sábado, 8 de dezembro de 2018

A BELEZA ESTRANHA DE TINTA BRUTA


Está rolando em Amsterdam, nesta semana, o International Queer & Migrant Film Festival, um dos festivais mais interessantes de reflexão sobre a cultura queer, ativismo e migração, o qual tive a honra de participar, no ano passado, com o meu curta “Sábado de Carnaval”, como parte do programa de residência. Lá, conheci muitos jovens diretores do mundo todo, durante uma semana inesquecível! A programação é bastante variada, com debates muito interessantes e tudo coordenado por uma equipe jovem e criativa. Vou citar apenas quatro deles: Chris Belloni, Antoni Karadzoski, Eero Nurmi e Lara Nuberg (pessoas por quem tenho o maior carinho, pelas causas que defendem e pelo modo como nos trataram, no ano passado). 

Tão logo saiu a programação deste ano, fiquei de olho nos filmes e selecionei alguns para assistir, sobretudo os brasileiros (quatro, se não me engano), mas como a minha vida está cheia de sobressaltos emocionais, ultimamente, cogitei a possibilidade de não ir à abertura, com a exibição do filme “Tinta Bruta” (Hard Paint), de Marcio Reolon e Filipi Matzembacher. Por sorte, me obriguei a ir. Estava exausto, física e emocionalmente, mas fui. Cheguei em cima da hora, não tinha mais ingressos, mas houve alguma desistência e consegui o meu. A abertura oficial teve apresentações da equipe e júri e até uma fala para explicar a vitória do #elenão. Desnecessário dizer que, nessa hora, morri de vergonha.

Depois de assistir ao filme, saí da sala bastante emocionado. Vou tentar resumir o que é esse filme, a minha percepção sobre o mesmo e por que, na minha opinião, ele é um divisor de águas, dentro do seguimento de filmes LGBTQI+ nacionais. Em linhas gerais, é a história de Pedro, um jovem que faz performances eróticas na webcam, com o corpo coberto de tinta neon, enquanto a sua vida pessoal está desmoronando: processado criminalmente, pessoas próximas e queridas se afastando, sem dinheiro pra pagar o aluguel do apartamento onde mora, etc. Um filme envolto numa atmosfera de niilismo, de descrença no outro, onde tudo parece dar errado, ambientado numa sociedade voraz por querer encaixar as pessoas em rótulos e padrões. 

Apesar de ser um filme nacional, a linguagem é totalmente europeia e digo isso sem o menor preconceito. Quem assistiu "Beira-Mar", também da dupla, percebe que eles adoram diálogos longos, um ritmo bem lento, paisagens melancólicas e narrativas existencialistas. "Tinta Bruta" não foge muito do que talvez já seja uma linguagem de trabalho deles, mas o roteiro em três atos, focado em três personagens, trouxe uma bossa ali. Os diálogos são bem feitos, com ótimas tiradas, mas o que me chamou atenção, mesmo, foram as cenas de violência: muito bem dirigidas. Chega a dar um certo calafrio, tamanho realismo. As atuações, no geral, são muito boas, com destaque pro ator Shico Menegat (Pedro/GarotoNeon), mas nada tão extraordinário. A fotografia também é bastante bonita e a trilha é excelente.

Imagino que algumas pessoas podem questionar sobre um certo radicalismo, no filme. Bobagem. Tudo se resolve dentro do contexto e o resultado é ótimo, nada gratuito ou exibicionista. As cenas de nu explícito são justificadas e bonitas. E, nesse aspecto, ele não está sozinho também, "Festa da Menina Morta" e "Boi Neon", por exemplo, já se valeram do mesmo artifício. Espero que ninguém deixe de assistir por causa disso.

