domingo, 11 de outubro de 2009

MEU BAUZINHO DE MEMÓRIAS

Não me sortearam o bebê da Caras Baby rs

Em comemoração ao Dia das Crianças, resolvi abrir o meu bauzinho de memórias. Não por acaso, fui atrás das minhas fotos mais remotas e fiquei um bom tempo rememorando momentos preciosos da minha vida. Nem todos sabem, mas nasci e passei a minha primeira infância na Bahia, numa cidade minúscula do interior chamada Brejões, a minha Macondo. Só quem já morou no interior e veio pra cidade grande sabe o quanto é diferente. Existe lá toda uma atmosfera de inocência e generosidade que nos acompanha a vida inteira.

Ensinando como chupar chupeta e sorrir ao mesmo tempo

Pra começar, os anos 80 não foram só excessos e rock in roll, como hoje vemos nesses almanaques coloridos das livrarias, foram anos também ácidos para a política e economia do país, mesmo pós-Diretas, onde havia até os "fiscais do Sarney" (no tempo em que ele era apenas um cordeirinho), alguém lembra? As donas de casa iam ao supermercado pela manhã e compravam a batata por um preço e, à tarde, já estava por outro. Uma loucura. A inflação era galopante. Isso tudo só para ilustrar que, mesmo para uma família de classe média, ter três filhos não era nada fácil. Para completar, na minha casa, os filhos vieram em escadinha: Luis Gustavo, Luciano e eu. Também acho cafona essa história de nomes de filhos com as mesmas iniciais, mas não posso fazer nada, embora até ache o meu bem bonito. Meu pai tinha uma lanchonete famosa na cidade e, aos finais de semana, ainda promovia festas. Cresci assistindo ao Cassino do Chacrinha, vendo meu pai fazer coxinhas ou entre muitas capas de LPs ou fitas cassetes. Tenho um amigo que acha curioso eu gostar tanto dos anos 80, das músicas, revistas, visual, mas vem daí, porque nada marca mais a nossa vida do que a infância.

Pândego

Vivíamos soltos pela cidade como cabritinhos libertos. Depois da escola, íamos correndo pra casa da nossa vó Criza (só essa passagem já me renderia várias crônicas e livros de receitas). Passei ali os melhores anos da minha vida, indiscutivelmente. Minha vó tinha uma barraca na feira (na Bahia, geralmente, as feiras são no sábado e é o acontecimento da semana, assim como a festa da padroeira é o acontecimento do ano). Ramon Cruz, músico baiano talentosíssimo, tem uma música que eu acho linda, “Feijão de Corda”, lá pelas tantas, diz assim: “Sábado dia de feira / Tem feijão de corda / Cê me amarrou”. Às tardes, minha vó costurava numa máquina milenar. Com uma mão auxiliava o tecido e com a outra rodava uma espécie de cilindro. Ficavam espalhados, na mesa, tecidos e botões de todas as cores. Meus olhos faíscavam de felicidade só de estar ali perto. De repente, se fazia um café no fogão à lenha com bolachinhas de goma ou, no verão, se tomava um suco de umbu, tamarindo, manga. No quintal, as galinhas faziam a festa com os milhos colhidos, na roça do meu avô. Eu tinha até a minha, toda preta, a mais feia de todas. Imagina a riqueza de cores, texturas, sabores, sons, causos, expressões... Meu destino já estava traçado ali. Eu iria, de alguma forma, retratar tudo aquilo com a minha arte.


Aos sete anos, já treinava o meu autógrafo rs

Quando comecei a ir à escola, meu passatempo passou a ser o desenho. Comprava com a minha mesadinha canetas idrocor de apenas 6 cores, mais do que isso era uma fortuna (pela hora da morte, como se dizia) e desenhava em papel de embrulho. Um papel tão grosseiro, cinza, nada muito especial. Como engatinhava no desenho, meu pai até pedia para ilustrar os cartazes das festas. No carnaval, fazia máscaras, pierrôs, confetes e serpentinas e, no São João, casais de caipiras, milhos, fogueiras, balões... Quando descobri Guinard, tempos depois, claro, quase chorei de emoção. Ninguém pintaria a minha infância melhor do que ele. Aos onze anos, escrevi o meu primeiro poema inspirado em “Porquinho-da-Índia”, do Manuel Bandeira. Tenho até hoje. Assim como o desenho que fiz, aos sete anos, de uma casinha campestre. Tudo bem, sem gerânios em flor na janela, mas com flores no... teto rs.



