segunda-feira, 19 de outubro de 2009

PARANGOLÉS DE FOGO

Parangolé de "fogo"

Cosmococa

Final de semana dramático, hein? Bang bang, no Rio de Janeiro, 90% do acervo do artista Hélio Oiticica queimado em incêndio domiciliar, o São Paulo tropeçou no Atlético em pleno Morumbi e, pra finalizar, o Rubinho ainda deixou escapar o título da F1 em casa. Haja Lei de Murphy, pessoal! Alguém, por favor, me dê uma notícia boa, umazinha sequer.

De todas as tragédias que citei acima, a que mais me comoveu foi, sem dúvida, o incêndio que consumiu quase todas as obras do Hélio Oiticica. Não que eu esteja me lixando pra violência no Rio, mas, infelizmente, nós já nos acostumamos a ela, não é? Aliás, houve até quem me acusasse de ser “do contra”, porque fui cauteloso em relação às Olimpíadas de 2016. Viu só? Bem, mas voltando, Hélio Oiticica é um dos artistas mais importantes do nosso país, revolucionário em sua arte, influenciou gerações, o próprio nome “Tropicália” surgiu de uma instalação homônima dele. Foi responsável, assim como Lygia Clark, por nos tirar do gueto nacional. Impossível falar em arte contemporânea brasileira sem citá-lo. Com um histórico desses, que eu apenas pincelei pra não me estender muito, em qualquer lugar do mundo que se valorize arte e cultura, ele seria considerado um patrimônio nacional. Aqui, lamentavelmente, nunca foi cultuado fora do meio acadêmico e artístico, talvez porque ainda persista essa ideia mesquinha de que arte é artigo de luxo, coisa pra rico, elite. Uma pena. E assim vamos perdendo mais um pouco o registro da nossa identidade cultural pós-Colônia.

A primeira vez que tive acesso a informações sobre o trabalho do Hélio foi em 95, numa reportagem da revista VOGUE, assinada pela Márcia Fortes, dona da prestigiada galeria Fortes Vilaça. Naquele momento, o mercado internacional começava a perceber que existia uma arte feita aqui e que não estava ligada diretamente a araras, barquinhos e paisagens tropicais, que dialogava com o que se fazia de mais conceitual no mundo. Os Penetráveis e Parangolés do Hélio sempre fizeram muito sucesso, lá fora, assim como a polêmica série Cosmococa, onde símbolos da cultura pop norte-americana eram contornados com cocaína, uma parceria do artista com Neville de Almeida. Os Parangolés são os meus favoritos, adoro essa ideia de se “vestir” de arte, dela ter sentido, a partir do momento em que você dá vida a ela. Hoje é modinha se falar em interatividade, mas a primeira vez que ele propôs isso foi na década de 60, no auge da ditadura militar. Quer metáfora melhor do que essa, de convidar as pessoas a se mobilizarem? Um visionário. Não é nenhum consolo, mas como sou bem fatalista, jamais me esqueceria de uma das frases mais previsíveis da Clarice Lispector, para este momento: “As coisas acontecem quando devem acontecer”.

A cantora Adriana Calcanhotto, antenada e sofisticada que é, em seu ótimo “Marítimo” já nos ensinava como fazer um Parangolé: “O Parangolé Pamplona a gente mesmo faz / Com um retângulo de pano de uma cor só / E é só dançar / E é só deixar a cor tomar conta do ar”. E, se você é arteiro como eu, faça o seu Parangolé também e dance pra espantar os maus espíritos, as notícias negativas, pra chamar a chuva... Não!, menos pra chamar a chuva. Pelo menos, por aqui, que já choveu demais. E vamos torcer por dias melhores. Obrigado pelos comentários lindos, no post anterior, e também pela audiência do blog que tem sido cada vez maior. Abração e uma ótima semana a todos!

5 comentários:

Anônimo disse...

Realmente é triste saber da perda de obras de arte, principalmente de um pintor que retrata bem a cultura.
Quanto ao incidente do RJ, foi feio, péssima repercursão internacional e a morte dos policiais do helicóptero também.
Adriana Calcanhoto, é fantástica, super culta e ligada as nossa raízes. Outra que me seduz é Ana Carolina.
Seu Blog está muito bom, sempre podemos aprender e questionar.

Abs Fabiano

@JayWaider disse...

Luis,
Ler e comentar no seu blog pra mim é sempre um desafio. Não entendo muito de arte, minha visão é puramente de um leigo que de vez enquando se dá ao luxo de admirar, de contemplar a blz e a sensibilidade e muitas vezes a audácia do artista. Gosto de quem é audacioso no mundo da arte.
Enfim, Nesse post de hj vc foi bem abrangente, acho que estamos precisando de parangolés kkkk se eles surtem tanto efeito kkkk.
Ah e claro eu não poderia deixar de dizer, heheheh vc é bem modesto. Mas Ká Entre Nós, me diga, eu promento não contar pra ninguém kkkk... zuera! Quando é que vc vai fazer uma exposição de seu próprio trabalho?...hehehehe
Grande abraço e o sucesso de seu blog é devido ao seu carisma e talento e vc merece. Caraca... acho que to baba ovo demais por aqui kkkkk
Boa semana.
Jay

Unknown disse...

É uma grande perda já que a expressão deste artísta faz parte das necessárias e múltiplas expressões. Uma obra que desaparece mas tenho a esperança de que cedo esse lugar será ocupado.

Que bom é vir a visitar teu espaço pois sempre existe a segurança de aprender. Obrigado Luis pelo que entregas.

Um abraço para ti meu querido e recorado amigo.
Alex Mendez

Anônimo disse...

Ahhh, eu faço meu Parangolé, e como faço! DANÇAR é tudooo de bom !! ^^ paixão eterna ^^

E sim, infelizmente estamos acostumados com a 'violência'. Valores se invertendo!? oO Ou falta de 'alguma coisa'?


Como sempre, arrasando nos posts ;D
e a consequência sempre será essa: crescimento de acessos e comentários ;D
vc merece ^^

beijos Little Sheep,
amo-te!

Rafael Lopes disse...

Hei, como vai?? quanto tempo poxa.

Sumiu

bom fds pra ti

abraço