Mas, fora tudo isso que já escrevi (e não foi pouco), o que mais me surpreendeu, sem dúvida, foi o fato de ser um filme pretensamente queer, para além das questões de gênero e sexualidade, o que, pra mim, é quase inédito entre os filmes desse gênero, no Brasil. Pedro é o que se pode chamar de gay desconstruído, para usar um termo da moda. E as cenas de sexo, que tem motivações diversas, não tem um peso maior que a própria complexidade dele em existir (ou seria resistir?). Um filme totalmente fora da casinha, mas que veio em boa hora. Torço muito para que muitas pessoas possam perceber também a sua beleza, digamos... estranha. 

sábado, 1 de dezembro de 2018

POR QUE BOHEMIAN RHAPSODY É TÃO BOM


Faz alguns dias que estou ensaiando voltar a postar, mas a correria por aqui foi tão grande e alguns momentos tensos de ansiedade me impediram também. Mas tive uma folguinha, hoje, e vim correndo contar um pouquinho o que achei sobre o filme “Bohemian Rhapsody”, mais conhecido como o filme da banda Queen, e sobre a importância do dia de hoje, “Dia Mundial de Combate à AIDS”.

Estava cheio de expectativa, mas com um certo pé atrás também, porque durante o ano assisti a vários filmes musicais ou documentários sobre astros da música e meio que as histórias se repetem, né? Sempre um grande talento batalhando por um lugar ao sol, chega lá, mas depois não suporta as pressões da indústria ou a solidão e se enche de drogas, etc e, quase sempre, morre de forma dramática. Dificilmente, um diretor consegue fugir dessa fórmula e o espectador termina de assistir ao filme, com aquele sentimento de pesar, se indagando: “Mais um? Que tristeza”. 

Bohemian Rhapsody não foge muito a essa regra, mas os diretores (Bryan Singer e Dexter Fletcher) foram tão ousados em não se prenderem tanto aos fatos reais que resultou numa obra muito mais interessante e emocionante. O primeiro destaque, pra mim, é o roteiro (repleto dessas frases de efeito que eu brinco dizendo que o roteirista já escreveu pensando no trailer). Todo centrado na trajetória da banda e não apenas nas tragédias particulares do líder Freddie Mercury. Embora tudo gravite em torno dele, para o bem ou para o mal, não existe a possibilidade de um integrante eclipsar o outro, é a história da banda. Ponto. Por outro lado, não tem como não se render ao talento do ator Rami Malek, que interpreta muito bem o cantor Freddie Mercury. Já apostam nele como candidato ao Oscar e não é exagero. 

Apesar dele ter dito que o trabalho foi baseado muito mais em improvisos e que não houve a intenção de reproduzir com tamanha fidelidade as apresentações da banda, basta ver as apresentações originais para notar a incrível semelhança. Ele conseguiu resgatar o mesmo carisma do cantor, os trejeitos, usar aquela prótese nos dentes que não deve ter sido nada fácil e tudo isso sem parecer caricato. Pra mim, é uma das melhores atuações, em anos! O mérito é tanto do ator quanto da direção, claro, mas sobretudo do bom roteiro. Apostar num Freddie Mercury solitário, fora dos palcos, fisgou o coração das pessoas.

Achei ótimo o filme não focar na homossexualidade e muito menos no calvário que era a descoberta do HIV, naquela época. Isso tudo, invariavelmente, roubaria a atenção para o que, de fato, importa: o talento dele e da banda como um todo. Porém, eu particularmente elegi a cena emocionante do resultado positivo do teste de HIV dele, como uma das minhas favoritas. Exatamente, por sintetizar em apenas alguns segundos, com bastante humanidade, aquela angústia que devorava, sobretudo, os gays. Ele descobre o diagnóstico sem fazer escândalos e ao sair do consultório, num desses corredores gelados de hospital, está sentado um paciente em estágio já avançado da doença. Este paciente o reconhece e balbucia um refrão de uma das músicas do Queen. Freddie Mercury, então, para e completa o refrão, como quem diz “Estamos no mesmo barco”. Simples, tocante, muito provavelmente não aconteceu de fato, mas que serve como exemplo de liberdades poéticas que eles souberam usar muito bem. 

