grande bju
Jay
Olá Luis,
Conferi sua entrevista, não passei aui por motivo de muito trabalho. Os meninos fizeram um ótimo trabalho e vc merece esse sucesso todo pelo seu talento. Bom passeio em Salvador.
Abraço
Oi Luís
Primeiramente, a entrevista estava maravilhosa, deu para ter uma idéia de quanto especial vc é.
Quanto a Abraços Partidos, digo que gostei do filme, mesmo se perdendo um pouco no meio e Blanca Portillo tb está muito bem.
Quanto ao Almodóvar, ainda prefiro o Woody Allen.
Bjos
Luis, também concordo que Almodovar é o maior diretor em atividade. Mas o que é mais espetacular em sua filmografia é a unidade que ela tem. Um filme de Almodovar é facilmente reconhecível, já virou até adjetivo, como aconteceu com Fellini e Hitchcock. Quantos cineastas tem esse privilégio?
Qto a "Abraços partidos" só posso dizer que me encantei com o visual, com alguns momentos do roteiro (alguns hilariantes, outros comoventes) e com o elenco (em especial as participações especiais de Rossy de Palma, Chus Lampreave e Angela Molina). Na verdade eu não comparo nenhum Almodovar com outros. Pra mim são como indivíduos, diferentes entre si, mas todos filhos do mesmo pai.
Abraço e se puder visite meu blog
Clênio
www.lennysmind.blogspot.com
Oi Luís, eu moro em Rio das ostras, no interior do RJ, uma cidade muito bonita tb vale a pena visitar:)
Eu ví Abraços Partidos, o filme não me surpreendeu muito, mas não deixa de ser um filme brilhante.
Agora, só vou discordar de uma coisa.... Almodavar não é o melhor diretor em atividade... é o TARANTINO!!!!
heheheh
opiniões distintas rsrs só isso!
abraços!
Olá cai aqui ao acaso mas gostei deste blogue, vou voltar
Beijos
bel
O Almodovar é por si um exagerado... mas vejo isso como qualidade e não como defeito!
AMEI o filme! É claro que não está à altura do "tudo sobre minha mãe" ou "Má educação" mas é, sem duvida, um dos melhores de sua videografia!
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