terça-feira, 18 de maio de 2010

PELOS ARES




Final de semana de Virada Cultural em São Paulo. Vi tantas coisas e me emocionei tantas vezes que vou ter que dividir o post em duas partes, a primeira dedicada à Virada e a segunda à peça Simplesmente Eu, Clarice Lispector. Fazia um bom tempo que eu não participava do evento, a última que fui também não me inspirou muito, mas dessa vez foi diferente. Saí de casa um pouco tarde e fui direto pra Paulista. A primeira parada foi na Casa das Rosas, depois percorri toda a avenida, sempre em busca de alguma novidade que me devolvesse o ânimo, que desanuviasse a minha testa. Sim, porque havia me programado de fazer tudo isso com a minha amiga Fernanda e ela, lamentavelmente, adoeceu. Nesse meio tempo, a única coisa que realmente me encheu os olhos foi a nova edição da revista WAD, que folheei cuidadosamente na FENAC e que na minha opinião é, sem dúvida, uma das melhores do gênero: o conceito coletivo, o tom provocante, o fato de ser sempre bem humorada, as fotografias incríveis, enfim, faz realmente jus ao nome We Are Different. Pena que esses títulos internacionais só cheguem pra nós a preços tão exorbitantes, mas só de dar uma olhadinha já foi bacana.

Segui caminhando, meio sem rumo, conversando o tempo todo comigo mesmo e desci a Consolação à espera de “um choque um pouco inesperado”. E não é que ele aconteceu? Não me refiro ao encontro dos nerds e fãs de animês, na Praça Roosvelt, porque não vi a menor graça nisso, mas ao fantástico Grupo Ares que fazia uma performance incrível, na fachada do antigo prédio da Light, próximo ao Viaduto do Chá, no Centro. Fiz dois videozinhos, espero que vocês curtam. De repente, comecei a ouvir aquele som gostoso, cool, produzido por um trio aparentemente maluco, colorido, cercado por uma modesta e animada concentração de pessoas, mas imaginei que fossem apenas músicos engraçadinhos e estrangeiros. Sei lá, islandeses, por exemplo. Até aí nem tinha me dado conta do que se passava lá em cima, na fachada do prédio. Como se todos olhassem também para o alto, fiz o mesmo e logo descobri a outra metade do Grupo suspensa, se preparando para executar uma coreografia inusitada, diferente de tudo que já vi em termos de dança contemporânea. Fui instantaneamente arrebatado. Para vocês terem uma ideia, num determinado momento, eles atiravam pétalas de rosas brancas. O público foi ao delírio.

Dito assim, de forma tão apaixonada, parece que fiquei deslumbrado, que esqueço que essas coisas já existem aos montes por aí, que a Déborah Colker ou o Grupo Corpo fazem espetáculos melhores, mais sofisticados, etc. Ou que o Grupo Ares bebeu até cair na fonte do Cirque du Soleil. A questão não é essa, mas a revelação do desconhecido, a emoção genuína diante de algo inédito, inédito não para o mundo, mas para mim. O engraçado é que, quando me emociono de forma tão espontânea, como aconteceu no domingo, posso ter um comportamento bastante infantil ou me encher de esperança. Não me espantará se alguém relatar por aí que me viu rindo à toa, tentando se aproximar do Grupo, depois da apresentação, como quem quer roubar para si um pouco de felicidade também. Fiz tudo isso e não me arrependo. E quando gosto muito de algo, divulgo. Guardem então essa dica.


E foi com muito pesar que recebi, no sábado pela manhã, a notícia da morte do querido Toninho Dantas, uma das figuras mais importantes ligadas à arte e à cultura da Baixada Santista. No final do ano passado, ele me convidou para prestar uma homenagem ao dramaturgo Plínio Marcos com um quadro meu. Não só fiz o quadro como ainda o presenteei com um outro da Pagu. Ele me deixou um depoimento muito carinhoso no Orkut me agradecendo e revelando que a revolucionária Pagu seria a homenageada do próximo Curta Santos, que estava feliz com a coincidência. Que ele descanse em paz agora e que as sementes que espalhou entre nós possam dar continuidade ao seu belo trabalho. Depois de uma nota de tristeza como essas, um pouco de alegria, porque ninguém é de ferro. Conheci no Centro Cultural Banco do Brasil, por pura coincidência, o Eduardo Araújo, do blog Revide. O rapaz está sempre cheio de ideias, projetos, textos, fotografa os amigos o tempo todo, enfim, criatividade não lhe falta. E pra terminar, a Andrea Pagano me propôs escrever 6 coisas que ainda não falei sobre mim aqui no Blog. Vou fazer um resumão, tá? 1)Adoro suco de maracujá. 2)Evito filmes de terror. 3)Sou adepto à meia luz para momentos mais íntimos. 4)Sei cozinhar muito bem. 5)Ainda escrevo cartas. 6)A palavra que eu mais gosto é liberdade. Bem, vou nessa. Abração e ótima semana a todos!!!

16 comentários:

Madame Mim disse...