A partir daí, o filme ganha muito em emoção e é impossível não se entregar à história. O reencontro com os outros componentes da banda, depois do rompimento, vem logo em seguida e fecha com o histórico show do Live Aid, em 1985. Resumo da ópera: é um filme excelente, nostálgico, emocionante, pra quem curte rock ou não. A crítica e o público aclamaram, com toda razão. E é, óbvio, que vale também como reflexão para o dia de hoje, que se comemora o dia mundial de combate à AIDS. Não podemos esquecer que ainda não vencemos à batalha e que é importante se cuidar. Mas sobretudo dar um basta ao preconceito e acolher aqueles que vivem com HIV. Artistas com HIV, felizmente, não agonizam mais em praça pública e isso já é um grande alívio! 

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

AS ESTATÍSTICAS...


Pensei algumas vezes se deveria escrever este post ou não, mas terminei me convencendo de que seria importante. Na semana passada, lancei no canal da minha pequena produtora de cinema independente Mar de Ideias, no You Tube, o curta-metragem “A Prateleira” e, embora a recepção, de modo geral, tenha sido muito boa, vieram algumas críticas negativas também. Normal para quem está nesse meio, mas talvez seja o momento de lavar essa roupa suja, aqui mesmo.

O curta está BEM AQUI, ou abaixo do post. “A Prateleira” é o meu quarto curta-metragem e conta a história de um rapaz que está sozinho em casa e o cunhado pede para ele colocar uma prateleira, no quarto da filha. Bom, nesta hora, algo inesperado acontece. O filme trata de um tema bastante sério e delicado: estupro. Segundo dados recentes, a cada 11 minutos, uma mulher é estuprada no Brasil. Só 10% desses casos chegam a polícia. Não dá pra ignorar isso, não é mesmo? 

Ao optarmos por uma linguagem que fugisse de filmes institucionais fofos, porque acreditamos que a garotada precisa, sim!, de um choque de realidade, desagradamos algumas pessoas e fomos criticados, até mesmo por pessoas da nossa equipe e que participaram de todo o processo do filme. Quanto a isso, apenas lamento. Em nossa defesa, posso dizer que, em momento algum, erotizamos a cena do estupro, aliás, essa foi a nossa maior preocupação. E, se não fomos didáticos o suficiente, é porque acreditamos num cinema que não subestima a inteligência das pessoas. 

Nessas críticas, me chamaram atenção o tom conservador e eu diria até falso moralista, de algumas pessoas. Mas os sinais já estavam bem claros, há algum tempo, também. Exposição queer ganhando noticiários sob o “horror” de uma parcela hipócrita da sociedade que consegue admirar “A Origem do Mundo”, em Paris, mas não tolera ver uma obra chamada “Criança Viada”, no Brasil. E tantos outros retrocessos, sem o menor sentido e que farão cada dez mais parte desse novo momento, “Brasil, ame-o ou deixe-o”. “Deveríamos nos precipitar de vez nas águas”, como disse Drummond, mas vamos seguir em frente. 

Só voltando um pouco ao tema assédio e abusos sexuais, que nortearam a existência do nosso curta, cabe aqui registrar uma cena ridícula protagonizada pelo Silvio Santos, no final de semana passado, durante o Teleton. Vocês já devem ter assistido ao vídeo. De forma grosseira e deselegante, ele recusou um abraço da cantora Claudia Leitte, alegando que ela o deixaria excitado. Pior, com a esposa e uma das  filhas, na plateia. Rindo de nervoso. Sei que muitos vão achar exagero veicular esse episódio lamentável a um texto que começou falando de estupro. Não é. Esse tipo de pensamento machista e vergonhoso, disfarçado de brincadeira, constrange as mulheres. Não é nada engraçado e encoraja outros machistas. 

