sexta-feira, 29 de julho de 2011

GOODBYE, AMY

Queria evitar o lugar-comum do pedido de desculpas pela demora em postar no blog, mas não tem jeito, estou passando por um momento cheio de altos e baixos e vir simplesmente escrever não é muito a minha cara, sem contar que na última semana houve um casamento na minha família e só isso foi suficiente para me fazer desligar do mundo, por conta de pequenas tarefas que me vi obrigado a assumir. Mas, por favor, aceitem as minhas sinceras desculpas, de novo. Em breve, devo estar em viagem e prometo escrever de lá contando as novidades. Como não consegui postar nada no momento da morte da cantora Amy Winehouse, o faço agora, mas não como uma forma de tributo, apenas como uma homenagem simples, um registro da perda de um grande talento e também procurando refletir sobre algumas coisas que me chamaram atenção, a partir da sua morte.

Soube da notícia pelo meu amigo Tiago Cardoso, enquanto recebia visitas em minha casa. Claro que a minha primeira reação foi: “Não é novidade nenhuma, ela já estava ‘planejando’ fazer isso, há muito tempo”. Depois fui tomado por uma tristeza estranha e até uma sensação de impotência: “Por que não fizemos nada, antes?” – pensei. Me lembrei também de que a Amy era sempre um assunto recorrente em minhas conversas com o ator e diretor de teatro Alexandre Acquiste, no MSN. Ora brincávamos com a sua porralouquice e ora nos lamentávamos por ver seu talento sendo tragado pelo uso abusivo de drogas. Num dos intervalos das filmagens do meu novo curta-metragem, “De Corpo e Arte”, paramos também para falar sobre um daqueles episódios deprimentes no qual a cantora sempre se envolvia – se não me engano, a fatídica e última vaia num show na Sérvia. Chegamos à conclusão de que ela estava num processo de suicídio público e a atriz Maria Dias até brincou que tinha vontade de escrever para ela dizendo: “Amy, olha o talento que você tem, deixa eu ser sua amiga, hoje eu passei o dia inteiro ouvindo o seu CD, deixa eu te ajudar!”. Achei linda a demonstração de carinho da Maria.

Na ânsia de buscar uma resposta para a morte dela, a mídia foi unânime em abordar a sua relação íntima com as drogas e a infeliz coincidência com outras perdas memoráveis, aos 27 anos, nas mesmas circunstâncias. Achei bacana o alerta, mas, particularmente, não acredito que ninguém saia se entupindo de drogas – e no caso da Amy de drogas pesadas – por conta de modismos ou simplesmente para fazer um gênero, para ter a sensação de que se pode ir do céu ao inferno, num piscar de olhos. Ficaram devendo essa resposta, se é que ela realmente existe. E, por outro lado, falando agora como fã, ninguém ouvia as músicas dela por que ela era drogada, mas, sim, porque era uma grande cantora, com uma voz excepcional. A impressão que eu tenho é que essas pessoas, apesar do imenso talento, tem um grande vazio dentro de si e que momentaneamente é preenchido pela vaidade, quando a mídia e os fãs as consideram verdadeiros semideuses. Não podemos esquecer que nós é que as colocamos nessas gaiolas de ouro, porque fomos educados só para o aplauso e não para a queda. Quando Elvis Presley começou a engordar, nos anos 70, por exemplo, minha mãe me disse que as pessoas ficaram chocadas. Sempre questionando a forma física dele e muito raramente sobre seus problemas com álcool e drogas. Tudo bem que a mídia não tinha o alcance que tem hoje.

Não acredito muito nessa história de que a Amy quis morrer para se tornar um mito ou coisa parecida. Quando li, meses antes de sua morte, que ela estava preparando um novo disco e que não aceitava que ele fosse inferior ao seu maior sucesso, Back to Black, pra mim isso já foi um pedido de socorro. Hoje ouvimos tantas coisas ruins, em todos os lugares, que os bons artistas não toleram mais erros, equívocos e a cobrança sobre eles é cada vez maior. Ser artista não é nada fácil, fazer parte desse meio é fascinante e ao mesmo tempo muito cruel. Digo isso por estar apenas começando e sentir na pele inúmeras cobranças, mas isso não vem ao caso. Quem não assistiu ao brilhante “Crepúsculo dos Deuses”, de Billy Wilder, deveria assistir, porque esse filme traduz muito bem o quanto os artistas se tornam prisioneiros de suas próprias glórias. É imperdível! Não quero me estender muito, mas só para terminar, ontem mesmo a psicanalista Eleonora Rosset falou uma coisa muito interessante, na TV, quando perguntada sobre o que a tem chamado atenção ultimamente: “As pessoas estão querendo ser felizes com muita urgência” – ela disse quase que automaticamente. Não deu outra, abri há pouco o meu e-mail e lá estava uma mensagem de um amigo aqui da cidade: “Perdemos a Amy, mas temos agora a Adele, ouça esta música...”. Eu, sinceramente, achei assustador esse desejo de substituição. Será que não está na hora de repensarmos essa voracidade por novas emoções? Não dá pra parar um pouquinho, sem que o mundo nos devore? Por que fama e dinheiro tem que ser mais importante que formas mais simples de realização? Bem, temos muito a refletir, então vou me despedindo com essa notinha de tristeza. Espero que a Amy descanse em paz e que a minha e as futuras gerações não tenham que ver apenas o desabrochar de um grande talento, que elas possam até terem tempo para compreender o seu declínio. Abração!