Ahhhh, amei!!!
Que chique eu me senti, por dois motivos:
Um, apesar de não conhece-lo pessoalmente, a impressão que tenho que vc é um "lord", educado e extremamente culto. Depois, por eu sou apaixonada pela Virada Cultural e vc me colocou ai no meio ...estou me sentindo a tal duplamente falando!!! rsrsr
Este ano não pudemos ir à SP, pois minha bb é muito novinha e aí não queríamos perdi favor, etc ...deixamos para lá...
Perguntei aqui em Campinas, no Sesc, se não teria nada mesmo, (pois já fizemos parte, como expectadores, de uma maratona de filmes nacionais com direito a café da manhã, na ultima Virada aqui em Campinas/Sesc) e ai uma pessoa me disse que parece que algo tem haver com a política, que o projeto é do PSDB e aqui é PT e por isso não acontece mais ...
Não sei se é isso, mas uma pena, acho que Campinas tem pouquíssimo investimento nesta área...um pouco de coisa boa que aparece, não é divulgado...Por isso sempre que posso dou uma escapada para SP.
Mas pude sonhar um pouco com seu post..ah que bacana..sei exatamente que sentiu...aquele brilho nos olhos...aquela tensão de uma criança maravilhada com tudo..
Obrigada pela menção, estou muito feliz!!!
Bjs

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Este ano eu perdi ... uma pena ... mas me sinto reconfortado com esta resenha magnífica ... obrigado queridão ...

bjux

;-)

Edilson Cravo disse...

Querido Luis:

Uma das coisas que mais sinto falta em nâo morar mais no Rio é esta efervescência cultural das grandes cidades.Hoje vivo em uma cidade pequena, do interior paulista e nem sempre é viável ir a sampa, mas acho superbacana alguém postar um texto tão e cheio de conteúdo.Parabéns.Apareça no blog sumidoooo...rs.Bjão.

Unknown disse...

Buááááá!! Eu adoeci!! Nunca da certo nossas andanças por São Paulo!!

Cleyton Cabral disse...

Que depoimento maravilhoso, Luís.
Me identifiquei com seus pontos no final, menos o quarto. Sou péssimo na cozinha. abs

Flávia Batista disse...

Oi...

Imagino que a Virada Cultural tenha sido imperdível. Só acompanhei notícias pela web e TV, e agora, aqui no seu blog.

beijosss

Visão disse...

COmo tudo o que vc escreve, esta ótimo.
Quanto as seis coisas sobre vc, foi bom saber mais um pouco sobre vc.
LIBERDADE!
Abraços

Átila Goyaz disse...

Oi Luis Fabiano!
Ví os videos, achei maneiríssimos!
Sempre quando eu leio Pagu me vem a mente Rita Lee (nãoseiporque rs).

Você tem medo de filme de terror, é isso né? kkkkkkkkkkkkkkk
Abraços!

sozinho com todo mundo disse...

Referências... referências..
Certo dia, uma amiga me disse que não existe filme ruim, existem pessoas sem referência.
Digo isso por perceber que Luis Fabiano é pura referência.
Que bom que existe a internet, para nos aproximar de tanta gente legal. Por aqui nada de virada cultural, nesse quesito Curitiba é caranguejo.

Richard Mathenhauer disse...

Ah, que inveja branca! rs

Gostei dos vídeos, particularmente do segundo, apesar de rapidinho.

Gde abraço,

Anônimo disse...

Saudade de estar aqui contigo meu amigo, como gostaria de ter estado lá junto contigo, iria fazer a mesma bagunça.

Um abração

Fernando de Sá Leitão disse...

Olá Fabiano, bom poder ver as coisas pelo prisma de sua sensibilidade apurada e de bom gosto.

Obrigado por se compartilhar conosco.

Abraços!

Petro disse...

Eu adoraria ler um romance que você viesse a escrever. Acho que só pararia para comer algo quando batesse a fome biológica, porque a fome literária você me supriria. Vou ser tautológico, mas não me estresso por isso: gosto muito se sua forma de escrever... é como se tivesse nos contanto com efeito câmera em movimento o que houve na Virada Cultural. Bem, ano que vem estou em Sampa para ver gente e arte; domingo, contentei-me com Manu Chao na virada de Araraquara, e valeu a pena.
Abração, mon cher!

Madame Mim disse...

Luis, bom dia!
Mudei o nome do blog http://blogandreapagano.blogspot.com
Precisa alterar no seu blog
Bjs

RICARDO AGUIEIRAS disse...

Gostei também, muito dessa Virada 2010! Vi coisas , digamos, "radicais";
ABBA, que foi um show todo cheio de coisinhas e de charme; vi Sidney Magal, uma simpatia e um verdadeiro libertário, vi a polêmica e controvertida Body Art, com Suspensão de Corpos e tatuagens, na Galeria Prestes Mais , um local tão belo,enorme, com tanta história, cheio de estátuas do Vitor Brecheret e...abandonado, poças, goteiras e etc.
Depois ainda vi uma doce e divertida Wanderléa. Estava com dois amigos anarquistas - como eu... risos- e foi muito legal!
Ah, que bom que sabe cozinhar! Eu também sei, sei fazer miojo e sei fritar ovo e...mais nada!!!!....kkkkk Na outra encarnação, eu serei rico e contratarei você como Chef da cozinha, ok?
Beijos do
amigo, fã, admirador e que te respeita muito,
Ricardo
aguieiras2002@yahoo.com.br
http://dividindoatubaina.wordpress.com/

Unknown disse...

Essa pobreza (de espírito) dos americanos é que é fo...
Continua otimista para o jogo de hoje? Pra mim, o placar será de 5 x1 para o Brasil.
Apesar de longo, o post tá ótimo e divertido.
Parabéns pelo blog.