sexta-feira, 30 de outubro de 2009

UM BONDE E TANTO

Outro dia estava assistindo à TV, praticamente pulando de canal em canal, quando resolvi parar no TCM, aquele que só passa clássicos do cinema. Estava começando um filme que eu queria assistir faz tempo, “Um Bonde Chamado Desejo” (1951), de Elia Kazan, com uma dupla de atores que dispensa maiores apresentações, Vivien Leigh e Marlon Brando. O filme é tão arrebatador que praticamente me impôs a escrever sobre ele, já que eu não pretendia postar tão cedo. Mas aqui estou, ainda um pouco entorpecido, para registrar as minhas impressões sobre essa obra-prima de Tennessee Williams.

A história parece simples, mas não é, o roteiro não é nada superficial e tampouco as interpretações, pelo contrário, são tão pungentes que em pouco tempo já nos tornamos seus cúmplices e não apenas meros espectadores. Não vou me estender na sinopse: a sofisticada Blanche DuBois (Vivien Leigh) chega a New Orleans para visitar a irmã Stella (Kim Hunter) e o cunhado Stanley Kowalski (Marlon Brando). Para chegar ao subúrbio onde moram, pega um bonde chamado Desire, daí o título do filme. Num minúsculo apartamento, os três vão conviver sob tensão. Blanche não se adapta à pobreza em que vive a irmã, mas tem motivos para não deixar o local, já Stanley tem a sua privacidade invadida e constantemente quer mostrar quem manda ali. Os dois passam quase todo o filme “duelando” pra ver quem pode mais. E cada um usa a sua melhor arma. Enquanto Blanche não economiza em desfaçatez e sedução, Stanley se encarrega de investigar e mostrar a esposa que a sua irmã não é um anjo como parece. Se escondo alguns detalhes, é para não estragar a surpresa.

Em linhas gerais, "Um Bonde Chamado Desejo" é um drama cujo foco são as ilusões e frustrações de uma mulher extremamente sensível, traumatizada pela irrealização do amor e que se vê diante de um homem vigoroso e primitivo, por quem se sente desprezada e ao mesmo tempo atraída. Os dois personagens, Blanche e Stanley, são muito bem construídos e não temem (entre aspas) ser expostos ao medo, à dor, à solidão e ao prazer.

Não resisti e fui ler a peça homônima que inspirou o filme e posso lhes assegurar que a adaptação é quase literal. Aliás, o texto é repleto daquelas frases lapidares que em tempos de Twitter fazem o maior sucesso. Selecionei duas da categoria humor negro que talvez vocês curtam: “Eu sei que minto muito. Afinal, o encanto de uma mulher é 50% ilusão” e “Acho que a tristeza conduz à sinceridade”. Mas há também aquelas mais dramáticas como “Eu sempre dependi da bondade de estranhos”. Esta até levou o artista Maurício Ianês a fazer uma performance, na estranha Bienal do ano passado. Ele chegou nu ao Prédio da Bienal e ficou lá, por alguns dias, recebendo toda sorte de bondade dos visitantes. Tirem suas próprias conclusões rs. Enfim, quem curte um filme mais denso, reflexivo, essa é uma ótima pedida.

Pra terminar, agradeço a todos que participaram voluntariamente da campanha “Outubro Rosa”, divulgando em seus blogs a arte que fiz e até parcialmente o texto que escrevi aqui, especialmente ao Jay e Alê do “Ká entre Nós”, ao Arthur do “Em Crônicas e Contos” e a Fátima do “Diário de Bordo”. Obrigadão mesmo, pessoal. E também a todos que comentaram aqui, no Facebook, no Twitter, enfim, tenho certeza de que cada um fez a sua parte e está ajudando a melhorar o mundo. Por falar nisso, hoje tá rolando o “Dia Verde”, na bloguesfera, uma ótima iniciativa dos meninos do "Ká entre Nós". Não deu pra preparar nada especial, mas é algo que também incentivo. Abração e ótimo final de semana!

