domingo, 26 de agosto de 2007

COMO NÃO ESCREVER POEMAS

SEGUNDA-FEIRA. Acordei com vontade de escrever um poema. Quem sabe um lindo poema de amor com direito a todas aquelas coisas ridículas a que os apaixonados se permitem confessar. Faltou o principal: o ser apaixonado.
TERÇA-FEIRA. A obsessiva vontade de escrever um poema começa a me tirar o sono. Passei a madrugada inteira na tentativa e erro. Deu erro de goleada. A folha de papel permaneceu em branco, mas fiz questão de picá-la em mil pedaços.
QUARTA-FEIRA. Chego à conclusão de que escrever poemas não deve ser mais difícil que ir à Lua. Mas também isso não acrescentou uma única palavra numa outra folha em branco que deixei sobre a mesa. Começo a pensar que o problema talvez esteja na cor da folha.
QUINTA-FEIRA. Estou quase desconsiderando a conclusão do dia anterior (somente no que se refere à dificuldade em escrever poemas). Desconfio que poetas são seres divinais. Tornou-se rotina triturar folhas de papéis. Até o envelope cor de
laranja foi guilhotinado.
SEXTA-FEIRA. O dia mais irresponsável da semana me afasta momentaneamente da possibilidade de escrever meu único poema. Tomei algumas batidas de frutas para desinibir meus pensamentos. Vomitei todo o meu quarto.
SÁBADO. Dor de cabeça. Recuso o futebol e não me acostumo à idéia de que escrever poemas está me deixando quase louco. Mas ainda não é hora de jogar a toalha. Um sábado à noite pode ser inspirador.
DOMINGO. Nada como um dia para não fazer nada. E não fazer nada inclui sobretudo não pensar em escrever malditos poemas, romances, roteiros, resenhas, ensaios, crônicas, cartas, e-mails, bilhetes...