E o mais absurdo é que estamos assistindo a tudo isso, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Frases como “Você não merece ser estuprada porque é feia”, lembram disso?, “Vou te quebrar ao meio”, “Não vou te abraçar porque você vai me deixar excitado”, são só alguns exemplos. E por mais que se tente alertar as pessoas, como é o nosso caso, ainda podemos ouvir: “ah, tudo agora é tão politicamente incorreto”. Enquanto isso, as estatísticas... 

terça-feira, 6 de novembro de 2018

UM PIANO CHAMADO "NASCE UMA ESTRELA"



Sim! Estou de volta. Foram dez anos de blog (como o tempo voa!) e ele já estava meio esquecido, né? Pretendo postar com mais frequência, por aqui, até porque estou numa nova fase da minha vida e escrever sempre foi, entre outras coisas, passar a minha vida a limpo, me reconectar comigo mesmo. Então, vamos lá. Se vão ler ou não, é uma outra história. O que importa mesmo é que o prazer de escrever venceu!

E esse retorno traz, de cara, as minhas impressões sobre um filme que acabei de assistir e que ainda está dando o que falar: A Star is Born (Nasce Uma Estrela), com a Lady Gaga no papel principal e o Bradley Cooper dirigindo e atuando. O filme é um carrossel de emoções, nem sempre muito bem conduzido, mas vou tentar resumir o que eu acho que vale a pena e o que não é tão bom, assim. Mas, claro, isso jamais deve tirar o prazer de vocês de conferirem, ok?

Pra começar, não sou o maior fã de musicais. Mesmo! Mas sendo fã de carteirinha da Lady Gaga e pipocando críticas excelentes sobre o filme, não tinha como escapar. O filme é um remake (o primeiro, se não me engano, é de 1937) e mostra a ascensão de uma compositora insegura, meio desengonçada, chamada Ally (Lady Gaga), enquanto o cantor já consagrado, por quem ela se apaixona, Jackson Maine (Bradley Cooper), se afunda no álcool. Dito assim, parece o maior dos clichês. E é. Mas alguém um dia já disse também que clichês só existem porque funcionam, né? Eu acredito muito nisso.

Vou logo avisando, o roteiro é o grande problema do filme. Fraquíssimo. Enquanto os números musicais, especialmente com a Lady Gaga, são emocionantes e poderosos, falta à história de amor dos personagens alguma coisa, química?, talvez. Claro que a Lady Gaga era o grande trunfo e ao mesmo tempo o grande problema da produção. Como convencer as pessoas de que a Lady Gaga não era a Lady Gaga, né? E eles tentaram. E durante boa parte do filme até conseguiram. Ela aparece mais cheinha, o cabelo natural, pouca maquiagem... O visual causa um certo impacto, pra ser bem sincero, mas a personagem não tem carisma. Canta maravilhosamente bem, mas não tem aquilo que é fundamental para uma estrela. Por causa disso, o filme se arrasta.

Por outro lado, embora o roteiro contenha falhas imperdoáveis, gostei bastante do argumento. Não vi ninguém ressaltando isso, mas é nítido que o filme tem um viés feminista importante e eu diria até marqueteiro, depois de todas aquelas denúncias de assédio na indústria do entretenimento, nos Estados Unidos, com o #metoo, etc. Isso se dá da seguinte maneira: quando Ally começa a ganhar status de pop star, Jack se sente diminuído e a humilha, por pura inveja. É apenas, neste tímido embate, que encontramos as melhores cenas do filme. O resto não contribui muito para a evolução do mesmo. Uma pena.

Vou além. O maior buraco é a falta de motivação dos personagens. Jack passa o filme inteiro, por exemplo, com a cabeça baixa. Chega a dar aflição! Mas não é exatamente esse o problema. Apesar do gestual repetitivo, me interessa mesmo saber de onde vem aquele comportamento autodestrutivo. Não fica claro. Outra coisa, Ally não conseguiu decolar, antes, por que tinha apenas “um nariz grande”? Oi??? No mínimo, poderia ter sido ignorada num desses programas tipo American Idol e depois fazer um comeback glorioso, com a ajuda do amado. Seria muito mais convincente, não é mesmo?

Mas a parte boa é que não faltam ótimas canções que distraem o espectador mais atento dos muitos deslizes do filme. Eu mesmo, já estou providenciando a minha trilha. Mas quem espera uma produção à altura do capricho dos trabalhos da cantora, pode se frustrar um pouquinho. No conjunto da obra, soa apressado e se resume numa frase inspirada no próprio filme: Nasce Uma Estrela é o piano nas costas, carregado (felizmente) pela Lady Gaga.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

+ PRÓXIMOS (WEBSÉRIE LGBT+)




Oi pessoal,

Passando por aqui para convidar...

