domingo, 24 de agosto de 2008

BIENAL DO LIVRO



O meu curso continua “bombando”. As aulas estão cada vez melhores. Descobrindo novos artistas, novas visões, algumas até já me influenciam. Afastado da facul, há três anos, estou redescobrindo o prazer de aprender.
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Dei uma passada muito rápida na Bienal do Livro, no sábado. Por incrível que pareça, não estava muito a fim de ir, exceto pelo fato de reencontrar o meu amigo Walcyr Carrasco que já não o via pessoalmente, desde a última Bienal (2006), e que estava lá lançando o seu livro “Anjo de Quatro Patas”, pela editora Gente. Os rumores de que novos escritores não receberam tratamento adequado, por parte dos organizadores, me desanimaram um pouco. Mas, para o bem ou para o mal, o evento continua grandioso e necessário. Comprei 4 livros da Imprensa Oficial, aqueles da coleção Aplauso, por módicos R$ 8,00. Aos poucos vou comentando cada um deles. Aproveitei também para presentear o Walcyr com um quadro meu que, modéstia à parte, ficou lindo! Um “São Sebastião” (foto) em serigrafia, envolto de imagens coloridas que nos remetem a uma loja de tecidos. O resultado ficou bem bacana, todos aqui em casa gostaram muito e ele também.
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Uma passadinha rápida na Fenac e o espanto: a bola da vez é... homens nus. Isso mesmo. Nunca o corpo masculino (despido, claro) esteve tanto em evidência. Onde isso tudo vai parar? Quem respondeu, com o bom humor de sempre, foi o próprio Walcyr. “Na Grécia”. O fato é que a internet mudou, sim, as nossas vidas; sobretudo a nossa relação com o próprio corpo, com a nossa auto-imagem. Sou fã confesso desse tipo de trabalho, mas apenas quando ele é sutil e tem objetivos bem definidos, o que, às vezes, inclui até chocar, mas acho que estão pegando muito pesado. É isso. E a vida segue um pouco mais feliz.

domingo, 10 de agosto de 2008

ARTE NA CIDADE




Para alguns o inverno é a pior estação do ano, não para mim. Sofro um pouco com a queda de temperatura, mas considero indispensável se aventurar pelas ruas em dias chuvosos. Praia mesmo é linda no inverno. Mar e céu se fundindo num espetáculo de encher os olhos. Outro programa que não pode faltar nessa época do ano é visitar museus e galerias de arte. São Paulo mesmo fica repleta de boas opções. E quando falo em boas opções me refiro também a preços. Consigo fazer ótimos programas culturais, em Sampa, com tudo na faixa. A Pinacoteca, a Estação Pinacoteca e o Museu da Língua Portuguesa (todos próximos um do outro), por exemplo, não cobram ingresso aos sábados e, nos demais dias, a entrada custa R$ 4,00 (estudantes e aposentados pagam meia). Convenhamos, também não deixa ninguém mais pobre. A Pinacoteca é um dos melhores museus do país e tem um acervo maravilhoso. O prédio por si só já vale a visita. A segurança também foi reforçada.
Como estarei em Sampa a cada 15 dias, por conta do meu curso de História da Arte no Brasil – Primitivismo Tecnizado, na Estação Pinacoteca, vou procurar descobrir coisas bacanas e indicá-las a vocês.

Vale a pena conferir:

ARTE CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA. Na Estação Pinacoteca. Há um quadro belíssimo da Beatriz Milhazes, “Moon”, (tirei algumas fotos dele). No momento, ela é a nossa pintora em atividade de maior prestígio internacional. Há uma mostra paralela também sobre abstracionismo, muito interessante, com destaque para esculturas de Lygia Clark. Quem quiser ver esta exposição tem que correr, porque já deve estar acabando.