Não nasci em berço de ouro, mas nunca faltou amor na minha família, nem boa educação e muito menos algumas palmadas. E detesto saudosismo barato, mas, às vezes, me pego pensando em como os tempos mudaram. Lamentavelmente pra pior. Algumas crianças de hoje mal vem ao mundo e já tem até perfil no Orkut. Se bobear, até tuítam: “Cabei minha papinha, tô indo dumi”. Não precisa ser assim também, né? Aposentaram a amarelinha, o jogo de damas, a brincadeira de médico, o troca-troca? rs Falando sério, ontem vi algo na TV que me incomodou. A filha da modelo Alessandra Ambrósio tem pouco mais de um ano e a mãe já pintou as unhas da menina de vermelho. Juro. Tem até asinhas de Angel. Será que ela já sonha com a filha debutando, na Victoria’s Secret??? Medo. Não quero parecer aqui o defensor da infância perdida, mas existem outros valores mais importantes que precisam ser resgatados, vocês não acham? Não custa muito fazer uma criança feliz. Nunca tive brinquedos, mas nem por isso ficava reclamando, criava os meus com pedras pintadas, bonecos de barro, até um ventilador quebrado já me serviu de cachorro. Isso mesmo. Minha imaginação não conhecia limites. Ainda bem. Meus irmãos me enchiam o saco porque eu vivia desenhando e até inventei, uma vez, que poderíamos ter, ao menos, uma piscina de areia. Virei a gozação da casa, o menino maluquinho. Fazer o quê?, não tínhamos grana, mas tínhamos sonhos e criança que sonha vira adulto criativo. É importante também os pais lerem ou contarem histórias para os seus filhos. O meu só contou uma, aquela da Festa no Céu, mas nunca esqueci. Bem, chega de "saudades da aurora da minha vida", vou comer o meu algodão doce, porque eu também sou filho de Deus. Feliz Dia das Crianças pra nós. Abração!!!

17 comentários:

Paulo Ferba disse...

Capa da Caras Baby. hahahaha

Feliz dia das crianças!

Abraços

Paulo Ferba disse...

Ahh voltei... gostei do novo layout!

Abraços

RICARDO AGUIEIRAS disse...

Lindo texto... eu tenho fascínio por memórias, muitas vezes é o que sobra pra gente ir tocando o barco... por falar em texto, infância, infantil... sinto falta, sabe... muita falta... saber que poderia subir a Consolação, entrar no Communa e assistir... Ei, tem como você me enviar o texto?
Beijos,
Ricardo
aguieiras2002@yahoo.com.br

Hugo de Oliveira disse...

Ótimo texto amigo. A infância é sempre bem lembrada quando se aproxima o dia das crianças...hoje passei o dia lembrando de alguns momentos com minha mãe...é legal.

A nova estrutura do blog ficou legal.



abraços


Hugo
Nosso-Cotidiano

Anônimo disse...

É Fabiano, essas são nossas melhores recordações. Um momento onde somos puros, felizes e que tudo é mágico.

Abs

Rafael Lopes disse...

Ai é muito bom relembrar o passado neh.

Muito bom o post

abraço

feliz dia das crianças

@JayWaider disse...

Caraca Luis,
Adorei o post e te conhecer um pouco mais. Ver esse saudosismo bonito, cheio de verdade e coerência. É, que pena que as crianças de hj não sabem o que é correr desacalço nas ruas, não sei de vc, mas eu me divertia, rua de terra, sem camisa, descalço, e tb tive que inventar meus brinquedos.... nunca me faltou amor tb... os valores de hj estão invertidos as crianças podem até ter tudo, mas estão sendo privadas de serem de fato crianças, têm o supérfluo,mas será que têm aquele amor gostoso e verdadeiro? Serão adultos equilibrados e criativos... não sei. Tenso *__*.
Mas agora... assim caminha a humanidade... Muito bom ver algumas de suas carinhas...
Amigo continua com esse coração bonito e essa cabeça criativa e genial. Quem sabe um dia eu não tenha um autografo seu.
Bju e boa semana

Bokapiu disse...