Bom, antes disso, quero primeiro explicar o meu sumiço daqui. Tenho um carinho enorme por esse espaço, aqui registrei os dias mais trágicos (eu exagerando ahah) e os mais bacanas da minha vida também. Comecei com o “Mundo Imaginário”, acho que muita gente se lembra dessa fase, depois fui mudando até chegar ao “Blog do Luis Fabiano”, onde registrei meus dias de uma forma mais leve, meio inocente, com muita literatura, experimentei também, às vezes postava crônicas, contos, enfim, o blog me acompanhou em várias fases, mas a minha saída do Brasil em 2011 coincidiu com um novo momento da minha vida, onde não cabia tanto escrever como eu escrevia. Sim, cada post era feito nos mínimos detalhes, eu cuidava desse espaço como quem cuida de um jardim. E morando na Holanda eu já não tinha mais tempo, a cultura aqui é muito diferente, muito embora sempre vi e acompanhei muitas coisas do Brasil, mas meu ritmo é outro, eu estava envelhecendo também, precisava procurar novas distrações, etc. Mas o que realmente me fez parar de postar aqui foi a morte do meu grande amigo Callebe, em 2013. Nós que nos conhecemos na internet, ele tinha também o blog dele no Blogspot, o fotolog (sim sou velho), Orkut, etc. De uma hora pra outra, soubemos que ele tinha sido internado e semanas depois faleceu. Nunca me recuperei dessa ausência e achei que este espaço me lembrava muito ele e então parei mesmo de postar.

Quando comecei a fazer curtas-metragens, em 2011, também registrei aqui esse começo, mas depois não voltei pra atualizar minha caminhada no audiovisual e ainda me mudei, abri um blog no meu site www.luisfabianoteixeira.com. De lá pra cá, meu amigo Tiago Cardoso e eu montamos uma produtora de cinema, pequena pra começar, a Mar de Ideias Conteúdo Cultural, onde fazemos nossos filmes, fomos pra vários festivais, fomos premiados no Brasil e fora dele também, estamos no nosso filho de número 7 e por isso achei que voltar aqui fazia todo sentido, afinal, o protagonista da nossa websérie + Próximos, esta que estou promovendo agora, escreve num blog e essa memória veio exatamente daqui, de quando eu escrevia para este blog.

+ Próximos é uma websérie de ficção, de 5 episódios (aproximadamente 6 minutos cada), produzida e dirigida por mim e pelo Tiago, e estará disponível no YouTube, a partir do dia 01/12 (Dia mundial de combate à AIDS).

Daniel (Lucas Onofre) e Antônio (Renato Almeida) se amam, mas a condição do primeiro, que é soropositivo, coloca em xeque o futuro da relação. Entre os dois está Karina, melhor amiga de Daniel e também amiga de Antônio.

Tudo é abordado de forma respeitosa e direta, misturando suspense, drama, romance e uma pitada de comédia. E, claro, uma contrapartida social também: uso de camisinha, teste de hiv e relacionamento entre casais sorodiferentes. Aliás, uma das preocupações do roteirista era não escrever diálogos que evocassem culpa ou algum tipo de julgamento dos personagens.


Ao invés de ficar escrevendo e escrevendo, convido vocês para conhecer o nosso canal do Youtube/produtoramardeideias e ter um gostinho do nosso trabalho que estreia no dia 1/12. Depois, por favor, me digam o que acharam. Eu não sei se a maioria, aqui, continua com os seus blogs, provavelmente não, mas ficaria muito feliz, se alguém me dissesse que me conheceu naquela época, entre 2007 e 2011. 