MACHADO, MAS ESTE CAPÍTULO NÃO É SÉRIO. No Museu da Língua Portuguesa. Sinceramente acho que o Brasil não faz por merecer o escritor Machado de Assis, pegando carona numa famosa frase do Caetano. O maior escritor brasileiro não recebe homenagens dignas, no centenário de sua morte, não sei por qual razão. Não o alço à categoria de “gênio”, aliás, sou completamente avesso a rótulos, mas é, evidente, que Machado foi o escritor mais completo do seu tempo e, assim como as obras de Shakespeare, as suas também são atemporais. Único escritor brasileiro a fulgurar na lista do temido crítico norte-americano Harold Bloon.
A exposição é muito bem cuidada, mas faltaram ilustrações fundamentais da obra do escritor. Os “braços” que estão presente em praticamente toda a obra de Machado foram esquecidos. Uma instalação de braços de manequins, por exemplo, resolveria tranquilamente o problema. Dividida em módulos, “Olhos de Ressaca” é a minha favorita.

ESPIRITOCULTO, de Christian Cravo, na Caixa Cultural São Paulo, na Paulista, no Conjunto Nacional, até 31/08. Exposição de fotografias em P&B. Não sei se o fotógrafo pertence à família do fotógrafo baiano Mario Cravo Neto, mas vi bastante semelhança entre o trabalho dos dois, além do sobrenome, claro. As fotos são bem bacanas, naturalistas. Gostei muito.

domingo, 3 de agosto de 2008

SE EU MORRESSE AMANHÃ


Não sei exatamente quando, talvez no auge da minha adolescência, que escrevi um poema cujos versos eram: “Se eu morresse amanhã, sofreria por meus pais. / Alegrias nunca mais, se eu morresse amanhã”. Agora me lembro bem. Era um trabalho de Língua Portuguesa, do segundo colegial. Deveríamos fazer uma intertextualidade com o poema homônimo de Álvares Azevedo. Naquele mesmo ano (1997), a minha família perdeu uma tia muito querida, a tia Mel, ceifada por um câncer de pele que a fez sofrer por mais de dez anos, uma luta inglória que eu jamais esquecerei. Tempos depois escreveria: “Vi a morte de perto / Vi a morte de bruços / Vi a morte arrancar pedaços / Vi a morte desatando laços / Vi a morte me abrindo os braços e eu não fui cumprimentá-la”. Era a minha primeira experiência com a morte, assim de perto. Ainda nem conhecia os poemas do Manuel Bandeira. Como tenho uma família muito grande e unida, da parte do meu pai, essa morte nos chocou profundamente. Só quem tem um doente com câncer na família sabe, realmente, do que estou falando. Buscamos respostas o tempo inteiro para aquele sofrimento. Tudo em vão. Fizemos o possível pela nossa querida tia até o momento em que os médicos jogaram a toalha. Não havia mais nada a fazer. Não esqueço de logo acordar e ouvir a minha mãe aos prantos. Essas cenas nunca saem da nossa cabeça, podem correr gerações. Nesta madrugada, a dor foi muito pior, perdemos a minha querida vó Izaura, mãe da minha mãe, por quem chamávamos carinhosamente de vó Zarinha, a pessoa com os olhos mais doces que já vi em toda a minha vida, de quem herdei também a minha famigerada teimosia. Beirando os 90 anos, ela não resistiu às intempéries desse músculo tão misterioso que é o coração. A dor da minha mãe foi ainda maior. O que dizer? Como consolar numa horas dessas? A minha casa viveu momentos de grande desespero. Até o dia lá fora parecia contribuir para aquela tristeza, uma garoa fina insistia em cair, o céu de um cinza londrino. Em janeiro fui à Bahia e a encontrei frágil, oscilando entre momentos de espantosa lucidez e delírios quixotescos. Ainda assim, me dava um prazer imenso ouvi-la contar casos do seu “pai”. A cada duas frases, uma era: “O meu pai é governo forte”, expressão baiana que designa alguém de muitas posses. Teria eu herdado também essa loucura? Quem o sabe. Dentro da sua simplicidade gratuita, dessas que só encontramos no interior do Brasil, avessa a presentes que não fossem presença e carinho, ela gostou apenas de uma camiseta verde que eu usava. Ressaltou que, se eu quisesse presenteá-la, que fosse apenas com aquela camiseta, a qual usaria quando fosse encontrar o seu “pai”. Lavei eu mesmo a camiseta e, no dia seguinte, a entreguei com todo o meu amor. Vi então o seu sorriso franco e aquele brilho no seu olhar. O último. Tudo como num desses momentos mágicos da vida, o qual a gente nunca esquece.