3 comentários:

Angélica Oliveira disse...

Pois é...fiquei sabendo da notícia pelo twitter. Pensei que era brincadeira, esperei que fosse brincadeira, rezei por uma brincadeira de mau gosto. Alô Amin Khader e David Brazil!
Mas infelizmente era verdade. Fiquei triste. Todos esperávamos por isso, e mesmo assim quando aconteceu, chocou. Fiquei com raiva dos pais dela, do irmao, dos amigos, do namorado, do ex namorado. Menos dela. Fiquei triste pois a última vez que ela subiu no palco, para cantar, foi vaiada. Depois fiquei mais tranquila ao ver que ela subiu no palco uma vez mais, dois dias antes de falecer, no show da sua afilhada Dione Bromfield, ela nao cantou, apenas dançou e foi muito aplaudida. Bela despedida.
Foi uma perda enorme, um talento enorme, uma alma enorme.
Dava para sentir a dor dela de longe...
Fiquei e estou muito triste. Adorava aquela louca!
Bom ver você por aqui postando!! Quero te ver no MSN, preciso te explicar umas coisas! Beijos

Tiago Cardoso disse...

Eu imagino que quando você é um artista e consegue uma "fama", de repente é como se você tivesse alcançado o sonho e depois disso que é o problema. Depois que vc realizou o sonho oq acontece? E agora pra onde vou, o que mais sonhar? No caso deles o sonho acaba se tornando pesadelo incondicionalmente. Uma coisa é você fazer algo por que você gosta e acredita e outra é você ser forçado a fazê-lo por causa de pessoas que te amam, que vc ama e outras que você nem conhece mas vc sabe que precisam de você... Você deixa de viver sua vida pra viver uma vida coletiva. Enfim, é só uma reflexão. Mas pensando assim, pode-se tentar entender o porque querer ficar fora do ar... Na nossa realidade, longe da fama, existem outros motivos. Mas existem, e no final a gente precisa ser forte pra enfrentar tudo isso e só os mais fortes sobrevivem...

Fico por aki, no Brasil, na ilha de santo amaro, aguardando seus posts direto da sua viagem!

um enorme abraço meu amigo!

GilsonBicudo disse...

Luis,
Belo post.
Também achei que com a morte dela o mundo musical ficou mais pobre. Mas, pra variar, vou remar um pouco contra a maré:

No meio de tantos artistas “prêt-à-porter”, criados em laboratório pela mídia, ela se destacava como algo original e com conteúdo musical de verdade. Porém, com somente um grande álbum muito bem feito não dá pra equipará-la a Janis Joplin, Jimmi Hendrix, etc. Para isso, ela ainda precisaria do que não teve: mais caminho na estrada.

A questão das drogas merece um post seu só pra ela. De forma bem simplista: é foda porque é bom. Se droga fosse ruim aos sentidos, ninguém usava. Quase todos os “grandes” usam ou já usaram, mas nem todos se acabaram com ela. Aretha Franklin está aí pra dar o exemplo, entre outros. Se acabar nas drogas não é necessariamente pré-requisito de gênio artístico.

Fiquei muito chocado com uma entrevista que vi há uns anos atrás onde o pai da Amy banalizava a questão e dizia que ele mesmo comprava drogas pra ela. Pasme.

Não dá pra culpar as drogas, mas Amy era muito anti-profissional e tinha uma postura de desdém para com seus fãs. Janis e Hendrix, mesmo dopados até as tampas, subiam ao palco e faziam o serviço. E tinham um respeito enorme, mesmo carinho, para a legião de fãs que os assediava.

Apesar da montanha de dinheiro que ela ganhou em tão pouco tempo, não se sabe de seu envolvimento em qualquer ação filantrópica, algo mais altruísta. Enfim, estava presa em seu próprio ego e vivia para satisfazê-lo.

Se olharmos na nossa roda de amigos, na nossa vizinhança e na nossa cidade, vamos certamente achar pessoas angustiadas, com necessidade de algum tipo de ajuda. Jamais poderíamos ajudar a Amy, mas essas pessoas estão ao nosso alcance. Basta uma ação.

Brilhante a lembrança que sua mãe teve sobre Elvis. Somos cruéis com os ídolos, como eu fui nesse post, mas .....
..... Elvis não morreu!! (rs....rs...rs...)

Abs,
GB