O nosso trailer está aqui embaixo. Quem puder ajudar a divulgar eu agradeço muito, afinal este é um projeto coletivo, com uma causa superbacana e estou cada vez mais empolgado em propagar uma nova forma de ativismo que é usar a internet pra fazer o bem. Estou fazendo a minha parte e espero que você também faça a sua. Um mundo melhor só depende de nossas atitudes, não é mesmo? Abração e até a próxima!


segunda-feira, 27 de março de 2017

SOB O SIGNO DE ÁRIES









Olá
Como vocês já devem ter percebido, já estão aqui alguns trabalhos novos da série Sereiou. Um mês intenso de trabalho, mas que me deixou muito feliz com o resultado obtido, aliás, em tudo, absolutamente tudo que fiz e pensei e cantei e refiz. Foram dias incansáveis, tendo que abrir mão de muitas coisas, mas não me queixo e sim celebro tudo isso (ariano, então já viu). Até os quadros que não se realizaram como planejei, tiveram seu destaque, afinal como já nos ensinou Clarice Lispector, "não sabemos qual defeito sustenta o nosso prédio inteiro", não é mores? Cabe aqui uma observação importante. Muitos artistas passam anos e anos numa luta inglória, em busca de um estilo, uma linguagem, uma marca que os diferencie dos demais artistas, nesse vasto mar de galerias, bienais, muros e afins, desse mundo de meu Deus. O meu estilo, essa colagem "barroca" que eles chamam por aqui, tal minha paixão por imagens carregadas e floreadas, com um toque de rebeldia, pois bem, isso se deve a tentativa e, principalmente, aos erros! Assumo. Só quando resolvi me libertar da colagem clássica e misturar tinta acrílica e spray e cobrir as imagens com muitas e muitas camadas é que, realmente, encontrei o meu caminho. Flerto com todas as outras formas, surrealista, cubista, geométrica, mas a minha paixão é pelo que chamo de "samba do crioulo doido visual". Tem muito a ver com o meu DNA mutante e é por isso que gosto cada vez mais dessas novas colagens. Entra aqui outro aspecto importante da arte e que muitas pessoas desprezam ou se confunde com exibicionismo: a observação. Sou absolutamente obsessivo, quando se trata de um trabalho. Fico horas naquela batalha que é deixá-la no ponto em que meus olhos fatigados apenas me dizem: é isso! CHEGA! Então, se um dia me pedirem algum conselho, nesse sentido, apenas direi: sente-se em frente a sua tela e observe. Observe muito. Um duelo, mesmo. Faço isso e quase sempre saio vencedor. Quero dizer, fico satisfeito.
Esses trabalhos novos foram produzidos em pleno inferno astral e tenho também que agradecer aos astros por tanta energia boa! Saturno foi bem amigo, minha gente! Tudo alinhado para que eu não pirasse, porque sou desses cujas pequenas coisas negativas tem o poder de me colocar pra baixo. Daí entra em cena satanÁries, com ajuda de Marte, e me dá um soco na cara e me coloca de pé em dois segundos. Temos essa vantagem, desculpa rs. Provocações à parte, só para vocês terem uma noção: roubaram a minha bike, a minha querida e inesquecível Beatriz, companheira fiel há 3 anos, ouvi o não de uma galeria que já expus aqui, quase perdi minha luva favorita e outras coisas tristes que não vale nem a pena citar, mas, mesmo assim, continuei firme e forte. Num dia desses, estava tão melancólico, tão borocoxô, que isso até se refletiu num quadro que chamei de "Sereia com balão e uma rosa". Esse quadro sou eu! Aquela melancolia que inspira compaixão, aquele cinza inquieto em volta e aqueles olhos muito infantis, para dizer que ainda sonha. E não falta afeto também, o balão tremulando num céu de incertezas e "eu" firme, lá, sentado com a minha rosa, com o meu coração em azul. Cheio de gratidão e afeto. Bom, agora está tudo muito mais calmo, meu aniversário já passou, já descansei um pouco (em parte), já enchi o saco do Tiago mil vezes, então só tenho uma dúvida: será que os próximos meses serão sempre assim? Ou porque é primavera lá fora, será primavera também em mim? Volto pra contar. Até mais!