10 comentários:

Anônimo disse...

eu já ouvi muitas vezes sobre esse filme, mas nunca tive a oportunidade de assistir.

bacana sua sinopse, dá vontade de ir correndo alugar o filme :)

bjo

EsquizoZito disse...

Bom esses encontros, não!?

Sem dúvida este texto de Willians é um dos melhores da literatura teatral norte-americana do século passado. E ainda tão atual.

O melhor de tudo é ver como, apesar de socialmente racionais, quando expostos a desejos essenciais nos tornamos animalescos.

Ótimo comentário.
abração Luís!

Valdeir Almeida disse...

Fabiano,

A indústria cinematográfica do passado não visava tantos lucros como se visa atualmente. Os produtores realizavam os filmes com mais poesia, é o que se vê em "Um Bonde chamado desejo".

Quando puder, visite meu blog, ok?

Abraços e bom final de semana.

Rafael Lopes disse...

Nossa, coloca clássico nisso heim.

Mesmo assim, ainda prefiro os filmes mais recentes. Opção mesmo.

Abraço
bom fds

Arthur Alter L. disse...

Olá Luis,

Com certeza um classico. Enfim, nossa eu nem merecia agradecimento com citação e tudo do meu blog. Mas valeu estamos ae... enfim a falando por mim claro, a campanha do DIA VERDE foi um sucesso, segundo os meninos mais de 100 postagens, parabéns pra eles neh?
Abraço cara gostei da sinopse.

Ademerson Novais disse...

Deu uma vontade louca de assistir....e é o que vou fazer...


Ademerson Novais de Andrade

Cristiano Contreiras disse...

Puxa, puxa e puxa!!!

É assim que você me mata, hein?

Eu cá, totalmente saudoso e triste diante de seu estranho sumiço no msn e orkut, me deparo com este BELÍSSIMO post!

Não preciso dizer o quanto este filme significa em minha vida, né? Acho que já cansei de comentar contigo, inúmeras vezes, que é meu filme-de-cabeceira! Não me canso de pensar nele, rever, refletir e vivenciar, o tempo todo, frases e cenas que são eternas, cicatrizantes.

Marlon Brando em seu ápice no cinema, chego a dizer: seu Stanley tem mais força e é mais interessante que seu 'Poderoso Chefão', tenho dito!

Vivien Leigh tem uma atuação intensa, mais forte que a eterna Scarlett de E o vento levou...

O filme todo parece cheirar a suor, a tesão mesclado melancolia e certa tensão crescente, isso é delícia às nossas percepções. Você soube bem fazer uma síntese da 'aura' do filme, bem como das intenções e contextos dos personagens, gostei muito!

Eu tenho o dvd simples e o duplo - este, uma edição especial pra nenhum colecionador colocar defeito, hein? São dois discos, um com o filme na íntegra(a versão original teve 3 minutos censurados) e extras fundamentais. Além de uma remasterização de imagem e dublagem, como áudio opcional - muito boa, por sinal.

É um filme que tem frases, cenas e atuações memoráveis. É bem teatral, mas também é um efeito clássico cinematográfico incrível! Jamais envelhece, é simbólico e real, tudo ao mesmo tempo.

Um abraço, meu amigo!
Saudade, até!

FOXX disse...

belo texto
uma crítica bem inteligente
parabéns

Anônimo disse...

Muito bom, sempre tive a vontade de assistir a esse clássico. depois de sua narrativa agora vou assistir.

Abs

Anônimo disse...

Nossa, q post!!
Agora eu que qro assistir esse filme!! Do jeito q vc descreveu, dá vontade mesmo!!
e pra vc ter postado, é mto bom, né?!


E gostei dessa frase: “Acho que a tristeza conduz à sinceridade”

E, que seu blog faça mais e mais sucesso!!

Amoo vc!!