Belo post, memórias da infância sempre me fascinam!

Feliz dia das crianças!

Abração direto da Bahia.

Anônimo disse...

É verdade Fabiano, pus um poema de Neruda bem complexo, mas farei em sua homenagem um outro dele daqueles meus preferidos também, que bagunçam com a alma da gente.

Obrigado amigo

Unknown disse...

Uma delícia seu post,fiz junto com você um saudoso passeio...lembranças boas de um tempo feliz...amei!!!
Feliz dia das crianças Lucho

Cristiano Contreiras disse...

Sinceramente?

Talvez, aliás: o post mais intenso e definitivo que li sobre 'dia das crianças', até porque é algo extremamente pessoal e a forma como você expressa sua nostalgia íntima, compartilhando conosco aqui, é de tamanha proximidade, Lui.

Magnífico você, sempre e sempre.

Ver as fotos é poder voltar também no tempo, retroceder? é conceber, à memória, vôos intermináveis, acho.

Eu tenho em mim parte dos anos 80, das sensações, das vivências, do cotidiano...dos amigos que vieram e foram, de familiares que não estão mais, dos momentos e músicas, das situações e de tudo que concretizou a melhor fase de minha vida. Sem dúvida. Se pudesse? Viveria numa rotatória e jamais sairia daquela década. Acredite.

abraço!

Ademerson Novais disse...

Muito bom cair num blog assim..ainda mais quando fala da infancia dessa epoca tão boa...e bela....adoro sempre lembrar da minha infancia...bem temos algo bem em comum tb...sou natural da bahia...de uma cidade chamada itapetinga e sempre que posso vou visitar minhas raizes..e me deliciar com as comidas...

Adorei os outros posts tb

Ademerson Novais de Andrade

Ramon Mello disse...

,também gostei do seu blog, felipe. vou linkar no sorriso. curioso quanto seu trabalho de artes plásticas.
abraço, ramones.

Ramon Mello disse...

CORRIGINDO O DESCUIDO:

,também gostei do seu blog, FABIANO. vou linkar no sorriso. curioso quanto seu trabalho de artes plásticas.
abraço, ramones.

Anônimo disse...

que demais saber um pouco da infância do meu Little Sheep! ^^ AMEI!!

Antigamente tudo era mais legal :) Amarelinha, pula corda, pular elástico, vôlei na rua e a rede era um barbante amarrado na casa de dois vizinhos sem eles saberem =x, andar de bicicleta, de patins, patinete, peteca. Telefone sem fio, passa anel, corre cotia, esconde esconde, pega pega, gato mia. Até o castigo quando tinha era divertido, pq não ficávamos sem fazer nada, se brincava com as mãos, fazendo sombra na parede. Tempo bom!


Que bom viajar!!

E algodão doce, eternamente o melhor ;D

AMOOO VC!

Unknown disse...

Ahh, participei desta infância!! hahaha..ta bom, da adolescência né?
Eu concordo plenamente com suas últimas linhas...os pais devem ler para seus filhos. Meus pais nunca leram pra mim, eles não eram adeptos da leitura, mas eu cresci e mudei eles, pq nós também somos responsáveis por nossos pais, nao é mesmo?

Clenio disse...

Recém hoje li este seu texto e confesso que fiquei fascinado. É de uma poesia comovente, palpável, emocionante mesmo. Quase consigo enxergar o que vc descreve, sentir os aromas de que fala... Que bom que vc gosta das lembranças dos anos 80, vamos falar muito sobre isso, ainda.
Queria escrever mais, mas tô no trabalho e me chamam.. hehe

Grande abraço, querido. Parabéns pelo talento.