terça-feira, 21 de março de 2017

VACA PROFANA



Olá

Acho que eu nunca dividi isso com vocês. Como se dá o processo de criar uma série de colagens, como escolho o tema, o que me inspira e, principalmente, o que me motiva a fazer isso, afinal não vivo exclusivamente de arte e muitas vezes sou até cobrado por isso. Bom, não sou um Vik Muniz, mas me orgulho muito do que faço e tenho vendido alguns bons trabalhos por aqui, embora nem sempre com a frequência que gostaria. O assunto de hoje é sobre um movimento (artístico e cultural) que me influenciou muito esteticamente, desde que comecei a pintar (profissionalmente), em 2009: a Tropicália. Não, isso não é  papo pra impressionar leitor, eu realmente gosto e posso dizer que neste momento a influência desse movimento que surgiu, no final dos 60, faz todo sentido pra mim. O que me fascina no Tropicalismo é justamente o fato de ser uma mistura improvável, de tomar pra si ou dialogar com, desde artes plásticas (o próprio nome veio de uma instalação do Hélio Oiticica e a música Lindonéia é inspirada num quadro do Rubens Gerchman), passando por músicas bem populares (tipo rádio AM, mesmo), e acrescente ainda rumba cubana e coisas mais sofisticadas também. Tudo é permitido. É proibido proibir, literalmente. Não tem aquele radicalismo que o Modernismo tinha, por exemplo. Abominava arte acadêmica. E pra mim isso tudo é a cara do Brasil: o antigo e o novo e o popularesco, o pitoresco, o kitsch, o pop, as cores, as texturas, as frutas na feira... E é a cara do que eu faço também. Colagens barrocas (como chamam aqui), mas jamais me prendo a isso e estou sempre aberto a novidades.
De onde vem o meu gosto pela Tropicália? Senta que lá vem história... Meu pai promovia festas como uma atividade paralela, na Bahia, numa cidade bem pequena chamada Brejões, onde passei a minha primeira infância, então cresci cercado de capas de discos e imagens de artistas populares dos anos 80. A minha primeira lembrança de uma imagem dessas e que realmente me impressionou foi a capa de Gal Profana. Uma Gal Costa selvagem, vamp, retocando o batom vermelho sangue, de cara para o público. Puro poder! É engraçado como essas coisas ficam pra sempre. O meu pai sempre foi muito fã do Caetano Veloso, mas eu só vim saber o que foi, realmente, a Tropicália como movimento, quando Caetano e Gil lançaram o Tropicália 2, nos anos 90. Teve um show em São Paulo, com transmissão pela TV (TV Cultura talvez) e o meu querido pai me explicou o que significou a música dos dois, na juventude dele. De lá pra cá fui colecionando informações, assistindo a documentários e terminei lendo Verdade Tropical, do Caetano, em 2008 (recomendo de tão bom). O disco Tropicália está inteirinho no meu ipod e a cada nova execução descubro novas leituras, fico pirando tentando imaginar o que cada letra queria dizer, as metáforas todas, enfim, é definitivamente uma inspiração pro resto da vida. Todo esse trelêlê é só pra dizer que músicas me inspiram muito na hora de fazer arte e dessa vez não foi diferente, mas escolhi uma outra música do Ceatano que eu adoro e considero emblemática para falar de minhas mulheres fortes: Vaca Profana. Dia desses, coloquei a música no YouTube e, enquanto Gal era sublime na sua interpretação (atemporal, thanks God), eu me sentava na varanda de casa e me deliciava com aquele som e criava a minha versão visual dessa música e vibrava com o verso: "De perto ninguém é normal". Saiu um quadro lindo (modéstia à parte), uma mulher gravidíssima de divinas tetas, com uma cabeleira a la Clara Nunes, jorrando leite bom e que deu o tom do discurso de todos os outros. Bom, nada normal, é bem verdade. Pra afrontar a família tradicional brasileira, como brincou um amigo rs. Porque devoto a loucura, mesmo! E foram anos pra me libertar e me render ao diferente. E que me faz tanto bem. Que assim seja. Até a próxima!